Mosteiro dos Jerónimos (Fachada sul)

Mosteiro dos Jerónimos
(Fachada sul)
 
Aguarela sobre papel
9 x 14 cm
Feito para a obra

     Apesar de grande parte da produção de aguarelas sobre a cidade de Lisboa ter sido incluída no álbum Lisboa Velha, existe ainda um elevado número de composições espalha­das por Museus e colecções particulares.

     Nesta imagem, que representa a fachada sul do Mosteiro dos Jerónimos e parte da rua que lhe fica adjacente, focalizadas em acentuada perspectiva, o pintor deu particular relevo ao magnífico portal manuelino. Esculpiu o rendilhado da pedra, alternando a mancha cromática, de tonalidade sépia, com a reserva da superfície, em branco, do papel, explici­tando, por este procedimento, a textura da pedra do monumento e a sua complexidade escultórica. Definiu volumes que permitiram acentuar o relevo das estátuas e de outros ornamentos e, por contraste, salientou reentrâncias de sombra. Poder-se-á concluir que ele desenhou, pintando; procedeu, assim, a uma representação perfeita e harmoniosa da cons­trução quinhentista.
     Nos altos janelões de arco redondo que ladeiam o portal, foram aplicadas leves agua­das de azul e vermelho, simulando os vitrais da igreja. Sob o tímpano, anotado num tom mais escurecido, estrutura-se a profundidade do arco abatido; distinguem-se as portas gemi­nadas, de vermelho sombrio, intensificado igualmente por aplicação de uma mancha de castanho. A alta cúpula corta a superfície do céu de um azul diluído, assim como as flechas dos coruchéus que rematam os pináculos. Em toda a fachada predomina um branco levemente amarelado, a que se misturam, em algumas zonas, diluídas aguadas de coloração azul e castanho, traduzindo a textura da pedra envelhecida.
     Aparentemente, o momento seleccionado para a representação visual desta aguarela coincidiu com uma cerimónia religiosa. Algumas pessoas, em indefinida anotação, aglome­ram-se junto da porta, enquanto outras, ainda na rua, para lá se dirigem. Introduz-se uma sugestão dinâmica devido a esta movimentação humana.
     Este quadro revela-se de interesse documental, na medida em que nos elucida sobre as características do espaço em que o Mosteiro está inserido, na época em que Roque Gameiro viveu. O aspecto deste local da cidade foi completamente modificado; não restou qualquer vestígio do gradeamento que protegia o monumento, assim como da vegetação circundante.
     Esta aguarela foi incluída na obra Quadros da História de Portugal, da autoria de Chagas Franco e João Soares, em 1917, capítulo XVIII, Depois da Viagem do Gama, página 53.
Maria Lucília Abreu
in A Aguarela na Arte Portuguesa, ACD Editores, 2008
 
MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS
     Este grandioso monumento foi mandado construir por D. Manuel em comemoração da viagem de Vasco da Gama à Índia.
     No lugar onde se encontra havia antigamente uma capela da Senhora do Restelo ou Senhora dos Navegantes, fundada pelo infante D. Henrique, e muito da devoção dos nossos antigos marinheiros.
     Foi no lugar dessa Capela que se construiu o maravilhoso templo actual em três naves com oito colunas de mármore todo em abóboda lavrada, e de tão elegantes proporções que verdadeiramente fascina o visitante.
     O arquiteto da igreja foi o célebre Boitaca, mas a capela mor de estilo completamente diferente e péssimo gosto arquitectónico, só foi construída no tempo de D. Catarina, mulher de D. João III.
     Os Jerónimos são um verdadeiro monumento erguido ao patriotismo dos nossos antepassados, uma verdadeira epopeia de pedra, exuberante e gloriosa, e o magnífico pórtico que defronta o Tejo dividido ao meio por uma coluna onde o infante D. Henrique se ergue com o montante, simboliza bem toda a nossa grandeza, todo o heróico esfôrço dos portugueses dos séculos XV e XVI.
Chagas Franco e João Soares
in Folheto explicativo dos Quadros da História de Portugal, 1929
 
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