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No âmbito da produção artística de Roque Gameiro, não podemos minimizar a sua actividade como ilustrador, tarefa a que consagrou muito do seu talento e da sua capacidade de investigação, por vezes, mesmo, em detrimento da participação em exposições.
A imprensa contemporânea chega a lamentar essa ausência, ainda que momentânea: "Estão em exposição na sala da redacção do Diário de Notícias, duas aguarellas - dois retratos de Roque Gameiro. O insigne aguarellista (...) havia dois ou três annos que, absorvido por um incessante trabalho de illustrações, não expunha nada (...). Alguns dos seus amigos lembraram-lhe a conveniência de não deixar apagar a sua individualidade no meio artístico onde tão levantada cotação adquirira".1
O artista colaborou em obras de temática bastante diferenciada e, muitas delas, revelaram-se de inestimável valor documental histórico e etnográfico e, sobretudo artístico. Participou, também, noutros trabalhos de menor importância, e mesmo em pequenos romances de acção complexa e movimentada, que servem de testemunho do gosto da época nesse domínio. Daí o número de imagens que se destinaram à ilustração ter atingido uma expressão relevante, o que impede que se proceda a um levantamento exaustivo desse acervo, acrescido pelo facto de se terem perdido muitos elementos, ao longo dos anos.
O investigador consciencioso que foi Roque Gameiro, preocupado em apurar o detalhe exacto e preciso, não se contentou em proceder à ilustração baseando-se, exclusivamente, nos dados fornecidos pelo texto. Entregou-se a trabalhos de pesquisa que o obrigaram, com frequência, a diversas deslocações. Documentou-se sobre épocas, costumes e espaços geográficos essenciais à elaboração do suporte iconográfico das obras em que colaborou, usando de uma inalterável persistência, seriedade e honestidade, atitudes que sempre nortearam o seu comportamento, qualquer que fosse a tarefa em que se envolvesse. Nas obras que enriqueceu com a sua ilustração revelam-se os seus profundos conhecimentos de história. A imagem alia-se ao texto, torna-o mais explícito e permite uma perfeita visualização do que é descrito ou narrado.
Todavia, existem algumas produções que nunca chegaram a atingir a dimensão alcançada, por exemplo, pela História da Colonização Portuguesa do Brasil ou, ainda, por outras de idêntica intenção histórica. Ainda que se aparentem pela temática de relatos da história pátria, com esses trabalhos imbuídos de uma certa grandiosidade cujo valor foi, ainda, largamente aumentado pela importância plástica das imagens, constituem pequenos trabalhos que nunca atingiram um interesse de maior, mesmo na época da sua edição. Caíram no esquecimento e praticamente ninguém hoje se lhes refere, a não ser em casos esporádicos. Se os mencionamos, neste contexto, é somente pelo relativo interesse de se fazer saber que, também a eles, a mão do pintor conferiu algum valor, ainda que possa ser considerado assaz reduzido. As imagens não são em grande número e, na maior parte dos casos, são meros desenhos à pena.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
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A Tradição em Roque Gameiro
O artista foi um atento observador de costumes e um apaixonado pelas tradições do nosso país. Para obstar ao esquecimento que o tempo impõe, diluindo a memória do passado, ele intentou preservar, através dos meios que estavam ao seu alcance - o desenho e a pintura, - a recordação de costumes de finais do século XVIII e de inícios do XIX, procedendo a uma curiosa reconstituição epocal. Para dar consecução a esse projecto, pintou um considerável número de aguarelas, por intermédio das quais reproduziu modos de vida e velhos hábitos do Portugal setecentista e oitocentista. Essas imagens visavam despertar o interesse por uma certa realidade da existência colectiva, trazer para o presente vivências desses tempos idos. Não se tratou, porém, de um trabalho empírico; pelo contrário, ele procedeu a criteriosas investigações em bibliotecas e arquivos. E, quando os dados adquiridos lhe pareciam insuficientes, entrevistou pessoas bastante idosas cujas recordações lhe pudessem trazer um contributo valioso para a reconstituição que empreendera.
Inicialmente, por alturas de 1904, os jornais publicaram a notícia de que o artista tencionava intitular Portugal Velho a colectânea em que compilaria as imagens que executara, reproduzindo esses aspectos que constituíram objecto das suas demoradas pesquisas. Contudo, ainda que a imprensa contemporânea aludisse, frequentemente, ao trabalho projectado, e que incluiria cerca de quatrocentas aguarelas, não se conhecem indicações referentes ao seu aparecimento. É, pois, provável que nunca se tenha efectivado essa publicação. Mais tarde, já em 1931, surgiu, em fascículos, Portugal de algum dia, com o subtítulo cenas e costumes de outro tempo, com texto de Gustavo de Matos Sequeira e iconografia de Roque Gameiro, obra de orientação similar à que tinha sido anunciada no início do século. Foram somente editados os dois primeiros fascículos, desconhecendo-se as causas que impediram a continuidade da publicação, apesar de o projecto inicial incluir um âmbito alargado de itens temáticos. Tendo em conta o índice apresentado, é-nos lícito concluir que esse estudo teria tido um enorme interesse etnográfico e artístico; além disso, permitiria manter intacto o espólio das aguarelas que o pintor executou, a fim de proceder à sua ilustração e que, actualmente, se encontram dispersas por várias colecções, se por acaso não se perderam definitivamente.
O artista colaborou em obras de temática muito diversa, algumas de apreciável interesse histórico e que se tornaram excelente documento iconográfico representativo das capacidades artísticas do ilustrador, que se revelou também um investigador de costumes, como já foi assinalado. As pesquisas a que Roque Gameiro consagrou muito do seu tempo levaram a que, por vezes, deixasse de participar em exposições, a que habitualmente concorria com vários trabalhos. Algumas das investigações que empreendeu visavam obter dados precisos sobre factos da nossa história, permitindo-lhe situar os acontecimentos nas épocas a destacar, transmitindo-lhes cor local, através de uma reconstituição de interiores, de vestuário das personagens intervenientes e, mesmo de organização das cenas, de acordo com uma lógica temporal. A sua actividade como ilustrador foi, pois, intensa e profícua. Muitas obras literárias de início do século XX foram enriquecidas com aguarelas da sua autoria, muitas vezes de parceria com outros aguarelistas contemporâneos.
Foi, na verdade, extensa a lista de obras em cuja ilustração o pintor colaborou; umas vezes, a iconografia foi da sua inteira responsabilidade; outras, trabalhando de parceria com pintores do seu tempo. Teve particular relevância a edição de luxo de Os Lusíadas, de 1900, na qual participou com Manuel de Macedo. Quadros da História de Portugal, da autoria de Chagas Franco, professor de História do Colégio Militar e de João Soares, também antigo professor, foi igualmente, um trabalho de grande interesse. Editada em 1917, essa obra obteve na época, e mesmo posteriormente, um grande sucesso, tendo sido feita uma segunda edição, em 1932. A iconografia esteve a cargo de Roque Gameiro e de Alberto de Sousa. A História da Colonização Portuguesa do Brasil, dirigida por Carlos Malheiro Dias, foi publicada entre 1921 e 1923. Neste caso, Roque Gameiro foi o único responsável pela parte artística.
Na ilustração de As Pupilas do Senhor Reitor, do escritor Júlio Dinis, o artista denota, mais uma vez, uma apurada compreensão do texto, tendo adequado as personagens, o seu vestuário, as cenas e os interiores das habitações à época em que o romance foi escrito; verifica-se, igualmente, que existia um profundo conhecimento das características do espaço onde se desenrolou a acção, traduzida na representação dos aspectos paisagísticos. Já aludimos ao valor do álbum Lisboa Velha, de 1925, trabalho de inestimável interesse documental sobre a cidade de Lisboa. História das Toiradas, da autoria de Eduardo de Noronha, é um curioso documento em que, numa perspectiva diacrónica, se procede ao relato vivo, e por vezes humorístico, de situações ligadas ao toureio; esses relatos são ilustrados, significativamente, por Roque Gameiro, Alfredo de Morais e Alberto de Sousa.
O nome de Roque Gameiro aparece, ainda, ligado à ilustração de pequenos contos e de alguns romances. O Romance das Ilhas encantadas, da autoria de Jaime Cortesão, de carácter didáctico, apresenta imagens de real interesse pedagógico e artístico. A Sereia, de Camilo Castelo Branco, foi um romance profusamente ilustrado pelo pintor que criou imagens bastante expressivas, perfeitamente adequadas à intenção subjacente ao texto do romancista.
Maria Lucília Abreu
in A Aguarela na Arte Portuguesa, ACD Editores, 2008
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Alguns Livros Ilustrados por Alfredo RG:
1888 Álbum de Costumes Portugueses, com textos de Fialho de Almeida e outros (ver 5 Ilustrações a cores )
1892 O choque, de François Coppée, trad. de Libânio da Silva, Typ. da Companhia Nacional Editora (5 Ilustrações)
1897 Contos e Histórias, da Empresa do Jornal "O Século", Colecção: Bibliotheca illustrada d' O Século (?)
1899-1905 História de Portugal, popular e ilustrada, de Manuel Pinheiro Chagas (ver muitas Ilustrações)
1899 Os Guerrilheiros da Morte, romance histórico de M. Pinheiro Chagas (ver 44 Ilustr. com Alfredo de Morais)
1899 O Marquês de Pombal, romance histórico de António Campos Júnior (ver 7 Ilustr. com Alfredo de Morais)
1900 Descoberta do Brasil, de Faustino da Fonseca, da Empresa do Jornal "O Século" (ver 28 Ilustrações)
1900 Mysterios da inquisição, de Francisco Gomes da Silva (ver 76 Ilust. a cores com Manuel de Macedo)
1900 Portugal Vinícola, de Bernardino Camillo Cincinnato da Costa, Imprensa Nacional (ver 19 Ilustrações a cores )
1900 Gomes Freire, romance histórico original de Rocha Martins (ver 45 Ilustrações com Alfredo de Morais)
1901 História Geral dos Jesuítas, de Tomás Lino D'Assumpção, da Empreza da História de Portugal
1902 A máscara vermelha, romance histórico de Manuel Pinheiro Chagas, da Empreza da História de Portugal
1903 Lisboa (Portugal pittoresco e illustrado I), de Alfredo Mesquita, da Empreza da Hist. Portugal (ver 402 Ilust.)
1903 Maria da Fonte, romance histórico de Rocha Martins (ver 54 Ilustrações, (1º Vol.) com Alfredo de Morais)
1903 A Guerra Anglo-Boer, Lisboa: Diário de Notícias. Typographia Universal
1904 Leonor Telles, romance histórico de Marcelino Mesquita (ver 44 Ilustrações a cores , com Manuel de Macedo)
1904 A Ambição dum Rei, de Eduardo de Noronha, (ver 37 Ilustrações a cores , com Manuel de Macedo)
1904 Obras completas de Almeida Garret, da Empreza da Hist. Portugal (ver 118 Ilust., com Manuel de Macedo)
1910 A Árvore, de Delfim Guimarães, Lisboa : Imp. Lucas
1924 História do Palácio Nacional de Queluz, de António Caldeira Pires - Afonso de Ornelas (ver 2 Ilust.)
1929 A Cidade do ouro, de Emílio Salgari, Ed. João Romano Torres
1931 A Ala Dos Namorados, romance histórico de António Campos Júnior (ver 42 Ilust., com Alfredo de Morais)
O Reinado Venturoso, romance histórico de Artur Lobo d'Ávila (ver 18 Ilustrações, com Alfredo de Morais)
Os amores do Príncipe Perfeito, romance histórico de Artur Lobo d'Ávila
Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, Liv. Ed. Guimarães (?)
A ilustre casa de Ramires, de José Maria Eça de Queirós
O crime do padre Amaro, de José Maria Eça de Queirós
Rainha-Madrasta, romance histórico de António Campos Júnior, Ed. João Romano Torres (4 vol)
etc.1904 a 1916 - Costumes antigos do século XVIII (obra não compilada)
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