Em S. Pedro do Sul

Em S. Pedro do Sul
 
Aguarela sobre cartão com toques de guache
23 x 18 cm
Museu de José Malhoa
     Nem sempre a paisagem que se alonga em perspectiva de amplos horizontes serve ao artista de motivo inspirador. Ocasionalmente, ao sabor das deslocações das suas viagens, Roque Gameiro encontra recantos escondidos que despertam a sua sensibilidade e fixa, então, fugazes momentos em que certos pormenores, para ele, se revestiram de interesse plástico.
     Esta aguarela reproduz a actividade de algumas camponesas que se ocupam na ancestral faina de lavar roupa, em reduzido espaço de configurações geométricas opostas, em que planos circulares coexistem com superfícies marcadas pela horizontalidade.
     Basicamente, é este o motivo central da composição, mas o pintor vai além de uma simples pintura de temática de cenas do quotidiano. Dá vida e cor ao pequeno quadro fixando os eternos gestos que a tarefa exige, transmitindo, sinestesicamente, uma gama de sensações. Temos a ilusão de ouvir o ruído da água que escorre do muro do açude em fios de água que vão alimentar o reduzido caudal do charco; os muros em plena claridade, num castanho quente com o qual o verde da vegetação não colide cromaticamente, iluminam todo o quadro. Implicitamente, está sugerida a naturalidade dos movimentos das lavadeiras, repetidos incansavelmente, e a agitação dos patos que se deslocam à tona de água, em expressiva nota de dinamismo.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
 
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