Título: História das Toiradas
Autor: Eduardo de Noronha (1859-1948)
Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) - Direcção artística
Publicação: Lisboa : Companhia Nacional Editora, 1900
Direcção artística: Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)
Ilustrações de: Manuel de Macedo (1839-1915)
Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)
Alfredo de Morais (1872-1971)
Alberto de Sousa
Descrição física: 396 p. a 2 coln. : il. ; 21x28 cm
Informação: Biblioteca Nacional de Portugal
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Esta obra de Eduardo de Noronha inicia-se através de um preâmbulo suficientemente esclarecedor relativamente à orientação e objectivos que presidiram à sua elaboração.
"Preambulo
Devemos uma explicação ao leitor: contar-lhe mui succintamente, como appareceu este livro e qual é a sua contextura.
Adquirimos, há muitos annos já, a convicção de que a festa pública mais radicada no espirito do povo, pela tradição e pelo gosto, é a corrida de toiros (...).
Não nos lembra que entre nós se tenha publicado um estudo tauromachico com a orientação que demos a esta obra (...). Ao escrever a Historia das Toiradas planeámos apresentar, n'uma linguagem fácil e despretenciosa, tudo quanto encontrámos de mais attrahente n'esses espectáculos, que vêem da mais remota antiguidade. Banimos as referencias eruditas, mas deligenciámos manter no tom dos quadros o cunho especial de cada épocha; procurámos arredar tudo quanto fosse pesado e fastidioso, mas fizemos todos os esforços para dar a maior intensidade dramática à descripção; n'uma palavra, relatamos a copiosa série de episódios acontecidos, os usos, os costumes, as regras observadas nos variadissimos torneios, o embate de muita paixão ruim e generosa, que frequentes vezes teem descido à arena, tudo quanto offerece interesse sem produzir cansaço, prestando sempre homenagem à verdade. Iniciamos este estudo por uma narrativa, muito concisa, dizendo qual era o papel predominante do toiro na mythologia, a extraordinária consideração em que era tido pelos povos primitivos e como hoje é apreciado. No segundo capitulo (...) fazemos uma rápida resenha do toureio e dos termos taurinos. Depois narramos o que eram os combates de toiros no império romano, na Edade-Média, entre os árabes que avassallaram a Península, e de século em século, aproveitando as corridas mais afamadas, os lances mais trágicos e até mesmo alguns dramas de coração, tentamos fazer reviver no espirito do leitor os grandes certamens tauromachicos do passado e da actualidade (...).
A completar este estudo, cada capitulo tem uma estampa apropriada, impressa a cinco cores, cópia de quadro de mestres consagrados, ou composição original do distincto aguarellista sr. Roque Gameiro, a quem está confiada a direcção artística desta publicação".1
Trata-se de um trabalho em que se sucedem e se entrelaçam episódios relatando situações vividas em diversos contextos históricos, numa perspectiva diacrónica. Roque Gameiro contribuiu com algumas aguarelas para a ilustração. As imagens que produziu integram-se na narrativa, explicitando, sugestivamente, a mensagem do texto. Nessa representação iconográfica expressa-se, por vezes, uma simples representação de exibição de força e de destreza; noutros narram-se situações burlescas de irresistível humor; surgem ainda certos episódios que se tornam emocionantes pelo dramatismo contido.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
1 NORONHA. Eduardo de, Preâmbulo de História das Toiradas. Direcção artística de Roque Gameiro, de parceria com Alberto de Sousa e Alfredo de Morais, Secção Editorial da Companhia Nacional Editora. Administrador Justino Guedes. Largo do Conde Barão, Lisboa 1900. |
Capítulo IV (1144) - Em campo fechado - (pág. 33)
"O toiro vê em Ramiro o seu incansável antagonista; despreza os outros e precipita-se sobre elle rium ímpeto raivoso. O cavalo é apanhado em cheio e arrojado para o outro lado como se fora um sacco de lã (...). A ascuma de Gonçalo Viegas, vibrada com singular força muscular duplicada por uma potente excitação nervosa crava-se no texto do touro que se abate fulminado".
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Capítulo V (1211) - Os Almohades na arena - (pág.58-59)
"Vinha grandioso de altivez, de formosura varonil, de confiança nas próprias faculdades (...). Quando chegou a certa distancia do poste, levantou o braço vagarosamente, com firmeza até o nivel dos olhos, ajustou a frecha, retesou o arco e demorou-o nessa posição um segundo".
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Capítulo IX (1552-1578) - (pág. 107)
"D. Luiz de Menezes na praça de Xabregas" - "D. Luiz de Menezes, de aspecto majestoso e grave, encaminhou-se para o fero animal (...). O intrépido fidalgo (...) de corpo perfilado e quieto, espada apontada para o sitio onde deve ser mettida e na mesma linha do braço, cotovello alto e cabeça levantada (...)".
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Capítulo XX (1817-1833) - D. Miguel e os toiros - (pág.229-240)
"A 16 de Outubro de 18... partiu D. Miguel para o Porto (...). A meio do caminho albergou-se n'um convento dos mais ricos da Estremadura (...). em redor do mosteiro estendiam-se fartas lezírias, onde pastavam innumeras manadas de gado bravo (...). D. Miguel ao contemplar tão formosos toiros, não resistiu à tentação de correr alguns d'elles. O claustro foi preparado convenientemente (...). El-Rei apeou-se e os frades principiaram a comprimir-se em volta para apresentar os seus respeitos. Quando não faltava ninguém, desde D. Abadde até o guardião, surge um toiro que era uma montanha de carne (...). A fradaria julgou chegada a sua ultima hora (...). A rez rompeu entre elles em temerosa fúria (...). Só se viam hábitos de saragoça descrevendo no ar extravagantes trajectórias, amplos troncos estatelados no chão, pernas nuas a oscillar caprichosamente como ponteiros d'um relógio desorientado, abdómens proeminentes a rolarem pelo solo (...), uma expressão de susto infinitamente variada".2
2 NORONHA. Eduardo de. História das Toindas. Direcção artística de Roque Gameiro. de parceria com Alberto de Sousa e Alfredo de Morais. Secção Editorial da Companhia Nacional Editora. Administrador Justino Guedes. Largo do Conde Barão. Lisboa 1900.
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