Volume 8

Vol. 8
 
História de Portugal, popular e ilustrada - Volume 8:
 Da segunda invasão francesa até às guerras liberais
 
Pág. 5 - Manuel Fernandes Tomás
Este notável vulto do movimento de 1820, nasceu na Figueira da Foz em 50 de junho de 1771. Concluídos os estudos jurídicos na Universidade de Coimbra, fez acto de formatura e recebeu o grau de bacharel na faculdade de cânones em 1791. Foi despachado juiz de fora da vila de Arganil em 1801, e em 1803 nomeado superintendente das Alfândegas e dos Tabacos nas comarcas de Aveiro, Coimbra e Lema; provedor da comarca de Coimbra em 1808, cujo exercício interrompeu pouco depois para servir como deputado comissário do exército até 10 de fevereiro de 1812, data em que foi restituído à Provedoria, com predicamento de desembargador da Relação do Porto. Entrando como efectivo nesta Relação em fins de 1817, fundou na mesma cidade, em janeiro seguinte, com José Ferreira Borges e José da Silva Carvalho, o sinédrio ou associação política que preparou, dirigiu e consumou a revolução de 24 de agosto de 1820, como se pode ver nas Revelações e Memórias para a História da dita revolução, escritas pelo consócio José Maria Xavier de Araújo. Foi membro da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, e deputado às cortes constituintes congregadas em 26 de janeiro de 1821, em cujos trabalhos teve parte muito activa e conspícua, até o encerramento delas em 4 de novembro de 1822. Agravando-se-lhe, pelos excessos e fadigas dos últimos meses, a enfermidade crónica que padecia, e tomando de repente um caracter agudo, que os sucessos da medicina não puderam debelar, expirou entre doloro­sos sofrimentos, temperados pela resignação, a 19 do referido mês, deixando consternados não só os seus amigos pessoais, mas todo o partido liberal, que lhe tributava uma espécie de culto e via nele um dos mais firmes sustentáculos do sistema, para cujo triunfo concorrera tão poderosa e eficazmente. Na nossa História se torna bem clara a influência deste ilustre magistrado no movimento político da época; mas quem desejar largos pormenores acerca da vida de tão notável varão, pode consultar as se­guintes publicações, conforme nota que nos dá Inocêncio no seu Diccionario Bibliographico, tomo V, págs. 420 a 422: uma extensa notícia inserta no Diário do Governo n° 238, de 9 de outubro de 1822, e outra que se refere especialmente aos últimos dias da sua vida no mesmo Diário nº 271 de 16 de novembro do referido ano. A galeria dos deputados das cortes geraes, etc., de João Damásio Gorjão Gorjão; o opúsculo intitulado Discursos e poesias fúnebres recitadas em 27 de novembro de 1822 em sessão da Sociedade Litterária Patriótica; um artigo inserto no Mosaico, tomo 1; Ensaio sobre História Litterária de Portugal, por Freire de Carvalho; uma memória com o título Manuel Fernandes Thomaz patriarcha da liberdade portuguesa, Lisboa, 1840; as Revelações e Memórias de J. M. Xavier de Araújo; o Diorama de Portugal nos 33 meses constitucionais, por José Sebastião de Saldanha. - O retrato que aqui damos e copiado da celebrada colecção intitulada: Retratos dos Membros da Associação começada no Porto em 22 de janeiro de 1818 e das mais pessoas que com eles cooperaram para a revolução política de 24 de agosto de 1820. - Da mesma notável colecção são copiados mais 31 retratos dos mesmos heróis de 20, que figuram na opulenta galeria de retratos que damos neste volume VIII da nossa História.
Pág. 7 - Francisco Soares Franco
Copiamos dum excedente retrato que ilustra o volume XX do Jornal de agricultura pratica o que aqui damos deste ilustre agrónomo, bem como da biografia que acompanha esse mesmo retrato, firmada pelo nosso muito amigo António Máximo Lopes de Carvalho, alguns dados da vida de tão notável português. Nasceu o ilustre agrónomo em Loures, pelos anos de 1772 ou 1773. Desajudado de bens de fortuna, foi educado a expensas da Casa Pia de Lisboa, onde cursou preparatórios para o estudo de medicina, carreira que seguiu, recebendo o grau de doutor em 1797. Por carta régia de 11 de junho de 1806 foi nomeado lente catedrático com exercício na cadeira de anatomia da Universidade de Coimbra, cargo que desempenhou durante 17 anos, pois foi aposentado com metade do ordenado em 9 de outu­bro de 1823. Soares Franco amava apaixonadamente os estudos médicos, publicando sobre medicina memórias de subido valor científico; contudo, a ciência cujo estudo mais predileção lhe merecia era a agrícola. A falta dum livro, que teórica e praticamente colocasse os agricultores portugueses à altura do desenvolvimento que a ciência agrícola tinha atingido nas diversas nações da Europa, era de todos notória. Foi para preencher esta importante lacuna, que Francisco Soares Franco publicou durante os anos de 1804 a 1806 o seu Dicionário de Agricultura, que consta de 3 tomos in 8º francês, ornado com gravuras. - Em 1812 publicou o Tratado geral dos prados e das suas regas, dedicado aos lavradores, por Carlos d’Ourche, traduzido em português. - So­bre política publicou a Memória em que se examina qual seria o estado de Portugal, se por desgraça os franceses chegassem a dominar. Neste estudo expandiu Soares Franco sentimentos tão patrióticos, que os seus contemporâneos agradecidos o elegeram deputado pela província da Estremadura, às cortes constituintes de 1821, reelegendo-o na legislatura de 1826. - Em 1835 foi eleito sócio da Academia Real das Ciências, e condecorado com o grau de cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Acordando o governo mandar fazer uma nova farmacopeia geral do reino, foi ele nomeado conjuntamente com outros distintos homens de ciência para a redigir, em que se houve proficientemente, como era de esperar da sua soberba inteligência e avultado número de conhecimentos. Esta farmacopeia foi publicada em virtude do decreto de 6 de dezembro de 1858. - Tendo sido agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo, em 1813, foi despachado comendador da mesma ordem em 1840 e agraciado com a carta de Conselho. - A 28 de fevereiro de 1844 deixou de existir, vitimado por uma paralisia causada por um ataque apoplético.
Pág. 8 - José Gonçalves dos Santos Silva
Filho de António Gonçalves da Silva e de D. Rosa Maria da Conceição, nasceu no Porto a 9 de abril de 1794. Seu pai morreu em 1798, ficando sua mãe dirigindo a casa comercial e José Gonçalves, que fizera os seus estudos no colégio de Antas, assim que teve algumas habituações, tratou de ajudar sua mãe. Entusiasmado com as ideias liberais que circulavam no Porto depois da invasão francesa, entrou para a associação formada para promover a revolução, e foi o sétimo membro dessa associação. Foi um dos que trabalharam mais activamente para que se realizasse a revolução de 24 de agosto de 1820, e do que se passou nesse dia deu conta depois, em 1862, num artigo publicado no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro de 1862, artigo que sus­citou umas observações de José Feliciano de Castilho, a que José Gonçalves dos Santos Silva respondeu no mesmo Jornal do Comércio de 16 de maio do mesmo ano. - Depois de cair o regímen que ele ajudara a implantar, Santos Silva partiu para o Rio de Janeiro, não julgando conveniente para a sua segurança permanecer em Portugal, mas em 1827 voltou ao Porto em tão má hora que, pouco depois, assenhoreou-se D. Miguel do governo, e santos Silva tinha de emigrar de novo, desta vez para Inglaterra. Depois de ali se demorar por algum tempo, eslava resolvido a voltar ao Rio de Janeiro, quando se projectou a expedição do Belfast. Quis acompanhar os expedicionários, mas Palmela disse-lhe que precisa­va dele para levar um recado a José Luiz Valdez, depois conde do Bomfim, que então mantinha a Madeira fiel à causa Liberal. Acrescentou que desejava que passasse por essa ilha. quando voltasse ao Brasil. Santos Silva assim o fez; embarcou em Falmouth a 9 de junho, desembarcou na Madeira no dia 20 e seguiu no dia 2 para o Rio, onde chegou a 25 de julho. Não tardou, a sair do Brasil, fixou-se em 1829 na província de Santa Catarina, e ali residiu o resto da sua vida, tendo sido, depois de triunfar a causa liberal, nomeado cônsul português na cidade do Desterro. - Em 1857 publicou umas Cartas acerca da província de Santa Catharina, que produziram boa impressão e levaram o parlamento brasileiro a empreender algumas reformas que ele aconselhava. Escreveu mais algumas que saíram de envolta com outros escritos de outros autores num folheto intitulado As leis em conflito com o direito de ocupação e conquista, na província de Santa Catharina em seus confins com a província do Paraná. - José Gonçalves do Santos Silva faleceu na cidade do Desterro em maio de 1851. - O retrato que aqui damos tem a mesma origem que o de Manuel Fernandes Tomás.
Pág. 9 - Terreiro do Trigo
A história deste notável edifício, do qual aqui reproduzimos a fachada que deita para o lado do Tejo, está nestas poucas palavras que se leem na epígrafe que encima a sua fachada principal, que olha para o norte: «Joseph I augusto, invicto, pio, rei e pai clementíssimo dos seus vassallos para segurar a abundância de pão aos moradores da sua nobre e leal cidade de Lisboa e desterrar dela a impiedade dos monopólios debaixo da inspecção do senado da câmara, sendo presidente dele Paulo de Carvalho, mandou edificar desde os fundamentos este celeiro público. Anno MDCCLXVI
Pág. 12 - Fr. Alexandre da Sacra Família
Chamado no século Alexandre da Silva, foi missionário apostólico no seminário de Brancanes, junto a Setúbal, cujo instituto professou em 1761 sendo já bacharel formado em filosofia pela Universidade de Coimbra. Foi sagrado bispo de Malaca em 1763, transferido passados anos, desta para a diocese do Pará, e depois sucessivamente para as de Angola e de Angra, de que tomou posse, mas pouco tempo a governou por lhe faltar a vida. - Nasceu na ilha do Faial a 20 de maio de 1736 e morreu em Angra em 1818. - Este prelado foi tio de Almeida Garrett, que dele faz menção distinta em mais de um lugar das suas obras. Foi tido no seu tempo por orador insigne, bom poeta, versado em toda a erudição sagrada e profana e dotado de religiosas virtudes. Não consta que em sua vida publicasse obra alguma pela imprensa, e muito menos com o seu nome. Dos seus escritos, que se diz serem numerosos e em géneros mui diferentes, alguns apareceram póstumos. - O retrato que aqui damos é copiado dum excelente quadro a óleo existente na biblioteca Nacional de Lisboa.
Pág. 13 - Coimbra, capela de S. Sebastião
Quem tomar o caminho que fica ao lado do convento de Santo António dos Olivais, deparará a pequena distância com a capelinha representada no desenho, situada numa iminência, em sítio lavado de ares e donde se descortina uma paisagem admirável. - A capela, pertencente ao cabido da Sé de Coimbra, é pobre de adornos de arte, possuindo, contudo, alguns preciosos retábulos. Sobre a porta vê-se um escudo com setas, emblema do santo a que é dedi­cada. Um manuscrito da biblioteca da Universidade diz que foi obra de um mestre-escola da Sé a que pertence. - No local em que está situada ou muito próximo houve um hospital durante a terrível peste que assolou Coimbra em 1599, reinando D. Manuel. - Ainda hoje, dentro e fora da capela, existem várias sepulturas, algumas das quais são de frades que ali toram tratar dos empestados e que pereceram do contágio, jazendo ali fr. Diogo de Hita, fr. Francisco de Vila Viçosa, fr. Manuel d’Aveiro, padre António Mendes, etc. - Junto às escadas da porta de entrada há quatro lápides sepulcrais, que têm as inscrições já mui difíceis de ler, e ao lado da capela há duas também muito deterioradas. De todas fala o tomo II da Imagem da Virtude do padre António Franco, pág. 499, nos 18 e 19, e o Hagiológio Lusitano, tomo II, pág. 519, o tomo III, págs. 383 e 741.
Pág. 15 - Bernardo José Maria de Lorena
Existe no palácio dos governadores da Índia o retrato original deste governador, que exerceu tal cargo em princípio do século XIX; é duma fotografia desse retrato que se copia o que aqui apresentamos.
Pág. 16 - José Ferreira Borges
Pela leitura da nossa História se avalia da importância extraordinária deste notável vulto do movimento de 1820. José Ferreira Borges foi bacharel formado em cânones pela Universidade de Coimbra em 1805; advogado na cidade do Porto, sua pátria, desde 1808 até 1820; secretário da Junta da Compa­nhia dos Vinhos do Alto Douro em 1818; membro da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, proclamada em 24 de agosto de 1820, para cujos sucessos concorreu tão activamente, como consta das suas biografias e das Revelações e Memórias do seu consócio Xavier de Araújo; deputado às cortes consti­tuintes em 1821; conselheiro de Estado em 6 de mar­ço de 1823; emigrado em Londres desde junho do mesmo ano até fevereiro de 1827, e novamente em fevereiro do ano seguinte até setembro de 1833; supremo magistrado do Comércio e Juiz presidente do Tribunal Comercial de segunda instância, por carta régia de 18 de setembro do mesmo ano; demitido de todos os cargos, por assim o haver requerido, em 19 de setembro de 1836. - Nasceu no Porto a 6 de junho de 1786 e aí morreu a 14 de novembro de 1838, havendo perdido totalmente a vista quatro anos antes. - Este retrato é a reprodução do que aparece na Colecção dos Retratos dos Homens de 20, de que demos notícia quando nos referimos ao de Fernandes Tomás.
Pág. 17 - Quadro alegórico da aliança anglo-lusa
Esta estampa alegórica é reprodução duma excelente gravura de 1810, delineada por J. C. da Silva e aberta por S. F. Queiroz. Tem na parte inferior esta quadra em português, acompanhada da respectiva tradução inglesa:
Teu Nome, ó Grande Jorge, eterno seja, / Pois punes a ambição, calcas a inveja, / A Luz da Gratidão firma a aliança / Da Casa de Brunswick, e de Bragança. //
No verso da estampa há o seguinte soneto assinado por Joaquim José Lisboa-Brasiliense:
Chegada ao Nume, que as Espheras move, / O Rey que em Lisia tem Bronsea memória, / Querendo transmitir a sua Glória, / Porque mais da aliança o efeito prove... //
Assim lhe fala:
«Soberano Jove, / Se de Ullysséa se escrever a História, / De contra a Gália conseguir victória, / Bem vês, que o Rey Britano, he o que a promove. //
Ah! Manda, que por haver dever sagrado, / Ao Nome excelso deste Heroe Guerreiro, / O Epitheto de Grande seja dado. //
Sim, Jove então lhe diz: - Jorge Terceiro, / Sempre Grande será; e invicto Aliado,/ Do Augusto Neto de José Primeiro» //
É muito rara esta estampa, pelo que a mandámos copiar, bem como outras que mais adiante neste mesmo volume publicamos, e de que adiante damos a explicação.
Pág. 20 - José da Silva Carvalho
Este vulto notável do movimento de 1820 nasceu no lugar dos Dianteiros, distrito de Viseu, em 19 de dezembro de 1782, e morreu em Lisboa a 7 (?) de setembro de 1856. Logo após o falecimento, saiu a seu respeito uma notícia biográfica em um dos números do Braz Tirana do referido mês. Ele e José Ferreira Borges foram os primeiros que, unidos a Manuel Fernandes Tomás, projectaram e organizaram em 1818 a associação denominada sinédrio, que preparou, dispôs e levou ao fim a revolução política de 24 de agosto de 1820; sendo nesse dia eleito secretário com voto da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino, instalada no Porto. Em 27 de janeiro de 1821 foi nomeado pelas cortes membro da Regência encarregada do governo do Estado durante a ausência d’el-rei. Chegado a Lisboa D. João VI em 3 de julho do mesmo ano, e tratando-se da organização do ministério, foi José da Silva Carvalho escolhido para a pasta dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, a qual conservou até à queda da Constituição em maio de 1823. - Este retrato é copiado do da célebre colecção dos Heroes de 20, a que já neste volume nos temos referido por mais de ume vez.
Pág. 21 - Sé Velha de Coimbra - Túmulo do bispo D. Martinho Gonçalves
Consoante a promessa que fizemos a pág. 617 do VI volume da nossa História, publicamos mais um interessante espécimen tumular do vetusto templo conimbricense, completando desta forma a importante colecção de túmulos que possui e que têm sido reproduzidos nesta obra. - O túmulo representado no desenho pertence ao bispo D. Martinho Gonçalves, sendo, porém, durante muito tempo atribuído ao bispo D. Tibúrcio, que tanto concorreu para a deposição de D. Sancho II. A descoberta, em 31 de agosto de 1804, de uma lápide que há séculos estava sobre um padrão de azulejos, deu em resultado saber-se de quem era o túmulo. Essa lápide, de 22 centímetros de lado, contém este epitáfio:
Hic : iacet dominus / Martinis Cunsalvi : episcopus / colibriensis : qui : obiit : V : idus : setembris: era M:CC:XX:VIIII
O bispo D. Maninho Gonçalves foi sucessor imediato de D. Bermudo na igreja conimbricense, como se deduz claramente duma memória, em que se diz: et qui ei postea successit Domno Bermudo, et post ipsum Domno Martino Gondisalvi; foi eleito e confirmado, portanto, no ano de 1182 ou nos princípios do imediato. - Um documento de D. Sancho I mostra a consideração que este monarca tinha pela lealdade deste prelado, para o que devia con­tribuir o facto de ter D. Martinho estado na tomada de Silves (1189) conjuntamente com o bispo do Porto. - D. Martinho faleceu em 1191 (ano 1229 da era de César) como se vê da inscrição. - O seu túmulo, bastante danificado, vê-se sob um edículo próximo da porta da sacristia da Sé Velha.
Pág. 24 - João Ferreira Viana
Também foi um dos vultos notáveis da revolução de 1820, e o seu retrato que aqui damos, é copiado do que vem na célebre colecção dos Heroes de 20, de que neste volume damos a reprodução.
Pág. 25 - Luiz Paulino Pinto da França
General do nosso exército, que nasceu na Baía a 30 de junho de 1771. Alistou-se como cadete no regimento de cavalaria n.º 1; era tenente quando esse corpo foi, como os outros, mandado dissolver por Junot. A ordem do general Junot foi executada em Coimbra, onde então se achava o regimento, e o brioso oficial não podendo dissimular a dor que lhe causava tão violenta medida, conduzindo seu filho, que era cadete e veio a ser o 1° conde da Fonte Nova, ao templo de Santa Cruz, aí, diante do tú­mulo de Afonso Henriques, quebrando a espada, se­gundo dizem, improvisou um soneto, cuja primeira quadra é a seguinte: A teus pés, fundador da monarquia, / Vai ser a lusa gente desarmada! / Hoje cede à traição a forte espada, / Que jamais se rendeu à valentia. //  Tomando activa parte na revolução do Porto con­tra o domínio estrangeiro, voltou ao seu antigo regimento, passando depois a servir com o posto de capitão às ordens do comandante da Leal Legião Lusitana. Promovido a major era 1809 pelo bem que desempenhara essa comissão, ascendeu depois a tenente-coronel, e, servindo em diversos corpos, distinguiu-se em vários combates e acções, e principalmente no de Valverde, onde mostrou inexcedível bravura e intrepidez. Embarcando para o Brasil, comandou como coronel o 1º regimento de cavalaria do Rio de Janeiro, e, tendo sido elevado ao generalato, foi em 1821 escolhido pela sua província para a representar no congresso constituinte. - Logo em seguida à queda da constituição em 1823, foi por D. João VI mandado à Baía para, de acordo com o chefe da divisão João Félix Pereira Campos, comandante da esquadra portuguesa naqueles mares, e com o brigadeiro Madeira, comandante das forças de terra, ajustar uma suspensão de armas com os brasileiros, enquanto outros comissários iam ao Rio de Janeiro tratar directamente com D. Pedro. - Chegado à Baía a 18 de agosto, encontrou a cidade em poder dos brasileiros, porque as nossas forças já haviam retirado no dia 2 de julho, e, portanto, seguiu para a capital do Brasil, onde, segundo as instruções que recebera, se devia unir aos ou­tros comissários. Chegando ao Rio de Janeiro a 7 de outubro, o governo recusou entrar com ele em negociações e o mesmo fez com o conde de Rio Maior e os outros enviados de Portugal, que só chegaram no dia 17. - Em vista da decisão do governo brasileiro, retirou o conde de Rio Maior para Lisboa no dia 2 de outubro, acompanhado de todos os seus colegas, excepto o marechal Luiz Paulino, que por doença ficou no Rio de Janeiro. - Em dezembro embarcou o general a bordo do brigue Glória, com destino para Lisboa, mas não chegou a ver novamente Portugal porque faleceu a 8 de janeiro de 1824, na altura de 14 graus ao norte da linha equinocial. - O retrato que aqui damos é copiado do que a óleo existe em Lisboa, em poder dos seus descendentes.
Pág. 28 - Porto - Igreja dos Congregados
Fundou-se em 1160 à custa da câmara e do povo do Porto a igreja e mosteiro dos Congregados, junto à Porta de Carros. É um templo sumptuosíssimo que pertenceu à congregação de S. Filipe Nery. Os altares de Nossa Senhora das Dores e Jesus Maria José são verdadeiramente admiráveis. - O edifício do mosteiro e tudo quanto lhe pertencia, foram vendidos depois de 1834. O que foi mosteiro está hoje transformado em boas moradias de casas particulares. A actual rua do Sá da Bandeira também foi aberta em terreno que pertenceu a estes padres; um beco que vai desta rua para a do Bispo (hoje rua de D. Pedro) ainda conserva entre o povo a denominação de viela dos Congregados.
Pág. 29 - Santa Cruz de Coimbra - Urna contendo os restos de Santa Comba
Durante muito tempo permaneceram numa ermida, no lugar do seu martírio. Em 1170 foram trasladados para a igreja do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sendo colocados na parede da nave direita daquele templo. - «Esta nave (diz D. Timóteo dos Mártires) serve oje de Igreja Paroquial dedicada a São João Bautista anexa ao mosteiro de Santa Cruz & no mesmo locar da parede se vê ainda hoje hua pedra muy bem lavrada em que estiveram estes santos ossos, & nele de letra antigua hum leteiro que dis: Hic requiescit Corpus Beatae Combae.» - No tempo de D. Manuel foram tirados daquele lugar os ossos de Santa Comba e metidos num cofre, guardando-se no Santuário do mosteiro, onde hoje se encontram na formosa urna que a nossa gravura reproduz.
Pág. 31 - D. Diogo do Sousa
Existe no palácio dos governadores da Índia, em Goa, o retrato a óleo donde foi tirada uma fotografia, sobre a qual foi aguarelado o retrato que aqui damos deste governador da Índia dos primeiros anos do século XIX.
Pág. 32 - Duarte de Leça
Natural do Porto e um dos membros mais activos que promoveu a revolução de 1820; morreu sendo cônsul-geral em Liverpool. Garrett imortalizou o seu nome com os versos que lhe dirigiu no princípio da D. Branca: Não rias, bom philosopho Duarte, / Da minha conversão, sincera é ela... //  O retrato que aqui damos é cópia do que vem na celebrada colecção de retratos dos Homens de 20, donde foram copiados os outros que aqui estampa­mos dos restantes heróis deste celebre movimento político.
Pág. 33 - Uma sessão nas cortes de 1820
Esta epigrafe supre bem qualquer explicação que sobre o assunto déssemos.
Pág. 36 - Marquês de Loulé
Agostinho Domingos José de Mendonça, 1° marquês de Loulé, pertencia à nobre família dos Mendonças, que pretende descender dos condes de Biscaya. - Criado marquês em 1798, era coronel em 1807 e foi como tal nomeado por Junot comandante do terceiro regimento de cavalaria da Legião Lusitana, que se organizou com os restos dos regimentos 2, 3, 5 e 8. Serviu nessa qualidade no exército de Napoleão, e acompanhou Massena a Portugal, motivo porque os tribunais o condenaram à morte, por sentença de 21 de novembro de 1811; esteve por isso muito tempo ausente da pátria, até que em 1818 obteve o seu perdão no Rio de Janeiro, e concedido pelo próprio D. João VI, que não só lhe concedeu o perdão, mas lhe restituiu o seu valimento e os car­gos que ocupava na corte. Veio para Lisboa com D. João VI, que se lhe mostrou cada vez mais afeiçoado, e o modo trágico como os seus dias terminaram encontram-se num folheto do sr. Cunha Belém, em que, biografando o duque de Loulé, se refere à tragédia que terminou os dias de seu pai, e em que conta a versão apresentada pelo sr. Soriano, versão que tem a seu favor todas as probabilidades, mas que ainda assim não consegue rasgar completamente o véu misterioso que envolve esse funesto acontecimento. - A dissidência que a disseminação das ideias liberais começava a fazer germinar no ânimo dos portugueses, e que tanto sangue havia mais tarde de fazer derramar, tinha as suas raízes mesmo no palácio real. O rei fraco, bondoso e inimigo da tirania e da opressão, não era desfavorável às ideias liberais, como o demonstrara jurando a constituição de 1820. D. Carlota Joaquina, fanática e obcecada, e seu filho o infante D. Miguel, sempre propenso para o mal, eram a alma e a vida do partido absolutista e retrógrado. - Fora o marquês de Loulé conselheiro fiel d’el-rei, e, por conseguinte, aos seus inimigos (que eram sua mulher e seu filho!) convinha fazer desaparecê-lo da cena política. Haviam-se por essa ocasião exacerbado os ódios contra o fidalgo que era estorvo às tentativas de D. Miguel, que, na sua marcha para Vila Franca, causara a morte da constituição de 1820. «Eis como o historiador Simão José da Luz Soriano relata o feio atentado de que foi testemunha o palácio de Salvaterra.» - Entre as pessoas que mais se tinham esforçado para que el-rei saísse de Lisboa para Vila Franca, foi o seu particular amigo e válido marquês de Loulé, do qual, por isso mesmo, D. Miguel protestou tirar uma crua vingança. Para melhor realizar suas vistas adoptou uma marcha hipócrita, tratando com refalsada cordialidade o marquês, que, apesar dos repetidos avisos que lhe fizeram, nunca pôde acreditar que o infante fosse capaz de atentar contra a sua vida. Em fins de fevereiro de 1824 resolveu el-rei e a corte irem passar o carnaval a Salvaterra, onde há um teatro pegado com o palácio real. - D. Miguel, tendo mandado ir de Lisboa os objectos necessários para uma representação, em que o marquês também devia entrar, prin­cipia a fazer alguns ensaios da peça; no dia 28 de fevereiro, tendo saído primeiro do teatro todas as pessoas que ali concorriam, ficaram atrás D. Miguel, o marquês de Abrantes, o de Loulé, além de um cé­lebre Leonardo, que era, ou fora, sota-cocheiro da casa real, e um campino, íntimo amigo deste último. Do teatro para o quarto de el-rei e para o resto do palácio vai-se por um corredor, por onde saiu o infante e as mais pessoas que com ele tinham ficado atrás. Foi então que se deitaram ao infeliz Loulé e o assassinaram. - Segundo o que naquele tempo correu, parece que o cocheiro Leonardo, desempe­nhando as ordens recebidas de D. Miguel, arremes­sou, de repente, sobre a cabeça do desgraçado marquês um cobertor de lã que trazia dobrado e pendurado no ombro, como é de prática entre campinos do Ribatejo; cobertor que foi visto nas varan­das do teatro e com o qual o atabafou, sufocando-o de tal modo que nem para a sua salvação pode dar um só grito: neste estado lhe atiraram em seguida fortes pancadas sobre a cabeça, com que o mataram, cravando-lhe depois de morto, por bárbaro diverti­mento, uma choupa, com que lhe cortaram o beiço inferior e lhe ofenderam também o céu da boca. De dentro do paço e perto do quarto de el-rei, onde o marquês foi assassinado das dez para as onze horas daquela noite, se conduziu o cadáver para o entulho do palácio velho, onde o mesmo cocheiro Leonardo e um sargento de polícia José Veríssimo o deixaram ficar, e onde naquele estado foi encontrado na manhã seguinte. El-rei, horrorizado com semelhante crime, perpetrado no seu próprio paço, tão perto do seu próprio quarto, saiu para Lisboa... - Dos terrores do rei resultou ser coisa de mera formalidade o processo que se mandou instaurar, para se alcançar os assassinos do infeliz Loulé, que a população intei­ra da capital conhecia e apontava com o dedo. - Parece que não fora a mãe do infante estranha a este atentado, pois que, na manhã seguinte, quando foi pelos criados descoberto o corpo do marquês, a rainha, esquecendo o augusto carácter de que estava revestida a sua posição, correu toda jubilosa e bradando ao capelão: «Morreu o marquês de Loulé, vá já aplicar-lhe por alma a missa de hoje!» - O retrato que aqui damos é copiado de um pequeno a óleo, único autêntico que se conhece, e que nos foi amavelmente facultado por seu neto, o actual sr. duque de Loulé.
Pág. 37 - José Maria Lopes Carneiro
Foi este homem um dos que auxiliaram a famosa revolução de 20, e fizeram parte do sinédrio criado por Fernandes Tomás. - O retrato que aqui damos é copiado do da celebre colecção intitulada: Retratos dos membros da Associação começada no Porto em 22 de janeiro de 1818, e das mais pessoas que com eles cooperaram para a revolução política de 24 de agosto de 1820.
Pág. 40 - D. Francisco Alexandre Lobo
Doutor em teologia e lente da mesma faculdade na Universidade de Coimbra, freire professo da ordem de S. Bento de Aviz, nomeado bispo de Viseu em 1819 e sagrado a 18 de julho de 1820; par do reino em 1826 e ministro de Estado. Nasceu em Beja em 14 de setembro de 1763, e, regressando a Portugal depois de dez anos de exílio, que decorreram de 1833 a 1844, tendo finalmente reconhecido o governo de D. Maria II e achando-se desimpedido para tomar conta pessoalmente do bispado, não o pôde fazer por lhe sobrevir a morte poucos dias depois do seu desembarque em Lisboa. Faleceu no convento das religio­sas flamengas do Calvário, em 9 de setembro de 1844. - Estes dados biográficos os transcrevem-se-nos do inesgotável Diccionirio Bibliographico, de Inocêncio Francisco da Silva; quem, porém, desejar tomar maior conhecimento da vida do celebrado escritor, leia a Memória sobre a vida de D. Francisco Alexandre Lobo, etc., por Francisco Eleutério de Faria e Mello, 1844, onde se acham preciosas notícias. - Do erudito escritor foram publicadas póstumas as Obras de D. Francisco Alexandre lobo, Bispo de Viseu, impressas à custa do Seminário da sua diocese, três volumes in-8°, acompanhado o primeiro do retrato do ilustre homem de letras, do qual copiámos o que adorna esta ligeira notícia biográfica. - Encarregou-se da coordenação e publicação destas obras o referido Francisco Eleutério de Faria e Melo, pessoa que tivera com o bispo a mais estreita intimidade e o acompanhara em sua desgraça. Como este falecesse em 1852, ainda antes de concluída a impressão do tomo III, apenas se completou este, e ficou interrompida a continuação das seguintes até agora. - O bispo Lobo foi no seu tempo, e é hoje ainda, havido na conta de homem de vasta erudição, muito instruído nas ciências próprias do seu estado e versado em todos os ramos de filosofia e literatura amena. Todos os críticos, apesar da diversidade de opiniões políticas, concordam em considerar o bispo de Viseu como um dos escritores que nos modernos tempos souberam imitar mais de perto os nossos antigos clássicos no que diz respeito à propriedade de locução, pureza de linguagem e correcção de estilo. Alexandre Herculano, falando da Memória de Fr. Luís de Sousa, que vem inserta no 2º volume das Obras de D. Francisco Alexandre Lobo, não duvidou classificá-la de «modelo de consciência literária, de erudição e de estilo.» Lopes de Mendonça, porém, desviando-se da opinião comum, traça o prelado com mais desabrimento, julgando imerecidos os louvores que outros lhe têm dispensado.
Pág. 41 - Porto - Cadeias da Relação
Foi o usurpador Filipe II quem mandou construir esta cadeia, cuja edificação principiou em 1583; porém, era um edifício acanhado, e pouco passou dos alicerces. - Sendo regedor das justiças e governador das armas do Porto, Diogo Lopes de Sousa, segundo conde de Miranda, mandou construir estas obras, pe­los anos de 1630. - Era, porém, a cadeia de exíguas dimensões, sem capacidade para retenção dos crimi­nosos do distrito. Sendo feito regedor das justiças João de Almeida e Melo, demoliu a antiga cadeia, e lançou a primeira pedra do edifício actual em janeiro de 1765. - É um vasto edifício de forma triangular, completamente separado de outros edifícios; a fachada principal é para a rua de S. Bento, e tem um frontão adornado de estátuas de granito. É deste lado a entrada para as diferentes secretarias e re­partições da Relação do distrito; a entrada para as diferentes prisões, é pela frente que deita para a Cordoaria. - O lado do sudoeste do edifício, de três andares como o resto, não tem entrada alguma. No ângulo do noroeste, ao cimo da rua da Ferraria de Cima (hoje Caldeireiros), e no fim setentrional da rua de S. Bento, não tem mais de 8 a 9 metros de largo; parece que o arquiteto pretendeu fazer desta parte a frente principal do edifício, pois, tendo uma só, mas grande, janela, está encimada com o escudo das armas de Portugal, entre dois troféus, sendo o seu envasamento guarnecido por um chafariz de boa arquitectura. - Tem toda a casa 103 janelas, é construída de sólida cantaria de granito das pedreiras do Porto. - Até 1860, o lado do norte deitou para um beco, tendo na sua frente uma fileira de casas de taipa e barracões, indignos de uma cidade, e que davam ao edifício um aspecto ainda mais fúnebre do que ele tem. Então, a câmara municipal expropriou e mandou demolir estes barracões, e actualmente esta parte da casa deita para o formoso passeio da Cordoaria.
Pág. 44 - José Pereira de Menezes
Fez parte do sinédrio implantado no Porto por Fernandes Tomás, para levantar o formidável movimento de 1820, e o retrato que aqui damos é copiado do que vem na celebrada colecção de Retratos dos Membros da Associação, etc., de onde foram copiados os outros de índole igual que apresentamos neste volume da nossa História.
Pág. 45 - Santa Cruz de Coimbra - Relíquia da Virgem-mártir Santa Comba
No soberbo santuário de Santa Cruz, onde está a linda urna de talha dourada contendo os restos desta santa, que já publicamos a pág. 29, existe também num belo relicário de ébano com incrustações de prata, um pequeno fragmento de osso da gloriosa virgem-mártir conimbricense. - O desenho que publicamos é muito interessante, sobretudo pela curiosíssima legenda fielmente transcrita.
Pág. 47 - Francisco Gomes da Silva
É mais um dos membros que fomentou a famosa revolução de 1820, e o seu retrato faz parte da notá­vel colecção donde havemos copiamos o grande número de outros que aparecem neste volume da História.
Pág. 48 - João da Cunha Sotto Mayor
Também este retrato é copiado da notável colecção de Retratos dos Membros da Associação começada no Porto em 22 de janeiro de 1818, e das mais pessoas que com eles cooperaram para a revolução política de 24 de agosto de 1820.
Pág. 49 - Palácio dos duques de Aveiro, em Azeitão
Azeitão é uma bonita freguesia dos arredores de Lisboa, pertencente à comarca de Setúbal. - A sua igreja paroquial foi instituída em 1350, e apesar de pequena, encerra alguns objectos apreciáveis. Quase em frente dela, e formando um dos lados de uma praça rectangular, sobre a qual se ergue o pelourinho, está assente o palácio dos duques de Aveiro. A sua estrutura mostra-nos dois corpos laterais avançados, a que serve de ligação ao fundo o corpo principal, constituindo assim a entrada um grande pátio. A parte direita, que dá sobre o jardim, tem no primeiro andar uma larga varanda dividida por colunas, comunicando com uma espécie de galeria, a que se seguem para o interior as salas e outros aposentos. - É fundação do 1º duque de Aveiro, pelo meado do século XVI, começando por uma casa de campo, junto ao convento dos dominicanos, que os seus sucessores tornaram em palácio e fizeram sua residência habitual e solar desde o primeiro quartel do século XVII, transferindo-se para ali definitivamente então dos seus paços de Setúbal. - O atentado de 3 para 4 de setembro de 1758 contra a vida de D. José, envolveu nas suas consequências o último du­que de Aveiro, D. José Mascarenhas, e no palácio de Azeitão foi preso por uma força importante, que de Lisboa partira de noite para esse efeito. - Condenado e executado o duque no dia 19 de janeiro de 1759, foram resgatados todos os seus bens para a coroa, salvo o palácio de Belém, que foi arrasado e o chão dele salgado. - Alguns anos depois, tendo sido expulsos os jesuítas de Portugal, foi o palácio de Azeitão um dos edifícios onde estiveram reco­lhidos parte deles, antes de embarcarem para o estrangeiro. - O palácio foi depois vendido e está hoje muito arruinado.
Pág. 52 - José de Mello de Castro e Abreu
Vem na colecção por nós tantas vezes citada neste volume da História, Retratos dos Membros da Associação, etc., aquele donde foi copiado o que aqui damos deste membro da famosa conspiração que promoveu com resultado a revolução de 1820.
Pág. 53 - Igreja e convento da Trindade
Foi fundado este convento em 1218, reinando D. Afonso II. Em 2 de janeiro de 1283 se principiou na igreja deste mosteiro a edificar uma grandiosa capela, mandada fazer pela rainha Santa Isabel, mulher de D. Diniz, e dedicada a Nossa Senhora da Concei­ção, a primeira que desta invocação houve em Portugal. - Nesse mesmo ano deu a rainha santa avul­tadas esmolas a este mosteiro, impondo-lhe a obri­gação de remir os cativos. - Em 1560 os religiosos reedificaram e ampliaram a igreja e mosteiro. - Em 20 de setembro de 1708 um temeroso incêndio devo­rou a maior parte do mosteiro, escapando a igreja, a livraria, o refeitório e mais casas que eram de abóbada. Foi logo reedificado. - Estava aqui uma urna com os ossos de Ruy de Mello, casado com D. Brites Pereira, sobrinha do condestável D. Nuno Álvares Pereira. - Foi aqui conventual o célebre fr. Miguel de Contreiras. O terramoto de 1755 causou bastantes estragos a este edifício, que chegava até à esquina da travessa de João de Deus. - Em 1835 foi demolida a Igreja, que se transformou em uma propriedade particular feita no gosto moderno. No local que o convento ocupava, se abriu a rua Nova da Trindade. - Esta gravura é reproduzida do desenho de Gonzaga Pereira, na sua Descripção dos monumen­tos sacros de Lisboa, a que já tantas vezes nos te­mos referido nestas notas.
Pág. 55 - Bernardo Correia de Castro Sepúlveda
General do nosso exército e filho de Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, nasceu a 20 de agosto de 1791, na cidade de Bragança. - Seguindo com seu pai a carreira das armas, tomou parte activa na guerra da Península, e, chegando ao posto de coronel, estava em 1820 comandando o regimento de infanteria 18, que chegou ao Porto no dia 16 de agosto. Con­vidado este chefe para anuir à revolta que se pro­jectava e que já estava planeada, faltando apenas fixar o dia em que devia rebentar, entrou Sepúlveda para o sinédrio no dia 18, com o número 13, vindo deste modo a ser o último membro dessa notável assembleia, e um dos mais dedicados e generosos partidários do sistema constitucional até 1823. - Na marcha do exército liberal para Lisboa, foi ele que na frente da junta partiu para o Vouga, Coimbra e Viseu. Em todos os pontos intermédios, e muitas vezes só, foi também ele o que fez desenvolver nos povos o entusiasmo pela causa da revolução, e foi ainda Sepúlveda que, passando depois à Extremadura, marchou sempre nos postos avançados, desfazendo e quebrando todos os obstáculos e dificuldades que a junta tinha de vencer para chegar à capital do reino. - Sendo eleito deputado para as cortes consti­tuintes, foi depois nomeado governador das armas da Corte e achava-se desempenhando esse lugar, quando houve a Vila-Francada, em maio de 1823. - Sepúlveda, receando (como tantos outros) a marcha da revolução, voltou-se para o partido que fez cair a Constituição, e na tarde do dia 30 dirigiu-se ao castelo de S. Jorge e pondo-se à frente da guarnição dele, levou a D. Miguel um reforço de 2.700 ho­mens. O infante recebeu-o mal, entendendo que ele chegava tarde e que devia ter (pela sua posição) prestado muito maiores serviços à causa absolutista, e por isso mandou-o preso para Peniche, onde Sepúlveda se conservou, tendo a praça por homena­gem, até que em 1824 foi solto ao mesmo tempo que os presos da Abrilada. Embarcando para o Havre, em agosto desse ano, e seguindo para Paris, morreu nessa capital a 9 de abril de 1833, sem ter visto mais a terra da pátria e desprezado de liberais e absolutistas. - Escreveu e publicou em Lisboa, sem data (mas parece que é de 1823): «Alicerces da regeneração portuguesa Memória das providências a bem da regeneração nacional, que o brigadeiro, etc., então coronel do regimento de infanteria 18 praticou em o dia 24 de agosto de 1820, e posteriormente na qualidade de deputado da junta suprema provisória do governo do reino, etc.» - Este retrato é reproduzido da célebre colecção dos Heroes de 20, pu­blicada por Silva Oeirense.
­­­Pág. 56 - José Maria Xavier de Araújo
Fidalgo da Casa Real e do conselho de sua majestade, comendador da ordem de Cristo, bacharel formado em cânones pela Universidade de Coimbra, etc. - Nasceu na vila dos Arcos de Valdevez no ano de 1780, e foi filho do desembargador Francis­co Xavier de Araújo, conselheiro da Fazenda. Entran­do na carreira da magistratura, acabava de exercer o lugar de provedor da comarca de Viana do Minho, quando, em princípios de 1820, se uniu a Manuel Fernandes Tomaz a outros que então compunham a sociedade política, que dispôs e preparou os sucessos de 24 de agosto do mesmo ano. - Foi eleito deputado às cortes constituintes, as quais se tornou notável por pertencer à minoria que na feitura da Constituição pugnava pela organização do poder legislativo em duas câmaras. - Em 1823 teve de emi­grar do reino, e não mais figurou no serviço público até ser, em 1834, nomeado juiz do tribunal do Comércio de segunda instância. Foi daí transferido para juiz da Relação do Porto em 1850. - Ignoramos a data do seu falecimento. - Escreveu Revelações e memórias para a história de 24 de agosto de 1820, etc. - O seu retrato é copiado da célebre colecção de Silva Oeirense.
Pág. 57 - Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira
Filho de José Cabreira de Brito Arvelos, sargento-mor da comarca de Faro, nasceu nesta cidade a 6 de janeiro de 1703 e alistou-se no exército em 1777. Sendo cadete de artilharia estudou matemática na Universidade e obteve o grau de bacharel nessa faculdade, depois de que foi promovido a tenente para o regimento de artilharia do Algarve em que serviu. - Nesse posto entrou nas guerras de Roussillon e Catalunha, para as quais se ofereceu voluntariamente bem como por ocasião da guerra de 1801 durante a qual foi comandante da artilharia do exército da Beira Baixa. - Quando em junho de 1808 teve lugar em Faro a revolta contra os franceses, o capitão Sebastião Cabreira tomou activa parte nesse movimen­to para o qual também cooperaram grandemente seus irmãos Belchior e Severo, tornando-se por essa ocasião igualmente notável o entusiasmo com que sua esposa D. Maria Alves Pinheiro Correia de Lacerda, animava os populares e lhes distribuía armas e mu­nições para correrem à defesa da pátria. - Nomeado membro da junta provisória que se formou no Algarve, e elevado a tenente-coronel de artilheria 2, acompanhou depois como ajudante general o conde Monteiro-mor, quando este, à frente do exército do sul, marchou para o Alentejo, e por esse general foi mandado a bordo da esquadra inglesa para protestar contra as estipulações da convenção de Sintra. - Voltando a servir no regimento de artilharia 1, comandou algum tempo a artilharia de Peniche, e passando em seguida a comandar aquele corpo recebeu na comenda de Aviz a lotação de trezentos mil réis, declarando o diploma: «Que tendo tido grande poder, nunca abusara dele». - Em 1817 foi promovido a coronel para o regimento nº 4 estacionado no Porto, e nesta situação se achava quando se verificou a revolução de 24 de agosto de 1820. - Nomeado vice-presidente do governo provisório então formado naquela cidade, marchou para Lisboa à frente do exército, e depois da reunião das duas juntas, do Porto e da capital, foi o coronel Cabreira escolhido para presidente da junta preparatória das cortes. - Elevado a brigadeiro, foi em 1821 encarre­gado do comando militar da costa desde o cabo da Roca até à foz do Mondego e depois nomeado go­vernador das armas do Algarve. - Exonerado deste importante cargo logo em seguida à queda da Constituição foi demitido em 1826 e, expatriando-se, só voltou ao reino depois do juramento da carta constitucional. - Reintegrado no posto de brigadeiro emigrou para Inglaterra pouco depois da chegada de D. Miguel a Portuga], e, oferecendo-se para servir na Madeira como soldado, embarcou na fragata brasileira Isabel, a bordo da qual seguia também seu irmão Diocleciano, depois barão de Faro. - Tendo esse na­vio de guerra, segundo as instruções de Palmela, tocado na ilha Terceira, aí ficou logo o general Dio­cleciano Cabreira encarregado do governo das armas e aí se lhe veio juntar seu irmão Sebastião, depois de reconhecida a impossibilidade de desembarcar no Funchal. - Quando o futuro barão de Faro se retirou da ilha, ficou o brigadeiro Cabreira encarregado da presidência da junta provisória até que esta se dis­solveu pela chegada do conde de Vila-Flor. - Tendo assistido à célebre batalha de 11 de agosto, foi em 1801 nomeado comandante-geral de artilharia, e por vezes ficou incumbido do governo das armas da ilha Terceira durante a ausência do general em chefe. - Quando D. Pedro deixou os Açores e se dirigiu a Portugal, o general Cabreira acompanhou-o como comandante-geral da artilharia do exército liberta­dor e logo depois do reconhecimento de Valongo e do combate de Ponte Ferreira foi nomeado governa­dor interino das armas do Porto e da província do Minho. - Aparecendo nos pontos mais arriscados em todas as acções que se deram nas linhas da cidade invicta, distinguiu-se especialmente no dia 20 de setembro, em que, vendo o inimigo voltar das trin­cheiras, cheio de entusiasmo, e dirigindo uma breve e enérgica alocução aos soldados que estavam meio desanimados, puxou da espada, e colocando-se na frente deles levou as tropas miguelistas de vencida, afastando-as para longe das posições que haviam conquistado. - Agraciado com a comenda da Torre e Espada por esse brioso feito continuou a mostrar um valor inexcedível em todos os ataques que os sitiantes fizeram aos defensores da cidade da Virgem até que, prostrado no leito pela doença, exalou o último suspiro no dia 2 de junho de 1833, sendo o seu cadá­ver sepultado na igreja de Cedofeita. - O retrato que dele damos é copiado da celebre colecção de Silva Oeirense.
Pág. 60 - Igreja de Santa Catarina
Desapareceu esta antiquíssima igreja de Lisboa aí por 1856 e o aspecto que aqui damos é o que ela apresentava em 1833, em que a copiou Luiz Gonzaga Pereira, a quem tantas vezes temos recorrido para a ressurreição de algumas igrejas e capelas desaparecidas depois daquela data para cá. Para a notícia desta interessantíssima igreja, leia-se o que nos diz o sr. Visconde de Castilho no 2º volume da 2ª edição do seu soberbo livro Lisboa antiga.
Pág. 61 - Domingos António Gil de Figueiredo Sarmento
De tantas vezes citada colecção de Retratos dos membros da Associação começada no Porto em 1818, etc., colecção donde copiámos a maioria dos retratos dos homens de 20 que aparecem neste volume da nossa História, mandámos também reproduzir o que o leitor tem à vista.
Pág. 64 - Igreja da Trindade - Porto
Em 17 de abril de 1803 o bispo do Porto, D. António de S. José e Castro, lançou a primeira pedra desta igreja, que só em 19 de maio de 1841 se abriu à veneração pública, é actualmente a mais bela do Porto, não só pela sua elegante e belíssima escultura exterior, e pela sua formosa torre de sinos, com seu carrilhão - o primeiro que houve naquela cidade - como pela sumptuosidade do seu interior, e pela beleza das imagens que adornam os altares.
Pág. 65 - José de Sousa Pimentel de Faria
Foi um dos heróis de 20, e como tal o seu retrato reproduziu-se para aqui da famosa colecção em que se gravaram os retratos de 33 desses homens notáveis.
Pág. 68 - Igreja do Carmo - Porto
Em 5 de maio de 1619 lançou-se a primeira pedra do mosteiro desta invocação no sítio então chamado Campo do Olival (Cordoaria). Foi feita esta obra à custa da câmara e do povo da cidade. Benzeu e lançou a primeira pedra o bispo do Porto, D. Rodrigo da Cunha. Todas as obras ficaram concluídas em junho de 1628. A fachada da igreja é de grande ma­gnificência, pela prodigalidade dos escultores, e pela elegância das esculturas que a decoram. - O inte­rior da igreja é também de muito bom gosto, sobre­tudo a capela-mor, que é de uma riqueza surpreendente. - Unida à igreja do Carmo está a capela dos terceiros da mesma ordem.
Pág. 69 - José Pereira da Silva Leite de Berredo
Um dos homens do glorioso movimento de 20; o seu retrato é copiado da celebre colecção, a que tan­tas vezes nos havemos referido no decurso das notas do presente volume.
Pág. 71 - Escultura existente na Fonte de Santa Comba, representando o seu martírio (Século XVII).
A pág. 357 do vol. VII da nossa História, publicámos uma vista da pequena capela de Santa Comba, cuja lenda é uma das mais formosas e emocionantes de Coimbra. A interessante escultura do século XVII, que hoje reproduzimos representa o martírio da Santa, como no-lo conta a tradição. Como diz um escritor do século XVII, Dom Timóteo dos Mártires, a bem-aventurada Santa Comba foy de ilustre geração e prosápia, filha de hu Conde, ou Regulo da Lusitânia, ainda que estrangeiro de nação Tudesco, e de mãy Portuguesa de Coimbra, e padeceu martyrios de Cruz pela guarda da fé, e castidade, sendo o caso como segue: Um rei mouro ferido por um raio de beleza desta jovem santa, resolveu oferecer-lhe o tálamo real, indo para este fim pedi-la a seu pai. Mas Comba, que tinha já outro esposo em Jesus Cristo, rejeitou a oferta, e temendo-se das consequências da recusa, fugiu para o interior dos matos, onde julgava a não poderiam alcançar as iras do seu desprezado amante. Pela solidão daquelas brenhas e montes viveu algum tempo escondida; mas sendo isto sabido do rei, de serra em serra a foi procurando com muita da sua gente, até ir dar com ela metida naquele vale ao abrigo dos matos, que a cobriam. Sendo alcançada no monte onde está hoje a ermida, ali mandou logo cortar uma arvore, de que construiu uma cruz, em que desapiedadamente a fez pregar, morrendo assim na pureza da lei evangélica, que professava, vítima do seu firme propósito em guardar a sua preciosa e angélica castidade». - Os restos de Santa Comba estão hoje no Santuário do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra numa rica urna de talha dourada que atrás publicámos.
Pág. 72 - António Barreto Pinto Feio
O carácter da gravura mostra claramente qual foi a fonte a que recorremos para a reprodução deste retrato, que foi nem mais nem menos que a famosa Colecção, cujo título se encontra várias vezes repetido no decurso das notas do presente volume.

 
Pág. 73 - José Pedro Cardoso da Silva
Mais um dos heróis de 1820; escusado será dizer qual a fonte a que recorremos para a reprodução deste retrato.
Pág. 76 - Tibúrcio Joaquim Barreto Feio
Da famosa Colecção tantas vezes citada dos retratos dos heróis de 20, mandamos reproduzir a característica e insinuante fisionomia deste membro da revolução de 1820.
Pág. 77 - Hospital da Misericórdia do Porto
Representa a nossa gravura a fachada principal, única concluída deste notável edifício de caridade, cuja primeira pedra foi lançada em 15 de julho de 1770, sendo, no entanto, para ali transferidos os doentes só 29 anos depois, em 1799. - Este edifício, que excede em grandeza e em magnificência a todos os do seu género em Portugal, depois de concluído talvez não tivesse, na solidez e amplitude do fabrico rival na Europa. As paredes fundamentais chegam a ter em certos pontos onze metros de grossura. - O hospital é de três andares; devera ter 159 salas e salões, 142 enfermarias, 97 latrinas, 20.609 portas e janelas, 28 estátuas de 4 metros de alto cada uma, 176 colunas, 100 pirâmides, 5586 balaustres, 56 escadas principais, etc.
Pág. 80 - Luiz Francisco Trinité
Fez parte da Legião Lusitana, achando-se na campanha da Rússia. Perguntando-lhe Napoleão se que­ria fazer parte da divisão de Soult, respondeu que preferia quebrar a espada a vir combater contra a sua pátria. - O seu retrato é cópia de outro, a lápis, feito em Paris, e que se acha na mão de sua neta, a senhora D. Maria da Graça Trinité, a cuja delicada amabilidade devemos o prazer de no-lo confiar, para a nossa reprodução, que é fidelíssima.
Pág. 81 - Academia Politécnica do Porto
Este edifício, de vastas e sumptuosas proporções, principiado em 1803, ainda está incompleto e tarde se concluirá, pois, tem de se proceder a custosas expropriações. - A fachada leste que a nossa gravura representa, está completa e apenas metade da do sul, que é o frontispício.
Pág. 84 - Condessa de S. Martinho
Pertence à antiga casa de Belmonte e foi filha de D. Pedro da Câmara Figueiredo Cabral e D. Ana de Mello. - Casou com o 1º conde de S. Martinho. - O retrato que aqui damos é cópia de uma miniatura em marfim, que se acha em poder do seu neto, o 3º conde do mesmo título.
Pág. 85 - Quadro alegórico da aliança anglo-hispano-lusa
Já demos em páginas 17 a reprodução duma alegoria idêntica, género em que tão abundantes eram os desenhistas do princípio do século passado. A que aqui damos é cópia fac-similada, um pouco reduzida, de uma dessas curiosas composições da época, e dela há a seguinte explicação impressa noutro pa­pel com esta epígrafe: «Explicação da estampa alegórica da Restauração de Portugal em 1808». É concebida nos seguintes termos: - «A figura princi­pal desta alegoria, que se vê vestido de purpura, com Coroa e Cetro, representa a Monarquia Portuguesa, à qual as duas nações Inglesa e Espanhola elevam, dando-lhe as mãos, para a colocarem no seu antigo Trono, pondo a Inglaterra a espada sobre o peito da figura prostrada por terra, que significa a Monarquia Francesa; e a Espanha sustem o grilhão, que lhe lançou; tendo quebrado os que frendiam a nossa Monarquia; o Unicórnio da Inglaterra quebra o escudo Imperial com a pata, ao mesmo tempo que a serpente, Timbre da Real Casa de Bragança, roí a cabeça da Monarquia Francesa; o Leão de Espanha quebra o voo à Águia arrebatadora, que queria levar o mundo nas garras.» - Como acima dissemos, esta explicação anda em folha separada; a própria estampa traz em baixo estes dizeres grava­dos, dum lado em português: De Prestantes Naçõens o auxílio adeja / Águia soberba em Portugal fraqueja //  do outro lado em Inglês: The French Eagle abates its Pride, / Or the Restoration of Portugal.
Pág. 88 - Primeiro conde de S. Martinho (Sequeira)
Ascenso de Sequeira Freire de Sousa Chichorro Abreu Cardoso Castro Calvos Serniche, 1º conde de S. Martinho, senhor da casa-solar de Cardiga em S. Martinho de Mouros, e de vários Morgados, comendador de S. Vicente da Beira, da Ordem de Cristo; governador geral da ilha da Madeira e oficial de cavalaria do exército, nasceu a 23 de agosto de 1765 e morreu a 8 de agosto de 1831. - O seu retrato é cópia de um quadro a óleo que faz parte da galeria dos retratos da família de seu neto, o 3° conde de S. Martinho (título não reconhecido), o actual representante de Diogo Lopo de Sequeira, 4º governador e capitão-mor da Índia.
Pág. 89 - Porto - Convento da Ave-Maria
Para dar lugar à estação central dos caminhos de ferro no Porto, foi demolido depois de 1894 o soberbo edifício, que a nossa gravura representa. - Reportando-nos ao Diccionario de Pinho Leal, diz-nos ele ter sido D. Manuel o fundador deste convento, em 1528, que era de religiosas Beneditinas, junto às muralhas da cidade, pela parte interna, e à porta dos Carros. - Foi D. João II quem concluiu a obra do mosteiro em 1528. - Em 1535 instalaram-se neste convento as freiras Agostinhas de Rio Tinto, com as rendas que lhes pertenciam, mudando en­tão para a regra de S. Bento. Nesse mesmo ano foram para esse mosteiro as freiras de Marco de Canavezes, Vale-Cova e Tarouquela. - Esta igreja ardeu em 1783, e foi reedificada quase logo. A primitiva arquitectura (manuelina) era muito mais sumptuosa do que a que existia ao tempo da sua demolição (1894). Era bastante extensa e de grande magnificên­cia, mas a parte externa era de mau aspecto, por ser um misto de antiga e moderna arquitectura. - Para esse mosteiro passaram também as freiras Franciscanas de Monchique, em 1833, quando o governo liberal deu ordem de despejo, para o transformar em deposito de material de guerra. - O edifício do mosteiro era vasto, estava bem conservado e ocupava uma extensa área no coração da cidade. - Até 1834, este convento teve de rendimento anual doze contos de réis.
Pág. 92 - Luiz Pedro de Andrade Brederode
Um dos heróis de 20, e da famosa colecção dos retratos donde mandámos copiar os que destes vultos notáveis figuram na nossa galeria iconográfica, fizemos igualmente reproduzir o que o leitor tem presente.
Pág. 93 - Padrão do Senhor da Areia, em Matosinhos
Fica paralelo à estrada que do Porto conduz a Matosinhos este piedoso monumento. É um zimbório formado de quatro arcos abertos, recortados por uma bonita e elevada abóbada, guarnecida de oito pirâmides, e terminada no seu vértice por uma cruz. Entre as colunas e pela parte de dentro estão as estátuas dos quatro evangelistas. No centro está uma alta cruz com a imagem de Cristo pintada em azule­jo. Foi aqui, segundo a tradição que, em tempos imemoriais foi encontrada a imagem do Senhor Jesus de Matosinhos, que se venera neste lindo templo. Junto do padrão está uma casinha de cantaria, quadrada, com os martírios do Salvador, esculpidas na pedra. Em cada fachada tem uma inscrição latina comemorando a tradição de um milagre feito a uma mulher, em 1726, a qual padecendo de elefancia, for a 3 de maio daquele ano àquele sítio, e ela com as próprias mãos e sem outro algum instrumento, abriu na areia uma poça, e dela e de mais quatro partes (em forma de cruz), brotaram cinco fontes de água perene, e lavando-se com ela três dias, ficou perfeitamente sã. Esta casinha fez-se para conservar a água fechada, e dali se tiram, diz o piedoso autor donde estamos copiando estas linhas, garrafas e gar­rafas de água, que vão para diferentes partes onde operam curas maravilhosas, em várias moléstias.» Esta parte final vai na fé dos padrinhos...
Pág. 95 - Fr. Francisco de S. Luiz
A 26 de janeiro de 1766, nasceu em Ponte de Lima este venerando teólogo, que em 27 de janeiro de 1782 professou a regra beneditina no mosteiro de Tibães, deixando de usar o nome de Francisco Justiniano Saraiva. Frequentou o curso teológico da Universidade, formando-se em doutor em 1791, e em 1807 foi nomeado Professor de Filosofia do Real Colégio dos Nobres, sendo já desde 1794 sócio da Academia Real das Ciências. Quando a Revolução de 1820 surgiu foi chamado para fazer parte da Junta Provisional Suprema do Reino, instaurada em 24 de agosto no Porto. Foi membro da Regência do reino eleito nas Cortes de janeiro de 1821; Reformador Reitor da Universidade; Bispo de Coimbra e Conde de Arganil; deputado às cortes de 1833; e em seguida Presidente da Câmara de Deputados em 1826 e 1834; Guarda-mor do Arquivo Nacional; Ministro do Esta­do; Par do Reino; teve a grã-cruz da Ordem de Cristo; foi patriarca de Lisboa e conselheiro de Estado. Em 1845 extinguiu-se aquele venerando sa­cerdote. O retrato que aqui damos é reproduzido dos que vem inserto na celebrada Colecção dos Homens de 20, à qual tantas vezes nos havermos referido no decurso das notas deste 8° vol. da História.
Pág. 96 - António da Silveira Pinto da Fonseca
Um dos personagens da revolução de 24 de agosto de 1820. Fomos buscar este retrato à celebrada Colecção, donde mandámos reproduzir os da maior parte dos membros desse glorioso movimento, que figuram na nossa galeria de retratos.
Pág. 97 - Os Portugueses na Batalha do Wagram
Inspirou-se o autor da presente aguarela para a sua composição daquela lisonjeira referência que ao valor dos soldados portugueses nessa memorável batalha faz M. Pinheiro Chagas a pág. 122 do vol. 8º desta nossa edição da História.
Pág. 100 - Conde de Oriola
D. Joaquim José António Lobo da Silveira, 7º con­de de Oriola, era filho do 2º marquês de Alvito que nasceu a 12 de maio de 1772, e faleceu em 21 de abril de 1846. Foi gentil-homem da câmara de D. João VI, provedor da casa da Índia, enviado extraor­dinário e ministro plenipotenciário junto da corte de Estocolmo ao congresso de Viena, em Berlim, e embaixador extraordinário a França para assistir à coroação de Carlos X. Casou em Berlim, naturali­zou-se prussiano e aí foi membro do estado da no­breza na assembleia da província da Lusácia, onde comprou as terras nobres de Walden com vários privilégios senhoriais. Por esta circunstância perderam ele e os seus descendentes a qualidade de súbditos portugueses e por esse motivo foi recusado a seu fi­lho primogénito Fernando José a verificação da sua vida no título de conde de Oriola, o qual solicitou no reinado de D. Maria II. O conde de Oriola publi­cou em 1808 em Estocolmo uma obra sobre o Brasil em alemão com o título de Skisse von Brasilien. O retrato que aqui damos é cópia de outro que fez parte da galeria do conde de S. Martinho, sobrinho-neto do retratado.
Pág. 101 - Porto - Portas do Sol
As antigas fortificações do Porto, que datam ao que parece dos princípios do século XII, conservaram-se com poucas alterações, até que D. Afonso IV, em 1336, restaurou o castelo e deu começo às muralhas da circunvalação, obra esta que se prolongou pelo reinado de D. Pedro I; seu filho D. Fernando, porém, foi quem lhe deu maior impulso e a terminou em 1370. Estas muralhas eram de forte cantaria e guar­necidas com soberbas torres, com ameias. Tinha esta circunvalação maior extensão do que a anterior, pois que não só compreendia a antiga cidade, mas ainda o Burgo Novo a par do Porto. Esta grande obra importou só a D. Fernando em trinta mil réis, quantia tão importante naquela época que foi escoltada por um regimento de cavalaria e outro de infanteria, de Lisboa ao Porto. A circunvalação cha­mada de D. Fernando começou no Postigo do Carvalho, (mais tarde Santo António do Penedo, por exis­tir aí uma ermida erigida a este santo) e finalmente Porta do Sol. Como esta porta estivesse arruinada, D. João de Almada e Mello mandou-a demolir em 1774, e reconstruir outra em arquitectura romana, a qual, por ter esculpido sobre a inscrição um sol, foi chamado pelo povo de Postigo (ou Porta) do Sol. Era a seguinte a inscrição que se lia no tímpano da nova porta:
SOL HUIC PORTAE / JOSEPHUS LUSITANO IMPERIO / JOANNES DE ALMADA E MELLO / PORTUCALENSE URBI FINITIMI QUE / PROVINCIIS AETERNUM / JUBAR GAUDIUM PERENNE //
Em 1875 estas portas foram deitadas abaixo para se alargar o edifício da Casa Pia. Foi um crime quase desnecessário, pois que o edifício era vasto bastante e o monumento, que não estorvava nada o trânsito público, por o vão do arco ser largo, servia de ornamento ao local e era um padrão comemorativo do varão a quem o Porto deve tanto.
Pág. 104 - Capitão-mor Luiz de Sola Teles
O retrato que aqui publicamos é de Luiz de Sola Teles, um dos mais valentes capitães-mores da pro­víncia da Beira. - Foi capitão-mor de Castelo-Rodrigo e morgado, por sucessão dos seus maiores, dos vínculos de Valdujo, Carnicães, Reigada, etc., na dita província. - Levou uma vida faustuosa, tendo também importantes bens em Lisboa, onde era então muito apreciado pela elegância que o caracterizava e pela opulência do seu viver. - O retrato que publicamos foi copiado do original da época pelo sr. António de Castro Menezes.
Pág. 105 - Rafael da Cruz Guerreiro
Foi nosso ministro na Rússia durante o reinado de D. Miguel, e pai do primeiro visconde de Vale da Gama. - O retrato é cópia duma excelente aguarela a cores, que os descendentes e herdeiros do retratado obsequiosamente nos facultaram, para podermos com ele brindar os nossos leitores.
Pág. 108 - Macedo de Cavaleiros (Vilar do Monte) - Capela do Espírito Santo
É o mais belo espécimen de arquitectura que conhecemos, desta espécie de edificações na província de Trás-os-Montes, onde aliás elas abundam, todas com o seu alpendre na frente, para abrigar os devo­tos que ali concorrem. - Não se sabe ao certo a data da sua fundação, mas há toda a probabilidade que fosse mandada edificar no tempo de D. João V, pelos padres da Companhia de Jesus, a quem então per­tencia a quinta de Vilar do Monte, em cujos limites está situada, e a qual lhes fora doada por D. Filipa Mendes, para a sustentação do colégio daquela or­dem no distrito de Bragança. - A capela é de arquitectura simples, mas muito elegante. Está situada em sítio extremamente pitoresco.
Pág. 109 - Pedro Leite Pereira de Mello
Foi um dos membros da junta revolucionária, que deu em resultado o movimento de 1820. - O seu retrato foi copiado dos da célebre colecção de que foram reproduzidos os outros que aqui damos dos heróis desse movimento.
Pág. 111 - Porto - Castelo do Queijo
Fica situado à beira-mar, entre as povoações da Foz e de Matosinhos, num extenso areal, o castelo que a nossa gravura representa.
Pág. 112 - Francisco José de Barros Lima
Pertence ao número dos membros da junta revolucionária de 1820, e, como tal foi o seu retrato copiado da famosa colecção, a que tantas vezes nos temos já referido neste volume.
Pág. 113 - Manifestação em favor de D. João VI, no Rio de Janeiro
Representa esta nossa estampa a cena relatada a pág. 171 deste 8º volume da nossa edição da História de Portugal.
Pág. 116 - José Manuel de Sousa Ferreira de Castro
Foi um dos membros da junta revolucionária do Porto, de que resultou o movimento liberal de 1820; o seu retrato foi copiado da celebrada colecção, a que repetidas vezes nos temos aqui referido, em que vem os retratos de 33 destes vultos.
Pág. 117 - Bandeira, da Câmara de Ovar
Este estandarte tem por armas, como se vê da nossa gravura, no inverso a imagem da Virgem com o menino Jesus no regaço, sentada em uma nuvem por cima dum castelo; no reverso as Quinas portuguesas. - A sua origem pode, talvez, deduzir-se do facto da restauração da cidade do Porto, nos fins do século X... - É uma bandeira muito antiga, e pertencia ao extinto concelho de Pereira Jusan, pas­sando a ser propriedade da câmara de Ovar pela extinção daquele concelho.
Pág. 120 - Fr. José Maine
Franciscano da Conceição da Ordem Terceira, cujo instituto professou em 1742. O seu verdadeiro nome de clausura era fr. José de Jesus Maria Maine. - Foi capelão-mor das armadas, confessor de D. Pedro II, e primeiro geral da sua Congregação depois da nova reforma; deputado na real mesa censória, etc. - Fun­dou no convento de Lisboa o Museu de História na­tural, que foi origem do actual na Escola Politécnica de Lisboa, e deixou rendimentos estabelecidos para a sua conservação. - Nasceu na cidade do Porto, em 7 de junho de 1720, e morreu a 23 de dezembro de 1792. - Escreveu: Declaração evangélica na trasladação de Santa Rosa de Viterbo, recitada no convento de Nossa Senhora de Jesus (Lisboa, 1757); Dissertação sobre a alma racional, onde se mostram os funda­mentos da sua immortalidade (Lisboa, 1778). - O retrato que aqui damos deste varão ilustre, é copiado do que existe a óleo na Academia Real das Ciências de Lisboa.
Pág. 123 - Capela de S. Miguel Arcanjo, em Ovar
Esta capela foi alçada em 1711, reinando D João V, como patenteia a Provisão mandada passar por este naquela data. - Está situada no largo que tem o nome do dito santo, o qual é todo arborizado de sobreiros.
Pág. 124 - Cândido José Mourão Garcez Palha
Foi governador da Índia, exercendo este lugar desde 1823 a 1827. - O seu retrato foi copiado da fotografia de um quadro existente no palácio dos governadores da Índia, em Goa.
Pág. 125 - Capela de S. Donato
É talvez a mais antiga do concelho de Ovar; ignora-se a data da sua fundação, sabendo-se só que em 1138 foi doada por D. João Peculiar aos frades que viviam na ermida de S. Cristóvão de Lafões.
Pág. 127 - José Joaquim Ferreira de Moura
Este célebre liberal português, jornalista, deputado e escritor, foi um dos homens de 1820. Depois de haver cursado preparatórios, matriculou-se em leis na Universidade em 1800; sendo já bacharel, despacharam-no juiz de fora de Aldeia Galega do Ribatejo, cuja posse tomou em 1804, lugar que exercia em 1807, por ocasião da invasão francesa. Quando Junot tentou introduzir em Portugal o código napoleónico, foi Ferreira de Moura o indigitado para o traduzir, porque tinha grandes desejos de dar um forte impulso à legislação do país. Este acto foi o bastante para que os seus compatriotas o apontassem como «jacobino», perseguindo-o quando Junot saiu do reino. - Sofreu o desaire de ser demitido do lugar de juiz de fora, consentindo-se ainda assim que exercesse a advocacia em Vila Nova de Foscôa (terra da sua naturalidade). Por essa época escreveu e publicou anonima uma Memória jurídica, defendendo seu pai, que era acusado de um crime grave e que, mercê desta defesa, foi absolvido em 1ª instância. Em 1810 entrou novamente pata a magistratura, mas ficou com bastante atraso, pois, contando 44 anos, ainda era juiz de fora de Pinhel, cargo de que tomara posse em 1 de janeiro desse ano. - Foi nomeado membro do Congresso Constituinte da revo­lução de 20, pela província da Beira. Ligou-se muito a Manuel Fernandes Tomás e foi eleito para várias comissões importantes, sendo de algumas presidente. - Um defeito na voz impediu-o de se tornar saliente como orador. Foi reeleito deputado às cortes era 1822, simultaneamente pelos círculos de Castelo-Branco, Trancoso, Coimbra e Aveiro. Nessa época fundou, com Fernandes Tomás, o Independente. Após a queda da Constituição (1823), Ferreira de Moura emigrou para Inglaterra, onde colaborou no Padre Amaro. Três anos depois voltou à pátria, quando já estava restabelecido o regime constitucional, sendo mais uma vez juiz, até que, atacado por uma dolorosa hidropisia, foi para Palhavã, onde faleceu a 27 de junho de 1820, contando 53 anos de idade. - O retrato que inserimos é copiado da célebre coleção dos Homens de 20, da qual, por várias vezes, temes reproduzido retratos para esta nossa edição da História.
Pág. 128 - Francisco de Sousa Cirne Madureira
Um dos vultos da revolução de 1820, o seu retrato é reproduzido do que vem na copiosa colecção de onde foram tirados os dos outros membros da junta revolucionária, que deu em resultado aquele movimento, que apresentámos na nossa galeria.
Pág. 129 - Um episódio da revelação de 1820
Como se vê, esta gravura é reprodução de uma excelente estampa, composição do sr. Vitorino Ribeiro, que foi dada como brinde pelos editores da História da revolução de 1820, do dr. José de Arriaga, aos assinantes daquela obra. Aos srs. Lopes & Cª aproveitamos a ocasião para aqui agradecermos a autorização que nos deu para a reprodução desta estampa, que representa o capitão J. M. de Sousa Magalhães e o tenente Paulo Correia impedindo a entrada no quartel do regimento de infanteria 6, ao coronel Grant, na madrugada de 24 de agosto de 1820.
Pág. 132 - Manuel Vaz Pinto Guedes
Um dos heróis de 1820; e como tal o seu retrato vem na celebrada colecção tantas vezes citada nestas notas, donde o mandámos copiar, para figurar, corno era de justiça, na nossa galeria de retratos.
Pág. 133 - Capela de S. Pedro ou do Calvário - Ovar
É uma das 7 capelas dos Passos, que são notáveis pela sua elegância e trabalhos interiores, que são primorosos. Os grupos das figuras são ao natural e de boa escultura. O Calvário sobreleva a todas estas Capelas e merece particular menção, sem mesmo considerar com vagar as perfeições que encerra. O seu aspecto é nobre e simples e não tem o ar pesado e sombrio da maior parte dos nossos templos anti­gos. Antigamente, fazia-se a Procissão dos Passos de Cristo, sendo estes representados por figuras de pa­lha em capelas portáteis!... Parecendo isso inde­cente e irrisório a muitos devotos, tratou o juiz da Irmandade, Padre Manuel de Resende e mais mesários, de solicitar uma provisão régia para o lança­mento de um real em aumento do culto e melhoramentos da fábrica da Irmandade no decorrer de 1747. Em 1748, deu-se princípio a esta grandiosa empresa, ficando concluídos em 1756. O seu custo bem como das alfaias riquíssimas que tinha a Irmandade, excedia a 30 contos de réis. Das alfaias riquíssimas que tinha a Irmandade, dissemos nós, porque o general Junot, logo que entrou em Lisboa e se fez senhor do Reino, cuidou de roubar as pratas dos templos das lrmandades e Confrarias levando daqui boa porção de grande valor e merecimento. Podemos dizer afoitamente que os Passos de Ovar não têm rival em terras portuguesas. No dia da sua solenidade reú­ne-se nesta vila multidão de gentes; e antigamente se fazia uma grande feira, à qual concorriam muitos mercadores do Porto.
Pág. 135 - Roque Ribeiro de Abranches Castelo Branco
É um dos homens de 1820, e o seu retrato foi co­piado da colecção tão repetidas vezes aqui citada, donde foram reproduzidos os retratos de mais 32 dos membros da junta revolucionária do Porto, que deu em resultado a revolução de 24 de agosto daquele ano.
Pág. 136 - António Lobo Teixeira de Barros
Um dos membros da junta revolucionária do Porto que deu em resultado a revolução de 1820; para a autenticidade do seu retrato, veja-se o que ficou dito na nota precedente.
Pág. 137 - Igreja Matriz de Ovar
Ignora-se a data em que a Igreja foi transferida de S. João de Cabanões, para onde agora está, podendo-se afirmar sem hesitação que tal mudança se operou nos fins do século XVI. A primeira Igreja de Ovar, propriamente dita, estava já incapaz de servir em 1665. Foi ordenada a reconstrução da nova Igreja, passando a paróquia para a Capela da Senhora da Graça, onde esteve até fim de 1679. A primeira Igreja era de mui limitada fábrica e de uma só nave. A actual ocupa o sítio mais eminente da vila, olhando para poente; é uma das mais amplas e mais majestosa do bispado. Tem três naves, firmadas em grossas colunas da Ordem Toscana, seis de cada lado. O seu corpo mede em todo o seu comprimento da porta principal ao altar-mor 48 metros e três decímetros; e de largura dezassete metros e 1 decímetro por 15 de alto. Pôde acomodar 4.000 pessoas. Tem 5 altares, duas capelas e duas sacristias.
Pág. 140 - General Gaspar Teixeira de Magalhães
Foi copiado dum excelente retrato que adorna a 2a edição da História do cerco do Porto, de Simão José da Luz Soriano, o que aqui damos deste Valente general português, que tanto figurou nas lutas intestinas de 1820 a 1834.
Pág. 141 - Ovar - Capela de S. João Baptista
Esta capela é muito antiga e está edificada no local onde existiu a extinta matriz da Vila de Ca­banões. Ignora-se a data, sabendo-se apenas que na visitação de 20 de junho de 1692 se mandou forrar de novo. - No altar-mor, que é o mesmo desde a pri­mitiva igreja, se vê colocada a imagem do santo patrono, encostada ao tronco de uma arvore decota­da, poisando sobre ela o braço esquerdo, em cuja mão sustenta um livro aberto, com os dizeres: Vox clamantis in deserto. - Ao sul da capela, ao longo da estrada, há um túmulo de pedra granítica sem inscrição ou ornato algum, que se diz ser de Payo de Carvalho, pessoa nobre e rica. Este túmulo esteve antigamente pegado à ermida para onde foi removi­do; tinha aos lados quatro tocheiros grandes, feitos da mesma pedra.
Pág. 144 - Manuel Borges Carneiro
Este notabilíssimo jurisconsulto nasceu em Rezende, Lamego, em novembro de 1794. Concluídos os seus estudos na Universidade, seguiu a magistratura em que exerceu cargos importantíssimos. Eleito de­putado às cortes constituintes de 1821, pela provín­cia da Extremadura, desempenhou o mandato com tal aprazimento dos seus constituintes, que no ano imediato, ficou reeleito para as cortes ordinárias por vários círculos. Continuou envolvido na política avançada, até que em 1826, pela chegada de D. Miguel teve de homiziar-se em Lisboa, onde em 1828 foi preso e encerrado nas masmorras de S. Julião da Barra, onde jazeu quase 5 anos. - Morreu vítima do cólera-morbo, em 4 de julho de 1833, antes de re­cuperar a liberdade, à qual, se vivesse, teria sido res­tituído vinte dias mais tarde. - O retrato que aqui damos é cópia do que foi gravado a buril em Lisboa em 1822. - Manuel Borges Carneiro fez um sem número de publicações, tendo sempre por tema, assuntos de política e de jurisprudência. Desses escritos se encontra nota completa na biografia que no seu Diccionario Bibliographico lhe consagra Inocêncio Francisco da Silva.
Pág. 145 - Revolução de Pernambuco
Descreve-se a pág. 152 deste volume, a cena que inspirou esta composição ao ilustrador da nossa edi­ção da História.
Pág. 148 - Brigadeiro Joaquim de Sousa Quevedo Bizarro
Figurou muito nas lutas civis de 1820 a 1834 o militar cujo retrato aqui damos, e que é copiado do que vem na 2ª edição da História do cerco do Porto, por Simão José da Luz Soriano.
Pág. 149 - José Xavier Mouzinho da Silveira
Em 12 de julho de 1780 nasceu em Castelo de Vide este grande vulto da política portuguesa, a quem os pais mandaram para Coimbra, onde frequentou as aulas de direito, seguindo depois a magistratura. Em 1808 foi despachado juiz de fora de Marvão, de onde assistiu aos malefícios da invasão francesa, co­meçando nessa época a pensar na necessidade ina­diável de transformar a sociedade do nosso país, que se conservara tão alheio à influência da revolução francesa. - Em 1813 transferiram-no para Setúbal; trocou depois o cargo de juiz de fora dessa cidade pelo de provedor da comarca de Portalegre. Chamado a Lisboa, veio ocupar o importante cargo de director geral das Alfândegas, já com o novo gover­no. - Quando, após a Vila-Francada que sempre pre­vira, D. João VI o nomeou ministro da fazenda, ao ver cair o ministério de Silvestre Pinheiro Ferreira, não aceitou a nomeação. De nada lhe valeu a re­cusa. D. João VI pediu, rogou, ordenou e Mouzinho da Silveira viu-se forçado a aceitar essa pasta no ministério de 28 de maio, em que o acompanharam José António Guerreiro e D. Manuel José Locio. Este ministério durou só dois dias; o rei pediu de novo a Mouzinho da Silveira para que fosse ministro da mesma pasta no gabinete que ia formar em Vila Franca. - Aos 4 de abril de 1849 faleceu Mouzinho da Silveira, em Lisboa, sendo sepultado em Nossa Senhora da Margem, no Gavião. - A sua obra política é extraordinária, pois que se pode dizer que foi ele o fundador da nova forma política do país.
Pág. 152 - Hyde de Neuville
João Guilherme Hyde de Neuville, 1º barão da Bemposta, foi um personagem oriundo da França, onde nasceu em 1776, mas que tanto figurou nos acontecimentos de Portugal, que não é de mais que aqui lhe publiquemos o retrato, cópia de outro, na época em que era embaixador da França junto de D. João VI, quando rebentou a Abrilada, representando ele então um papel bastante importante, contribuindo não pouco para libertar D. João VI do fiasco em que esse movimento o ia precipitando, o que lhe valeu o título de barão da Bemposta. - Na nossa História conta-se largamente esse facto. - Hyde de Neuville faleceu em Paris, em 1857.
Pág. 153 - Ovar - Fonte do Casal e ponte
A antiga fonte não tinha vertente e era mãe d'água da actual, que está debaixo da ponte, sendo em 1826 reformada quando a ponte foi construída. Cremos que é de remotíssima data, e que dela se abastece­ram os moradores da Ruela e os do Bairro de S. Tomé (o primeiro da vila). - A ponte foi construí­da 1825, como consta da inscrição de padrão, que é a seguinte: «Reinando no Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves, o Fidelíssimo Senhor D. João VI, e a Raynha a Senhora D. Carlota Joaquina, aos 21 de abril do ano de 1825, foi acabada esta ponte do Casal, a Câmara d'Ovar a requereu, e foi Inspector o corregedor da Comarca da Feira, Francisco de Salles Barbosa e Lemos. Este Padrão recomenda à posteridade o melhor dos Reis, o Pae da Pátria, de­baixo de cujos auspícios teve fim esta obra em 1825
Pág. 156 - Bento Pereira do Carmo
Foi-lhe berço Alenquer em 29 de março de 1777; e sendo seus pais pobres, com grandes sacrifícios conseguiram educá-lo de molde a entrar na Universidade. Uma vez aí, formou-se em direito, sendo dois anos depois despachado juiz de fora de Ançã, onde empreendeu e executou obras de reconhecida utili­dade pública. Em 1808 foi acusado de jacobino e metido na cadeia do Porto em que permaneceu al­guns meses até que o absolveram indo de novo para Ançã exercer o seu antigo lugar. Vendo, porém, certa oposição da parte de alguns indivíduos aos quais antes prestara serviços relevantes, resignou o lugar e foi para a terra da sua naturalidade, onde se entre­gou a trabalhos de lavoura, vivendo afastado da política. Foi chamado a Lisboa para fazer parte do governo provisório (1820) e em seguida nomeado secretário da junta preparatória das cortes. Eleito deputado às cortes constituintes pela província da Estremadura foi escolhido para presidente do congresso durante os meses de julho a outubro de 1822. Como deputado efectivo pela divisão eleitoral de Alenquer e como 1º substituto de Lisboa tomou assento nas cortes de 1722-23. Quando teve lugar a Vila-Francada (maio de 1823) que fez cair a Constituição foi um dos sessen­ta e dois indivíduos que assinaram o protesto lavrado contra esse movimento e, por tal razão, quando D. João VI regressou a Lisboa, teve ordem para se recolher em Alenquer e daí não saiu. Por lá se demorou até que, em 1826 tornou ao parlamento, quando da proclamação das Cortes constitucionais. Em vista disto não é de admirar que após a chegada de D. Miguel fosse preso no Limoeiro e daí trans­ferido para S. Julião da Barra, cativeiro que durou até 24 de julho de 1833. Triunfando o partido li­beral, foi nomeado presidente da relação de Lisboa, e deram-lhe o cargo de prefeito da Extremadura, e a 23 de abril de 1834 foi chamado para ministro do reino, pasta que só abandonou quando houve mu­dança de ministério (24 de setembro). Foi novamen­te eleito deputado em 1832, e em janeiro de 1836 nomeado vice-presidente da câmara. Fechado o par­lamento, voltou à sua pacífica vida de lavrador, e em 1835 foi eleito senador nas cortes ordinárias reuni­das após a Constituição. - Retirou-se da vida activa, e viveu durante alguns anos na vila que lhe fora berço, até que expirou em 16 de fevereiro de 1845, com 62 anos de idade. - Este retrato é reprodução de um desenho feito em 2 de maio de 1830, na prisão do Revelim, em S. João da Barra, por Félix Garrido, desenho actualmente em poder de seu neto, o sr. Raimundo Chaves, a cuja amabilidade devemos o prazer de o poder aqui apresentar.
Pág. 157 - Ovar - Capela de Santa Catarina
Esta bela ermida está situada no lugar da Ribeira; reconhece-se que é de tempo muito antigo, posto que não conste o ano certo da sua criação. - Nos fins de 1679 já se projectava reedificá-la, mandando o Visitador tapar a porta principal a pedra e cal, por se achar quebrada a padieira, ameaçando todo o edifício inteira ruína. Depois de restaurada, como não tivesse sacristia, resolveu-se em 24 de novembro de 1694 fazer a que actualmente existe. Há grande afinidade entre a sua arquitectura e a da ermida de S. João, fazendo supor que uma e outra não foram fundadas em datas muito diferentes. - A antiga e venerada imagem de Santa Catarina é esculpida em madeira, primorosamente talhada e mede um metro de altura; também aí se venera a Senhora da Boa-Morte, que se acha dentro dum oratório, tendo nos braços seu filho morto e cuja expressão dolorosa é tão manifesta, que a todos impressiona.
Pág. 160 - Padre José Agostinho de Macedo
Um dos mais fecundos e talentosos escritores que do século XVIII transitaram para este, deixando atrás de si um rasto de luz que ainda se não apagou foi José Agostinho de Macedo. - Nascido em Beja, em 1761, depois de seguir os estudos, tomou em 1778 o hábito de ermita agostiniano, mas por falta de vocação para a vida claustral, pela relaxação dos seus costumes, infracção das regras monásticas que o trouxeram durante doze anos em luta permanente com os seus confrades, passou grande parte desse tempo em sucessivas reclusões, em cárceres da or­dem e em continuas transferências de uns para ou­tros conventos, até que, aos trinta anos foi solenemente expulso da ordem, por sentença conventual, em 1791. Por efeito, porém, de recursos interpostos pelo sentenciado, os efeitos dessa sentença cadu­caram, e ele obteve breve de secularização, para passar ao estado de presbítero secular, como efectivamente passou, mediante sentença executória de 1794. - Exerceu por largos anos o ministério do púlpito, levando a primazia aos pregadores do seu tempo e colhendo dele meios suficientes para a sua sustentação, sem que jamais solicitasse emprego ou benefício eclesiástico, posto que se afirmou (e talvez com fundamento) que a sua ambição se eleva­va até ao pontificado. - Acerca do seu valor, escreve I. F. da Silva: «Homem de inegável talento e de vasta erudição, escritor fecundíssimo, como muito bem se deixa ver de tantas e tão variadas produções seria talvez mais querido dos contemporâneos, e a sua memória melhor apreciada da posteridade, se o temperamento atrabiliário que nele predominava, um amor próprio excessivo, ainda que até certo pon­to justificável pela reconhecida inferioridade dos seus competidores, e mais que tudo os ódios suscitados pelas querelas políticas, em que tomou com a pena tão activa parte nos seus últimos anos, lhe não alienassem as simpatias de muitos, impossibi­litando-os de assentar a seu respeito um juízo recto e imparcial.» - J. Agostinho de Macedo faleceu em Pedrouços em 1831. O catálogo das suas obras é tão extraordinário, pela quantidade e pela variedade, que enche trinta páginas do Diccionario Bibliographico, do Inocêncio. Entretanto, sempre diremos que, das obras em verso, as que mais se destacara são o Orien­te, poema épico, A Meditação, A Natureza, Os Bur­ros, ou o reinado da Sandice, poema heroi-cómico; e um sem número de odes e poesias soltas, que só por si constituiriam suficiente bagagem literária para um poeta de fama.
Pág. 161 - Juramento de D. João VI em cortes
Este juramento foi, como se sabe, feito logo em seguida ao regresso do Brasil. Como se vê da nota que acompanha a nossa gravura, foi ela copiada (com a devida autorização dos editores) do brinde, composição de Columbano Bordallo Pinheiro, oferecido aos assinantes da História da Revolução de 1820, do dr. José de Arriaga.
Pág. 164 - Infanta D. Isabel Maria
É copiado este retrato duma excelente litografia da época, litografia considerada pelos en­tendidos como a mais fiel, pois que daquela infanta se fizeram muitos retratos em litografia, etc.
Pág. 165 - Ovar - Capela de Santo António
É grande e tem três altares muito bem conserva­dos e com algum luxo. - Data de 1603 o princípio da sua construção. Em 1767 foi demolida a capela-mor e reconstruída dentro de dois anos. - Dispõe de alguns rendimentos, que são empregados em bem-feitorias e na festividade anual, cujo característico costume ainda hoje conservara, de darem três voltas em torno da capela, no dia de tal festa, com os bois e outros animais, caprichosamente adornados de flo­res, para que o milagroso santo os preserve de ma­lefícios e lhes faculte abundantes colheitas.
Pág. 168 - D. Pedro da Sousa Holstein, Duque de Palmela
São muitos os retratos conhecidos deste ilustre diplomata, ao qual a causada liberdade deve os maiores serviços; para aqui escolhemos um dos que são considerados mais fiéis.
Pág. 169 - Ovar - Fonte do Hospital
A poente do largo do Hospital está situada esta fonte. É de bela aparência; e o melhor tipo das fontes de Orar; toda construída de granito, alia à so­lidez da sua arquitectura a elegância do seu detalhe. Por baixo das armas reais portuguesas, acha-se gravada a seguinte incrição: «Ut aqua ista bella fluet Joannes Marta d'Abreu Castello-branco, huius oppili Protor una cum Senat curabit.»
Pág. 172 - Infante D. Miguel
Em vez de darmos o tão conhecido retrato deste príncipe no momento da sua decadência, preferimos escolher um (e encontra-se em abundância representados em todas as idades) que o mostrasse na qualidade da sua maior pujança, e quando era o ídolo do ingénuo povo português, isto é, no período áureo da sua vida.
Pág. 173 - Orar - Capela de S. Roque
É muito antiga esta ermida, ignorando-se a data da sua fundação. - Está situada na ilha próximo da Ribeira.
Pág. 175 - Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda
Foi um dos membros da junta revolucionária do Porto, donde resultou o famoso movimento de 1820 e o seu retrato é copiado da célebre colecção a que por bastantes vezes nos temos já referido no decurso das notas deste VIII volume.
Pág. 176 - António Teles da Silva Caminha e Menezes, Marquês de Rezende
Nasceu em 1795 este notável homem público, que foi sempre muito afeiçoado ao constitucionalismo, servindo primeiro D. Pedro IV e depois, passado o governo de D. Miguel, D. Maria II. - Como escritor foi um grande investigador, escrevendo sempre com muito brilho. - Entre outros, escreveu os seguintes livros: Descripção histórica do paço de Queluz, Elo­gio histórico de D. Pedro, Outeiro em Odivelas, etc., e colaborou no Panorama e na Illustração Luso-brasileira. - Faleceu em 1875, no cargo de camarista e mordomo-mor da imperatriz viúva.
Pág. 177 - Proclamação da Independência do Brasil
A cena representada pela nossa estampa vem soberbamente descrita na prosa tersa e brilhante de P. Chagas a pág. 208 deste 8º volume da nossa História. -Quem sabe se seria esse magnífico trecho de prosa que inspirou a Pedro Américo de Figueire­do o magistral quadro de que a nossa gravura é có­pia, e que, quem traça estas linhas então teve já ocasião de admirar no esplêndido Palácio do Ipiranga, perto da cidade de S. Paulo, no Ipiranga, onde se desenrolou a cena representada pelo brilhante qua­dro.
Pág. 180 - Conde de Basto
Na freguesia de S. Gens nasceu em 1749 José António de Oliveira Leite de Barros, que se matriculou na Universidade de Coimbra cursando leis, em 1780. Em 1735 saiu despachado desembargador da Casa e Relação do Porto; no ano imediato, desembarga­dor ordinário da Casa da Suplicação e daí a 4 anos passou a desembargador de Agavos do mes­mo tribunal. Em 1800 escolheram-no para fiscal da Junta dos Três Estados. Exerceu numerosos cargos inerentes ao seu carácter, e em 1813 foi agraciado com a comenda de Cristo e em 1819 recebeu a mercê de senhorio de Rossas e da alcaidaria-mor de Guimarães, assim como as comendas de S. Nicolau dos Vales e a sua anexa de Santa Comba. - Este homem não foi estranho à ideia de se derrubar a Constituição e tanto assim que, após a Vila-Francada foi nomeado conselheiro de Estado e membro da comissão encarregada de formular o projecto de Constituição prometida esse ano por D. João VI. - Foi ministro de reino e da justiça em 1824; em 1828 do reino e da marinha. D. Miguel, reconhecido aos serviços prestados pelo conde de Basto, agraciou-o em 1828 com a comenda da Torre e Espada e em 1829 deu-lhe o título de conde, em duas vidas. - Foi casado duas vezes, e da primeira teve um filho que morreu velho, mas sempre demente. - Forçado a afastar-se de Lisboa, em 1833, pela aproximação do duque da Terceira, foi para Coimbra onde faleceu em agosto desse mesmo ano. Foi um dos maiores algozes dos constitucionais merecendo por isso o ódio bem justificado e bem merecido do partido li­beral português; e tal era o rancor pela sua memória, que quando os constitucionais entraram em Coimbra (1834) foi o cadáver dele tirado do túmulo, arrastado pela igreja e dilacerado.
Pág. 181 - Anselmo José Braamcamp de Almeida Castelo Branco
Foi quarto filho do 1º barão de Sobral, Geraldo Venceslau Braamcamp; nasceu a 4 de janeiro de I792 e foi comendador dos Moinhos de Soure na Ordem de Cristo, coronel de milícias, conselheiro de Estado em 1822, secretário do estado dos negócios estrangeiros em 1820. - Morreu a 15 de janeiro de 1841. - O retrato que apresentamos é copiado do que vem na História da Revolução de 1820, do dr. Manuel de Arriaga.
Pág. 184 - Ovar - Paços do extinto concelho de Pereira Jusan
Este vetusto edifício está muito arruinado e serve actualmente de cadeia para os presos de Ovar. O pelourinho não tem merecimento artístico e a capela está abandonada há muitos anos. Até 1850 foi cabeça de concelho pertencente à comarca da Feira, tendo sido antigamente da comarca de Esgueira, e depois de Aveiro. - A sua origem é antiquíssima e pode, talvez, atribuir-se à época dos Godos.
Pág. 185 - Ovar - Antigos paços do concelho
Em 1786 começou-se a construir a primeira parte deste edifício (aposentadoria), e somente seis anos depois é que se concluiu a restante parte, que servia de tribunal e cadeia, as quais foram demolidas em 1891 para dar lugar às actuais construções. - A fotografia que nos serviu de modelo para a nos­sa estampa é extraída do pano de boca que presentemente se vê no Teatro Ovarense, a única vista existente em Ovar, dos antigos Paços do Concelho.
Pág. 188 - Conde de Sampaio
Manuel António de Sampaio Mello e Castro Moniz Torres Lusignan, 2º conde e 1º marquês de Sampaio, nasceu em 6 de janeiro de 1762, e, seguindo a carreira das armas, não tardou a ser tenente-general e inspector geral de cavalaria, cargo que exercia ao tempo da campanha de 1801. Foi nomeado por D. João VI, na sua fuga para o Brasil, secretário dessa malfadada regência, que apenas recebeu ordens de Junot. Foi sempre fiel à causa liberal, em que se alistara em 1820. Faleceu em 1841, a 23 de setembro.
Pág. 189 - Ovar - Capela do Senhor da Piedade
Em 14 de outubro de 1759, foram levadas em procissão para a Costa do Furadouro, as imagens do Senhor da Piedade e a da Senhora do Livramento dos Homens do Mar, para um oratório de madeira que ali fora preparado, e onde se cantou a primeira missa pelo vigário João Bernardino Leite de Sousa (por alcunha o Poveiro), havendo em seguida mais 2 missas rezadas. - Decorridos sete anos, isto é, em 1766, fez-se de pedra e cal a projectada capelinha, para a qual se subia por uma escada de mão, que se foi deslocando de tal modo que estava quase enterrada na areia; foi reformada, estando hoje livre da areia.
Pág. 191 - Silvestre Pinheiro Ferreira
Comendador da Ordem de Cristo, ministro e secretário de estado honorário, deputado às cortes, eleito em 1827, 1838 e 1842, posto que só da última vez tomasse assento na câmara; sócio honorário da Academia de Ciências de Lisboa, etc., etc. - Nasceu em Lisboa a 31 de dezembro de 1709, e faleceu a 2 de julho de 1846. - São incalculáveis os serviços por este benemérito prestados à sua pátria, o que facilmente verá quem passar pela vista quaisquer das suas biografias. - Afável por natureza e acessível a todos, bondoso, modestíssimo, como diz um dos seus biógrafos, cheio de espírito de justiça e pundonor nacional, possuía a estima de quantos os tratavam, e a admiração e respeito dos que só o conheciam pelas suas obras, ou pela fama do seu nome. Foi enfim um português, que todo o mundo civili­zado respeitou como sábio, como político, como escritor e como homem honrado e de uma probidade imaculada.»
Pág. 192 - Joaquim Inácio da Cruz Sobral
Do terceiro volume da Lisboa antiga, nova edição do ilustre sr. visconde de Castilho, tomámos a liberdade de copiar o retrato deste notável funcionário português do século XVII, que exerceu os lugares de provedor da Junta do Comércio e da Companhia Geral do Pará, inspector das obras públicas e director das fábricas, etc. - Pela sua actividade e ener­gia foi um dos auxiliadores do marquês de Pombal, nas suas grandes reformas no comércio e indústria. - O retrato que aqui damos é copiado, como disse­mos, do que vem naquele livro, desenho do sr. vis­conde de Castilho, que por sua vez o copiou duma gravura antiga.
Pág. 193 - A «Vila-Francada»
É esta uma reprodução duma curiosa gravura da época, que faz parte duma colecção, em que esta era a 10ª, e na qual se lê esta epígrafe: «O heroico valor d'el-rei nosso senhor destroi a facção revolucionária, em 1823, proclamando em Vila Fran­ca o seu augusto pai rei absoluto, e restituindo o trono e a religião ao seu antigo esplendor. - 10ª estampa da colecção que representa a História Portugueza.» - Foi impresso na oficina lith. de Patrício, (sem data).
Pág. 196 - Baptistério da igreja matriz de Ovar
É de pedra oolítica para se fazer batismo por imersão. Esta bela pia é da primeira igreja matriz de Ovar e data de 1686; foi mandada fazer pelo bis­po D. João de Souza, por ocasião da visita que fez àquela igreja em 10 de março do mesmo ano.
Pág. 197 - Visconde de Santarém
Manuel Francisco de Barros de Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa, 2º visconde de San­tarém e alcaide-mor da mesma vila, etc., etc., nas­ceu em Lisboa (?) a 18 de novembro de 1791, e faleceu em Paris a 18 de janeiro de 1856. - Acerca da sua influência política, fala largamente a nossa História neste volume. Como literato, veja-se a copiosa lista das obras por ele publicadas, que se encontra no Diccionario de Inocêncio.
Pág. 200 - Lord Canning
Foi Londres a terra em que nasceu este célebre estadista em 1770. Foi seu tio quem o educou. Aos dezasseis anos fundou, de sociedade com uns seus condiscípulos o Microcosmos, em que se escrevia com certa graça. Nessa época escreveu Canning um poema A escravidão da Grécia. Durante o curso de jurisprudência, ligou-se estreitamente com as sumidades do partido «wigh», como Fox, Burke, Sheridan e Gray, mas apenas encetou a carreira po­lítica resolveu inclinar-se para o partido «tory» sendo, sob a protecção de Pitt, feito membro do parlamento em 1793. Foram tais e tantos os seus créditos de orador, que o ministro Pitt confiou-lhe, em 1795, o encargo de ocorrer quase desacompanhado às tu­multuosas discussões de que foi então agitado o parlamento. Um ano depois nomearam-no sub-secretário de Estado, e no ano seguinte fundou com lord Liverpool e outros, o Anti-Jacobino, semanário onde colaborou com assiduidade, inserindo poesias e arti­gos humorísticos. Na câmara, em 1798, pronunciou 2 discursos de primeira ordem: defendendo a abolição do comércio de escravos, e relativo à conclusão do tratado de paz com a república francesa. - Em 1804 foi nomeado tesoureiro da marinha; em 1807, ministro dos negócios estrangeiros. Nesta época teve lugar o bombardeamento de Copenhague e o incêndio da esquadra dinamarquesa. Assinou a 14 de janeiro de 1809, em Londres, o tratado de aliança entre a Inglaterra e a Espanha em que reinava Fernando VII. - Esteve em Portugal (1814) como em­baixador da Grã-Bretanha, cargo que se prolongou por mais dois anos. - Lord Jorge Canning, apesar de ter ocupado lugares eminentes, morreu pobre, em Chiswick a 8 de agosto de 1827.
Pág. 201 - Ovar - Capela da S. Lourenço
Foi edificada em 1746 e pertenceu aos herdeiros de José Maria de Matos Pinto. - Sobre a porta principal existe uma inscrição, pela qual se vê que esta capela foi edificada em 1746. No tecto interior, pintado segundo o gosto antigo, também se lê a data de 1755, que parece indicar o termo da sua edificação. - Ao centro do belo retábulo, escudado em quatro colunas do seu único altar, acha-se colocada a imagem do seu patrono, em nicho, tendo à esquerda a de Santa Luzia e à direita a de Nossa Senhora dos Anjos; ao lado da Epístola, por cima do mesmo altar, vê-se a da Senhora das Dores, dentro dum oratório com lâminas de vidro em ponto pequeno. - A ima­gem de S. Lourenço, sendo aliás de boa escultura, não tinha olhos; parecendo isto feio ao Visitador D. José da Apresentação Lobo, mandou-lhos abrir, em 1779.
Pág. 204 - D. Pedro IV
A história deste monarca encontra-se na nossa História geral, o que nos dispensa de lhe fazermos aqui a biografia. - O retrato, copiamos este, por ser considerado como um dos mais autênticos daquele soberano.
Pág. 205 - Ovar - Capela das Almas
Esta grande e bela ermida está situada no largo dos Campos, e foi começada em 1800.
Pág. 207 - Conde de Barbacena
Assentou praça em 1789 no regimento de cavalaria de Minas-Gerais. Regressou ao reino em 1797 e logo se alistou no regimento de cavalaria de Mec-klemburgo como alferes agregado. - Fez campanha como capitão em 1801, e finda ela matriculou-se na Academia de Fortificações onde sempre se salientou, cabendo-lhe prémios em todos os anos do curso. - Num recontro de Mejalahonda (11 de agosto de 1812) fora gravemente ferido, tornando-se notável o seu valor e bravura. - Exerceu vários cargos e comissões de certa importância, vindo a falecer em Lisboa a 11 de março de 1854, com 74 anos de idade.
Pág. 208 - João Franco Monteiro
O doutor João Franco Monteiro nasceu na Cortegana, (Alenquer) em 1773, filho de João Franco Monteiro e de D. Maria Josefa de Jesus Pinheiro de Aguiar, tia do célebre Prior de Caparica o dr. Ma­nuel Henriques Pinheiro. Pertencia a uma família muito estimada da Casa Real, descendendo de D. Páscoa Maria Monteiro, a quem El-Rei D. João V concedeu várias tenças, como irmã do seu valido Prior de S. Nicolau de Lisboa, Padre João Antunes Monteiro e de Manuel Antunes Monteiro, fidalgo da Casa Real, por mercê do mesmo rei. Formou-se em filosofia e em medicina na Universidade de Coimbra, obtendo os primeiros prémios nesta última faculdade. Foi fidalgo, senhor do prazo da Quinta da Genovesa, junto à Sobreda, primeiro médico da Real Câmara, físico-mor do Reino, cavaleiro professo na Ordem de Cristo. Teve direito à Comenda de Mazagão, na Ordem de Cristo e Alcaidaria-mor de Grândola, por sua mulher D. Maria Cândida do Car­mo de Souza Zuzarte, filha primogénita do célebre libertador do Algarve, na invasão francesa, o tenente-general José Lopes de Sousa. João Franco Monteiro foi o modelo do palaciano. D. João VI, seus filhos D. Miguel e a Infanta D. Isabel Maria, concediam-lhe particular estima. D. Miguel convidou-o a acompanhá-lo no exílio, elogiando-lhe a nobilíssima escusa. Depois da queda do último Rei absoluto, continuou ao serviço da Infanta D. Isabel Maria. Como documento autêntico do que foi o dr. João Franco Mon­teiro, basta o seguinte autógrafo desta princesa: «João Franco: A Raynha minha Sobrinha, ficou muito bem impressionada com o seu encontro de hontem neste Paço, dizendo que o João Franco era em tudo um velho fidalgo português. Mando-lhe esta por José de Siqueira, seu compadre que ficou como todos nós muito contente. Bemfica, março de 1835. Sua muito affeiçoada e conhecida antiga Isabel.» O retrato que dele existe é obra de pintor Máximo Paulino dos Reis e pertence ao seu neto e represen­tante.
Pág. 209 - General Silveira
Figurou muito durante as guerras napoleónicas no princípio do século passado e ainda nas lutas civis de 1826 a 1834, o valente general, que mais tarde mereceu o título de conde de Amarante. - Como encontrássemos esta gravura considerada muito rara pelos entendedores, pareceu-nos de bom aviso reproduzi-la aqui, já porque é a que melhor nos dá a fisionomia do valente militar, já porque vamos assim vulgarizar, tornando conhecida do grande público, uma gravura de que os amadores tão avaros são que quase fazem dela monopólio.
Pág. 213 - Francisco Lourenço de Almeida
Figurou muito nos acontecimentos políticos dos primeiros anos do século XII o magistrado cujo retrato aqui damos, copiado do que vem na segunda edição da História do Cerco do Porto, por Simão José da Luz Soriano.
Pág. 215 - Coimbra - Capela do Arnado
Junto à ínsua que pertenceu ao Convento de S. Tomás e próximo do Mondego há um campo a que se ligam alguns factos da nossa história, asseverando a tradição que ali planeou D. Afonso Henriques com os do seu conselho no ano de 1147 a conquista de Santarém. É o campo chamado do Arnado, di­zendo Duarte Nunes de Leão ser também esse campo o local onde fez o seu alardo a gente que de Coim­bra partiu com D. Sancho I, ainda infante, para ba­talhar no Alentejo em 1181 contra um rei de Sevilha, cujo exército foi vencido e derrotado. Nesse campo eleva-se uma alva capelinha sob a invocação do Senhor do Arnado, que se principiou a edificar em 1723 em substituição doutra, em que existia uma an­tiga imagem do Crucificado, que no dia 1 de agosto de 1722 suou sangue e água, segundo a notícia então espalhada e que tez com que os devotos de Coimbra e povos limítrofes afluíssem em grande número à capela, deixando valiosos donativos que foram consagrados à reedificação feita como dissemos em 1723. Foi benzida no dia 7 de dezembro de 1727, celebrando-se a primeira missa no dia imediato. De tudo isto rezam as duas inscrições na fachada da capela onde ainda não há muito se celebrava anualmente uma festa ao Senhor do Arnado que era muito con­corrida.
Pág. 216 - D. Carolina Leopoldina, primeira mulher de D. Pedro IV
Rainha de Portugal e imperatriz do Brasil, arquiduquesa da Áustria, filha do imperador Francisco II, nas­ceu a 22 de janeiro de 1797. Foi o marquês de Marialva encarregado por D. João VI de pedir a princesa em casamento para o príncipe D. Pedro de Alcântara, que foi depois D. Pedro IV de Portugal e I do Bra­sil, e encarregado também de a desposar por procu­ração, realizando-se esses esponsais no dia 23 de maio de 1817. Era uma gentil e simpática senhora muito inteligente e bondosa. Morreu no viço da idade, tendo apenas 29 anos de idade a 11 de de­zembro de 1826. Foi apenas meses rainha de Portugal. O seu retrato é reproduzido duma excelente gravura da época.
Pág. 217 - D. Maria II
São muitos os retratos conhecidos desta soberana, mas mandámos copiar este, por nos ser aconselhado pelos entendedores como sendo um dos melhores que daquela rainha se conhecem, representando-a na sua florescente mocidade.
Pág. 220 - A Torre de Quintela
É do ilustre escritor, sr. Henrique das Neves, o artigo que para aqui tomamos a liberdade de reproduzir do Occidente, acerca da notável torre que a nossa gravura representa. - «A torre ameiada e isola­da, não é a parte restante de qualquer desses castelos, como são, por exemplo, as torres da Lapela, de Braga e outras que o leitor conhecerá de visu, ou de fotografias e gravuras: estas torres integravam-se no conjunto fortificado que as envolvia, como torres de guerra ou de menagem. - A Torre de Quintela, pela sua situação no fundo dum vale tão apertado, que mais propriamente se diria um covão, e pela ausência absoluta de vestígios de fortaleza que a circundasse ou se lhe apoiasse, é, creio, uma torre senhorial. O seu destino seria, além de afirmar na região em volta o senhorio do fidalgo seu proprietário, também o de armazenar os foros, rendas e pen­sões, que se lhe pagavam. - Entre as dez torres, (melhor dizendo, cubelos) que guarneciam o primi­tivo recinto do Castelejo (no actual castelo de S. Jorge) uma tinha de nome Torre Albarrã, ou do ha­ver, por ser deposito ou cofre dos productos dos impostos e das rendas (Júlio de Castilho, Lisboa Antiga). Analogamente seria a Torre de Quintela, supomos nós. - A torre é toda construída de cubos graníticos, tem 4 balcões nas faces e outras tantas atalaias nos ângulos da linha de ameias. Pelo estilo parece-nos dever ser do começo da monarquia, ou talvez anterior. É semelhante àquelas duas acima citadas, que conhecemos apenas pelas gravuras, e à do mosteiro de Leça do Bailio, que vimos por mais de uma vez como tributo de admiração que pagamos sempre, se nos demoramos no Porto. - Pinho Leal no seu Portugal antigo e moderno, diz da Torre de Quintela: «Uma torre feudal, acastelada e com ameias, que não sabemos se ainda existe.» - Existe e muito bem conservada externamente, embora não seja utilizada, pois que os pavimentos interiores já desabaram. - Àquela informação, acrescenta Pinho Leal: «Em um desenho da mesma torre, que se vê em um tombo muito antigo, se lê por baixo do de­senho esta décima:
Junto a Villa-Real / Se vê uma torre antiga, / Que contra a hoste inimiga / Fez um Conde, Portugal, / Com mil foros; para a qual / Dita torre de Quintela, / Ainda hoje toda aquela / Visinhança reconhece / Dos foros o tombo a este, / E desta maneira a ela. //
«Contra a hoste inimiga» não compreendemos, dadas as razões que acima ficam averbadas, conje­cturamos que o popular cronista e versejador arrevesado se deixou levar, nesta nota, da impressão que lhe faz a forma «acastelada» (dizer de P. Leal), da Torre. - Aceitamos, sim, que fosse mandada er­guer por um conde (no sentido deste vocábulo no regímen medieval) e para tombo dos seus foros. - Na nossa curta residência em Vila Real, o que apurá­mos sobre o caso pouco foi. - Na Memoria Histórica de Vila Real existente no arquivo municipal, tomámos nota da seguinte passagem: «Das famílias nobres, que antes da fundação da Vila, já existiam entre os povos vizinhos, cujos senhorios possuíam, era uma a da casa d'Anta, que ao tempo de D. Diniz (O fundador da vila) possuíam Gonçalo Annes de Contreira e sua mulher Maria Afonso, etc., etc.» - (Este ramo Contreiras, da casa d'Anta, está hoje na família Vilarinho de S. Romão). - «Era outra (trata-se de famílias nobres) a da casa da Torre de Quintela» (sem mais nome ou apelido de pessoa). - Reconhecida fica assim a sua antiguidade, remontando a tempos anteriores a 1312, (foral de Vila Real), tempos em que a Vila de Constantin de Panoias, criada com foral do Conde D. Henrique, era a cabeça administrativa das Terras de Panoias. - Actualmente, a propriedade dessa torre, supomos ser da srª D. Margarida Pereira de Magalhães, pelo recente falecimento de seu esposo, José Guedes Pereira de Castro que era o representante dos possuidores históricos. Esta senhora é filha do falecido ministro de D. Maria II, Félix Pereira de Magalhães. - Nos campos em volta há casais, que ainda pagam à torre de Quintela, foros em ovos, milho, centeio, etc. Isto, porém, é resto de maior quantia, que já não carece de fortaleza para arrecadação segura. A casa próxima, de habitação, e que foi talvez solar, é hoje doutrem. O último senhor da Torre residia em Lisboa, ou no concelho da Régua. - E nada mais temos a dizer, com visos de história.»
Pág. 221 - Segundo marquês de Loulé
Elegante e atraente fidalgo que pelas suas qualidades de espírito e pela sua galante apresentação, Nuno José de Mendonça Roliin de Moura Barreto, conseguiu as boas graças da corte, alcançando a simpatia de muitas princesas, e contraindo matrimónio com uma delas, a infanta D. Ana de Jesus Maria, episódio este que M. Pinheiro Chagas nos narra de uma forma tão graciosa nesta nossa edição da História de Portugal. - Nasceu em 6 de novembro de 1804, e faleceu a 1 de junho de 1875. 
Pág. 223 - Santa Clara do Coimbra - Custódia contendo o bordão de Romeira, dado à Rainha Santa, em Santiago de Galiza.
Existe na sacristia do convento de Santa Clara de Coimbra esta valiosa relíquia, que recorda a peregrinação feita pela rainha Santa Isabel em 1325, à famosa basílica de Santiago de Compostela. - A célebre Lenda da Rainha Santa, ao descrever a viagem religiosa de D. Isabel, refere-se a ela nestes termos: «E comprida sá romaria, o Arcebispo da Igreja deu à Rainha hum bordom, & esportella, para per o bordom, & esportella parecer romeira de Santiago.» - O bordão já não está inteiro, pois, ao encontrar-se, em 1612, no túmulo da santa rainha, foi dividido em duas partes, ficando a superior no mosteiro de santa Clara de Coimbra, e que é a existente dentro da re­ferida custódia, e sendo a inferior mandada como relíquia à rainha de Espanha, D. Margarida, que com el-rei seu esposo se empenhava no prosseguimento da causa da canonização de D. Isabel. - A me­tade superior do bordão, de pau preto, rematado por uma peça transversal de ágata, montada em pra­ta e com engastes graciosos do mesmo metal, está encerrada (como se vê no desenho) em cápsula de prata, tendo em cima um ostensório com vidros de um e outro lado, que deixam ver o remate de ágata e prata do mesmo bordão. - Nos aros que cercam os dois vidros encontra-se a seguinte inscrição, divi­dida pelas duas faces:
*Anno. D. 1612. SE. ABRIO POR MDO. D. S.S de OSEPVLCHRO DAR.ª S. EDENTRO NELLE.
*SEACHtOV ESTEBORDÃO SÊDO ABBA. D. SNa D' Nra QAQVI OMANDOV POR.
É a primeira vez que se reproduz este precioso relicário, mediante um desenho do nosso colaborador artístico, dr. Vale e Sousa, que tem recolhido tudo quanto se relaciona com o culto da Santa Rainha, possuindo uma interessante colecção de dese­nhos, muitos dos quais originais seus.
Pág. 224 - General Povoas
Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho Povoas foi um eminente vulto da história militar no século XIX. - Tornou-se bastante saliente na guerra peninsular e era marechal de campo em 1820, quando foi nomea­do deputado ao congresso constituinte. - Sendo par­tidário do absolutismo, comandou a vanguarda do exército que em 1828 marchou contra as tropas que tinham feito a revolução do Porto de 16 de maio, e este general exerceu certo comando de importância, até que, sendo compreendido na convenção de Évora-Monte afastou-se da vida activa, a que só re­gressou em 1847, vindo a falecer em 28 de novembro de 1852.
Pág. 225 - D. Miguel, na presença de seu pai, a bordo do Windsor-Castle
Em pág. 251 deste 8º volume da História se encontra a descrição da cena representada pela nossa gravura.
Pág. 228 - Conde das Antas
O general conde das Antas foi um dos mais valentes caudilhos da guerra peninsular. Francisco Xavier da Silva Pereira era filho do oficial do exército Francisco Xavier da Silva Pereira, nasceu em Valença, em 14 de março de 1793 e sentou praça em 1808, ano em que obteve a patente de alferes. - Tomou parte denodadamente em grande número de batalhas contra o exército francês. Quando rebentou o movimento de 20, serviu esta simpática causa, tendo por isso, quando vingou a reacção, de desligar-se do exército, onde tão brilhantemente figurara. Mas logo que rebentou a revolução de 1828, voltou de novo a tomar o seu lugar, batendo o partido miguelista. - Logo em seguida teve de sair de Portugal, nova­mente forçado pelas circunstâncias políticas, toman­do depois parte na expedição de Plymouth, desembarcando na ilha Terceira em 1830, sendo nomeado naquele ano comandante de caçadores 5, com o qual cometeu actos de verdadeiro valor, que as poucas linhas de que dispomos não nos permitem narrar. - Em 1835, como se assinasse em Lisboa um tratado pelo qual o governo português se obrigava a mandar a Espanha uma força auxiliar para com­bater D. Carlos, foi o nosso bravo militar encarre­gado de comandar a coluna da vanguarda; ocioso será mencionar os actos de bravura praticados pelo valente general, que assim soube honrar lá fora o nome português. - Em 1837 foi promovido a mare­chal de campo, e ainda entrou no movimento cartista, em que sempre se houve com grande valentia. Em 1840 pôs-se à frente do movimento revolucioná­rio, em que continuou a manifestar-se o homem destemido e enérgico de outros tempos, sendo, contudo, feito prisioneiro. Depois disto afastou-se por completo da política, falecendo em 1852. - Tal era a popularidade alcançada por este general, que, dois dias depois, era o seu cadáver levado à mão pelo povo desde a igreja de Santa Isabel até ao cemité­rio dos Prazeres, e em agosto de 1859 trasladado para um mausoléu levantado por subscrição popular.
Pág. 229 - Antigo Colégio dos Nobres
O colégio dos nobres foi fundado em 1603, sendo-lhe lançada a primeira pedra em 23 de abril. A companhia de Jesus foi abolida pelo marquês de Pombal por um decreto de 3 de setembro de 1759, e como o noviciado da Cotovia possuía uma casa vasta e situa­da em um belo local, Sebastião José de Carvalho, a fim de evitar reclamações, não lhe mexeu, mas es­tabeleceu ali um colégio para educação dos filhos dos nobres, com um número de capelães obrigados a irem servir nas igrejas do Oriente. Data de 7 de março de 1761 a carta de lei da fundação do Real Colégio dos Nobres e foi instituído para serem edu­cados 100 porcionistas. Só tinha onze anos de vida esta instituição escolar e já reinava grande desordem e escândalo em tudo, sendo necessário reformar os estatutos em 1772, reforma esta que durou até 1834, época em que foram admitidos colegiais plebeus. Esse decreto ordenou também que as aulas fossem públicas para que fossem frequentadas por quem quisesse. Em 4 de fevereiro de 1837, Passos Manuel assinou um decreto suprimindo o colégio dos no­bres. Por outro decreto do dia 12 do mesmo mês e ano foi doado o edifício à escola politécnica, criada no dia anterior por outro decreto. Estabeleceram-se desde logo as aulas neste edifício, que ardeu em 22 de abril de 1843, ficando de pé apenas as paredes calcinadas. O conselho escolar tratou logo de cons­truir edifício próprio para o fim a que se destinava
Pág. 232 - Marques de Sá da Bandeira
Bernardo de Sá Nogueira, o famoso marquês de Sá da Bandeira, foi um dos homens de mais inconcussa probidade; nasceu a 26 de setembro de 1795 em Santarém, começando a carreira militar em 1810, tornando-se de então notável pela sua bravura. Tomou parte activa nos combates de Ega, Cruz dos Morouços e Vouga. Foi em 8 de setembro de 1832 que o marquês de Sá da Bandeira ficou sem o braço esquerdo no alto da Bandeira, por ocasião do ataque dos miguelistas às posições de Vila Nova de Gaia, que defendia denodadamente à testa de um troço de homens. Depois de muita acção, foi ministro da fazenda, exercendo outros cargos de importância, falecendo em Lisboa aos 80 anos, em 6 de ja­neiro de 1876.
Pág. 233 - Marechal António Vicente Queiroz
Foi também na segunda edição da História do Cerco do Porto, por Simão José da Luz Soriano, que encontrámos o retrato deste valente oficial de tro­pas liberais, mais conhecido pelo seu título de Visconde de Santa Maria, que, como era de justiça, tinha direito a figurar na nossa galeria de retratos de homens notáveis de Portugal.
Pág. 236 - Almirante Carlos Napier
Nasceu Carlos Napier em 1786, e aos 13 anos fez-se marinheiro, assinalando-se nos cruzeiros organiza­dos contra os navios franceses; em 1805 nomearam-no tenente da Corajosa, barco francês que capturara com outros marinheiros, e, passados três anos, voltando da guerra contra as Antilhas dinamarquesas, sustentou uma acesa luta, de que saiu gravemente ferido, com a corveta francesa Diligente; em 1809 foi tomado de assalto o forte Eduardo na Martinica, e concorreu para que Hautpoul fosse tomado, subin­do a capitão. Foi este almirante um grande cooperador para colocar Lisboa a salvo dos ataques migue­listas, concorrendo até com o seu contingente naval para as vitórias ganhas pelos constitucionais nas linhas da capital, e indo a Setúbal e a Lagos cuidou em dispor esses locais de forma a prestarem um valioso auxílio às operações militares do exército de D. Pedro. Neste comenos levantou-se certa celeuma algo grave entre Napier e o ministro da marinha; sanada, porém, em pouco tempo o almirante pôde acionar à vontade nos portos marítimos. Escreveu uma História da Guerra da Successão em Portugal, que se acha vertida em português. Faleceu em 1860.
Pág. 237 - Capela de Santo António de Barroca d'Alva
A curiosa e original capela que a nossa gravura representa fica situada na povoação marítima de Barroca d'Alva, pertencente à freguesia e concelho de Alcochete, a pouca distância, pois, de Lisboa, do outro lado do Tejo.
Pág. 240 - Luís Augusto Victor, conde de Chaisnes de Bourmont
Fidalgo francês, nasceu em Anjou em 1773. Era realista ferrenho, e como tal alistou-se nas fileiras antirrepublicanas, que foram batidas, vindo a refugiar-se em Portugal, onde estava por ocasião da invasão francesa. Regressando depois a França, ser­viu no exército de Napoleão e em seguida no de Luiz XVIII. Em 1833 veio a Portugal servir no exército de D. Miguel, pelo que perdeu a qualidade de cidadão francês. Desembarcando em Vila do Conde em 10 de julho foi logo depois nomeado major general e chefe de Estado maior general junto à real pessoa. A 25 desse mês dirigiu contra a cidade do Porto um aceso ataque, mas havendo chegado ao quartel-general a notícia da entrada do duque da Terceira em Lisboa, a maioria do exército miguelista abandonou o cerco daquela cidade e marcharam para o sul. Bourmont acompanhou-o, e em 5 e 14 de setembro atacou as linhas de Lisboa. Houve, porém, tais di­vergências que, logo que Napier propôs a Bourmont a paz, que alguns influentes do partido repeliam francamente, pensou que o melhor que havia a fazer era retirar-se, e, dirigindo se para Espanha, daí passou à Itália. Tendo autorização para regressar a França (1840) ia sendo vítima duns tumultos havidos em Marselha e faleceu no palácio em que nas­cera, a 29 de outubro de 1846.
Pág. 241 - Palácio do Conde de Farrobo, em Vila Franca de Xira.
Fica a cerca de três quilómetros de Vila Franca o palácio que a nossa gravura representa e que foi edificado pelo primeiro conde de Farrobo. Posteriormente foi vendido ao visconde de La Torre, fidalgo espanhol, e é actualmente pertença da sra D. Ma­ria Antónia Couceiro de Sá. Já lá esteve estabelecido o seminário de S. Vicente, antes de definitivamente instalado em Lisboa. - Actualmente é casa de verão do seminário de Santarém.
Págs. 244-245 - Visão de Ezequiel
Compreendemos que vem já fora de tempo a publicação desta gravura alegórica, mas tem ela um tal cunho de portuguesa, e é considerada tão rara que não hesitámos em reproduzi-la. O original é de 1810, e a sua explicação está no seguinte, que, ape­sar de ser um poucochinho longo, copiámos dos dizeres que servem de orla ao original que reproduzi­mos, à excepção do trecho das Prophecias de Ezequiel, porque esse pode o leitor ler facilmente na Bí­blia, capitulo VII, um trecho do capitulo 19 do Apocalipse e um trecho da Malaca Conquistada, de tudo o que o autor faz um mistifório para justificar a explicação que ele dá e que reproduzimos em seguida: Os quatro ventos que viu Daniel são os quatro im­périos da Europa em guerras, como Alemanha, Tur­quia, Rússia e França. As quatro bestas que subiram do mar são Napoleão, José, Luiz, Jerónimo, arribados na França da ilha Córsega. A primeira besta figurada como leoa é José Napoleão, rei de Espanha, que, devorando aqueles reinos e províncias, corre uma e outra parte, levando só a destruição e a morte. A segunda, semelhante ao urso, na fereza e crueldade de coração, é Jerónimo, rei de Westfália. A ter­ceira, em figura de leopardo, tendo em um só corpo quatro cabeças com asas de águia, é Luiz Napoleão, mostrando-se nesta besta a semelhança que Iodos têm com o leopardo nas diversas manhas que cada um toma quando lhe apraz; como católico, mouro, luterano, calvinista, ateu, etc., e têm todos asas de águia para a demonstração do poder que lhes foi conferido por Napoleão. A quarta besta, figura de dragão, é Napoleão, chefe dos dragões franceses, a mais cruel e terrível de todas; tem dez cornos, que são dez reis que havia de fazer como França, Itália, Nápoles, Holanda, Westfália, Espanha, Baviera, Saxónia, Wurtemberg e Portugal. O corno pequeno que aparece no meio dos dez é Murate (sic), que saiu do meio deles por ser casado com sua irmã, e tem uma boca que fala com insolência. Este verá arrancar os três primeiros cornos, que são Luiz fora da Holanda, José da Espanha, José da Westfália. O antigo dos dias é o Encoberto Português, reservado para a destruição daqueles, e estabelecimento do quinto império. O anjo é S. Miguel, protector do povo cristão, que vem para salvá-lo. O rio é o Tejo e os dois homens sobre as ribanceiras é Napoleão, da parte de Cacilhas, e lord Wellington de Lisboa. O rei D. Sebastião é o que está a cavalo sobre as águas encoberto dos homens! - «II Douctor Bocarro, matemático lusitano, Anacefaleoses, oitavas 73, 74, 83, 85, 86, 105, 108, 113, 116 - Bem-aventurados os que esperam. - F. Bandarra, trova CXLIV. Vejo quarenta e um ano pelo correr do cometa. - Levantamento de 14 de dezembro de 1807
Pág. 248 - Manuel de Figueiredo
Acompanha o seu Teatro, do qual adorna o primeiro volume, o retrato donde fizemos copiar o que aqui damos deste famoso escritor dramático dos fins do século XVIII. Nasceu a 15 de julho de 1725, e estudou o curso de humanidades nas aulas da Con­gregação do Oratório. Com Manuel de Andrade Fi­gueiredo aprendera caligrafia e com André Gonçalves, pintor de fama, desenho. Era muito sabido nas línguas latina, italiana, inglesa, espanhola e francesa. Viveu celibatário e, após a morte dos pais, foi para junto do irmão até o dia 27 de agosto de 1861. Dele fala Inocêncio largamente no seu Diccionario, e para lá dirigimos o leitor, se quiser, saber mais alguns dados sobre sua vida e obras.
Pág. 249 - D. Nuno de Athayde, cardeal da Cunha
Também é dos retratos que já vêm fora de tem­po, mas por ser curioso e representar um vulto proeminente da nossa história, não hesitámos em publicá-lo, de mais que é autêntico, pois que é copiado duma gravura do tempo. D. Nuno da Cunha foi ministro de D. João V e homem sempre muito modesto. Foi despachado cardeal, sob o nome de Santo Anas­tácio, em 1712. Faleceu em 1750, antes de D. João V, e a sua morte, assim como a do secretário de Estado Marco António de Azevedo Cominho, causa­ram tanto pesar a este monarca que lhe abreviou a vida.
Pág. 252 - Igreja de S. José, em Lisboa
Esta paróquia principiou numa confraria de S. José que se criou na igreja de Santa Justa e Rufina, em 1532, organizada por carpinteiros e pedreiros, sendo a primeira que houve no género no reino. O santo e a confraria mudaram-se em 1846 para Entre-as-Hor­tas, para uma capela que tinha capelão para os ofícios divinos de domingos e dias santos. Como a freguesia de Santa Justa fosse grande, o cardeal-rei desanexou parte dela para formar uma nova freguesia, que, por consentimento dos frades de S. José, se estabeleceu na sua capela com a invocação do mesmo santo, encontrando-se agora na rua de S. José.
Pág. 253 - Miguel de Reinoso
Como se vê, o retrato que aqui damos é uma reprodução fac-similada de uma gravura quase primitiva, publicada no século XVII, e que não é nada vul­gar. Apesar de tardiamente, não hesitámos em publicar este retrato, como não hesitaremos, no decurso da publicação, de darmos os retratos, quando autênticos, dos homens mais notáveis de Portugal, porque só assim conseguiremos fazer o que desejámos: que a nossa «História» seja a iconografia mais completa que, até à sua publicação, tenha sido dada à estampa. Miguel de Reinoso foi um célebre advogado português, que nasceu em Viseu em 1569, se formou em Coimbra, veio advogar para Lisboa e aqui faleceu em 1620, deixando manuscrita e em latim uma obra que adquiriu grande reputação no foro, intitulada Observationes Praticae, que foi publicada póstuma por seu filho Luiz de Reinoso, e que teve depois várias edições, sendo acrescentada em Coimbra com algumas decisões novas por Cristóvão de Sá Pereira.
Pág. 256 - Gomil de prata
É uma das mais belas manifestações da arte de ourivesaria do século XVI e que causou, admiração quando foi do seu aparecimento na notável exposição de Arte Ornamental realizada em Lisboa em 1882. É decerto esta uma das mais originais e ar­tísticas do opulento tesouro da Sé de Coimbra.
Pág. 257 - Baltazar de Almeida Pimentel
Encontramos na História do cerco do Porto o retrato deste vulto das lutas liberais, pelo que, como de direito, para aqui o mandámos reproduzir.
Pág. 260 - Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa
A igreja em que actualmente se acha estabelecida a sede da freguesia, fica situada perto de Santa Apolónia, na calçada chamada dos Barbadinhos, por ser de padres barbadinhos italianos o convento a que essa igreja pertencia e que a nossa gravura represen­ta. - A freguesia foi transferida para esta igreja em 1835 da igreja do Paraíso, por ser esta muito aca­nhada para freguesia; mas a primitiva sede da freguesia de Santa Engrácia fora fundada pela infanta D. Maria, filha de D. Manuel, pelo ano de 1530, perto do convento de Santa Clara. Dessa igreja é que séculos depois foi transferida para a capela do Paraíso, onde, como dissemos, se conservou até o ano de 1835.
Pág. 261 - Cardeal da Mota e Silva
Mais outro retrato, cujo original, uma excelente gravura do século XVIII, não alcançámos a tempo, mas que, contudo, tivemos a felicidade de obter e que, por curioso, mandamos aqui reproduzir.
Pág. 264 - Pelourinho de Castanheiro
Fica situada esta povoação perto de Vila Franca de Xira, e o pelourinho que a nossa gravura representa dá bem a nota da importância que tinha Casta­nheiro, pois possuía pelourinho, símbolo da auto­nomia daquela, em tempos, notável povoação.
Pág. 265 - José Miguel João de Portugal, 9° conde de Vimioso
O acaso deparou-nos uma gravura da época representando este ilustre personagem, que, não obstante nos aparecer já tarde, gostosamente aqui reprodu­zimos, por não ser vulgar, e por nos dar a fisionomia dum representante duma das mais nobres famí­lias de Portugal.
Pág. 268 - Quadro gótico
A epígrafe que acompanha a nossa gravura dis­pensa qualquer outra notícia sobre o seu valor. É, como se vê, uma das excelentes obras de arte do século XVI, e, pertence actualmente ao Museu das Belas-Artes de Lisboa.
Pág. 269 - José Jorge Loureiro
Vem na segunda edição da História do Cerco do Porto, de Simão José da Luz Soriano; o retrato deste nobre vulto das lutas civis portuguesas dos primeiros anos do século XIX.
Pág. 273 - Alegoria à constituição de 1821
Como já noutros lugares deste mesmo volume tivemos ocasião de dizer, foi fértil em alegorias a época em que foi estampada aquela que para aqui reproduzimos, um pouco reduzida. A sua explicação é esta, que copiámos dos dizeres que vem na estam­pa original: - «O maior triunfo da Lusitânia. A presente alegoria demonstra Portugal (1) intimando a Minerva que lhe patenteie os nomes dos heróis escolhidos para pôr em prática o seu plano: a deusa lhe mostra em um livro (2) todos os ilustres e bene­méritos varões que se devem unir para formar as Cortes e a Constituição. Por cima do Trono está a efígie do nosso augusto soberano (3) e nas colunas que a sustentam se veem escritas em medalhas os sempre memoráveis nomes dos ilustres heróis portugueses que formavam o novo Governo. Um génio com este dístico em uma fita: O triunfo maior da Lusitânia. Em lugar idóneo se deixam ver as duas cidades personalizadas Lisboa (4), Porto (5), dando as mãos em sinal da mais perfeita harmonia e união. A tropa entrando na capital por baixo de um grande arco triunfal, que tem nas colunas que o susten­tam grandes medalhões com os nomes dos heróis do Douro e Tejo. A nação (6) manda escrever à figura da História (7) este memorável Triunfo. A figura da Genealogia (8) tem na cabeça o tronco da real casa de Bragança, onde se vê a coroa de S. M. o sr. D. João VI e do Príncipe real e de sua augusta neta; mostrando este tronco os bem-aventurados frutos que todos devemos esperar de tão virtuosa e soberana família. Observa-se o Tejo (9) e junto a ele uma figura alegórica e diversos génios oferecendo os seus donativos ao governo supremo, e Marte (10) ao lado direito do quadro mostrando o incompará­vel valor da distinta Nação Portuguêsa, que ele sempre escudou e há de eternamente proteger para assombro e admiração de todo orbe.» - A gravura traz no fundo à esquerda esta nota: «Luiz António, inv. em 1821» e à direita: «Constantino Scp. em Lisboa
Pág. 276 - António Máximo Lopes
António Máximo Lopes nasceu em Lisboa, no ano de 1755, e faleceu na mesma cidade em 1814. Foi cavaleiro professo na ordem de Cristo, curador da infanta D. Maria Francisca Benedita e conselheiro da Regência do reino durante os anos de 1810 a 1812. - O seu retrato é cópia duma miniatura em poder dos seus descendentes.
Pág. 277 - Manuel Joaquim Henriques de Paiva
Nasceu este ilustre médico em Castelo Branco, no dia 23 de dezembro de 1752, e foi filho de António Ribeiro Saraiva, irmão do célebre médico António Nunes Ribeiro Sanches, de quem já nos ocupámos, e de D. Isabel Ayres Henriques. - Frequentou a Universidade de Coimbra, onde fez formatura na facul­dade de medicina. Ao tempo que se formava na Uni­versidade, presidia a uma sociedade de mancebos estudiosos que concorriam à sua casa, em Celas, exercitando-se nas palestras científicas, e para o uso desses seus companheiros ordenou em latim os seus Elementos de chimica e pharmacia, que mais tarde foram vertidos para a língua portuguesa, e impressos em 1786. Dedicou-se muito aos estudos botânicos, sendo nomeado sócio da academia de Upsal por indicação de Linneu, e recebendo do seu mestre e amigo Fr. José Mariano da Conceição Veloso a honra de lhe dedicar com o nome de Paiva, uma das plantas da sua Flora Fluminense. - Foi sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, médico da real câmara, deputado da real junta do Proto-medicata e censor régio da mesa do desembargo do Paço. - Tendo escrito que para vencer a Napoleão era absolutamente nulo todo o poder de Portugal, foi, por sentença do juízo da inconfidência de 24 de mar­ço de 1800, exautorado de todos os cargos que exercia e das honras de que gozava, e condenado a degredo para o ultramar, chegando até alguns biógrafos a dizer que ele sofrera a pena infamatória de açoites, embora esta afirmativa seja inexata. - Retirando-se para a Baía, foi, por decreto de 6 de fevereiro de 1818, reintegrado em todas as honras e prerrogativas; mas, não querendo regressar à pátria, continuou a residir na Brasil até à sua morte, que se julga ter sido em 1819. - É sobremaneira extensa a lista das obras que o dr. Paiva publicou, por isso nos ocuparemos apenas das mais principais: «Memoria chimica-agronomica sobre quais são os meios mais convenientes de suprir a falta dos estrumes nos lugares onde é difícil havê-los». - Esta memória, que foi premiada pela Academia Real das Ciências, é notável por nela apresentar já o dr. Paiva os primeiros lampejos da teoria de Jorge Ville. - Avizo ao povo sobre as asphyxias ou mortes apparentes; Avizo ao povo ou signaes e symptomas das pessoas envenenadas com venenos corrosivos. Avizo ao povo ou summarios de preceitos que se devem observar para prevenir as enfermidades, conservar a saúde e prolongar a vida; Avizo ao povo acerca da sua saúde por M. Tinot, em 3 volumes, dos quais o último é original do dr. Paiva. - Publicou muitos artigos em várias publicações científicas e fez numerosas traduções. - O seu retrato é cópia da gravura que acompanha os seus Elementos de chimica, etc.
Pág. 281 - Manuel Inácio de Sampaio e Pina
À segunda edição da História do Cerco do Porto, por Simão José da Luz Soriano, que tão bons elementos neste género nos forneceu para este volume da nossa História, fomos buscar o retrato que aqui damos deste valente militar que tanto figurou nas lutas civis dos primeiros anos do século passado.
Pág. 284 - Igreja do Sacramento, em Lisboa.
Pelo arcebispo D. Jorge de Almeida, foi fundada em 1665 esta igreja, tendo parte das freguesias de S. Nicolau e Mártires. Provisoriamente estabeleceu-se a matriz na igreja das convertidas, mudando-se em seguida para a capela que ali havia, enquanto se edificou a igreja, cuja primeira pedra foi lançada a 26 de novembro de 1667; estando já construído em parte quando se demoliu por motivo do edifício tirar a vista às casas do marquês de Arronches, reedi­ficou-se mais abaixo, no sítio em que está agora. De­moliu-se em 1671, e a existente concluiu-se em 1685. Sofreu bastante com o Terremoto de 1755, e as suas obras concluíram-se em 1807. Era nesta freguesia o convento da Santíssima Trindade e o de Carmelitas calçados.
Pág. 285 - João Severiano Maciel da Costa, 1° visconde de Queluz
Foi uma excelente litografia da época a que nos serviu de modelo para o retrato que aqui apresenta­mos deste estadista brasileiro que nasceu na cidade de Mariana em Minas Gerais no ano de 1760. Formou-se em leis na Universidade de Coimbra, e, se­guindo a carreira judicial estava desembargador em 1808 quando chegou ao Brasil a família real portuguesa. Tendo caído em nosso poder a Guiana francesa, foi o desembargador Maciel da Costa nomeado governador da nova província brasileira, lugar que exerceu até 1815, em que, pelo tratado do mesmo ano, tivemos que restituir à França a sua possessão ame­ricana. Acompanhou D. João VI à Europa, mas as cortes não o deixaram desembarcar, e João Severiano voltou ao Brasil, onde foi um dos agentes da independência do império. Depois da retirada das tropas portuguesas da Baía, João Severiano foi nomeado presidente dessa província brasileira, que adminis­trou com acerto e prudência. Incluído na lista dos primeiros senadores nomeados pela câmara vitalícia foi agraciado com o título primeiro de visconde e depois marquês de Queluz, e em 1829 foi ministro do império. Em 1827 entrou no ministério com a pasta dos negócios estrangeiros, e, saindo depois do poder, sustentou no Senado as ideias liberais. Em 1821 escreveu uma Apologia do seu procedimento, em que protestava contra o decreto das cortes que o inibiu de desembarcar em Lisboa. Morreu com mais de 70 anos depois de 1830.
Pág. 289 - Joaquim António de Aguiar
Ainda da segunda edição da História do Cerco do Porto, de Simão José da Luz Soriano, foi copiado este retrato do celebre Mata-frades, a cujos actos políticos, sempre de grande alcance, se faz a devida justiça na nossa História.
Pág. 293 - Colégio Militar da Luz
Próximo ao convento da Luz, perto de Carnide, está este colégio, que foi fundado pela infanta D. Ma­ria; criou-se para hospital de pobres, com rendas próprias para a sua manutenção. No século XVIII ainda este hospital existia, tendo por administradores dois freires de Cristo. Ficou muito danificado com o tremor de terra de 1755, estragos que mais tarde foram reparados. Foi em 1814 que se estabeleceu nesse edifício o actual colégio militar, que em 1835 se transferiu para o mosteiro de Rilhafoles, donde passou para Mafra, sendo finalmente passado para a luz, onde permanece actualmente.
Pág. 296 - António José Claudino de Oliveira Pimentel
Este ilustre general nasceu em 1776, na vila de Moncorvo. Depois de ter uns princípios de educação veio para Lisboa completar os seus estudos. Em 1793 - com dezasseis anos - assentou praça ao regimento de cavalaria de Alcântara, onde desde logo o reconheceram cadete. Na expedição que do Tejo partiu em 20 de setembro de 1790, para auxiliar os espanhóis, ia Claudino Pimentel, que tomou parte activa nas campanhas de Roussillon e Catalunha, que fo­ram a sua estreia militar. Dessa data a 1802 serviu nas diferentes esquadras do Brasil. Em outubro de 1807 inscreveu-se o seu nome na matrícula da academia real de marinha, para seguir os estudos matemáticos, mas a superveniente invasão francesa não lhe permitiu que aproveitasse a matrícula. Em 1813 foi nomeado major de infantaria 5. Combateu sem­pre pela causa constitucional. Foi preso por questões políticas, sendo condenado em cinco anos no pre­sídio das Pedras Negras e quatrocentos mil réis para as despesas da alçada, isto atendendo ao que sofrera e ao tempo que tinha estado prisioneiro anteriormente. Sofreu, um violento ataque de gota, para o que aconselhou um banho quente aos pés, que os médicos recusaram dar-lhe, receando perigo, mas as dores foram tão violentas que instou de novo para que o seu médico, no dia seguinte, lhe fizesse o que prescrevera; mas o resultado foi mau, porque a gota tornou-lhe o estômago e a região torácica, vindo a falecer em 13 de agosto de 1830, aos cinquenta e quatro anos, condenado a um cruel degredo no mais horrível presídio de África o brioso militar que em vida se chamara António José Claudino de Oli­veira Pimentel. O retrato que aqui damos é reprodu­zido do Memorial Biographico de um militar ilustre, o general Claudino Pimentel, pelo visconde de Vila Maior, e para o qual remetemos o leitor que mais detalhadamente queira conhecer a vida desse insigne oficial.
Pág. 297 - Duque de Saldanha
São bem pouco vulgares os retratos em que este, entre todos valente caudilho da liberdade, nos aparece vestido à civil, pelo que foi com prazer que obtivemos do sr. comendador João Carlos Guilherme Henriques, da Carnota, autorização para reproduzir­mos de um dos muitos retratos a óleo que aquele ilustrado cavalheiro possui de Saldanha, o que ora aqui damos, e que é, afiançamo-lo, absolutamente inédito.
Pág. 301 - Cofre de prata dourada
A linda obra de arte que a nossa figura representa é um cofre octógono de prata dourada com ornatos de aplicação de prata branca, formando arabescos e medalhões com os emblemas da Eucaristia, etc. É encimado por uma cruz. Pertence ao Museu de Belas-Artes de Lisboa.
Pág. 304 - José Liberato Freire de Carvalho
Na quinta de Monte são, proximidades de Coimbra, nasceu em 20 de julho de 1772, tendo por pais o dr. Ayres António Antunes Freire e D. Maria Joaquina Sequeira de Carvalho. Aos 15 anos fez-se cónego regrante de Santo Agostinho, no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, com o nome de D. José do Loreto; e no colégio da sua Ordem seguiu e completou os estudos filosóficos e teológicos, habilitando-se para o professorado, que exerceu depois por alguns anos em Lisboa, no mosteiro de S. Vicente de Fora; em 1813 emigrou para a Inglaterra, eximindo-se às perseguições contra ele movidas desde muito tempo, e cada vez mais acirradas. Os diversos e vários inci­dentes da sua longa e por vezes trabalhosa vida, cuja maior parte empregou nas diligências de preparar e consolidar o estabelecimento de instituições livres em Portugal, acham-se por ele próprio contadas nas Memórias. Nunca reclamou recompensa alguma. Só em 1804 é que o fizeram sócio da Academia Real das Ciências, mas vendo-se ferido na sua dignidade pes­soal, por desatenções que lhe haviam feito, despe­diu-se; foi depois inscrito como sócio da Academia de Belas-Artes, e como membro correspondente de 1ª classe do Instituto Histórico de Paris. Faleceu - ao que parece - em 1837. O retrato que aqui damos é copiado do que acompanha as suas Memórias.
Pág. 305 - Os fidalgos realistas puxando o coche de D. João VI
Quanto pode a bajulação humana. Descrevemos em pág. 236 deste 8º volume da nossa História o servilíssimo feito, que tão bem verberado foi por quantos presam a dignidade do homem, e cujo máximo castigo foi o celebrado anúncio que logo dias depois apareceu num jornal da época, no qual se dizia onde se vendiam as parelhas que puxavam a carruagem d'el-rei, etc.
Pág. 309 - Joaquim José Caetano Pereira e Sousa
É de uma gravura de Cardini, actualmente bem rara, que reproduzimos o retrato aqui apresentado de Joaquim José Caetano Pereira e Sousa, que nasceu em Lisboa não se sabe se em 1742 ou 1744. Foi um jurisconsulto e um literato português de grande mérito. Matriculou-se na Universidade, não chegando a formar-se em leis, ficando apenas com o título de advogado de provisão, o que não o inibiu de ser um dos nossos mais hábeis magistrados, principalmente eruditíssimo em processo civil e criminal. Dá sobejas provas dos seus conhecimentos desse assunto na obra de que foi autor - Primeiras linhas sobre pro­cesso criminal - e que se imprimiu em 1785, sendo então um opúsculo de 64 pág. Foi reimpressa em 1800, mais acrescentada, fazendo-se terceira edição em 1806 e por fim fez-se nova tiragem póstuma em 1820, com 225 pág. Passados uns anos (1831) teve quinta edição, mais completa que as restantes. As duas últimas foram feitas pelo filho. Em 1803 apareceram as Classes dos crimes, de que se fez 2ª tiragem em 1830. Das Primeiras linhas sobre o processo civil fizeram-se cinco edições, sendo a última de 1859. É de quatro volumes, e em geral adicionam-se o Apêndice às primeiras linhas, no qual se compreendem as leis, alvarás e decretos, etc., (dos anos de1362 até 1674) citados na referida obra, que também é em 4 tomos e foi publicada de 1824 a 1829, e cremos que é uma compilação do filho. Enfim, em 1827 este mesmo filho fez sair a público a obra póstuma do pai, Esboço de um dicionario juridico, theoretico e pratico, remissivo às leis compiladas e extravagantes. Pereira e Sousa não era apenas um jurisconsulto, cultivava também as boas letras e correspondia-se com Filinto Elysio, mesmo após a sua fuga para França. Das obras poéticas que publicou, só existe uma, Écloga pastoril de Filinto, Anarda e Polydoro, im­pressa em 1772. Também deu começo a uma tradução da Ilíada, de Homero, chegando mesmo a impri­mir em 1810 o canto primeiro; ao que parece fê-lo desaparecer, pois que dele não aparece um único exemplar. Carece que Pereira e Sousa fez também com que desaparecesse a edição de um outro tra­balho seu, Grammaire française et portugaise, contenant une méthode facile pour apprendre le portugais. Pereira e Sousa, vendo com bons olhos o domínio francês em Portugal, quis facilitar aos nossos conquistadores o aprenderem a nossa língua, publicando em 1807 esse livro. Receou que depois essas suas intenções não fossem bem aceitas pela regência que fazia a setembrisada e recolheu a edição. Foi ele o advogado de Domingos dos Santos Moraes Sarmento, acusado de fabricante de moeda falsa, e a alegação que escreveu em prol deste réu foi publicada após a sua morte na Gaveta dos Tribunaes. Joaquim José Caetano Pereira e Sousa faleceu em Lisboa, parece que em 1818.
Pág. 312 - Igreja de S. Mamede, em Lisboa
Foi esta igreja edificada no reinado de D. Sancho I, aí pelo ano de 1200. Era no sítio chamado Largo do Correio-mor, defronte do Palácio dos marqueses de Penafiel. Elevaram-na em 1490 a categoria de capela real. Era priorado apresentado pelo rei e possuía quatro beneficiados. Tinha a capela do Espírito Santo, instituído em 1460 por Pedro Eannes Lobato e mulher, com a clausula de missa diária; a de Santa Margari­da, fundada por D. Margarida Bulhoa, com duas mis­sas, e era administrada pelos Cunhas, senhores de Taboa. Era anexa a esta capela o morgado e quinta de Bulhões, da família de Santo António de Lisboa, e nessa capela estava sepultado o irmão mais velho do santo. Tinha igualmente a de Santo António, com missa quotidiana, instituída pelo correio-mor. Nesta freguesia havia também a capela de S. Crispim e S. Crispiniano, santos festejados pela classe dos sa­pateiros. Por ocasião do terramoto de 1755 ficou, co­mo muitas outras, reduzida a cinzas, e de tal forma ficou que este sítio se denominou os entulhos, e à rua em que existiu o edifício, rua dos Entulhos de S. Mamede, denominação que durou até 1870, pas­sando então a chamar-se rua Nova de S. Mamede, voltando mais tarde a ter o nome de rua de S. Ma­mede, que ainda hoje conserva. Após o terramoto, transferiu-se para o largo de S. Mamede, à Escola Politécnica, onde se construiu. Demoraram estas obras tanto que só se concluíram por completo em 1861.
Pág. 313 - Luiz Pinto de Mendonça Arraes, Visconde de Valongo
Reproduzimos duma bela litografia da época este retrato do ilustre general, visconde de Valongo, que nasceu em Ceia em 9 de julho de 1787. Entrou para o exército em 5 de agosto de 1808, e sendo reconhecido cadete foi despachado alferes em janeiro do ano imediato; tomou parte activa na guerra Peninsular, sendo ferido gravemente no assalto de Badajoz, contuso na batalha de Victória e outra vez ferido perigosamente pelas alturas de Solin a 31 de agosto de 1813, sendo promovido a tenente e a capitão-graduado em setembro e novembro de 1811. Em­barcou em 1817 para o Brasil onde se conservou até 1823, ano em que regressou à pátria, sendo já major, e em 1816 subia a tenente-coronel, entrou nas campanhas de 1826 e 27 contra os absolutistas e quando rebentou ao Porto a revolução liberal em maio de 1828, foi unir-se à junta com um batalhão do regimento 23. Emigrou em seguida para a Galiza e Inglaterra, depois foi para a Ilha Terceira, desembarcando nas praias do Mindelo, comandando o corpo de Voluntários da Rainha. Sendo pela terceira vez gravemente ferido no reconhecimento do Valongo, foi agraciado com o grau de oficial da Torre e Espada, promoveram-no em agosto seguinte a tenente-coronel e coronel em abril de 1833; foi nomeado prefeito da província ocidental dos Açores a 15 de julho de 1833 e governador civil em 15 de setembro de 1835, recebendo a 28 do mesmo mês o título de Barão de Valongo. Depois de seguir todos os di­versos graus da hierarquia militar, foi afinal promovido a tenente-general supranumerário, comandan­do a 4ª, 6ª, 7a e 9ª divisões militares; foi vogal do Supremo Tribunal de Justiça Militar, e foi-lhe feita a mercê de Visconde de Valongo a 10 de março de 1842. Afastando-se por completo da vida activa faleceu em 30 de julho de 1858.
Pág. 317 - Obras de Santa Engrácia, em Lisboa
A igreja de Santa Engrácia foi instituída por D. Maria, filha de D. Manuel em 1530, erigindo-se paróquia que se desanexou da freguesia de Santo Estevão. A infanta residia no palácio próximo a esta igreja e pegado às freiras de Santa Clara. A infanta solicitou de Pio V a criação da mova paróquia que lha concedeu. Na noite de 15 de janeiro de 1630 per­petrou-se na citada igreja o desacato do roubo das sagradas partículas, com manifesta ideia de cometer este sacrilégio, pois que o cofre onde se encerra­vam as sagradas formas que era de tartaruga e cintado de prata, apareceu mais tarde no convento do Desagravo. Em desagravo deste desacato foi criada a irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento que se compunha dos cem principais fidalgos da corte, e levaram a efeito a fundação de um sumptuosíssimo templo no sítio do antigo. Passado pouco, deu-se começo às obras da gigantesca igreja, levantando uma montanha de cantaria, que parou na cimalha. Se esta obra fosse levada até o fim, era um dos mais colossais monumentos da capital, quer pela sua originalidade quer pela sua grandeza e ri­queza de mármores. Tem por dentro belos e precio­sos mármores de várias cores, e pena é que se veja este primor arquitetónico servir para depósito do ma­terial de guerra, ou, com mais propriedade, do des­pejo de vários objectos inúteis, do arsenal do exército. Sendo a capela do Paraíso (para onde a igreja se transferiu em 1835), bastante acanhada para freguesia, foi esta mudada para a igreja do convento dos padres barbadinhos, italianos, na calçada dos Barbadinhos, onde hoje existe.
Pág. 320 - Barão de Ancedo
O retrato que aqui damos deste ilustre par do reino foi reproduzido duma excelente litografia da época. José Henrique Soares, nascido em S. Martinho de Soalhães, foi par do reino, por decreto de 3 de maio de 1842, de que prestou juramento e tomou posse em julho do mesmo ano, cabendo-lhe nessa qualidade as honras de Grande do Reino, em virtude do decreto com força de lei de 1885; foi comendador e cavaleiro professo da ordem de Cristo; sargento-mor de brigada do campo de ordenanças da cidade do Porto, rico proprietário e capitalista da mesma localidade. Prestou relevantes serviços pessoais e pecuniários de algum mérito à causa da Liberdade e do trono constitucional, enquanto durou o memorável cerco do Porto em 1832-33. Viu a luz do dia a 6 de julho de 1785 e faleceu a 4 do mesmo mês em 1853, com 68 anos de idade.
 
 
 
    
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 321 - Almeida Garrett
Por ocasião da última apoteose realizada à memória deste grande homem, foi largamente publicada uma folha volante, intitulada Quem foi Almeida Garrett; esse trabalho era, para assim dizer, a súmula das soberbas Memórias, escritas por Francisco Go­mes de Amorim; essa súmula é, apesar de tudo, ainda muito ampla, para que aqui a pudéssemos transcrever na integra; por tanto é ainda um resumo dela que aqui fazemos, e pela sua rápida leitura se verá qual o extraordinário valor e aptidões deste célebre português, cujas Obras completas, a nossa empresa está de novo publicando em soberba edição ilustrada. - O homem que, no dizer judicioso e insuspeito de Alexandre Herculano, «foi animado pelo maior espírito do seu século», nasceu aos 4 de fevereiro de 1799 na cidade do Porto, sendo seus pais António Bernardo da Silva e D. Ana Augusta de Almeida Leitão. Aos cinco anos, em 1804, os pais de Garrett transferiram a sua residência do Porto para a quinta do Castelo, em Vila Nova de Gaia, que tira o nome das ruínas do castelo mourisco do rei Alboasar, segundo uns, e Almançor segundo outros. - Foi aí que a tia Erigida, antiga criada aposentada em guar­da da quinta, lançou na memória prodigiosa do me­nino João a semente do Romanceiro e da D. Branca, os primeiros elementos da poesia popular, criando-lhe o gosto do maravilhoso e o amor pelas tradições. - Vindo a invasão francesa, o pai de Garrett embarcou com a família para a ilha Terceira, indo fixar residência em Angra do Heroísmo. Ali fez João os seus primeiros estudos de importância, impondo a precocidade do seu talento e avantajando-se nas lições a todos os seus condiscípulos. - O primeiro tra­balho de Almeida Garrett foi um poemeto heroi-cómico contra o padre-mestre que o sovara na aula. Nesta altura tomou o tio bispo conta da sua educação literária. Da vontade do preceptor e da influência dos seus conselhos resultou Garrett tomar ordens menores e ei-lo que envergando os trajes eclesiásticos, consegue licença paterna para ir à ilha Graciosa visitar o tio João, que para ali fora transferido. O seu arrojo chegou a levá-lo a pregar um sermão em uma festividade religiosa que lá se realizou dias de­pois da sua chegada. Tal sermão foi esse que o pre­gador foi, no final, ruidosamente aclamado e levado em triunfo; tinha então 14 para 15 anos! - O tio contente pelos elogios que ouvia do sermão, mas indignado porque o sobrinho se metera a «brincar com coisas sérias», reenviou-o ao pai. - O tio bispo esse não desgostou da partida, por supor que ela era uma prova de vocação de Garrett para a vida eclesiástica, e chegou a pensar em lhe arranjar um canonicato para daí a algum tempo. Mas tal não tinha de suceder. João tendo reflectido, declarou que queria ir para Coimbra, para se formar em direito, porque era de ar e de espaço que precisava a sua organização, e que não queria de modo algum ser padre. Logrando ver satisfeita a sua vontade, va­mos encontrá-lo académico de Coimbra e aí vemos, que tendo-se matriculado a 23 de novembro de 1810, foi um dos mais notáveis alunos do seu curso, não tendo obtido prémio por acintosa injustiça, atribuída a vingança dos lentes reaccionários contra a sua índole de liberal convicto e confesso. - Estava doente de cama quando explodiu a revolução de 1820, não podendo tomar parte, como era seu desejo, no mo­vimento revolucionário, compunha, mesmo no leito, versos patrióticos, que os condiscípulos espalhavam, por cópias, entre os habitantes entusiasmados. - Em Coimbra escreveu também grande parte da famosa tragédia Catão, que veio a ser representada em Lisboa, no teatro do Bairro-Alto, em setembro de 1821. - Fugindo à tirania dos reaccionários, emigrou para Inglaterra, a 9 de junho de 1823, voltando pouco depois a Lisboa e emigrando de novo; a 25 de agosto do mesmo ano, desta vez, porém, deportado por ordem do governo absolutista, que então dominava. No exílio escreveu o magistral poema Camões, que foi começado no Havre, a 13 de maio de 1824 e con­cluído a 17 de julho seguinte. Logo a seguir começou o seu novo poema D. Branca, em que gastou 3 meses. - Incluído no indulto régio de 5 de julho de 1824, não quis aproveitar-se dele, e só pôde regressar do exílio, em fins de 1826. - Uma vez em Lisboa, fundou dois jornais, o Portugues e o Chronista. - Como as suas opiniões francamente liberais não po­diam de modo algum agradar aos governantes, tais perseguições lhe moveram estes, que ambos os jornais deixaram de publicar-se, sendo todos os seus redactores presos e encerrados na cadeia do Limoei­ro, onde Almeida Garrett esteve três meses, sendo afinal absolvido e mandado em paz. - Consagrou-se então ao cultivo das letras e aos estudos da instrução pública, servindo o modesto lugar de oficial da secretaria do reino. - Entrando D. Miguel em Lisboa a 22 de fevereiro de 1828, e convocados os três esta­dos do reino a 3 de maio seguinte, sendo proclamado rei «legítimo», Garrett teve de empreender de novo o caminho do exílio, em junho do mesmo ano, acompanhado pela esposa. Dirigindo-se para Londres ali publicou em 13 de agosto as Memórias de João Coradinho, seguindo-se pouco depois a Adosinda, que considerou como a maior expressão da reforma do romantismo encetada com o Camões. No outono também de 1828 publicou o Bernal-Francez. - Passando de Londres para Birmingham, ali escreveu o famoso prólogo da sua Lyrica de João Minimo, a 15 de dezembro de 1828. A 9 de setembro do ano seguinte, publicou em Londres o primeiro número do periódico O chaveco liberal, destinado a reacender o fogo das convicções nos ânimos arrefecidos quase, dos emigrados portugueses; e em novembro seguinte apareceu o seu valioso tratado Da Educação. - No inverno de 1829 a 1830 escreveu a sua obra Das leis penaes, que se perdeu pois não chegou a ser conhecida do público. Em Warwick, a 15 de abril de 1830, escreveu o prefácio da 2ª edição da tragédia Catão. Em julho seguinte publicou Portugal na balança da Europa, e em outubro o panfleto Carta de M. Scevola «ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar» verberando o procedimento incorrecto dos directores oficiais da emigração. - Como emigrado começou também a tragédia O Infante Santo, o poema Ilva, o Resumo da história de Portugal e o poema Magriço. Algumas destas obras não as concluiu; outras perderam-se em naufrágio no Porto. - A 27 de setembro de 1831 publicou em Londres o primeiro número do Precursor, jornal destinado a dar impulso e força aos negó­cios liberais, incutindo novos brios nos que pareciam haver esmorecido. - Pobre, sem recursos alguns que lhe permitissem manifestar por outra forma as suas convicções liberais, sabendo que em França ia orga­nizar-se a expedição destinada a vir libertar Portugal do jugo do despotismo, vendendo parte da roupa que possuía, pede algum dinheiro emprestado, e, deixan­do a esposa em casa de uma tia, empreende a via­gem para França, em dezembro de 1831, a fim de se juntar aos expedicionários que D. Pedro IV comandava. Em França alistou-se como voluntário em um batalhão de caçadores, e partiu com o duque de Palmela e com D. Pedro para Bele-Isle, de onde devia partir a expedição. De Bele-Isle saiu com uma divisão com cerca de 1.000 homens, a 27 de fevereiro de 1832, a bordo da corveta «Juno» que depois se chamou «Amélia» e que veio a ser metida a pique nas águas do Douro, pela artilheria do exército miguelista. A expedição foi desembarcar na ilha Terceira, onde vivia a mãe de Garrett, e passando depois este para a ilha de S. Miguel, para onde fora transferida a sede do governo liberal, onde sentou praça no batalhão de voluntários académicos. - Por portaria de 27 de abril de 1832, foi chamado para cooperador do grande Mouzinho da Silveira. Com este ministro trabalhou sem descanso nas leis cha­madas «da Terceira» sem receber ordenado, subsídio, gratificação nem remuneração de espécie alguma. Essas leis, que revolviam de alto a baixo toda a constituição material e social do reino, tiveram todas por colaborador o voluntário Almeida Garrett. Nas horas vagas desses trabalhos de legislador, escrevia poesias, que se encontram nas Flores sem fruto e no Romanceiro. - A 27 de junho de 1832 a esquadra liberal levantou ferro em direcção às praias do Mindelo. Almeida Garrett, que fora um dos primeiros a embarcar, desembarcou no dia 8 de julho, de es­pingarda ao ombro e de mochila às costas, mar­chou a pé, com os seus camaradas, toda a noite e até às 3 horas da tarde do dia 9, hora a que se realizou a entrada da rectaguarda do exército libertador na cidade do Porto, por entre o aclamar festivo e entusiástico de toda a população da heroica cidade da luta e do trabalho. Ao corpo académico foi destina­do para quartel o velho convento dos Grilos, onde hoje está o seminário diocesano. Aí, nas horas de descanso dos combates e demais serviço do bata­lhão, principiou ele a escrever o notável romance de antigos costumes portuenses, que com o título O Ar­co de Sant’Anna mais tarde publicou. - Pouco depois, era chamado pelo marquês de Palmela, ministro do reino, para se encarregar da organização da secretaria daquele ministério, e nela trabalhou Almeida Garret, como oficial maior, até 19 de novembro do mesmo ano; também serviu idêntico lugar na se­cretaria dos negócios estrangeiros, que igualmente ajudou a organizar, dando assim provas de quanto eram variadas as suas aptidões e largos os recursos do seu engenho. A ele recorriam todos os ministros e especialmente Palmela e Mouzinho para que lhes redigisse os documentos a que ligavam mais impor­tância. Foi Almeida Garrett que redigiu o alvará da ordem da Torre e Espada, o decreto que condecorou com essa ordem o batalhão de caçadores 5, o de voluntários de D. Maria e 150 praças das que entraram na acção de Ponte Ferreira, etc. - A 18 de agosto foi encarregado de redigir os códigos criminal e comercial. Pouco depois, quiseram mandá-lo aos Açores como comissário régio, para a execução do novo sistema administrativo, mas recusou-se a aceitar tal nomeação. A 19 de novembro foi nomeado para secretário da missão especial de que haviam sido encarregados Mouzinho e Palmela, junto das cortes de Madrid, Paris e Londres. - Passou depois a França com a esposa, onde concluiu O Arco de Sant’Anna; trabalhou num livro de Direito e começou a restaurar e a ampliar o poema Magriço. - Regressou por fim a Lisboa em outubro de 1833, depois de ter sofrido lá fora os horrores da miséria, visto como o haviam deixado ao abandono os que tanto lhe haviam aproveitado os desinteressados ser­viços. - Chegado a Lisboa e reclamando os seus ordenados de oficial de secretaria do reino, foram-lhe mandados pagar… 13$930 réis! Não quis aceitar e partiu a reunir-se ao corpo. - Mas logo a 2 de novembro era nomeado secretário da comissão de organização da instrução pública. Deitou-se Almeida Garrett com afinco ao trabalho e dentro de pouco tempo apresentou o seu projecto de reforma, que ficou na secretaria do reino, onde, no dizer de Go­mes de Amorim «aí tem servido para dele se copiarem, aos pedaços e sem a unidade do sistema com que fora concedido, quase todos os planos de reforma que sucessivamente se têm adoptado.» - A 14 de fevereiro de 1834 foi nomeado cônsul ge­ral e encarregado dos negócios de Portugal na Bélgi­ca, para onde só pôde partir em junho seguinte. Novas privações ali o esperaram, porque o governo o deixou falto de recursos, não fazendo caso algum das suas reclamações contra tal incúria e desleixo. Em novembro seguinte é demitido e nomeado ministro plenipotenciário de Portugal na corte da Dinamarca, ficando ainda três meses em Bruxelas sem lhe facultarem os meios de pagar o que pedira emprestado para não deixar de satisfazer inadiáveis compromissos. Por fim, demitem-no de ministro na Dinamarca, de que não chegara a tomar posse, em 9 de janeiro de 1836 e perguntam-lhe se quer ir para o Brasil como chefe de legação, cargo que não aceitou, regressando a Lisboa em junho e decidindo retirar-se à vida privada. Mas o seu génio de trabalhador não lhe permitiu tal; e assim é que o vamos encontrar outra vez como redactor principal de O Português Constitucional, cujo primeiro número saiu a 2 de julho de 1836. Aí combateu tenazmente o ministério de 20 de abril, dizendo no final do pri­meiro artigo que «calar-se um homem de bem agora é faltar à sua consciência.» Combateu sempre o antiliberalismo desse ministério, até 10 de setembro, em que deixou o seu lugar na redacção, por ter subido ao poder o chamado ministério setembrista, que logo encarregou Almeida Garrett de um projecto de refor­ma do corpo diplomático e de um projecto da junta de contabilidade. - Por portaria de 28 de setembro foi Almeida Garrett incumbido de propor o plano para a fundação e organização do teatro nacional e de informar sobre o que havia a fazer para melhorar os outros teatros existentes. A 12 de novembro seguinte apresentou Garrett o seu relatório, propondo a criação da Inspecção geral dos teatros, a construção do teatro de D. Maria e a criação do Conserva­tório Geral da Arte Dramática. O decreto foi assinado a 15, sendo Almeida Garrett nomeado Inspector dos teatros e director do Conservatório. Como tal redige o respectivo regulamento, em 65 artigos, que, foi convertido em lei a 27 de março de 1839. A 24 de maio de 1841 referendou Rodrigo da Fonseca Magalhães o decreto que aprovava os Estatutos do Conservatório, também redigidos por Almeida Gar­rett. Já deputado, apresenta na câmara, em 19 de outubro de 1840, o projecto de lei que autoriza a cria­ção do teatro de D. Maria, projecto que foi convertido em lei a 6 do mês seguinte. Em maio de 1841 assina Almeida Garrett, como inspector dos teatros, a escritura de compra do terreno onde estava edificado o palácio da inquisição, ao Rossio, para a construção do referido teatro, que foi finalmente inaugurado a 13 de abril de 1846 e que é devido a Almeida Garrett e aos seus constantes e persistentes esforços em tal sentido, sendo, portanto, ele o seu verdadeiro criador. - A 5 de novembro de 1836 foi-lhe oferecida uma pasta na recomposição do gabi­nete, honraria que logo declinou, bem como o cargo de conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e ainda o de presidente do Tribunal Supremo do Comércio, aceitando apenas a nomeação de juiz comercial de segunda instância, por decreto de 9 do referido mês. A 14 recebeu a carta de conselho, inerente ao cargo, e a 15 a nomeação de membro da comissão encarregada de organizar o Diário das Cortes. Em janeiro do ano seguinte é nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário para a corte de Madrid, mas não chegou a partir para ocupar tão alto cargo, porque tendo sido eleito deputado por Braga, preteriu aceitar o mandato popular, em vez de ir para aquela pingue embaixada. Assim demonstrou a nobreza e isenção do seu carácter. Constituída a câmara, a 26 de janeiro de 1837, logo Almei­da Garrett encheu de admiração amigos e adversários, provando que havia de ser «o mais insigne dos nos­sos oradores». Foram notáveis os seus discursos sobre o projecto da constituição, acerca da segunda câmara, sobre o ultramar e muitos outros. «Beleza de linguagem, elevação de conceitos, excelência de doutrina - modos, gestos, presença - tudo era nele maravilhoso». O seu saber era utilizado por todos os ministros e foi assim que, com igual proficiência, o vemos redigir códigos políticos e comerciais, refor­mas de instrução, tratados de navegação e comércio, leis para estabelecimentos pios, para as letras, para as artes, para as indústrias, para a justiça, para o ultramar, para as alfândegas, para as obras públicas, para o foro civil, militar e eclesiástico, finalmente para todos os serviços e repartições do Estado, porque talvez não haja uma só lei do seu tempo, a que não chegasse a sua poderosa e fecunda iniciativa. Na sessão legislati­va de 1838, não foi menos assíduo nem menos cum­pridor dos seus deveres de deputado. A 27 de janeiro insurgiu-se contra uma proposta para que se não des­sem promoções no exército senão em caso de vaga­tura, «porque os serviços militares estavam muito mal pagos e tirar-lhes uma tal regalia seria injustiça flagrante.» A 7 de fevereiro asseverou que nenhuma consideração o prendia para distinguir o amigo par­ticular do amigo político e que «onde a doutrina da liberdade o não deixasse estar com os amigos, havia de combatê-los e considerá-los como inimigos, porque o eram da liberdade e da independência do Reino». A 4 de abril assinou a constituição, com todos os deputados, tendo contribuído poderosamente para que nela ficassem exarados os princípios mais liberais do seu tempo. Por decreto de 3 de agosto foi nomeado para fazer parte das comissões encarre­gadas da revisão e elaboração do Novo Código Administrativo e da organização da guarda nacional. Sobre si recaiu quase todo o trabalho de ambas as comissões; e do encargo se desempenhou brilhante­mente. Eleito por Angra do Heroísmo, tomou nova­mente assento na câmara dos deputados, em abril de 1837. Nas eleições de 1842 foi eleito deputado pela Extremadura, tomando assento a 3 de agosto. Encerrada a câmara, foi para Campolide prosseguir nos trabalhos do Romanceiro, que nunca largara inteiramente; até que, reaberta a câmara, volvia às lutas parlamentares combatendo todos os actos que se lhe afiguraram meios liberais e menos dignos dum povo honrado. - Com a política entremeava sempre os seus trabalhos literários. Publicou então o Elogio Histórico do Barão da Ribeira de Sabrosa, um primor de estilo e de filosofia; e ainda a Memoria Histórica do Conselheiro Amónio Manuel Lopes Vieira de Castro, trabalho também de alto valor como documento de história contemporânea. Desde princípios de mar­ço até fins de abril, retido em casa por motivo de uma canelada, começou e concluiu o famoso monu­mento da nessa literatura dramática, que se chama Frei Luís de Sousa, que a 6 de maio apresentou no Conservatório e que a 4 de julho teve a sua primeira representação, com ruidoso sucesso. Depois preparou a segunda edição do Romanceiro. A 17 de julho saiu de Lisboa para Santarém. Desta viagem resul­tou para as letras portuguesas esse outro monumento em prosa a que deu o título de Viagens na minha ter­ra. - Reaberto o parlamento, a 25 de novembro, Al­meida Garrett entra de novo em luta e defende abertamente a causa do comércio de Lisboa. A 13 de novembro de 1844 combateu a pena de morte, negan­do até o direito de a impor. Durante janeiro de 1845 esteve doente, aproveitando o descanso forçado para fazer publicar o primeiro volume do seu romance histórico O Arco de Sant’Anna. Mas a 11 de fevereiro vemo-lo de novo na câmara, proferindo um discurso em defesa das classes pobres, a propósito do estabe­lecimento das Caixas Económicas. A 20 de abril fe­charam as Cortes. Livre, por pouco tempo, dos en­cargos políticos entrou a trabalhar na conclusão das Viagens na minha terra, aprontando para imprimir a Filipa de Vilhena e as duas comédias Tio Simplício e Falar verdade a mentir. - Eleito de novo de­putado por Évora, em 1845, logo que se abriu a câmara, em janeiro de 1840, apesar de ainda bastante doente, foi tomar o seu posto e logo a 16 protestou contra o modo por que o governo violara a liberdade da urna e praticara a viciação dos recenseamentos. A 17 condenou a intervenção da força armada no acto eleitoral, em S. Miguel e noutros pontos. A 3 de março falou contra o projecto de repartição dos impostos directos. Em abril rebentou a célebre revo­lução denominada «Maria da Fonte», movimento esse que Garrett previra, se se continuasse no encetado caminho de loucuras, que ele combatia. A 27 de maio foi nomeado para fazer parte da comissão encarre­gada de propor as instruções para a convocação das cortes extraordinárias. Foi ele o relator da comissão, indicando a forma como o acto eleitoral podia e devia ser a mais livre e a mais verdadeira manifesta­ção da vontade popular. A 10 de agosto foi reinte­grado no cargo de Cronista-mor do Reino. - Morto Mouzinho da Silveira em 1849, Almeida Garrett escreveu a Memória Histórica da sua vida comum, considerada como o melhor dos seus trabalhos nesse género. Afastado das lides políticas do parlamento, passou quase todo o ano de 1850 entregue aos seus prediletos estudos literários, organizando o Romanceiro e dando-se a outros trabalhos, como os da ini­ciativa e propaganda de um monumento ao duque de Palmela, que não chegou a vingar, apesar seu. Sincero apóstolo da liberdade, redigiu o famoso «Protesto contra a proposta sobre a liberdade de im­prensa», protesto que foi assinado por grande número dos homens de letras, escritores e jornalistas de então. Esse documento tem a data de 18 de fevereiro de 1850. Em março de 1851 foi encarregado de tratar, com o representante francês, da convenção literária entre os dois países, o que levou a bom termo em setembro. Em junho recebeu o título de visconde e era dezembro imediato o encargo de redigir o Acto adicional à Carta Constitucional, para o que se realizou um conselho de ministros em sua casa, tal era a consideração em que o tinham pelo seu alto valor. Recebeu também as nomeações de vo­gal da comissão encarregada da reforma da Acade­mia Real das Ciências; vogal da comissão da re­forma da lei eleitoral e vogal da comissão encarre­gada da reorganização dos diversos ramos de serviço público. Por sua indicação se criou o Conselho Ultramarino, sendo ele nomeado vogal do mesmo conselho. Além disto era sempre chamado pelos ministros para redigir os decretos e documentos de maior responsabilidade. Em outubro de 1851 publicou o 2°e 3° tomos do Romanceiro. Em novembro fundou o jornal Regeneração, que só deixou de redigir em julho de 1852. A 20 de novembro publicou a lei das misericórdias, precedida de um interessante relatório, todo da sua lavra. Eleito deputado pela província da Beira, saiu da sua pena o projecto de resposta ao discurso da coroa, que foi discutido e aprovado na sessão de 22 de janeiro de 1852. Era então já par do reino, tendo sido nomeado a 13 desse mês, mas só veio a tomar assento na câmara alta em março por­que quis defender o projecto do acto adicional na dos deputados, visto ser obra sua. - A sua nomeação para ministro dos negócios estrangeiros foi a 4 de março de 1852. Aceitara, enfim, o cargo, depois de tantas vezes o ter recusado. A sua entrada no ministério era a recompensa de valiosos serviços prestados. Ge­rindo uma pasta que não dá margem para iniciativas, pouco pôde fazer, mas não deixou, ainda assim, de assinalar a sua passagem pelo ministério, criando o correio diário com a Espanha, que até então fora semanal. Inútil parece encarecer as vantagens económicas de um tal acto de Almeida Garrett. A ele se ficaram devendo também a convenção sanitária com a França; a convenção postal com a Bélgica; a solu­ção da pendência com os Estados-Unidos por causa do corsário General Amstrong, resolvida a nosso favor; e a criação da mala-posta, que tão excelentes serviços prestou antes de haver caminhos de ferro. Não se pode dizer que não trabalhou ou que nada fez de útil durante os cinco meses em que foi minis­tro, pois que foi exonerado, a seu pedido, em agosto do mesmo ano, por não lhe sofrer o ânimo aturar as intrigas invejosas do seu universal renome. - No Conselho Ultramarino advogou energicamente a cau­sa da liberdade dos escravos e a de os fazer entrar, depois de livres, no gozo de todos os direitos civis. - Em 1835 fez concluir a impressão da 2ª edição da Lírica de João Mínimo e a das Folhas Caídas, que constituiu um dos mais notáveis sucessos que em Portugal se tem dado com um livro. Falando dessa obra, disse Herculano que, «se Camões fizesse versos de amor na idade em que estava Garrett, não seria capaz de o igualar.» A 1ª edição esgotou-se em poucos dias; a 2ª foi pelo mesmo caminho. - Na sessão de 28 de maio, na câmara dos pares, voltou a dizer que nem podia assinar nem nunca poderia aprovar actos de ditadura. - A sua derradeira obra literária foi a Helena, que não chegou a concluir e que, a julgar pelo plano que havia traçado, seria o melhor dos seus trabalhos em prosa. - A 21 de janeiro de 1854 ainda apresentou ao parlamento o seu relatório e proposta com as bases para a Reforma Administrativa, fundada em princípios mais liberais e mais portugueses do que os que até então vigora­vam. Não foi aceite o seu plano, mas dele se têm extraído e aproveitado muitas ideias para incluir em reformas posteriores. A 10 de fevereiro, já seriamen­te doente, ainda proferiu um famoso discurso com­batendo os erros de administração pública. A 4 de março, respondendo a um discurso do ministro do reino, proferiu uma oração esmagadora e terrível contra aquele, que, tendo sido seu amigo, se tornara em adversário. - Com o mês de novembro, diz Go­mes de Amorim, foi-se a última esperança de melho­ras. O doente foi desenganado. A 7 de dezembro fez-se-lhe junta médica e no dia 9, às 6 horas e 25 minutos da tarde, exalava o último alento, tendo esperado a morte com toda a serenidade de uma consciência tranquila. - Foi a sua morte uma perda nacional, insubstituível; e foi o seu enterro uma verdadeira e comovida apoteose ao seu grande génio.
Pág. 325 - Vicente José de Carvalho
Duma litografia da época mandámos repro­duzir o retrato deste notável homem de ciência do século passado.
Pág. 328 - Santo António da Sé, em Lisboa
Tudo quanto se disser acerca da origem desta igreja é incerto. É de presumir, porém, que já existisse na época em que D. Afonso Henriques res­gatou Lisboa do poder marroquino em 1147. Era en­costada ou pelo menos muito próxima à antiquíssima porta da cidade, denominada porta de ferro, e que mais tarde veio a ser uma capela de Nossa Senhora da Conceição. Este local chamara-se pedreira da Sé. Foi nesta igreja (em 6 de fevereiro de 1195), por essa época casa de moradia, que nasceu Fernando de Bulhões, mais tarde o famoso Sano António. No sítio em que nasceu - que é nas costas do actual altar-mor - a que o horroroso desastre de 1755 parece que por milagre poupou, não poupando o resto da igreja - lê-se a inscrição que segue:
NASCITUR. HAC. PARVA. UT. TRADUNT. / ANTONIUS. AEDE. QOEM. COELI. NOBIS. / ABSTULlT. ALMA. DOMUS. //
Também se não sabe por que tempo foi a casa deste taumaturgo transformada em casa de ora­ção; apenas consta que em 1431 estava exposta ao culto divino e que Eugénio V, por uma bula de 9 das calendas de fevereiro de 1433, isentou esta igreja da jurisdição ordinária, por solicitação da câmara de Lisboa, que a mandara edificar em honra de Santo António. O templo que se vê agora no largo de Santo António da Sé, em frente do Crédito Predial, foi construído após o tremor de terra, sobre a alçada do major Mateus Vicente, o mesmo que delineou a basílica da Estrela. A reedificação importou em 120 contos (mais de 300.000 cruzados naquela época) e só se deu por finda em 1812.
Pág. 329 - Simão da Luz Soriano
Não obstante os repetidos ataques feitos pelo autor da nossa História ao autor da História do Cerco do Porto e da História da Guerra Civil, de quem, no entanto reconhecia os merecimentos, pareceu-nos dever nosso dar aqui a fisionomia deste solicito investigador da História pátria, que, sobre ter sido um dos que muito sofreram pela liberdade, da qual foi um dos corifeus, deixou ainda pelo seu testamento, memória da sua benemerência bem pouco vulgar nesta época de feroz egoísmo.
Pág. 333 - Lâmpada de prata
Tem a base circular ornada com duas ordens de medalhões representando carrancas e bustos; é guarnecida de rendilhado a prata superior, com as armas reais e a esfera em relevo em diversos sítios. - Erguem-se da base 6 colunas muito ornamentadas e terminadas por pirâmides, que sustentam uma grande cúpula hemisférica, ornada com copiosos medalhões, e em baixo também guarnecida de ren­dilhados. - Destaca-se como ornamento da cúpula, um gracioso corpo cilíndrico com seis nichos de volta redonda, afastados por quartelas, e encimado por uma urna tecida de folhagem. - É um objecto precioso, que data do século XVI, e que pertence à capela da Universidade de Coimbra.
Pág. 337 - Chegada de D. Miguel a Lisboa
Veja-se a páginas 331 deste VIII volume a descrição da cena que inspirou aos ilustradores da nossa História, a composição que o leitor tem presente. - D. Miguel quando veio de Viena de Áustria, com escala por Paris e Londres, devia desembarcar no Terreiro do Paço no dia 22 de fevereiro de 1828, onde tudo se achava preparado para uma esplêndida recepção; mas o príncipe absoluto, por um desses caprichos ou veleidades próprio do seu génio versátil e irrefletido, foi desembarcar no antigo cais de Be­lém, deixando a vereação da câmara municipal, a fidalguia, o exército e o povo à sua espera, o que lhe valeu aquele picaresco verso tão popularizado nessa época: - «Rei chegou...»
Pág. 341 - Francisco Bartolozzí
A nossa gravara é reprodução de um desenho à pena pelo sr. visconde de Castilho, cópia da célebre gravura de Bouillard, a qual mede 36 centímetros de alto sobre 25 e meio de largo, gravura que só depois de feita a reprodução sobre o desenho do sr. vis­conde de Castilho conseguimos alcançar para a nossa modesta colecção de retratos. Vamos fazer nossas, com a devida vénia, as palavras que o mesmo sr. visconde de Castilho, no seu 3º volume da 2ª edição da Lisboa antiga, consagra ao celebérrimo e insigne gravador italiano: «português pelo coração e pela re­sidência». - O retrato de Bartolozzi também merece duas palavras. A figura do grande artista pintada por P. Violet, foi gravada em cobre pelo notável Jacques Bouillard; primorosamente tratada no conjunto e nos pormenores. É apenas o busto em perfil, farta gravata, casaca à Directório, e cabeleira com rabi­cho, cujas fitas pretas destacam no fundo, emoldurado numa elipse muito singela. A elipse firma-se numa base, em que se vê um baixo-relevo alegórico. Vou tentar interpretá-lo. À esquerda, sobre um colchão de nuvens, jaz o Tempo, meio adormecido. Vários génios da Arte erigiram um obelisco em hon­ra de Bartolozzi, onde um lhe está escrevendo o no­me; os brados dos companheiros acordam o desde­nhoso Tempo, a quem um apresenta o monograma do artista, e parece dizer-lhe: «Surge! Levanta-te! não o esqueças! é ele! é Bartolozzi!» Aqueles tra­zem coroas; aquele outro ostenta na mão a serpe enroscada, símbolo da eternidade, e firma-se sobre três volumes de gravuras do mestre, aos quais se en­costa uma mulher meditando, com a palheta na mão. Uma Ninfa lança água às mãos de outra Ninfa, como mostrando a pureza da intenção moral do ar­tista verdadeiro. - Na parte inferior da gravura lê-se: À esquerda: J. Bouillard Sculpt. Ao meio: FRANCISCUS BARTOLOZZI. (Florentiae natus 25. die 7bris 1728). Pablish’d 1st Jully 1797 by J. Bouilliard London. A Paris chez l'Auteur, rue St Thomas d'Enfer, Dlvision des Thermes. Nº 23 & 720. - A respeito do grande mestre, Florentino pelo berço, Português pela campa, e cujas obras, revelando consumada mestria, tão belas são no relevo e na cor, diz Cirilo ter sido discípulo de Wagner (não o menos ilustre José Wagner, nascido em Thalendorf em 1705, domiciliado em Veneza, autor de chapas de primeira ordem reproduzindo Paulo Veronez, Bento Lutti, Carlos Vanloo, António Balestra, Sebastião Ricci, etc.), ter passado a Londres em 1752, ter sido contratado para Lisboa em 1802 por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, e ter regido cá uma aula de gravura. - A certidão obituária, de que me transmitiu cópia, a meu pedido, o meu bom e respeitável amigo o rev. Padre João Adelino Monteiro Vasconcelos, actual prior encomendado de Santa Isabel, reza assim: «Santa Isabel. - Do livº 9º dos óbitos da freguesia de Santa Isabel de Lisboa consta a fl. 48 o seguinte termo: - Em os sete dias do mês de março de mil oitocentos e quinze anos, na rua de Santa Quitéria desta freguesia de Santa Isabel, faleceu com os sacramentos Francisco Bartolozzi, casado com Luzia Bartolozzi, ficou-lhe hum filho e foi sepultado, digo e fez testamento na nota do tabelião Isidoro Manuel de Passos ficou por seu testamenteiro Fran­cisco Tomás Mendanha. Foi sepultado no Carneiro desta Igreja de que fiz este termo. O Cor José Glz. Ferreira. À margem do assento lê-se a lápis célebre gravador, o que julgo ser da letra do Dr. J. Máxi­mo, meu antecessor. - E nada mais contém o referido termo. - Lisboa, Santa Isabel, 19 de abril de 1903. - O Prior - João Adelino Monteiro Vasconcelos.» - Pergunto: 1º - Onde para hoje esse cartório do tabelião Passos? 2º - Não seria interessante conhecer as últimas vontades do honrado e benemérito grava­dor? 3º - Luzia Bartolozzi era italiana ou portuguesa? 4º - Que fim levou? 5º - Que nome teve o filho desse matrimónio e até que anos viveu? que fez neste mundo? 6º - Quem era o Mendanha, certa­mente amigo íntimo, a quem coube a testamentaria? Oxalá possa alguém esclarecer-me!
Pág. 345 - Lisboa - Igreja de S. Paulo
A freguesia de S. Paulo criou-se em 1412, com parte da dos Mártires e de Santos-o-Velho. A primeira matriz foi a ermida do Espírito Santo, que existia no beco do Carvão, hoje desaparecido. - O povo do sítio edificou à sua custa a nova matriz, e por esse motivo (até 1834) os ofícios da confraria do Santíssimo Sacramento apresentavam o prior, o que foi obtido por sentenças alcançadas contra os arcebispos. - A irmandade de Nossa Senhora da Boa Viagem é aqui constituída e que pertenceu à Real Junta do Comércio, bem como a de S. João Baptista, que era dos calafates. Existiu nesta freguesia o convento dos Irlandeses e é na capela do Corpo Santo (no largo do mesmo nome), que está a imagem de Santelmo (S. Pedro Gonçalves), padroeiro dos pescadores. - O culto divino começou na actual igreja de S. Paulo no ano de 1512; foi arrasada pela catástrofe de 1755, e em 1757 estava novamente de pé. - Veem-se na frontaria do edifício, em pedra, as imagens de S. Pedro e S. Paulo, esculpidas pelo insigne estatuário António Machado. - A meio do lar­go de S. Paulo existe um chafariz, feito a expensas da câmara e que foi concluído em 1849.
Pág. 349 - Infanta D. Ana de Jesus
São repetidas as referências que no decurso deste 8º volume da História de Portugal se fazem a esta gentil princesa, filha de D. João VI, que veio a casar com o galante duque de Loulé, um dos mais bonitos homens da Europa do princípio do século XIX.
Pág. 352 - Medalhão de faiança
Representa o pelicano a dar de comer aos filhos, em alto relevo, com a divisa de D. João II - IUSTUS VT PALMA FLOREBIT. É emoldurado por folhas e frutos. É obra de Della Robia. Pertenceu ao rei D. Fernando e constituiu uma das maravilhas de arte apre­sentadas na célebre exposição de Arte Ornamental, realizada em Lisboa em 1882.
Pág. 353 - Luiz Mouzinho de Albuquerque
Este célebre estadista e escritor português nasceu na Cruz de Santa Helena aos 16 de julho de 1792, sendo filho de Pedro Mouzinho de Albuquerque, desembargador do Paço e de D. Luiza da Silva Guterres e Athayde. Foi desde tenra idade obrigado a servir na ordem militar de S. João de Jerusalém, e logo que chegou à idade viril, notou que não tinha vocação para essa vida e demitiu-se do instituto em que os pais o tinham feito entrar. Mostrava grandes tendências para a poesia e tanto assim que aos 14 anos traduziu em verso a Andromaca, de Racine, e fez uma comédia em prosa, isto é, ao mesmo tempo que coleccionava exemplares entomológicos, mineralógicos e químicos. Logo que teve idade para es­colher uma carreira, Luiz da Silva Mouzinho de Albuquerque entrou para a marinha, mas tantos entraves encontrou que se viu obrigado a sentar praça na brigada real. Em 1809 principiou a frequentar a Aca­demia de Marinha, sendo premiado em todos os anos. Também praticou no Observatório Real de Ma­rinha, sendo em 1813 nomeado partidista desse estabelecimento, cargo que exerceu até o ano seguinte. Foi em 1813 que publicou o seu primeiro ensaio poético Dia, que é composto de quatro partes: Madrugada, Manhã, Tarde e Noite. Uma ardente paixão que então sentira por sua prima Ana Mascarenhas Athayde obrigou-o a esposá-la. Para alcançar os meios de que carecia, sendo pobres os seus, re­correu este nosso biografado à agricultura. Casou em 1816 com sua prima. Em 1820 escreveu o Duque de Coimbra, tragédia, esboçou vários poemas, e publicou finalmente as Georgicas, dedicadas à mu­lher. Seguiu vários cursos científicos, até que em 1832 entrava no ministério em substituição do marquês de Palmela, tendo-se antes disso salientado em diferentes feitos militares, sendo promovido a capitão. Naquela época os governos eram pouco es­táveis, de forma que Luiz Mouzinho só permaneceu quatro meses, indo para o seu lugar o marquês de Sá da Bandeira em 1832. Foi ele que primeiro aconse­lhou a expedição do Algarve. Apenas terminou tor­nou Mouzinho para o seu lugar de prefeito. Não obstante o grande número de miguelistas (3.000), conseguiu submetê-los sem que empregasse força; mais canseira teve em sofrer o ímpeto dos vencedo­res, apaixonados. A sua administração foi magnífica. Cuidou em melhorar materialmente o distrito, fa­zendo abrir a estrada que havia de circundar a ilha. Entrou o Tejo quando lhe chegou a notícia de que o ministério presidido pelo marquês de Saldanha, e José Jorge Loureiro fora encarregado de organizar uma nova administração em 25 de novembro de 1835, dando-lhe a pasta do reino, em substituição de Ro­drigo da Fonseca Magalhães. Em 1838 foi despachado inspector das obras públicas do Porto e incumbido de reformar essa repartição. Escreveu, dando conta do seu serviço: o «Relatório das obras públicas do reino pelo inspector geral»; «Relatório geral sobre as obras públicas do reino pelo inspector, etc., apresen­tado em 8 de julho de 1840»; e em 1843. o «Relató­rio da inspecção às obras e comunicações internas nos distritos do reino ao norte do Tejo, executado em outubro a novembro de 1842 pelo inspector», e «Guia do engenheiro na construção das pontes de pedra, em 1840». Em 1842 foi eleito deputado e no mesmo ano foi ministro do reino e interinamente da justiça, no gabinete presidido pelo duque da Ter­ceira, quando Costa Cabral promulgou a restauração do Porto, sendo Mouzinho de Albuquerque e bem assim o ministério insultado pelos cabralistas. Um ano depois demitiu-se do seu lugar de inspector das obras públicas. Em 1846 rebenta a revolução do Minho, pertencendo Mouzinho de Albuquerque a Lei­ria. Em 22 de fevereiro desse ano foi ferido gravemente, ferimento esse de que veio a morrer em dezembro desse mesmo ano, com a patente de coronel de engenharia.
Pág. 357 - Contador em estilo hispano-árabe
É uma obra-prima do antigo mobiliário português. De nogueira, com ferragens de desenhos variados e assentes sobre veludo carmesim, é feita esta primorosa obra. As gavetas e acessórios são exteriormente adornados de colunas, medalhões e incrustações de osso, pinturas e douraduras; pertence ao Museu de Belas-Artes, de Lisboa, e figurou na celebrada Ex­posição de Arte Ornamental de 1884.
Pág. 360 - António Feliciano de Castilho
O primeiro visconde de Castilho, uma das mais lidimas glórias poéticas de Portugal, no passado sé­culo XIX, nasceu em Lisboa aos 26 de janeiro de 1800. Aos 6 anos foi atacado duma forte erisipela, de que escapou, ficando cego. «A Chave do Enigma» descreve a impressão que o seu ânimo infantil sentiu com essa horrível catástrofe. Este formoso trecho de prosa é seguimento do «Amor e melancolia». To­dos os seus receavam que a Castilho só poderiam dar-lhe a educação suficiente para que não ficasse em treva absoluta o espírito como lhe ficara o corpo, e quando seus irmãos começaram a estudar, António Feliciano acompanhou-os, e, auxiliado com a sua excelente memória, que só o desamparou na morte, tão facilmente retinha os elementos das diferentes ciências que admirava a todos pelo prodígio. A primeira poesia que correu impressa foi o «Epicédio na senti­da morte da augustíssima senhora D. Maria I, rai­nha fidelíssima», e causou pasmo pela precocidade do trabalho, contava, pois, só 16 anos, e por estar privado da vista. O paço agradeceu-lhe a homenagem à memória da rainha, concedendo-lhe uma pensão peque­na, que era apenas um aplauso e um incitamento. Essa prova de consideração levou Castilho a escrever duas composições palacianas: - «À faustíssima exaltação de Sua Majestade o Senhor D. João VI ao trono», datada de 1818, e «O Tejo, elogio dramático nos anos do Sereníssimo Senhor D. Pedro de Al­cântara», saído em 1820. Nesse mesmo ano apareceu um novo elogio dramático, «A Liberdade». Ainda nesse ano traduziu, de Mr. Mercier, a «Carta de Heloísa a Abelard», que, ao que parece, lhe sugeriram as «Cartas de Ecco e Narciso», que tornaram bastante célebre o nome do eminente poeta. Em 1821 e 1822 publicou duas cantatas liberais e a «Primavera», que afirma mais do que as «Cartas de Ecco» a evolução do lirismo arcádico. Em 1828 saiu a lume «Amor e melancolia»; em 1836 publica­va o futuro visconde de Castilho a «Noite do Castelo», os «Ciúmes de Bardo» e a «Confissão da Amé­lia» (traduzida de madame de Girardin). Ainda por essa época publicou o «Tributo português à memó­ria do libertador», e a tradução das «Palavras dum crente», de Lamennais, empreendendo dali a três anos a publicação dos «Quadros históricos», em que se revelava pela primeira vez prosador tão correto como poeta brilhantíssimo. Em 1841 já então era nascido o actual visconde (Júlio de Castilho), muito di­gno por tudo e em tudo, continuador de seu pai, fundou a «Revista Universal», que terminou em 1845. Nesses quatro anos publicou o «Elogio histórico de Augusto Frederico de Castilho», seu prezado ir­mão, que falecera na Madeira, onde o fora acompa­nhar em 1840; parte da tradução das «Metamorfoses de Ovídio»; as «Escavações poéticas» (colecção de poesias, a maior parte delas escritas em Castanheira do Vouga); os «Mil e um mistérios», roman­ce parodiando o género que então era uso. Em 1845 principiou com seu irmão José Feliciano a publicar a «Livraria clássica portuguesa», para o que compôs admiráveis biografias; fez uma rápida passagem ao campo da política, filiando-se no partido cartista em 1846, ano em que escreveu um panfleto: «Crónica certa e muito verdadeira da Maria da Fonte, escrevida por mim mesmo, que sou seu tio, o mestre Manuel da Ponte, sapateiro no Peso da Régua, dada à luz por um cidadão demitido que tem tempo para tudo». Por essa mesma época também começou o combate, em que empenhou uma parte importante da sua vida, para conseguir que fosse adoptado o seu método de leitura, método fácil, alegre, que nunca o governo chegou a adoptar; o desgosto que com isso sofreu não o desamparou em toda a sua vida, e fez com que partisse para Ponta Delgada (Açores), onde fundou uma tipografia, em que se imprimiu «O Agri­cultor Micaelense». Residiu aí 3 anos, escrevendo o belo livro «Felicidade pela agricultura»; «Ou eu ou eles», panfleto violento; «Noções rudimentares para uso das escolas»; «Primeiros exercícios de leitura»; «Hino dos lavradores»; «Camões», drama baseado numa medíocre peça francesa, que o imita­dor transformou numa joia. Figurou nessa peça o «Auto das boas estreias», que fora representado na presença de D. Sebastião, e que o poeta cuidava ser do seu antepassado António de Castilho. Em novembro de 1850 regressou a Lisboa, e lutou novamente contra os adversários do Método. Publicou quase que a seguir: «Leitura repentina», «Tratado de metrificação portuguesa», «Tratado de mnemónica», «Estreias poético-musicais», o «Método Castilho», «Tosquia de um camelo», «Escolas de asilos da infância desvalida», «Felicidade pela instrução», «Directório para os senhores professores das escolas primárias pelo método português», «Ajuste de contas com os adversários do método português», «Ofício dirigido à Associação dos professores do reino e ilhas», «Resposta aos novíssimos impugnadores do método português», e muitos mais meios de defesa ao seu método. Passados uns anos fez publicar uma tradução sua do «Génio do Cristianismo», de Chateaubriand. Em 1856 alguns portugueses residentes no Brasil, onde estivera também, solicitaram-lhe in­tercedesse para comutar a pena a um infeliz com­patriota, que fora condenado a 12 anos de prisão por um homicídio perpetrado em defesa própria. Em vista do pedido escreveu a célebre epístola à impe­ratriz do Brasil, que deu em resultado a comutação da pena. Em prova de agradecimento presentearam-no com uma pena de ouro, ao que Castilho respon­deu agradecendo também, e advogando a causa da instrução. Traduziu em 1858 um libreto italiano de pouco valor «Adriana Lecouvreur», precedendo-o de uma esplêndida introdução, em que versos admiráveis explicavam o seu apostolado a favor da instrução. No ano seguinte (1859) tratou novamente do assunto na «Carta sobre as escolas populares»; e era a instrução uma causa que sempre advogava, em apanhando ensejo para o fazer. Ao mesmo tempo tornava ao seu predileto trabalho de traduzir poetas latinos, e assim apareciam seguidamente os «Amo­res» de Ovídio Nasão, a «Arte de amar», «Remédio de amor», e mais tarde as «Geórgicas», obras estas de Ovídio; «Fastos», de Ovídio; «Lírica», de Anacreonte. O «Jornal de Belas-Artes» e a «Revista Contemporânea» tiveram-no como seu colaborador; coligiu em 1863 muitas poesias suas esparsas por jornais, num volume que intitulou «O outono», a que Tomás Ribeiro se referia dizendo que era uma primavera com frutos! Empreendeu a tradução das obras teatrais de Molière pelo «Médico à força», «Tartufo», seguindo-se-lhes depois «Avarento», «Sabichonas», «Doente de cisma» e «Misantropo» que até à data não se representou. Finalmente, traduziu em verso o «Fausto», de Goethe, depois «O sonho de uma noite de S. João», de Shakespeare, e es­tava a traduzir o «D. Quixote», de Cervantes, quando a morte o surpreendeu. Em 1870, era então ministro de instrução pública D. António da Costa. Foi Antó­nio Feliciano de Castilho agraciado com o título de Visconde em duas vidas, a grandes instâncias do indicado ministro, mercê que não queria aceitar e que D. Luiz houve por bem conferir-lhe. Em junho de 1871 falecia sua estremecida esposa e em 1875 expirou com 75 anos o eminente escritor, a quem Victor Hugo escrevera; Les grands aveugles n’ont point de regardi, parce qu’ils ont de rayonnements. O seu estilo, cheio de galas, tinha mais forma quinhentista do que do século XIX; contudo, a sua prosa era verdadeira prosa de Frei Luís de Sonsa, recamada com todas as joias conquistadas pela língua ao decorrer dos sécu­los, e matizada com todas as riquezas de colorido da escola moderna. As obras deste vulto português estão sendo publicadas numa edição barata, pela nossa Empresa.
Pág. 361 - Arsenal do Exército
Este estabelecimento abrange três edifícios colocados em diversos locais, aos quais se dão vulgar­mente os nomes de Fundição de baixo, Fundição de cima e Fundição do Campo de Santa Clara. Às pri­meiras é que se confere a denominação do Arsenal real do exército; foi constituído no mesmo sítio das antigas Tercenas chamadas das Portas da Cruz, e que foram reduzidas a cinzas por um incêndio, em 11 de julho de 1726. Resolveu D. João V reconstruir as tercenas, segundo um plano mais vasto e regular, contudo, embora fosse obra do rei cognominado o Magnânimo, o novo edifício ficou acanhado para o fim a que se destinava e sem majestade. Passados alguns anos o rei encarregou M. Larre de aformosear o edifício; o citado artista delineou um rico pór­tico, ou melhor, um corpo central, para adorno do portão de entrada; a grave doença, que acometeu o rei e que lhe causou a morte, fez atrasar a conclu­são da obra. Quando o monarca faleceu em 1750 ainda a obra estava em começo e quando teve lugar o cataclismo de 1755 sofreu bastantes estragos que mais tarde foram reparados. Só em 1760 é que se recomeçaram as obras do corpo central, seguindo in­interruptamente até terminar por completo. Dirigiu as obras o tenente-general de artilheria francesa às ordens de D. José I, Fernando Echegaray; em seguida Amaro Macedo e os tenentes-generais Manuel Go­mes de Carvalho e Bartolomeu da Costa, melhora­ram bastante as condições do edifício a que nos vi­mos referido. É todo construído de magnífica e bem lavrada cantaria, sendo as colunas que adornam a porta de ordem coríntia; sobre a janela principal veem-se as armas portuguesas, e o entablamento é encimado por trofeus militares, tudo construído em mármore.
Pág. 365 - Rodrigo da Fonseca Magalhães
Este notável ministro, orador eminente, político de têmpera que tão apedrejado foi em sua vida, nasceu em Condeixa em 1787, onde aprendeu, sob a dire­ção de um velho jesuíta padre, as primeiras letras e o latim, idioma que sempre soube muito bem; indo depois para o Colégio das Artes a continuar os seus estudos, que foram interrompidos pela invasão francesa, quando já estava na Universidade, donde saiu o primeiro batalhão académico de que o nosso biografado fazia parte. A sua musa, até então humo­rística, saiu-se exaltada e épica ao escrever a Ode pindarica à restauração de Portugal, que correu impressa num folheto em 1808. Estava no 2º ano de teologia quando se alistou no corno académico, com o qual foi para o Porto. Quando Beresford orga­nizou melhor o exército português, foi Fonseca Magalhães escolhido para o posto de alferes no regimento de infanteria 15, de que era coronel Luiz do Rego Barreto, pai da que havia de ser mulher de Rodrigo de Magalhães. Passado algum tempo foi promovido a tenente e finda a guerra peninsular veio por interesse particular a Lisboa, onde permaneceu licenciado por algum tempo do regimento a que per­tencia. Um dos entusiasmados propagandistas da conspiração de Gomes Freire, foi de certo Fonseca Magalhães, não sendo contudo apanhado na rede das primeiras denúncias; e quando, em 1817, prenderam o grande caudilho Gomes Freire, Rodrigo de Magalhães não foi incluído nesse número; temendo todavia que a polícia se lembrasse dele homiziou-se, estando oculto durante dois anos em Lisboa, descobrindo-o afinal a polícia, contando-se como verda­deira a anedota de que o próprio fugitivo se vestira de galego e dera indicações de si próprio! Escapou desta feita, mas emigrou para o Brasil, onde contava com uma proteção certa na pessoa de Luiz do Rego Barreto, então general e governador das armas de Pernambuco. Não se iludira com a proteção por­que, com efeito, o general era muito seu amigo, acolhendo-o cordialmente, e conhecendo-lhe o ta­lento fê-lo seu secretário. Tratava por essa época de pacificar a província fremente desde a revolta de 1817, e não podia vir Rodrigo de Magalhães em mais azado tempo, a quem contava como um belo auxi­liar. Nesse meio tempo rebentava a revolução de 1820 e os seus princípios eram aclamados e adota­dos no Brasil, onde Luiz do Rego a aceitou de bom agrado, tratando logo de constituir a junta governativa da província, secretariado pelo futuro genro; não ficou por aqui a obra meritória do governador; fun­dou em 1821 o primeiro periódico que teve vida em Pernambuco - Aurora Pernambucana -, cujo redator principal escusado será dizer que foi Rodrigo de Magalhães. Mas como o Brasil queria só a independência nacional isso se acentuou de modo que Luiz do Rego teve ou de transigir com ele ou de demitir-se, preferindo demitir-se, no que o acompanhou; contudo os Pernambucanos ficaram tão satisfeitos com o secretário do governo, que instaram bastante para que ficasse; mas Rodrigo de Magalhães quis an­tes tornar para Portugal, em companhia de seu sogro. Teve diversos cargos políticos até 1832, escrevendo em jornais e publicando nessa época Breves anotações ao denominado manifesto do infante D. Mi­guel, folheto que mais tarde se reimprimiu em 1831. Naquela época saiu de Londres, onde estava, para se juntar às tropas liberais que vinham de entrar no Porto. Os ministros Mouzinho da Silveira e Silva Car­valho, de quem era muito amigo, trataram de o em­pregar em várias comissões, sendo nomeado em 1833 administrador da Imprensa Nacional, cargo que exerceu durante dois anos. Em 1835 foi ministro do reino, ministério que pouco durou. Outra vez ministro da mesma pasta no governo de 1831, que viveu cinco anos. Foi um grande orador. Faleceu em Lisboa com 71 anos, em 1858, depois de ter feito brilhante figura em todos os actos públicos para que fora chamado.
Pág. 369 - Assassínio dos lentes de Coimbra
Veja-se a págs. 339 e seguintes deste volume a descrição do desgraçado atentado, que inspirou a composição representada na nossa estampa.
Pág. 373 - Pedro Folque
Este tenente-general do nosso exército nasceu em Stais (Catalunha) a 30 de abril de 1744; a família des­tinava-o para a carreira eclesiástica, de que frequentou os estudos próprios; notando, porém, que não tinha bossa para o sacerdócio, abandonou a pátria em 1763 e veio para Portugal, com ideia de seguir mari­nha. Estudando matemática nas aulas existentes por então no convento de beneditinos, foi mais tarde um dos primeiros discípulos da Academia de Mari­nha, quando esse instituto se fundou em 1780; sem­pre muito aplicado, alcançou prémios, e querendo, antes de terminar o ano que lhe faltava para o curso lectivo, embarcar numa das naus da Índia, e fazen­do exame de navegação por um aviso especial, coube-lhe nessa primeira viagem a glória do ser o primeiro que fez cálculos de longitude a bordo dos navios de guerra. No regresso dessa viagem, morrendo o 1º piloto, foi Pedro Folque solicitado pelo comandante para se incumbir da navegação e pilotagem da nau, sendo por essa razão desempenhada perfeita e cabalmente por ele. Quando de uma viagem a Goa o vice-rei lhe ofereceu o cargo de lente na Academia de Marinha, que não aceitou, convidou-o o doutor Ciera, que dirigia os trabalhos de cartografia do reino, para o auxiliar nesse importante trabalho. Aceitou esta comissão, para o que foi nomeado era 1791 ajudante de engenheiro e frequentou a acade­mia de fortificação, terminando com muita distinção o curso. Sendo promovido a capitão, acompanhou sempre o dr. Ciera nos trabalhos de triangulação, e tanto o considerava este matemático que, tendo o governo despachado Pedro Folque, em 1800, para servir na Baía com a patente de tenente-coronel, Ciera disse que não lhe era possível prescindir desse oficial, ficando sen efeito tal nomearão. Depois de interrompidos os trabalhos de geodesia continuou a servir em várias comissões, sendo em 1821 promovido a capitão-general de S. Paulo e Minas-Gerais, mas resignou o cargo, não chegando a sair do reino. Foi inspetor dos telégrafos em 1827, recebendo ordem para, na digressão que ia fazer, tratar da instalação das linhas telegráficas, verificar o estado das pirâmides levantadas no tempo de Ciera, não passando, porém, essa ordem da Gazeta, além de que a guerra civil inibiu que se ligasse interesse a estes assuntos. Após o restabelecimento da paz, Pedro Folque foi encarregado de dirigir os trabalhos geodé­sicos, e, percorrendo todos os postos da hierarquia militar subiu ao de tenente-general, quando faleceu em 1848 com 104 anos.
Pág. 377 - Manuel de Serpa Machado
Acerca deste personagem do qual não encontrámos notícia em nenhum dos livros de biografia portuguesa que se nos depararam, e cujo retrato, uma excelente litografia, um mero acaso nos trouxe à mão, achámos num livro Galeria dos Deputados, os seguintes apontamentos, e por eles vemos que foi ele deputado às notáveis Cortes constituintes daquela época, pela província da Beira. - Compareceu na sessão preparatória de 24 de janeiro de 1821. - Em 27 do mesmo mês e ano foi nomeado para a comissão de exame do projecto de regulamento interior de Cortes. Em 9 de fevereiro falou a favor da amnistia. Na mesma sessão propôs um aditamento à indicação do deputado Soares Franco sobre a abolição dos direitos banais, e para que esta medida abrangesse igualmente o direito dominical da fogaça, ou por qualquer outra maneira denominado. Foi na sessão de 10 nomeado para a comissão de regimento da regência. Na sessão de 14 sustentou a liberdade de imprensa em matérias políticas, exigin­do, porém, censura prévia nas matérias religiosas e explicando o seu voto que, quando tratava de maté­rias religiosas, entendia nisto os livros que tem por objecto principal o tratar de moral evangélica e do­gma, e não aqueles em que estas obram por inci­dente. Em 16 foi de opinião que não era compatível com o art. 11º das bases a criação dum tribunal de proteção da liberdade de imprensa. Em 23 falou contra as duas câmaras, e o veto absoluto, e a favor do artigo tal qual se acha no projecto das bases. Em conclusão, em todas as sessões mais ou menos falou, e sempre a favor da liberdade. O livro donde estamos extraindo estes apontamentos termina assim a sua opinião acerca de Manuel de Serpa Machado: - «Do progresso das discussões e votações do ilustre deputado, claramente se colige que não se engana­ram com ele os povos que o constituíram em poder; como sucedeu com tantos outros que, por seu aves­so procedimento em cortes, tem cabalmente iludido as esperanças dos seus comitentes. Mas, por muito que nos pese, devemos, em abono da verdade, confessar que a liberalidade do ilustre deputado tem sido às vezes comprometida por uma excessiva mo­deração, e até diremos que também por alguns preconceitos de classe. O que, não obstante, são esses uns tão pequenos extravios na sua carreira depuratória, que toda ela havemos por honrosa e útil, não somente nesta primeira, senão também nas épocas seguintes.»
Pág. 381 - Imagem de Nossa Senhora
Representa a nossa gravura uma imagem de Nossa Senhora, escultura em dente de cavalo-marinho, que figurou na celebrada Exposição de Arte Ornamental de 1882, em Lisboa. Pertence à igreja de Trevões. Serve-lhe de peanha um globo cercado pela serpente sobre uma base de folhagens. É obra india­na do século XVII e mede 0m,36 de altura.
Pág. 384 - Igreja de S. Luiz de França - Lisboa
Fica situada às portas de Santo Antão, e é igreja privativa dos franceses, dirigida pelos padres lazaristas, que têm residência contígua. É notável esta igreja pelo brilhantismo com que nela são celebra­das festas religiosas, especialmente o Mês de Maria.
Pág. 385 - Marquês de Santa Iria
Em Paris, no dia 1 de fevereiro de 1783, nasceu D. Luiz Roque Sousa Coutinho Monteiro Paym, sen­do batizado logo que nasceu por não confiarem na sua vida. Seguindo a causa nacional durante a guerra Peninsular, mereceu ser agraciado com a medalha do comando em três batalhas e com a medalha espanhola de Albuera. Posteriormente nas campanhas da liberdade também prestou bons serviços, salientando-se logo de princípio a fim de forma tal que o prenderam por ocasião dos tumultos que ficaram conhe­cidos na história pelo nome de archotada; emigrou e passando aos Açores com o conde de Vila-Flôr, exerceu o lugar de governador da Ilha de S. Miguel, em 1831, à partida do exército libertador. Antes da emigração governou as armas do Algarve e depois foi inspector geral de cavalaria e governador das armas da Extremadura, e presidente e membro de várias comissões militares. Sucedeu no título do conde de Alva a sua tia, sendo elevado a marquês de Santa Iria em abril de 1833, e foi um dos pares do reino nomeados em 1836. Faleceu em Lisboa, em 5 de abril de 1850.
Pág. 389 - Cruz processional de ouro
Foi uma das peças artísticas que mais atraiu a atenção dos visitantes na memorável Exposição de Arte Ornamental realizada em Lisboa em 1882. É toda de ouro. Na face principal tem engastadas cinquenta e seis pérolas finas e dezassete rubins e safiras, onde se acham siglas árabes, chamadas talismãs, cercados de fina ornamentação; na face posterior os símbolos dos quatro evangelhos, nos extremos da haste e braços da cruz, e no centro o Agnus Dei e a legenda em nove linhas - DNS SANCTUS REX IVSSIT FIERI HAC + ANO INCARNATIONIS M:CC:XIIII -. Na extremidade inferior tem uma esfera coberta de filigrana. Faltam nesta cruz duas relíquias do santo lenho, que outrora teve. Pesa 7 marcos e 5 onças, abatidos os suportes de prata dourada que lhe fizeram na parte inferior. Esta peça foi mandada fazer por D. Sancho I no seu testamento - De meam capellam et copam meum auri. Tem de altura 0m,6 e é do século XIII. Pertence à casa real. Em um manuscrito perten­cente à igreja de Santa Cruz de Coimbra, intitulado índice Universal das Santas Relíquias do insigne Santuário do Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, feito no ano de 1783, vem mencionada esta cruz pelos seguintes termos: «Dois grandes pedaços do lignum crucis, um maior que duas polegadas e am­bos da grossura da quinta parte de uma: Está esta insigne relíquia dentro de um cristal ovado no meio de uma cruz de ouro maciço, quase de dois palmos e meio, com vários lavores, aljofres (alguns bem grandes) e outras pedras lavradas de várias cores...»
Pág. 392 - Primeiro barão de Quintela
Foi um riquíssimo capitalista português que criou a grande casa Quintela e Farrobo. Chamava-se Joaquim Pedro Quintela e nasceu a 20 de agosto de 1748, senhor já duma importante casa que engrande­ceu, herdada de seu tio desembargador Luiz Rebelo Quintela. Instituiu o morgado de Quintela a 23 de junho de 1801, recebendo a 13 de dezembro de 1802 o senhorio da vila de Préstimo, a 17 de agosto de 1805, a mercê de Barão, e em 12 de outubro de 1806 tirou brasão de armas, que é campo de púrpura, duas bandas de escaques de ouro de uma só ordem: elmo de aço aberto, e não tem timbre. Foi alcaide-mor da Sortelha, conselheiro honorário da fazenda, do con­selho da rainha D. Maria I, casando com Maria Joaquina Xavier de Saldanha, de quem houve um filho e uma filha, mais tarde conde de Farrobo e condessa da Cunha. Joaquim Pedro Quintela faleceu com 69 anos, a 1 de outubro de 1817, doando a seu filho uma riqueza extraordinária, legando-lhe igualmente o palácio que mandara construir na rua do Alecrim, onde Junot, em 1808, instalou o quartel-general. Esse palácio é actualmente pertença e residência do opu­lento capitalista sr. dr. Carvalho Monteiro.
Pág. 393 - Teatro de S. Carlos, em Lisboa
Serviu de modelo a este nosso primeiro teatro lírico, o Scala, de Milão. Foi o arquitecto português José da Costa e Silva, sob a inspecção de Sebastião António da Cruz Sobral, quem o construiu a expen­sas de uma poderosa companhia de negociantes, de que era presidente o barão de Quintela. Começou a edificar-se em outubro de 1792 e terminou seis meses depois, e já em 29 de abril de 1793 se inaugurou para solenizar o nascimento de Maria Tereza de Bourbon e Bragança, princesa da Beira. A construção é de cantaria à prova de fogo, os corredores de abóbada e as escadarias em pedra, e tão numerosas que dão fácil saída em caso de sinistro, às pessoas que estiverem nos camarotes. Importou em 90 con­tos de réis.
Pág. 397 - Conde de Farrobo
Joaquim Pedro Quintela, filho do barão de Quin­tela, nasceu em Lisboa a 11 de dezembro de 1801, herdando em 1817 a importante casa de seu pai, e casando em maio de 1819 com Maria Carlota Lodi, deixando sete filhos. Acolheu mal o governo miguelista em 1828, chegando em 1831 a eximir-se em cooperar para o forçado empréstimo; exautoraram-no por esse motivo de todos os seus haveres. Toda­via em 1832 salvou a causa liberal, emprestando o dinheiro necessário para se pagar a uma tripulação estrangeira, comandada por Sartorius, sob promes­sa de lhe darem o contracto da companhia dos tabacos após a acessão ao trono de D. Maria II. Foi ele quem sustentou durante vários anos e mandou melhorar o teatro de S. Carlos, gastando imenso tam­bém na quinta das Laranjeiras, onde se desempenha­ram as peças de Garrett. O conde de Farrobo foi forçado a indemnizar a casa Pimenta, ficando arruinado por completo, a ponto tal que alguns filhos se viram na miséria. A esposa falecera a 7 de fevereiro de 1869, e contraiu segundas núpcias com uma senhora francesa, mademoisele Pinault, de que nasce­ram dois filhos, vindo a falecer, poucos meses de­pois, na extrema decadência, a 24 de setembro de 1869, contando 68 anos.
Pág. 401 - Enforcamento dos assassinos dos lentes de Coimbra
Faz em página 342 deste 8º volume da nossa «História» a descrição da terrível execução, que não só terminou com a existência de alguns esperançosos mancebos, como sepultou no luto e nas lágri­mas as desoladas famílias dos desvairados rapazes.

Pág. 405 - Inácio José de Macedo

Nasceu na cidade do Porto em 1774 e aos oito anos de idade partiu para o Brasil, indo residir na ci­dade da Baía. - Seguiu a carreira sacerdotal, e, depois de ordenado, foi nomeado, na cidade em que estava residindo, professor de filosofia, examina­dor sinodal e censor régio. Nomeado professor régio, o padre Ignacio de Macedo conservou-se na Baía até 1823, ano em que regressou a Portugal por ter o Brasil proclamado a sua independência. Foi então estabelecer-se no Porto, e quando, em 1826, começou em Portugal o regímen da Carta, o padre Macedo adotou com entusiasmo as novas ideias e começou a redigir um jornal, que durou até 1828 e a que deu o nome de Velho Liberal do Douro. - Já na Baía redigira um jornal intitulado a Idade de Ouro, que fora o primeiro que houvera naquela cidade. - Por isso foi perseguido em 1828, quando D. Miguel tomou posse do governo, e teve de refugiar-se em Lisboa, onde foi logo descoberto. A 30 de agosto de 1829 foi preso na torre de S. Julião da Barra, onde se conservou até 11 de julho de 1830, em que foi remetido para o Porto para ali ser julgado. Achava-se ainda preso quando o libertou a entrada de D. Pedro IV. Voltou então a redigir o Velho Liberal do Douro, até que morreu a 17 de fevereiro de 1834. - Este padre, que se mostrou sempre liberal, escreveu ainda alguns opúsculos - num dos quais vem o retrato que para aqui mandámos reproduzir - sobre assuntos histórico-políticos. Escrevia com muita facilidade, mas a sua linguagem era incorrecta e a sua erudição me­díocre.

Pág. 409 - Restauração do Castelo de Leiria
É um extraordinário trabalho que o professor Korrodi levou a cabo o plano de restauração desse for­mosíssimo castelo, e pena é que os poucos recur­sos do país não permitam que se leve a efeito tão grandioso plano, que, segundo os entendidos, tem um alto valor, e representa vastíssimos conhecimentos da arquitectura medieval, por parte do seu esclarecido autor. Esta gravura mandámos nós copiar da magnífica e luxuosa edição da Monographia, que o sr. Korrodi deu há anos à estampa, sobre o notabilíssimo castelo, fundado, ao que parece, por D. Diniz.
Pág. 413 - Francisco António Martins Basto
Damos a palavra ao célebre autor do Diccionario Bibliographico Portugues, Inocêncio Francisco da Silva: Nasceu em Lisboa em 1799, e, no decorrer da sua vida, foi sempre um homem trabalhador infatigável, o que lhe mereceu ser agraciado com o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo, Professor de Gramática e Língua Latina, e Mestre de Latinidade de D. Pedro V. O seu trabalho em verso foi: A pesca; As estações do ano, poema ilustrado com al­gumas notas; As satyras de Decio Junio Juvenal, príncipe dos poetas satyricos; Tobias, poema origi­nal de mr. Le Clerc, traduzido em verso; Eclogas de Virgílio, traduzidas em verso; A Eythreida, poe­ma sacro em seis cantos, cujo assunto é a passa­gem dos israelitas pelo mar vermelho a pé enxuto; Epicedio à sentida morte de S. M. I. o Duque de Bragança; À feliz exaltação de S. M. F. a Senhora D. Maria II ao throno da Monarchia Portugueza; Elogio-Epicedio à morte da ilma srª D. Maria Gertrudes de Andrade, oferecido a seu maguado marido o ilmo sr. José Ignacio de Andrade; Ao ilmo sr. José Ignacio de Andrade no dia de seus anos, a 2 de Novembro de 1849; Aos felizes anos do ilmo sr. José Ignacio de Andrade, 1 de Novembro cie 1849; Ao ilmo e exmo sr. José Ignacio de Andrade no seu feliz aniversario natalício, 1 de Novembro de 1850; Em verso latino: Francisci Antonii Martins Bas­tos; Hibernico Beati Patricii in Colleg. Linguae Latlnae Professoris Carmina; Eruditissímo, clarissimo que Josepho Ignatio Andrade ab auctore dicat; Martyrum Reginae Gloriosae Deiparae Virginis beatissimae Ma­rie Septem Dolorum infesto; Carmen; Ornatis; Doctis vir Josepho Mariae a Silveira Almendro; Emminentissimo ac Reverendíssimo Domino Francisci II; Olisiponensis cardinali Patnarchae, faustissimo ejus natalício; Vil Karl. Feb. A. D. m. dcccxlv; Francis­ci Antonii Martins Bastos, Linguae Latinae professoris B. Mariae Virg. a Conceptione in Colleg. Lyrice. Praeclarissimo viro Josepho Ignatio Andrade dicati. E trabalhos de gramática, filologia e história: Compêndio histórico da litteratura latina; Novo méthodo de grammatica portuguesa; Historia da origem, progresso e decadência da origem latina; Ex­plicação de grammatica latina e medição das odes de Horacio; Interpretação dos cinco primeiros livros da Historia romana de Tito Lívio; Nobreza litteraria, etc. Nobiliarchia medica; etc, etc. Além de todo o referido, Francisco António Martins Bascos tem ainda numerosos artigos em prosa e muitos mais em verso, insertos nos jornais Ramalhete, Mosaico, Instrucção Publica, etc.
Pág. 416 - Cálice de prata dourada
Tem de altura 0m,17, pertence à Sé de Coimbra e é obra do século XIl. Na base, ornada com figuras emblemáticas dos quatro Evangelistas, em baixo re­levo, lê-se o seguinte: Geda Menenaiz me fecit in onorem sci Michaelis e MCLXXXX. O nó é de filigrana. Na copa está representado em baixo-relevo o Apostolado, tendo a figura de cada apóstolo o nome por cima.
Pág. 417 - José Homem de Figueiredo Freire
Cavaleiro da ordem de Cristo. Nasceu em S. Pe­dro do Sul em 23 de outubro de 1786 Doutor em filosofia na Universidade de Coimbra, onde foi premiado três vezes, habilitado opositor por unanimidade de votos e despachado lente com exercício na cadeira de física experimental. Chegou a lente de prima. Decano e director da mesma faculdade, com exercício na cadeira de botânica e agricultura. Deputado do consulado geral e director do ensino primá­rio e secundário. Deputado às cortes da nação em 1834. Morreu na Figueira em 25 de setembro de 1837. Deixou em manuscrito um Catálogo das plantas naturais e exóticas que se encontram em S. Pedro do Sul e suas vizinhanças, e uma monografia incom­pleta, porém muito bem escrita, das plantas criptogâmicas, e o plano com que dirigia o curso de física, diferentes apontamentos da mesma ciência, e o método pratico de trabalhar com as máquinas de física do Museu, assim como uma novela com­pleta.
Pág. 421 - Ermida do Resgate - Lisboa
Fica situada esta curiosa ermida na freguesia dos Anjo em Lisboa, do mesmo lado e um pouco acima desta antiga igreja, logo acima da calçada do mesmo nome. Não encontrámos apontamento algum a seu respeito, pelo que nos não alargámos mais nesta nossa notícia.
Pág. 425 - João Francisco de Oliveira
Nasceu na cidade do Funchal em 9 de março de 176_. Foi agraciado com o título do conselho, e era físico-mor dos exércitos no reinado de D. João VI, a quem serviu fielmente, segundo memórias do tempo. Este médico deu assunto a uma narrativa de Inácio de Vilhena Barbosa, como a um singelo conto de B. A. publicado em França. Com referência à aventura curiosa e escandalosa que formou a base para esses trabalhos, existe na biblioteca de Évora a cópia de uma carta de Oliveira com a seguinte indicação: carta a sua mulher, de Lisboa 27 de maio de 1803, por ocasião de haver raptado uma dama do paço. Códice CX-2-16, n° 75. A dama, que estava a serviço da princesa D. Carlota Joaquina, era D. Eu­génia José de Menezes, filha dos condes de Cavaleiros, celebrada por sua formosura, conforme consta de documentos da época, já divulgados. Do médico Oliveira descendeu o conde do Tojal, João de Oliveira, que por diferentes vezes foi ministro de estado, desde 1837 a 1851. Diz a sentença condenatória do físico-mor (datada de 12 de junho de 1804), que o facto criminoso se dera em a noite de 27 de maio de 1804, indo Oliveira com a raptada para Caxias, onde estava próximo a embarcarão fretada que levava os fugitivos para fora, senda ela depois encontrada em Cádis, mas dele não houve notícia. O que também consta é que, decorridos alguns anos, João Francisco de Oliveira estivera no Rio de Janeiro e fora bem re­cebido por el-rei D. João VI, que lhe concedeu alguns lavores e mercês, dando-lhe um posto diplomático.
Pág. 429 - Igreja dos Milagres, em Leiria
A igreja de Nossa Senhora da Encarnação, mais comumente chamada dos Milagres, que se acha colocada num sítio eminente delicioso, fica a uns setecentos metros afastada de Leiria, que se vê do local em que está edificada, e que é num monte que antigamente se denominava Monte do Anjo, por ter ali existido uma ermida consagrada a S. Gabriel Arcanjo. Junto a essa ermida tinha o moço de câmara dos marqueses de Vila Real - mais tarde duques de Caminha - João Caçopo, um olival que lhe foi com­prado pelo bispo D. Freire Gaspar do Casal em 1374, para erigir a igreja de Santo Agostinho, olival esse de que existe ainda parte, próximo a este convento. Junto à tal ermida de S. Gabriel é que - reza a tradição -apareceu a imagem de Nossa Senhora da Encarnação. Foi no começo do reinado de D. João I que o bispo de Ceuta, D. Fr. Amaro, religioso da or­dem seráfica de S. Francisco e confessor de D. Filipa, mandou erigir este santuário, e porque esta rainha ser muito devota desta Senhora, concorreu para a sua edificação quando regressou de Aljubarrota com seu marido. Logo que Leiria foi elevada a sede de bispado, o primeiro bispo que a inaugurou, D. fr. Braz de Barros, restaurou esta igreja em 1554. O caminho que levava a este santuário era áspero, alcantilado, matagoso e por este motivo intransitável, de forma que a devoção a esta imagem esfriava um tanto, mas o bispo, a quem nos estamos referindo, mandou abrir novas comunicações, pelo que re­adquiriu o santuário a primitiva devoção, concor­rendo também para esse bom êxito a cura milagrosa. que teve Susana Dias, tolhida dos membros havia 28 anos, criatura muito fervente em orações a esta Se­nhora e que residia em Cortes, povoação a uma légua e um quilómetro da cidade. Conta-se assim o mi­lagre. Pedia um dia ao Padre Diogo Lopes, seu irmão, que a levasse a ouvir missa sua ao santuário, o que muito dificultosamente se conseguiu, ficando boa de todo ao findar o ofício, dando em seguida nove voltas em roda da igreja sem auxílio de quali­dade alguma e curada por completo. O provisor e as demais autoridades eclesiásticas, comprovando planamente o milagre, iniciaram uma grande festa e procissão a Nossa Senhora em acção de Graças, que há poucos anos se realizava em 12 de julho, data do milagre. Os seus devotos, que eram muitos por causa dos seus milagres, resolveram erigir-lhe um templo majestoso, e a primeira pedra foi lançada pelo Marquês de Vila Real (D. Manuel de Noronha) em se­tembro de 1588, dando, assim como a mulher, avul­tadas esmolas para esta construção, sendo, porém, mais esmoler João Rodrigues Bravo, desta cidade. Era tão fervorosa a devoção dos povos e era tal a vontade que tinham de ver o templo concluído, que todos os dias se via trepar a encosta grandes procissões de gente que acorria de várias loca­lidades, de várias idades e sexos, carregados de pedras, consoante as suas forças lho permitiam. Apesar do ano de 1588 ser estéril de grande para esses sítios, esses povos não deixaram de concorrer com avultadas esmolas para as obras, e as matronas e donzelas, não tendo dinheiro para oferecer, davam as suas joias. De todas as esmolas e ofertas, que naquele ano tinham sido muitas e valiosas, fez doa­ção o cabido da Sé de Leiria para as ditas obras. Da Batalha também lá foi uma grande procissão, com um formoso cirio, seguindo-se outra, a 18 de julho, de Vermoil, com um cirio também, indo 48 mulheres carregadas com tabuleiros de trigo em grão, pão amassado, bolos, queijadas, etc., para oferecer à Se­nhora, e ambas as freguesias prometendo um círio todos os anos. A estes dois círios seguiram-se mais uns 50 de freguesias próximas, umas e outras muito distantes da cidade de Leiria, sendo portadores de valiosas oferendas para as obras. Já depois de prin­cipiada a obra, entraram mais 23 procissões de localidades de perto e de longe, que deixavam, como as anteriores, diferentes ofertas à Santíssima Virgem da Encarnação, auxiliando as obras e para o culto divino. A imagem da Senhora dos Milagres (Nossa Senhora da Encarnação) é muito linda; está ajoelha­da em muito recolhimento - é moreninha - e se per­manecesse de pé media um metro de alto. Temas mãos cruzadas sobre o peito e as suas feições denotam uma modéstia celestial. Está encerrada em um grande e formoso sacrário de vidro, podendo ser vista muito bem. A igreja é de grande sumptuosidade e rodeada de alpendres, debaixo dos quais se realizam procissões em ocasião de chuva.
Pág. 432 - Rodrigo Ferreira da Costa
Natural da cidade de Setúbal, nasceu a 18 de maio de 1776. Destinado por seu pai a suceder-lhe na carreira da advocacia, que exercitava na referida cidade, o filho seguiu os estudos jurídicos na Universidade de Coimbra e tomou o grau de bacharel em leis no ano de 1800; porém, livre pela morte do pai de exercer uma profissão para a qual não tinha vocação alguma, preferiu continuar os seus estudos na faculdade de matemática e nela se formou em 1804. Apesar dos seus distintos conhecimentos, só em 1810 obteve ser empregado como oficial na secretaria do comando geral do exército, e nessa qualidade acom­panhou o ajudante-general até à terminação da guerra peninsular em 1814. Em 1821 foi eleito depu­tado às cortes constituintes, e em 1823 provido no lugar da Academia Real de Marinha de Lisboa, onde regeu durante alguns anos, com honrosos créditos, a cadeira do 1° ano. Apaixonado sempre do retiro e homem verdadeiramente estudioso, havia adquirido sólidos conhecimentos, não só nas ciências filosóficas e matemáticas, mas também na filologia e belas-artes. Conhecia as línguas vivas e mortas e tinha disposições para a poesia, que para desenfado dos estudos mais sérios cultivava nas horas vagas. Uma enfermidade, rebelde aos socorros médicos, o arrebatou à pátria em 1 de novembro de 1825, an­tes de completar 85 anos de idade. Foi cavaleiro da Ordem de Cristo e sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. O seu retrato é cópia de uma litografia que vem publicada no tomo 2º das «Cartas da Índia e da China», por José Inácio de Andrade. Publicou várias obras poéticas e muitas me­mórias sobre exercícios matemáticos.
Pág. 433 - Os realistas atacam a ilha da Madeira
Veja-se em pág. 420 deste 8º volume, a descrição detalhada deste notável feito de armas, em que os liberais mais uma vez mostraram quanto pôde o valor aliado à confiança, numa causa justa e santa como era a que eles defendiam.
Pág. 437 - José Pedro Cardoso Casado Geraldes
Distinto geógrafo português. Nasceu no Porto, foi coronel graduado das milícias, viveu uma grande parte da sua vida no estrangeiro, sendo cônsul de Portugal em várias localidades, principalmente em França. Transferido depois para Génova, aí morreu a 3 de setembro de 1845. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências, e as suas obras mais notáveis são: Estatística histórica e geographica do reino de Portugal, um Compendio de geografia e histórica antiga e moderna, um Tratado completo de cosmographia. um Mappa geohydrographico, historico e mercantil, e mais algumas obras históricas, quase todas impressas em Paris.
Pág. 441 - José Daniel Rodrigues da Costa
Natural da cidade de Leiria, nasceu a 31 de outu­bro de 1757 segundo as melhores informações colhidas pelo infatigável bibliófilo Francisco Inocêncio da Silva. Contava 2 anos de idade quando foi tra­zido para Lisboa e entregue, por falecimento de seu pai, ao amparo de umas senhoras caridosas, que o educaram e sustentaram, às quais depois valeu agradecido, como ele próprio declara nas rimas que publicou. Não podendo cursar os estudos superiores aos das primeiras letras e gramática latina, por falta de recursos pecuniários, acolheu-se à proteção do desembargador António Joaquim de Pina Manique, administrador da Alfândega das Sete Casas, o qual lhe conferiu a administração chamada das qua­tro partes da cidade e ramo de Belém, e como remuneração dos serviços que aí prestara obteve afinal uma tença e a propriedade de um ofício de es­crivão e tabelião de notas em Portalegre. Foi Ajudante das ordenanças de Alenquer e promovido depois a Major da legião nacional do Paço da Rainha. Casou quando contava 31 anos de idade. Dotado de bom humor e maneiras afáveis, foi benquisto de todos que o conheceram, que lhe aplaudiam os seus chistes e ditos naturalmente engraçados e satíricos. Viveu por muitos anos decentemente dos proventos do seu emprego, e do producto de muitos papeis que imprimia, e que eram bem acolhidos do publico. Sabendo amoldar-se às circunstâncias políticas do tempo, escreveu sucessivamente a favor das ideias liberais e do governe absoluto. O sr. D. Miguel lhe concedeu uma pensão anual de três moios de trigo, que pouco tempo desfrutou, falecendo aos 7 de outubro de 1832 em casa própria na travessa do Forno nº 2, freguesia de Nossa Senhora dos Anjos, em cuja igreja paroquial foi sepultado defronte do altar do Santíssimo. Os seus escritos eram procurados com furor pelos seus contemporâneos, que os liam com avidez, fazendo-se de muitos deles várias edições. Hoje quase todos, senão todos, os folhetos que publicou nenhum valor têm, sendo apenas es­timados dos bibliómanos. Eis a relação dos que mais voga tiveram: Rimas offerecidas ao Ilmo sr. Theotonio Gomes de Carvalho, do conselho de Sua Magestade e do Ultramar, Lisboa 1795. Neste volume de­clara o autor que o seu nome arcádico eia Josino Leiriense. Thettro cómico de pequenas peças (série de tomos 3 à colecção das Rimas) Lisboa 1797. O almocreve das petas, etc. Lisboa 1798 e 1799. O Hos­pital do mundo. Obra critica, moral e divertida, 1820, 4º; Camara óptica, onde as vistas às avessas mostram o mundo às direitas. Lisboa, 1082.
Pág. 445 - Vários objectos de arte
Representa a nossa gravura quatro objectos de arte que causaram a admiração de quantos visitaram a celebrada Exposição de Arte Ornamental de 1882, e de cada um dos quais damos em seguida as notas mais curiosas: - Cálice de praia dourada: Tem um nó esférico, coberto de filigrana e de pedras; uma cruz sobre uma larga base, tendo sobre a face interior o seguinte dístico: + IN: NNE: DNI: NRI: IHV: X: HVNC: CALICE: DEDIT: REGINA: DVI CIA: ALCVBACIE: IN: HOHORE: DEI: ET: GLOSE: VIRGINIS: MARIE: AD SVENOV: IN MAIORE: ALTARE. -Data do século XII e faz parte do Museu de Belas-Artes. - Estatueta de S. Nicolau. É feita em prata doura­da, medindo 58 centímetros de alto. Foi fabricada no século XII, e pertence à Sé de Coimbra. - Cálice de prata dourada e respectiva patena do mesmo metal. Este lindo objecto tem dezasseis centímetros de altura; é composto de uma base circular, ornada de seis medalhões circulares, mostrando em baixo rele­vo folhagens e leões, e em volta lê-se a inscrição: + E Ñ CC XX V REX SANCI ET REGINA DULCIA. OFFERVNT CALICEM ISTVN SCE MARINE COSTA. O nó forma um disco muito grosso dividido em gomos; a copa é largamente hemisférica e inteiramente lisa. A patena tem o diâmetro de 20 centímetros, e no centro vê-se uma cruz e sobre ela a mão no acto de abençoar. Ambos estes sagrados objectos são pertença da Con­fraria das Almas de Santa Marinha da Costa e datam do século XII. - Báculo de cobre dourado. A parte de baixo é cilíndrica e representa três lagartixas de cau­das enroscadas. A parte superior é uma serpente que se enrola circularmente em roda do medalhão, que tem de um lado, em baixo-relevo, um santo coroado, sentado e abençoando, e do outro Nossa Senhora com uma coroa parecida e com o menino ao colo. Não se sabe ao certo se é do século XII ou XIII. Per­tence esta obra de arte à igreja da Ermida do concelho de Castro Daire, perto de Viseu.
Pág. 449 - Bernardino António Gomes
Foi berço deste notável médico e botânico português, Paredes, em 29 de outubro de 1768, tendo por pais José Manuel Gomes e Josefina Maria Clara de Sousa. Formou-se em medicina na Universidade de Coimbra, tendo sido premiado em todos os oito anos, sendo pouco depois nomeado médico do partido de Aveiro. Foi despachado médico naval com a pa­tente de capitão em 1797, lugar que manteve durante três anos, época em que solicitou a exoneração, por cansaço e carência de saúde; passados sete anos, em 1817, foi promovido a médico da real câmara, sendo incumbido de acompanhar a princesa Leopoldina, noiva do príncipe D. Pedro. Contraiu ma­trimónio com Leonor Violante Rosa Mourão, com quem não foi feliz. Questões íntimas obrigaram Bernardino Gomes a requerer separação e a clausura da esposa num convento, incidentes que tiveram grande voga, chegando o médico em questão a tratá-los em vários folhetos que fez sair a lume. Como botânico, descobriu no Brasil a ipecacuanha fusca, e comunicou-a a Brotero, e contribuiu bastante para que se desenvolvesse a botânica americana, com as suas herborizações nas terras da Santa Cruz e os seus conscienciosos estudos na flora brasileira. Os seus trabalhos eram bastante apreciados no estrangeiro. Era sócio da Academia Real das Ciências, fundador do estabelecimento vacínico, não sendo só a botânica o ramo de ciência a que mais se entregou, mas ain­da a medicina, a que prestou relevantes e valiosos serviços, apontando-se como um dos mais importan­tes, a publicação da obra «Ensaio dermorographico, ou succinta e sistematica descrição das doenças cutâneas». Além disso, escreveu muitas memórias científicas, tão bem acolhidas no estrangeiro que foram traduzidas algumas delas em francês e inglês. A «Memória sobre a virtude toenifuga da romeira, com observações zoológicas e zoonomicas relativas à tenia» foi vertida para francês por Morat, e implantou em França o emprego da casca da romeira como antelmíntico e tenífugo. Foi trasladada para inglês a «Memória sobre a desinfecção das cartas, etc.» A ipecacuanha e a cinchonica foram o pomo da discór­dia entre este célebre físico, Félix de Avelar Brote­ro e José Feliciano de Castilho, discórdia muito aca­lorada e amarga. Morreu em Lisboa, em 13 de feve­reiro de 1823, com 55 anos de idade.
Pág. 453 - Igreja de S. Tiago, em Lisboa
Parece ser da época de D. Sancho I; uma mitra, porém, esculpida na pia batismal, leva-nos a crer que fosse criada no tempo de D. Gilberto, primeiro bispo de Lisboa, aí por 1160, o que não era muito de du­vidar, pois que já em 1220 foi priorado das rainhas com 10 beneficiados e um tesoureiro. Em 1835 anexou-se a esta freguesia a de S. Martinho.
Pág. 457 - Marquês do Faial
D. Domingos António Maria Pedro de Souza Holstein, 2º duque de Palmela, confirmado em 18 e outubro de 1850 e 2º marquês do Faial, por de­creto de 1 de dezembro de 1834, 2º conde de Calhariz, por decreto de 21 de julho de 1832, 12º capitão da Guarda-Real dos Archeiros, par do reino, com posse em 21 de janeiro de 1851, comendador da ordem de Cristo por portaria de 15 de janeiro de 1840, capitão-tenente honorário da armada, adido honorário à legação em Londres por ocasião da coroação da rainha Victória, conde de Sanfré no Piemonte, sucedeu a seu pai em 12 de outubro de 1850 nos morgados de Calhariz, Monfalim, Olivais e Forte do Anjo, e nos mais bens de sua casa. - Nasceu em Londres a 28 de junho de 1818 e morreu em Lis­boa a 2 de abril de 1864, tendo casado em França, a 3 de julho de 1846, com D. Maria Luiza de Sampaio Noronha, dama honorária da rainha, a qual nasceu a 21 de abril de 1827 e morreu a 21 de março de 1861, filha dos 1os condes da Póvoa.
Pág. 461 - Cálice de prata dourada
A base é hexagonal, ornada de seis figuras de santos em alto-relevo, afastadas umas das outras por ou­tras tantas pilastras. O nó é de arcarias góticas com baldaquinos. Sob os inferiores existiram estatuetas, de que apenas há duas. Rodeiam a copa ramagens e seis figuras de serafins. É obra do século XVI e pertence à Sé de Coimbra.
Pág. 464 - Pórtico da capela de S. Pedro, em Leiria
Foi a Korrodi que nos dirigimos para a reprodução deste pórtico e é ainda a ele que recorremos para darmos uns apontamentos a seu respeito. Nada costa ao certo da fundação da igreja, mas é de presumir que haja sido construída no meado do século XII, depois de retomado o castelo de Leiria por D. Afonso Henriques, após a última e memorável invasão dos mouros em 1146. Segundo o Cruseiro, era a segunda igreja que se construiu na povoação, mas uma doação do rei, datada de 1180, ainda fala só de uma igreja, donde se deve concluir que esta ainda não existia, o que é pouco provável. Pelas suas for­mas do mais puro estilo românico, deve a edificação da igreja de S. Pedro ser contemporânea dos monumentos da escola românica de Coimbra. Tanto o plano (abstraindo do princípio construtivo seguido na cobertura da neve) como as linhas gerais do pórtico assemelham-se até extraordinariamente aos da antiga igreja de S. Cristóvão, que existia naquela cidade, e que foi construída, na opinião do autorizado arqueólogo A. F. Simões, na mesma época em que o foi a Sé, na primeira metade, portanto, do século XII. Como esta, a de S. Pedro tem capela-mor terminada em forma semicircular, embora não acusada no exterior e é flanqueada de capelas. Tem, po­rém, apenas uma só nave e esta coberta por um te­cto de madeira. A capela-mor, como nas basílicas latinas, termina em forma de concha e fecha em abóbada de berço assim como as capelas laterais. São cheias de originalidade todas as esculturas, e em­bora em parte já deterioradas pelo tempo ou mutiladas, demonstram com evidencia a mão de mestre. O mesmo se pode dizer com respeito à cornija que coroa o exterior das absides e que é sustentada por uma bela colecção de cachorros, da mais variada e original composição, suficiente para dar uma prova da inesgotável fantasia dos artistas daquela época. A igreja já não conserva no todo o seu aspecto primitivo. No século passado rasgaram uma série de janelas nos muros laterais e uma na fachada, em substituição, naturalmente, das primitivas frestas e da respectiva rosácea, que, fornecendo à nave apenas a luz indispensável, davam ao interior um ar severo, misterioso. Na mesma ocasião foi renovada a co­bertura da nave, cujo aspecto e disposição primitiva nós tentamos reproduzir em perspectiva, segundo o interessante projecto de restauração do sr. J. B. Bizarro. Também desapareceu por completo a torre de sinos a que se refere o Cruseiro. Há muito que não serve ao culto este venerável monumento, que depois de ser transformado em teatro, foi mais tarde dado de arrendamento, pela fazenda nacional, a um particular, descendo à triste categoria de armazém de trapos e madeiras.
Pág. 465 - Conferência entre o duque de Palmela e Wellington
Em página 435 do presente volume da «História» se descreve a interessantíssima cena representada por esta ilustração.
Pág. 469 - Abside da capela de S. Pedro, em Leiria
Para compreensão desta gravura leia-se o que acima ficou dito acerca do Pórtico da capela de S. Pedro.
Pág. 473 - Duque da Terceira
António José de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha, 7º conde e 1º marquês de Vila-Flor, e 1º duque da Terceira, general português que vastos e importantes serviços prestou à causa liberal, nasceu em 1793 em Lisboa, sendo seus pais o 6º conde de Vila-Flor e D. Maria José de Mendonça. - Herdou o cargo de copeiro-mor, bem como as comendas de Santa Maria Pereira, S. Pedro de Calvelo, S. Tiago de Cassorado, S. Vicente da Figueira e S. Gens de Arganil, sendo igualmente contemplado, com várias tenças, etc., etc.- Contando apenas 4 anos, teve a mercê de comendador da ordem de Cristo, e, como freire da dita ordem, professou no convento de Nossa Senhora da Luz a 25 de julho de 1804. Dois anos, porém, antes disso, assentou praça no regimento de cavalaria 4, passando a alferes em 1807. - Apesar da sua tenra idade, pois contava 14 anos, não quis de modo algum aceitar o domínio francês, quiçá aconselhado por sua mãe e talvez também levado pelos brios naturais, excitados ainda pelo pensamento de que descendia daquele célebre D. Sancho Manuel, o brilhante defensor de Elvas, e o notável vencedor do Ameixial, cujo nome representava a resistência heroica ao estrangeiro. Por esse motivo pediu a sua demissão, que lhe foi expedida por um aviso do marquês de Alorna em 1808. Assim que os franceses foram expulsos, o futuro duque da Terceira pediu e alcançou que lhe fosse concedido tornar para o exército em que anteriormente estava, mas com o mesmo posto que ocupava; sendo pro­movido a tenente em 6 de dezembro de 1809 e a capitão da 5ª companhia do regimento de cavalaria em que sentara praça, a 23 de janeiro de 1811. Em seguida passou a servir como ajudante de ordens do general visconde de Sousel, e depois serviu também sob as ordens do marechal Beresford. Por esse tem­po subiu ao posto de major e tendo-se salientado de um modo notável na batalha da Vitória, fizeram-lhe a honra de o nomear para que fosse dar a notícia dessa vitória a Lisboa, além de ser recomendado vivamente pelo próprio duque de Wellington ao príncipe regente na carta que dava a nova do triunfo. Acolhido entusiasticamente em Lisboa, foi logo promovido a tenente-coronel, e aí pelos fins da campanha a coronel. No ano de 1815, em dezembro foi agraciado com a mercê de cavaleiro da Torre e Espada, pelo valor com que se portara durante as campanhas da guerra peninsular. - Sendo coronel aos 22 anos, distinto pela sua intrepidez, o conde de Vila-Flor mantinha no começo da sua carreira mi­litar um paralelismo curioso com o seu futuro colega no marechalato, o futuro duque de Saldanha. Um e outro foram oficiais muito novos, ambos se distinguiram na guerra da Península e foram alvo dos elogios de generais estrangeiros. Para que esse paralelismo prosseguisse, ambos marcharam para o Brasil: o conde de Vila-Flor com as tropas que iam sufocar a insurreição de Pernambuco, João Carlos Saldanha com as que iam combater no Rio da Prata. - Concluída a breve batalha de Pernambuco, foi o conde de Vila-Flor nomeado governador e capitão-general do Pará, lugar que exerceu até 1820, em que foi promovido para idêntico lugar na Baía, que não chegou a ocupar, voltando a Portugal no ano se­guinte, na companhia de D. João VI, de quem era gentil-homem de câmara. Nesse tempo já era briga­deiro e não demorou muito tempo que não fosse nomeado marechal de campo e ajudante de ordens de D. Miguel, logo que este recebeu o comando em chefe do exército. - Estreou-se na vida política, auxiliando o restabelecimento em Portugal dos inauferíveis direitos do absolutismo. Foi um dos conde­corados com a medalha da poeira. Em 1823 foi in­cumbido de ir a Espanha, em missão diplomática, para cumprimentar o duque de Angoulême, que viera com o exército francês estabelecer novamente nesse país o governo absolutista de Fernando VII. Não tomou parte na Abrilada, conservando assim as boas graças e estima de D. João VI. - Foi nomea­do par do reino em 30 de abril de 1826. Pouco tempo depois foi promovido a governador das armas do Alentejo, sendo forçado a sopear algumas insubor­dinações militares havidas nessa província a favor do absolutismo. Em Coruche derrotou os absolutistas, encontrando-os de novo na fronteira do Minho, os quais infligiram por sua vez alguns desaires às tropas liberais. Apesar de todas estas vitórias, que lhe valeram o título de marques de Vila-Flor, a causa liberal estava perdida, demais que o próprio D. Miguel que a queria implantar, era um dos próprios a destruí-la! O governador das armas da Porto, que era o marquês de Vila-Flor, de quem vimos falando, cargo para que fora nomeado em 1827 e conservando-se até à chegada de D. Miguel (1828), a primeira coisa que fez foi demitir os governadores das armas em quem não confiava. - Retrocedamos um pouco, para narrarmos um facto tristemente célebre da nossa história e em que o marquês ou conde de Vila-Flor entrou; contraiu matrimónio aos 18 anos (1811) com sua prima D. Maria José do Sacramento e Melo, que morreu no Pará em 1818. Passados três anos tornou a casar com uma menina, D. Maria Ana Luísa Filomena de Mendoça, filha dos marqueses de Loulé. A nova condessa contava apenas treze anos e emi­grou para Portugal com o marido, e quando o conde se prestou a ir combater pela liberdade, a noiva acompanhou-o, julgando o marido que os passageiros do Belfast iam apenas dar um passeio triunfal; mas logo que chegou ao Porto, viu ser forçoso combater. Como ia também João Carlos de Saldanha, de quem era rival, e não querendo um nem outro sujei­tar-se a ser subordinado, o conde de Vila-Flor fugiu para Inglaterra, assim como muitos outros, deixando Saldanha só em campo. Sentindo, porém, remorsos pelo que fizera, logo que chegou a Inglaterra tratou de ver se resgatava com algum feito heroico a nódoa com que porventura tivesse maculado a sua reputa­ção militar. O ensejo depressa se lhe deparou, por que na ilha Terceira o regímen mantinha-se constitucional e fiel à realeza de D. Maria II, patrocinado por Palmela, que tratava de opor uma séria resistência, a fim de evitar que esta ilha caísse nas mãos das forças miguelistas. - O conde de Vila-Flor foi nomeado por Palmela para dirigir a resistência à ex­pedição comandada pelo coronel Lemos e pelo vice-almirante Prego, o qual, per divergências com o re­ferido coronel, foi substituído por José Joaquim da Rosa Coelho, logo após a tomada da ilha da Madeira por estes comandantes. - No dia 11 de agosto de 1829 ganhou o conde de Vila-Flor a memorável ba­talha da Vila da Praia, na ilha Terceira (de onde lhe veio mais tarde o título de duque), que pode ser considerada como o mais brilhante feito deste valo­roso militar. Esta vitória, admiravelmente descrita a páginas 475 e seguintes deste nosso VIII volume, decidiu, talvez, o futuro da causa liberal, porque além de ser a primeira vantagem alcançada em prol do florescente regímen, veio dar alento aos tímidos e abrir as portas da ilha Terceira aos emigrados, que nesse tempo estavam a ser expulsos de Inglaterra por ordem de Wellington, e o seu mérito consiste em que as forças absolutistas eram muito superiores em número e em armamento, porquanto Vila-Flor, além de combater as guerrilhas internas da ilha, não contava mais de 2.386 combatentes, enquanto que Rosa Coelho dispunha de 21 navios, artilhados com 340 peças e guarnecidos com 2.758 homens, e o coronel Lemos de 3.393 homens de desembarque, o que perfaz um total de 6.178 combatentes miguelistas. Esta desigualdade era compensada pela bravura dos liberais, tendo Vila-Flor a auxiliá-lo o famoso ba­talhão de caçadores 5, os Voluntários da Rainha, os intrépidos Torres, Pacheco, Mello Breyner, conde de Vila Real, Menezes, Vilarinho, Ennes Costa, Aze­vedo e tantos, que deixaram um rasto luminoso nas páginas sangrentas desta fratricida luta. - Vieram depois as dificuldades financeiras e Vila-Flor viu-se sem dinheiro e sem crédito para ocorrer aos onerosos encargos desta guerra civil e não foi sem gran­de dificuldade que conseguiu descontar algumas letras entre os mais abastados residentes da ilha, até que D. Pedro estabeleceu ali uma regência presidida por Palmela. - O conde de Vila-Flor tomou parte em muitas mais acções militares, até que em 1832 foi agraciado com a mercê de duque da Terceira, doada por D. Pedro. - Em 1846, quando foi da célebre revolução do Minho, conhecida vulgarmente pela Maria da Fonte, a rainha D. Maria II mandou o duque da Terceira como seu lugar-tenente ao Porto, para a sufocar, mas o enérgico Passos Manuel prendeu-o, encerrando-o no Castelo da Foz. - Foi em 1851 ministro da guerra; em 1855 subiu ao posto de ajudante de campo d'el-rei D. Pedro V, e em 1858 foi nomea­do para comissário representante a fim de receber a malograda esposa deste monarca, D. Estefânia. No ano seguinte foi convidado para presidente do conselho de ministros. - Faleceu em Lisboa, a 26 de abril de 1860, contando 60 anos de idade, e sendo sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora. - No Cais do Sodré, que hoje tem o nome de praça do Duque da Terceira, ergue-se a sua estátua em bronze, tamanho natural, de pé, olhando para o Tejo, ostentando o uniforme de marechal de exército português, sobre um pedestal de pedra branca, de singela escultura, mas elegante aspecto, onde se lê em letras de bronze as datas comemorativas deste herói da liberdade.
Pág. 477 - Frontal de altar
Este frontal é de seda branca tecida a prata com dois painéis divididos por uma estreita faixa de veludo carmesim bordado, tendo em cada um deles um vaso com flores. De um e outro lado de cada vaso um leão coroado. Pássaros variegados em volta das flores. É cercado por faixas de veludo carmesim bordadas a fio de ouro e prata era alto relevo, tendo a faixa superior e ao meio um medalhão de latão prateado com raios, simbolizando o sol, um círculo de pedras falsas. Taxas de cabeça prateada e péro­las falsas completam a ornamentação deste lindo frontal, que é do século XVI, e pertence à Real Ir­mandade de Santa Joana, em Aveiro.
Pág. 481 - Visconde de Ovar
Nasceu a 25 de dezembro de 1872, em Ovar, o general António da Costa e Silva. Contando 16 anos entrou para a Universidade; reconhecendo, porém, não ter vocação para a carreira de advocacia a que se destinava, sentou praça no regimento de artilheria da corte a 10 de setembro de 1801. Foi des­pachado 2º tenente em 1805 e 1º tenente em 1807. Em dezembro de 1808 foi reunir-se ao exército aquar­telado em Tomar que se chamava de entre Tejo e Mondego. Em 1809 administrava o depósito geral das munições de guerra do exército na citada cidade, sendo por esse tempo mandado para a segunda re­serva do exército de Beresford, com quem entrou em Espanha, em 1809 (agosto), e tomou parte com o mesmo general na Batalha do Bussaco, assistindo mais tarde às de Vitória, Nivele, Orthez e Tolosa, e aos combates de Hallet e Aire, ao bloqueio de Almeida e aos cercos de Ciudad Rodrigo e S. Sebas­tião. Sendo ferido no primeiro destes cercos e elogiado na ordem do dia pela maneira por que nesse sítio se havia portado, foi em novembro de 1813 promovido a capitão-graduado em paga dos seus serviços enquanto durou a campanha e quando em agosto de 1814 regressou à pátria, foi-lhe dada a efetividade nesse posto. Em 1815, quando Napoleão saiu da ilha de Elba e se organizou em Portugal um exército pronto a marchar para a Bélgica, foi o general Costa e Silva indigitado comandante duma bateria dessa força; a derrota de Waterloo, porém, fez com que o exército expedicionário se desmantelasse e o moço militar tornou para o seu antigo regimento aquartelado em Faro, e aí se conservou até que, passada a revolução de 1820, foi escolhido para, em nome das tropas algarvias, vir à capital cumprimen­tar a junta suprema do governo do reino. Tendo por esta época subido ao posto de major e passando a efetivo em 26 de fevereiro de 1826 para o 4º regimento que tinha o seu quartel no Porto foi, pelo general Stubs, governador da província, nomeado para comandante da força de artilheria que marchou con­tra o marquês de Chaves que se havia revoltado. Nessa campanha entrou no combate da ponte de Amarante, no que se feriu com o marquês de Angeja entre Mesão Frio e a Régua, e no da Ponte do Prado, junto a Braga em 1827. O futuro visconde de Ovar fez parte do conselho militar que se organizou quando se deu a revolução do Porto contra o governo D. Mi­guel, e foi incumbido de comandar superiormente a artilheria de campanha do exército liberal; entrou nas acções de Morouços e ponte do Vouga, emigrando para Galiza com as tropas leais à Constituição; dessa cidade passou a Inglaterra e em 1829 acom­panhou também Saldanha na expedição à Ter­ceira, que foi obrigada pela esquadra inglesa a aportar ao Brasil. Embarcando nesse mesmo ano com o conde de Vila-Flor para a Terceira, onde o fizeram comandante do batalhão de artilheria que ali se organizou, nesse posto assistiu à batalha de Vila da Praia, indo na primavera de 1832 rara S. Miguel e dali para Portugal, desembarcando no Mindelo. Assistiu a toda a defesa do Porto, entrou no combate de Valongo e na batalha de Ponte Ferreira, onde foi ferido e ganhou o grau de oficial da Torre e Espada; promoveram-no tenente-coronel em agosto e a co­ronel graduado em novembro desse ano. Entrou na sortida de Monte Castro, na tomada do Covelo, na sortida de Valongo, no combate de Ariosa, em que ficou ferido, e como chefe de estado maior de divi­são, sucessor do coronel Pacheco, no combate de Grijó. Subindo a coronel-efectivo em 1833, e feito comendador de Aviz pelos serviços prestados, foi em 1836 promovido a inspector-geral do Arsenal do Exército, graduado em brigadeiro no ano imediato e encarregado do comando geral de artilheria em 1840. No ano seguinte agraciaram-no com o título de barão de Aveiro por haver servido durante 30, anos a nação honrada, prestimosa e acrisoladamente, sendo em 1845 nomeado brigadeiro-efectivo. Foi ministro da guerra em 1847. No ano imediato foi outra vez comandante-geral de artilheria, sendo promovido a marechal de campo em junho; em ju­lho elevado a visconde e em dezembro agraciado com os arminhos de par do reino. Em 1855 foi gra­duado tenente-general até que em 1853 passou à efetividade desse lugar, morrendo em Lisboa a 7 de julho de 1856, aos 74 anos de idade.
Pág. 485 - Igreja do Espírito Santo, em Leiria
É antiga bastante, pois que foi instalada a sua confraria em 1306. Os confrades assistiam aos enfermos em suas casas, acompanhando-os depois à sepultura, indo à frente «tangendo e bailando» com vestiduras farpadas que para esse fim possuíam. Em 1530 proibiu-se este singular modo de acompanhar defuntos. Os compromissos eram muito curiosos, e extraímos de Pinho Leal (Portugal antigo e moderno) alguns que cita, bem como a presente notícia. «Se algum confrade dirigisse a outro qualquer palavra injuriosa, em cabido levasse seis açoites sobre a saia, e jurasse sobre um crucifixo, que o dissera só por ira, e não por ter causa. - Se um confrade dissesse a um outro palavras escandalosas, ou Ihe desse com a mão aberta ou fechada, recebesse doze açoites e pagasse uma libra de cera para a confraria; se algum confrade tivesse contenda com outro que o não fosse, todos os confrades o ajudassem.» - Estas leis foram revogadas em 1542. Pelo meio da capela ia um cano de água para o mosteiro das freiras de Sant'Ana; abaixo deste cano havia uma fonte, de que se não aproveitava a gente da vila. Em1507 as religiosas pediam esta ponte para a meterem dentro do mosteiro, o que o concelho concedeu, desistindo elas então da água do tal cano.
Pág. 488 - Visconde de Veiros
Francisco de Paula Leite, general do nosso exército e mais tarde visconde de Veiros, abriu os olhos à luz da vida em 7 de março de 1747, na freguesia de S. Tomé de Alfama, em Lisboa. Sentou praça em 1702 no regimento de cavalaria do Cais, passando no ano seguinte à armada com o posto de guarda ma­rinha; fez várias viagens no serviço de guarda costa e cruzeiros, e uma a Mazagão, demonstrando na última grande valor e coragem num reconhecimento que foi preciso fazer e que o nosso biografado con­seguiu com fortuna e felicidade. Despachado tenente de marinha, fez novas viagens de guarda-costa à Índia em 1774, regressando a Lisboa daí a seis anos, sendo promovido a capitão-tenente, e continuou no serviço marítimo, salientando-se sobremaneira na expedição a Argel em 1784. Subindo a capitão-de-mar-e-guerra nesse mesmo ano, andou sempre embarcado, indo até ao Brasil; andou cruzando a costa do Estreito e fez parte da esquadra portuguesa que se dirigiu a Inglaterra em 1794 para se enfileirar nas forças navais desse país, que andava então em guer­ra com a república francesa. Cumprida essa missão, tornou o futuro visconde de Veiros ao reino, sendo um ano depois promovido a chefe de divisão, foi enviado a S. Tomé e Príncipe para acabar com as revoltas que lavravam inteiramente aí, dirigindo-se em seguida para a América, donde regressou à capital com um comboio, não tendo sofrido coisa alguma apesar dos corsários fazerem todo o possível para cativar os barcos portugueses. - Melindrado por, em paga de tantos serviços, lhe concederem apenas o posto de chefe de esquadra, pediu transferência para o exército, sendo-lhe deferido o pedido com o grau de marechal de campo em 1790. Imediatamente foi nomeado governador do castelo de S. Filipe em Setúbal; em junho de 1807 elevado a tenente-general, encarregado do governo da praça de Elvas, substi­tuindo o marquês de Alorna; mas a invasão francesa dirigida por Junot forçou o ilustre general a retirar-se para Évora, onde permaneceu retirado da vida pú­blica até julho de 1808. - Assumiu por esse tempo a direcção insurrecional do Alentejo, após a tomada e saque de Évora por Loison, passando a Olivença entrou novamente em Portugal por Campo-maior, e reunindo as forças daquela província, dispunha-se a marchar para Lisboa, quando a convenção de Sintra o inibiu de prosseguir mais activamente na expulsão das tropas imperiais. - Foi governador das armas do Alentejo durante a guerra peninsular; em 1814 foi transferido para a das armas da corte e Extremadura, em 1818 promovido no lugar de chefe do exército em substituição de Beresford, que saíra de Portugal nesses dois anos; foi privado deste comando em virtude da revolução liberal. Foi reintegrado nesse posto em 1821, lugar que não exerceu por muito tempo porque se reformou no ano seguinte, sendo-lhe conferido o título de visconde de Veiros em março desse ano. - Vindo a falecer, depois de ter exercido outros cargos importantes, em 1833, com 86 anos, vitimado pela cólera.
Pág. 489 - Armário de carvalho
Este lindo armário é formado por dois corpos com dois armários em cada um, sendo os de cima mais pequenos. Remata aos lados por pilastras com capitéis; a cimalha e as almofadas das portas com lavores em talha; tem na base três carrancas de leão e a le­genda: «Anno 1646». - Faz parte do Museu de Belas-Artes.
Pág. 493 - Manuel da Silva Bruschy
Este distinto jurisconsulto cujo nome todo era Manuel Maria da Silva Bruschy, nasceu no Rio de Janeiro em 1814. Em 1830-31 matriculou-se no primeiro ano jurídico na Universidade de Coimbra, deixando o curso em virtude dos sucessos políticos dessa época, denominada a campanha liberal; este­ve no Rio de Janeiro, onde cursou medicina, daí tornou para a Europa e estacionou em Paris, consa­grando-se por então às ciências naturais duma das escolas superiores daquela capital. - De 1837 a 1840 serviu no exército carlista, com as patentes de alferes a capitão de engenharia, graduado em tenente-coronel de infanteria, e entrando em vários encontros, assaltos e outras acções militares, foi ferido, prisio­neiro e resgatado. Ao terminar a guerra carlista, foi Bruschy mandado entregar à autoridade na fronteira portuguesa pelo governo espanhol, fazendo o tra­jecto de uma parte da Espanha a pé, cansado, fa­minto e roto. Acolhido e ajudado pela família Palha, tornou a Coimbra, onde concluiu o curso da facul­dade de direito, correspondente à matrícula do 2º ano dessas disciplinas em 1841-42, formando-se de aí a três anos. - Redigiu também a Nação ao lado de José de Lemos e Gomes de Abreu. - Entrando para a advocacia conseguiu granjear pelo seu saber e erudição jurídica, um dos primeiros lugares do foro português, sendo sempre consultado nos pleitos mais intrincados. - Morreu pobríssimo em 1873, sendo, contudo, ele e a família amparados pelo barão de Marajó, de forma tão modesta, tão pouco vulgar de encontrar nestes tempos de vaidade balofa, que só depois do seu falecimento é que se soube dessa be­nemerência. Os livros que deixou foram: Annotações de compendio de direito romano de Waldeck; Influencia do christianismo sobre a legislação; Elogio histórico de João de Vasconcellos Pereira Coutinho de Mendonça Falcão, sócio do Instituto de Coimbra; Scenas históricas; Pepe dei Oli; Episódio da guerra civil de Espanha; Almanach português para 1852, sob a direcção de M. M. da S. Bruschy; D. João I, drama histórico em cinco actos, de colaboração com Mendes Leal; Minuta apresentada em defesa de Joa­quim Goulart da Silveira, no tribunal da Relação; Portugal e o seu exército; Manual de direito civil português, segundo a novíssima legislação (que en­cetou enquanto advogado).
Pág. 497 - Ataque da ilha Terceira
Veja-se em págs. 469 e seg. deste VIII vol. da nossa História, a descrição do combate representado pela nossa gravura. - Só depois desta impressa nos veio parar às mãos uma soberba gravura da época, hoje rara, representando esse ataque; talvez ainda tenhamos ocasião de a publicar.
Pág. 501 - Conde de Samodães
Francisco de Paula Azevedo, 1º visconde e 1º conde da Samodães, ilustre general português, nasceu em Samodães, em 14 de janeiro de 1770, descendendo de uma família nobre. Tinha vinte meses quando o pai morreu. Destinando-o sua mãe para a carreira eclesiástica como presbítero secular, foi mandado para Coimbra a matricular-se em direito canónico, mas ainda estava no segundo ano quando sua mãe faleceu em 1787. O irmão mais velho começou logo em demandas, sendo o primeiro a sofrer nessas contendas. Francisco de Paula, porque estava desam­parado e não pôde, por isso, seguir a formatura. - Nestas circunstâncias, resolveu sentar praça em 1792, onde o reconheceram cadete no regimento de infanteria de Almeida. Depois de permanecer durante algum tempo na praça que dava o nome a esse regi­mento, seguiu para Lisboa, onde a arma de infanteria ia substituir os corpos de guarnição indicados para a campanha do Roussillon, voltando para Almeida em 1795; criando-se para 1796 o lugar de porta-bandeira, foi nomeado o futuro conde de Samodães para exer­cer esse cargo no regimento em que se alistara, saindo alferes em 1797. - Quando houve a invasão francesa de 1807, Francisco de Paula não quis servir sob o comando de Junot, nem tampouco quis en­tregar a espada, e, escapando-se de Almeida, foi residir para casa de uma irmã casada, em Celorico de Basto, julgando terminada a sua carreira militar, o que assim não sucedeu, pois que em 1808 rebentou a insurreição portuguesa, e o tenente Azevedo (gra­duação a que subira em agosto de 1805), sabedor de que em Amarante se pegara em armas, para lá se dirigiu, oferecendo-se; instruiu e disciplinou à pressa um bando de paisanos e com ele pôde picar a retaguarda de Loison, que saíra de Almeida para sufocar a insurreição. - Em Viseu formou-se uma junta governativa para dirigir a insurreição da Beira e foi nomeado Azevedo ajudante do regimento 23. Um ano mais tarde (1809) foi promovido a capitão, e escolhido pelo general Lecor para major de brigada. Seguiu-se a defesa das linhas e Azevedo, simpatizando com as ideias liberais, iniciou-se numa loja de francos-maçons em Lisboa, onde ia frequentes vezes. A brigada de Azevedo salientou-se dum modo notável nos combates da Redinha, Pombal, Casal-Novo e Sabugal; entrou também na batalha de Fuentes de Onoro, e na tomada de Castelo-Rodrigo, em que não tomou parte o futuro conde de Samodães; em compensação entrou na batalha da Vitória, portando-se tão denodadamente que o promoveram a tenente-coronel, saindo dessa escaramuça gravissimamente ferido na perna esquerda, já por um dos últimos tiros da artilheria francesa, mandando Wellington e Beresford saber do seu estado. Não pôde, por causa do ferimento, como era seu desejo, tomar parte activa na guerra peninsular, que terminou quando ele já estava são. - Em 1814 nomearam-no comandante do regimento de infanteria 8, e apresentando-se como voluntário para seguir para Montevideu, foi pro­movido a coronel-adido, e chegando ao Rio de Janeiro recebeu o comando do batalhão 20 de vo­luntários, que na ilha de Santa Catarina recebeu ordem para seguir o caminho de terra e entrar no território do Uruguai pela fronteira do rio Grande do Sul. - Em 1818 foi promovido a brigadeiro-gra­duado, distinguindo-se bastante em muitos combates. Uma indisposição grave com o general Lecor, de quem foi íntimo amigo, e o clima que reverdecera a ferida e muito o fazia sofrer, obrigaram-no a soli­citar a sua exoneração, regressando à Europa, depois de haver recebido várias recompensas como a comenda de Cristo, com a tença de trezentos mil réis, e um ofício no Porto que lhe rendia 500$000 réis. - Na revolução de 20 fez apenas o papel de soldado; manteve-se fiel ao governo, a ponto da martinhada se malograr. - Tomou parte em muitos mais feitos militares, e após a restauração da Carta foi agraciado com o título de conde de Samodães, tendo sido vis­conde em 1834. Foi par do reino, presidente do Su­premo Conselho de justiça Militar, vindo a falecer na terra da sua naturalidade a 9 de setembro de 1857 contando 87 anos de idade.
Pág. 505 - Conde da Fonte Nova
Filho primogénito do marechal de campo Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França, que já biografámos, e de D. Maria Bárbara Garcez Pinto de Madureira, nasceu Bento da França Pinto de Oliveira no Porto, a 6 de novembro de 1794. Aos 8 anos de idade assentou praça de cadete no regimento de cavalaria nº 9, de que seu pai era tenente-coronel. Em 1807, quando foi da invasão francesa e da dissolução dos regimentos, acompanhou Luiz Paulino a Coim­bra, foi com ele a Santa Cruz, sendo testemunha do soberbo protesto paterno feito por via do famoso e patriótico soneto que foi improvisado junto do tú­mulo de D. Afonso Henriques. - Como o seu ilustre progenitor, pediu a sua demissão e esteve fora do serviço até que vingou a revolução de 18 de junho de 1808. Pouco depois, tendo-se começado a consti­tuir a leal Legião Lusitana, marchou com parte dela para Ciudad Rodrigo, servindo de alferes porta-ban­deira de um batalhão, a que ia agregado. Ali entrou em fogo pela primeira vez, tendo apenas 14 anos. Em meados de 1809 foi promovido a tenente para cavalaria nº 7, que fazia parte da divisão do general Hill. Assistiu à batalha do Bussaco, cabendo-lhe na retirada para as linhas várias missões de responsabi­lidade em serviços especiais da arma de cavalaria. Não descansou durante a permanência de Massena, em frente de Torres Vedras. Entrou na célebre bata­lha de Albuera e, servindo sob as ordens de Wilson, Hill e Trant, que o tinham em particular estima e consideração, logrou atravessar toda a guerra penin­sular. - O posto de capitão alcançou-o por serviços distintos na batalha de Salamanca, onde praticou denodados feitos e deu provas de subido valor. Foi ferido em Vitória e bastante elogiado pelo seu es­forço e galhardia. Concluída a guerra peninsular pe­diu e foi mandado para o Brasil no posto de major, ascendendo por lá a tenente-coronel e trazendo lar­ga folha de serviços. - De regresso à Europa, foi colocado em cavalaria 3, regimento de que foi nomea­do comandante com a graduação de brigadeiro; isto deu-se em 1826. - Sectário entusiasta da revo­lução proclamada no Porto em 1828, tendo mais tar­de de fugir para os Açores, deixando em Lisboa a mulher e os filhos a braços com dificuldades, até que com auxílio pecuniário de um velho serviçal se pu­deram transportar para o Brasil, onde tinham família e haveres. Da ilha Terceira veio Bento da França na expedição mandada a Portugal e desembarcou na praia do Mindelo, à freme de um batalhão de oficiais de que tivera a honra de ter sido nomeado comandante. - Prestou constantes e valiosos serviços durante a guerra civil, o que lhe valeu ser promovi­do a marechal de campo e lhe deu jus a receber di­versas condecorações. Contava-se entre os que fa­ziam parte do séquito do marechal Saldanha, quando, em 25 de julho de 1833, este ínclito oficial-general carregou intrepidamente, apenas com o seu estado maior e uma escolta de lanceiros, importantes forças inimigas, que invadiam a cidade invicta pelo Bomfim, depois de haverem posto em debandada um re­gimento belga, único que lhes fazia frente. -Assente a convenção de Évora-Monte, foi nomeado governa­dor da praça de Elvas, correspondendo-se directa­mente com o ministério da guerra ou com o estado-maior imperial. - Promovido a tenente-general, teve o comando militar da província do Douro, honrosa comissão que desempenhou durante dois anos. Os sufrágios daquela província trouxeram-no de­putado às cortes. - Em outubro de 1835 foi agraciado com o título de barão de Mondim, título que mais tarde trocou pelo de barão da Fonte Nova. Comandou por várias vezes a 2ª e 5ª divisões, com sedes respectivamente no Porto e em Viseu. - Em 1844, quando rebentou a revolta de Torres Novas, foi escolhido para comandante da divisão que se organizou para sufocar aquele movimento; pôs cerco a Almeida, rendendo-se a praça ao cabo de dois meses. - Fora elevado a visconde da Fonte Nova em 1842, e em 1847 confiou-lhe o governo o comando da 1ª divisão militar. Foi feito par do reino em 1840, recebeu o título de conde em 1852 e veio a falecer em dezembro do referido ano. - Sua mulher, D. Ma­ria José Tovar da Costa, foi senhora de ânimo varo­nil, acompanhando-o sempre em todos os trabalhos e vicissitudes da vida agitada que levou, provendo ela com decisão própria a algumas dificuldades em que se viu, e sendo sempre solícita esposa e mãe de família. - Os primeiros condes da Fonte Nova tive­ram muitos filhos, dos quais vingaram quatro ho­mens e duas senhoras. Os dois mais velhos foram: Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França, 2º conde da Fonte Nova, e Salvador de Oliveira Pinto da Fran­ça, que faleceu em 1866, sendo ministro da guerra.
Pág. 509 - Cruz processional de prata dourada
Esta cruz tem por orla um elegante rendilhado e a superfície é coberta por folhagens de carvalho; numa das faces vê-se a imagem de Cristo crucificado, e nas extremidades da haste e dos laços quatro qua­dros de figuras em baixo-relevo representando Jesus no Horto, o beijo de Judas, a flagelação e o Ecce Homo. Por baixo do primeiro quadro as armas reais portuguesas sustentadas por dois anjos; na outra face está a imagem de Cristo, de pé, segurando na mão esquerda um globo rematado por uma cruz; esta face tem igualmente nas extremidades quatro quadros relevados representando os quatro Evangelistas, tendo também as armas reais de Portugal, mantidas, como as outras, por dois anjos. A cruz assenta sobre um corpo arquitectónico de profusa ornamentação de rendilhados e baldaquinos, e ladeado de pórticos e grupos de colunas que terminam por coruchéus e sustentam vários nichos povoados de estatuetas de santos (os apóstolos e os profetas). Na parte de cima do corpo arquitectónico, de um lado e outro, as armas reais portuguesas sustentadas por dois an­jos. Duas esferas armilares ladeiam uma das faces, faltando, porém, essa mesma ornamentação na outra, tendo, além desta outras faltas e mutilações. Mede 1m,19, e é obra do século XVI, que pertence à Sé do Funchal.
Pág. 512 - Fachada sul e poente do Hospital Civil de Leiria
A confraria do Espírito Santo tinha pegado com a capela, a que acima nos referimos, um hospital, com enfermeiro e obrigação de curar nele todas as doenças e agasalhar peregrinos, para que possuía ca­mas e portas fechadas. Tinha renda própria, e era muito antigo, visto existir uma escritura de compra de uma propriedade deste hospital, feita em 1358, e outra de emprazamento em 1428; Urraca Anes doou a este hospital, em 1355, um casal que está além do Peruchel, freguesia de Reguengo. Este hospital tinha gado seu para serviço de casa. Segundo as contas da casa, um boi custava em 1520, quinze tostões! Não se sabe quando nem por que ordem este hospital deixou de existir.
Pág. 513 - José Joaquim Rodrigues de Bastos
É um escritor português do maior renome, o que deveu não só ao seu verdadeiro e elevado merecimento, mas ainda ao género em que trabalhou e que em Portugal é pouco vulgar. Nasceu em Valongo a 8 de novembro de 1777. Formando-se em direito na Universidade de Coimbra, exerceu por algum tempo a advocacia no Porto e também entrou depois na ma­gistratura como juiz de fora na vila do Eixo. Seguiu diversos lugares da hierarquia judicial até que o no­mearam desembargador do paço. Eleito em 1821 de­putado às cortes constituintes, foi mais tarde também eleito deputado às cortes que se lhes seguiram. Em 1827 foi nomeado intendente-geral da polícia, e nessa qualidade aderiu ao governo de D. Miguel, sendo encarregado por este de desempenhar várias comissões importantes. Quando, em 1833, o governo constitucional se restabeleceu, José Joaquim Rodrigues de Bastos recolheu-se à vida privada, dando-se então exclusivamente a trabalhos literários que lhe granjearam imensa reputação. A obra que primeiro apareceu intitulava-se Meditações ou discursos religiosos. A forma pura e o acerto dos conceitos deram em resultado o esgotar-se a primeira edição. Teve sete edições. Espalhou-se por tal maneira no estran­geiro, que se fez em França uma tradução, autorizada pelo arcebispo de Paris; também foi vertida em inglês e italiano. Satisfeito com o magnífico êxito desta obra, que foi adaptada às escolas portuguesas para livro de leitura, este ilustre vulto publicou em 1847 uma obra intitulada Colecção de maximas, pen­samentos e provérbios. Deste livro, de que muitos jornais extratam com muita frequência conceituosos pensamentos, também se tiraram três edições, num curto prazo de tempo. Principiando o género de romance religioso, publicou a sua obra mais célebre, embora não seja a mais notável, a Virgem da Polónia, e que também, segunde consta, foi traduzida para francês. O médico do deserto não desmereceu, contudo, da Virgem da Polónia. O outro romance, Albano e Virgínia ou Os dois artistas, é muito medíocre; apesar disso, porém, teve três edições. É atribuída como obra sua uma Biographia da infanta D. Isabel Mello. Vergado ao peso dos anos veio a falecer este escritor no Porto em 1863.
Pág. 517 - D. Miguel e suas irmãs, orando a Nossa Senhora da Rocha
Os dizeres que orlam esta gravurinha, cujo inte­resse reside principalmente no facto de ser uma gra­vura da época, e, portanto, de nos dar uma ideia dos costumes e trajes daquele tempo, dispensam-nos qualquer outra explicação; demais que às causas daquele agradecimento a Nossa Senhora da Rocha já a nossa «História» se referiu, quando nela se con­tou o acidente sucedido a D. Miguel, de ter partido uma perna por se espantarem as muares do coche que conduzia o infante regente, mulas que, por sinal, eram malhadas, donde veio a designação de malhados dada pelos miguelistas aos partidários de D. Pedro.
Pág. 520 - Alexandre Herculano
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, pois que tal era o nome todo deste historiador ilustre, nasceu em Lisboa a 28 de março de 1810. Tomando calor pelas ideias liberais emigrou de Portugal quando D. Miguel instalou aqui o regímen do absolutis­mo, vivendo algum tempo em França, o que fez com que alguns biógrafos estrangeiros dissessem que fora educado em Paris. Tornou à pátria com o exército liberal e combateu no Porto como simples vo­luntário em prol da Carta. Terminada a guerra viveu durante certo tempo obscuro, trabalhando e estu­dando, até que em 1836 fez publicar o célebre fo­lheto Voz do Propheta, que teve grande popularidade. Revelava-se nesse opúsculo um escritor de pul­so de que era rival Lamennais. Foi em 1837 incumbido durante algum tempo de redigir o Diário do Governo, cargo que pouco depois deixou, entregando-se por então em absoluto aos seus trabalhos literários. Nessa época fundou-se o Panorama, jornal que marca na História uma verdadeira revolta literária portuguesa, cujo iniciador inteligente e enér­gico foi Herculano. Em geral, preferia assuntos históricos, trabalhados sob o ponto de vista da críti­ca moderna do tempo. Foi aí que Herculano publi­cou primeiramente «O Bobo», «Arrhas por foro de hespanha», «Dama pé-de-cabra», «Parocho de al­deia», e muitos outros artigos históricos. Em 1838 apareceu um livro de versos, «Harpa do crente», tentativas poéticas pelo autor da «Voz do Propheta», 1ª, 2ª e 3ª séries; em 1845 foi eleito deputado da oposição; quatro anos antes publicara «Da eschola Polytécnica e do Gollegio dos Nobres», folheto em que refutava outro, «Analyse do parecer da commissão de instrução publica da câmara dos srs. deputa­dos sobre o projecto de lei 58-A»; daí a três anos (1844) apareceu o novo romance, que causou sensa­ção, «Eurico»; teve várias tiragens consecutivas este livro que o notável historiador incluiu no «Monasticon», de que foi segunda obra «O monge de Cister», saindo em 1848. Em 1850 coligia em 2 volumes, a que deu o título de «Lendas e narrativas», os con­tos que inserira no «Panorama» e noutros jornais em que colaborava: «Alcaide de Santarém», «Ar­rhas por foro de espanha», «O castelo de Faria», «A abóbada», «A Dama Pé-de-Cabra», «Bispo negro», «Morte do lidador», «Parocho de aldeia», «De Jersey a Granville»; por essa mesma época publicou o volume completo das suas poesias, que compreendia a «Harpa do crente», «Poesias e Versões». Havia já anos começado a aparecer a sua monumental «História de Portugal», a que consagrara 14 anos de aturado trabalho e estudo. Saíram quase a seguir 4 volu­mes, pois publicaram-se nos anos de 1846, 1847, 1849 e 1854, que tiveram grande extração. Foi a «História de Portugal» que deu princípio a uma questão muito curiosa, por causa do «milagre de Ourique» e haver tratado a batalha de Ourique como um aconteci­mento de pouca monta. A questão que se debateu acirradamente era «O clero e o sr. Alexandre Hercu­lano», publicando-se por então uma infinidade de folhetos de que nos dá nota o incansável bibliófilo Inocêncio Francisco da Silva no seu «Diccionario Bibliographico Português», sendo alguns bastante raros. Nessa questão andaram metidos escritores de mérito real como Camilo Castelo Branco, Tomás de Carvalho e Rebelo da Silva. Em 1834 apareceu o seu novo estudo histórico «Da Origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal.» Um dia, porém, tendo poupado algum cabedal comprou uma pequena propriedade em Vale de Lobos, perto de Santarém, publicando antes disso um folheto so­bre a questão da «Propriedade litteraria», em 1851, outro em 1857 acerca da «Reacção ultramontana», e ainda em 1858 um manifesto da «Associação popular promotora da educação do sexo feminino dirigido ao partido liberal português.» A sua isenção obrigou-o a renunciar ao mandato que os eleitores de Sintra lhe haviam conferido nesse ano; ao pariato oferecido em 1861 e à grã-cruz de S. Tiago que no ano seguinte também lhe quiseram dar. Era sócio da Aca­demia Real das Ciências e de muitas outras em que a entrada é dificultosa; encarregou-o a Academia de dirigir a publicação do «Portugaliae monumenta histórica», de que saíram alguns fascículos. Também escreveu, como tentativa dramática, «O fronteiro de África», que alcançou sucesso no teatro do Sali­tre. Afastou-se para Vale de Lobos, onde se dedicou à agricultura, servindo de exemplo e guia aos lavra­dores seus vizinhos para introduzirem na agricultura os adiantados progressos da ciência agrícola e fabri­cava um azeite que adquiriu grande fama em Por­tugal e no Brasil. Herculano tomava de vez em quan­do parte nas questões graves, e tanto assim é que, sendo encarregado de colaborar no Código Civil, veio logo defender o casamento civil, o que deu azo a que se suscitasse uma polémica idêntica à do «Cle­ro e do sr. Alexandre Herculano», entrando nele muitos escritores da época; foi polémica mantida por uma grande série de opúsculos, alguns também difíceis de adquirir. Veio a Lisboa visitar D. Pedro II do Brasil, a quem era muito afeiçoado, e estava republicando em volume os artigos soltos que espa­lhara pelos jornais subordinados ao título de «Opúsculos», e de que saíram três tomos quando Herculano se sentiu doente, indo para Vale de Lobos, morrendo com 67 anos, ainda na pujança da vida e talento, em 13 de setembro de 1877, sendo sepultado em Azoia, junto da igreja, num túmulo erigido à sua memória, e uns anos mais tarde trasladado para o rico mausoléu que se construiu no Panteão dos Jerónimos.
Pág. 521 - Oratório de madeira
É uma linda obra de arte, do século XVI, que é pertença de Júlio Cordeiro. Tem em vulto várias estatuetas, vendo-se no plano inferior Nossa Senhora com Jesus ao colo, no meio Sant'Ana com um livro aberto, e ao outro lado Santa Isabel com S. João, também no regaço, cena que representa Sant’Ana ensinando os meninos, e em busto, lá no alto, o Pa­dre Eterno. O topo é fenestrado no estilo gótico.
Pág. 525 - Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
No dia 20 de outubro de 1884 completou o ciclo da sua existência no palácio dos Reitores, na Universidade de Coimbra, o 1º visconde de Vila Maior, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel. - Naquele dia fatal, voltou-se mais uma página do livro de ouro onde se arquivam os nomes dos sábios portugueses. - Era filho de Luiz Cláudio de Oliveira Pimentel e de D. Angélica T. de Sousa Cardoso Pimentel Ma­chado, e nasceu a 5 de outubro de 1809. Entre os seus antepassados contam-se nomes ilustres, que muito honraram a história pátria. António Bernardo de Oli­veira Pimentel distinguiu-se na batalha da Vitória; João Carlos de Oliveira Pimentel auxiliou poderosa­mente o marquês de Alorna, que em 1801 se via em grandes dificuldades de abastecer e socorrer a praça de Almeida; e António José Claudino de Oliveira Pimentel tinha já aos 18 anos feito a campanha do Roussillon, fazendo mais tarde, em 1810, a campanha peninsular, debaixo das ordens do general Silveira. - No curto espaço de quatro anos frequentou Júlio Máximo de Oliveira Pimentel no colégio da Lapa, no Porto, os preparatórios precisos para se matricu­lar na Universidade. -Dirigindo-se em 1826 a Coim­bra, para cursar a faculdade de leis, matriculou-se no primeiro ano de matemática, a instâncias do dr. Tomé Rodrigues Sobral, que, conhecendo-lhe o ta­lento, o convenceu a dedicar-se às ciências naturais. As lutas políticas interromperam, por vezes, a car­reira de Júlio Máximo. O primeiro ano foi incom­pleto, e o segundo, começado em 1827, só pôde terminar em 1834. - Não permitiu o ânimo timbroso do notável académico aproveitar-se do perdão de acto concedido pelo governo aos estudantes que serviram no exército, frequentando novamente o segundo ano da faculdade de matemática, e alcançando o grau de bacharel em 18 de julho de 1837. - Declarando-se liberal logo no começo das nossas pugnas civis, as­sentou praça em 1826 no batalhão académico, ficando pertencendo à segunda companhia. Em 1828 tomou parte activa, conjuntamente com José Estevão, Mendes Leal e outros, nos festejos que tiveram lugar em Coimbra, em oposição aos que os legitimistas fizeram na mesma cidade, por ocasião da chegada do infante D. Miguel, pintando ele o quadro que esteve exposto e iluminado no convento da Trindade, e que representava o infante jurando a carta, e discursou calorosamente sobre os acontecimentos políticos daquela época agitada na reunião que então teve lugar. - A tragédia de Condeixa, de triste recor­dação, junto aos desmandos de alguns estudantes mais exaltados, que traziam Coimbra em sobressalto permanente, tornaram impossível a continuação do serviço académico, sendo o batalhão dissolvido. Os estudantes que mais notáveis se haviam tornado pelas suas ideias liberais, saíram de Coimbra, encon­trando-se entre estes Júlio Máximo e seus irmãos João e Justiniano. - Depois de sofrer trabalhos e per­seguições, partiu Oliveira Pimentel para o Porto, em maio de 1832, a fim de se juntar aos liberais que eram esperados a cada momento. Efectivamente, no dia 8 de julho chegaram os primeiros navios da ex­pedição; e, logo no dia seguinte Júlio Máximo, à frente de alguns liberais e bastante povo deram o primeiro sinal do movimento liberal, soltando os presos políticos. Na tarde do mesmo dia 9, depois de ter ido ao encontro do coronel Schwalbach, que comandava caçadores 3 e que encontrou a pouca distância da cidade, alcançou Júlio Máximo licença do ministro da guerra Agostinho J. Freire, para se alistar num dos batalhões móveis, transferindo-se 8 dias depois para o batalhão académico. -Não é nosso intento narrar os serviços do batalhão académico durante o cerco do Porto, porque nem o assunto comporta limites de espaço, nem a Índole deste escrito a ele se coaduna; por isso, diremos apenas que Júlio Máximo foi um dos cinquenta voluntários académicos que, juntamente com outros tantos voluntários da rainha, fizeram a expedição a Vila do Conde, com o fim de recolher para o Porto todo o material de guerra que estava fora, e que era preciso para a defesa da cidade; que na defesa da Serra do Pilar fez no dia 14 de outubro de 1832, «durante bastante tempo, todo o serviço duma bateria, por ter caído ferido Fernandes Coelho e ter sido levado para o hospital pelos companheiros, recebendo por este assinalado serviço o oficialato da Torre Espa­da, e, finalmente, que no dia 20 de outubro foi ferido por uma bala lançada por uma sentinela avançada, durante uma sortida que tinha feito com o fim de incomodar o inimigo, tendo que recolher ao hospi­tal do Porto. - Em 25 de julho de 1833 foi promovido a alferes de caçadores 3, tendo ido nesse dia e de­pois de rotas as linhas, até aos Congregados. Acaba­da a guerra civil voltou a Coimbra para obter a for­matura, voltando ao serviço militar em 1837, por ocasião da revolta dos marechais, servindo sob as ordens do visconde Sá da Bandeira. - Em março de 1838 foi reger provisoriamente a cadeira de química na Escola Politécnica, onde teve por discípulos muitos homens eminentes do nosso país, entre os quais citaremos o sábio professor e ilustre director do Instituto Agrícola, o sr. conselheiro João Inácio Ferreira Lapa. No fim do ano lectivo fez concurso e foi promovido definitivamente pelo governo na mesma cadeira. - Oliveira Pimentel, não obstante empregar os maiores esforços para bem desempenhar o seu lugar, não se julgava habilitado enquanto não fosse estudar no estrangeiro. Realizou o seu desideratum logo que Fradesso da Silveira foi nomeado substituto da cadeira de química, autorizando-o o duque da Terceira, então ministro da guerra, a ir estudar a Paris, concedendo-lhe seiscentos francos mensais, contando-se para esta quantia o soldo e o ordenado de professor. Tão minguados recursos pa­ra ir cursar em Paris uma aula superior fariam recuar o mais intrépido; Júlio Máximo, porém, armado de uma grande força de vontade e dum ardente de­sejo de saber, venceu todas as dificuldades, entrando para o laboratório de Peligot, onde seguiu as lições de Chevreul, Gay Lussac e Dumas. - Voltando a Portugal em 1846, abriu de novo curso de química, em março de 1848, e obtendo em 1853, por concurso, o lugar de professor de química do Instituto Industrial, conservou até 1863 estes dois lugares, com pequenos intervalos. - Com o fim desenvolver entre nós várias indústrias que se achavam em grande atraso, visitou Oliveira Pimentel as fábricas de refinação de açúcar da França, da Bélgica e da Inglaterra, satisfazendo assim aos desejos de José Maria Eugénio de Almeida, que lhe havia proposto a formação duma sociedade que fundasse em Lisboa uma fábrica de refinação. A sociedade não chegou a constituir-se, vendo-se J. Pimentel, de volta à pátria, na dura necessidade de pagar avultadas somas, se os materiais que estavam encomendados não passassem para os srs. Ferreiras Pintos. Entrando para a Sociedade geral de produtos químicos, fundada pela Companhia do crédito móvel, teve novamente que ir a Paris encomendar materiais. No regresso estabeleceu na Póvoa a fábri­ca de produtos químicos. Esta companhia, que logo no começo lutou com bastantes dificuldades, dis­solveu-se em 1861. - Júlio Máximo de Oliveira Pi­mentel conseguiu empregar, com óptimo resultado para a fabricação de papel, a parte filamentosa das piteiras (Agave e Fourcroya) e obteve privilégio para um processo de fabricação de velas com a substân­cia sólida extraída do óleo de palma. - Duas vezes foi eleito, vereador do município de Lisboa; a primeira em 1851 e a segunda em 1858, ocupando desta vez a cadeira da presidência. Esta câmara tor­nou-se notável, não só pela atenção que lhe mereceu a parte higiénica, mas também pela criação de uma medalha com que se galardoaram várias pessoas que mais serviços prestaram por ocasião da febre amarela. Neste ano de 1858 teve lugar o casamento de D. Pedro V, e, sendo uso conferir ao presidente da câmara de Lisboa uma graça régia, foi oferecido a Júlio Máximo, pelo então marquês de Loulé, o título de visconde. Ele agradeceu e pediu que fosse con­cedido o título a seu pai que tanto tinha sofrido pela causa liberal. Este pedido, tão justo e tão nobre, foi deferido, sendo Luiz Cláudio de Oliveira Pimen­tel nomeado visconde de Vila Maior. Pouco tempo depois sucedeu no título, por haver falecido seu pai. - Sendo presidente da câmara, foi o visconde de Vila Maior intimado para se submeter a exame pa­ra o posto de major, sendo já major graduado. Os seus trabalhos não lhe permitiram aprestar-se para tal exame, sem quebra de dignidade. Pediu para ser dispensado do exame e ser equiparado aos oficiais das armas científicas, visto ser lente da Escola Politécnica. Ficando sem despacho o requerimento que neste sentido fez, pediu a sua reforma, que lhe foi concedida. - Os muitos conhecimentos científicos que o visconde possuía, juntos à sua rara actividade, fizeram com que os governos da nossa terra o encarregassem amiudadas vezes de comissões difíceis e importantes, das quais ele sempre deu a melhor conta. Foi secretário da comissão nomeada em 1851 para estudar a reforma da moeda; foi encarregado pelo governo da inspecção do nosso antigo arsenal do exército, da fábrica da pólvora, da refor­ma do colégio militar, da Academia Real das Ciên­cias e fez parte das comissões que representavam o país nas exposições internacionais de Londres (1855 a 1862), e de Paris (1867 e 1878), fazendo parte dos júris e publicando relatórios muito interessantes. - Em 1857 sucedeu ao dr. José Maria Grande na direcção do Instituto Agrícola, e em 1869 foi nomea­do pelo bispo de Viseu reitor da Universidade de Coimbra, lugar que conservou até à sua morte. - Requerendo a sua aposentação em 1864, começou o visconde de Vila Maior a dedicar-se com mais afinco aos estudos ampelográficos e enológicos da região do Douro, deixando-nos valiosos trabalhos como são: «Tratado de vinificação para vinhos genuínos», o «Manual de Viticultura pratica», e o «Douro ilustrado». - O «Tratado de vinificação» consta de dois volumes, o 1º publicado em 1868 e o 2º em 1869. É a obra mais completa sobre a oenologia que até àquele tempo se havia escrito em português. O «Manual de viticultura pratica» viu a luz da publici­dade em 1873. Dessa obra fez o visconde 2ª edição, que está quase extinta, o que bem prova o mereci­mento dela. - O solar do nosso melhor vinho e um dos mais finos do mundo, bem como as castas de uvas que o produzem, era até 1876 bem pouco co­nhecido de nacionais e estrangeiros. O dr. Francisco Pereira Rebelo da Fonseca tinha, é certo, publicado nas «Memórias económicas» da Academia Real das Ciências de Lisboa uma descrição monográfica daquele país, mas nesse trabalho, aliás de mérito reconhecido, mais se ocupa o seu autor de dados estatísticos e comerciais do que de traçar um qua­dro descritivo do país vinhateiro, que pudesse satisfazer a curiosidade pública. J. Pinto Rebelo de Car­valho também publicou em 1848 uma notável memó­ria com o título «Considerações geraes sobre a constituição geológica do Alto Douro, demarcado conforme a carta topographica do cavalheiro José Joaquim Forrester», de que o nosso biografado colheu valiosos subsídios para a obra que compôs. Finalmente, o dr. Pedro Norberto, professor da faculdade de filosofia, publicou em 1840, na «Chronica litteraria do Coimbra» uma serie de artigos com a descrição de Uma descida pelo rio Douro desde a Regoa até ao Porto, impressões de viagem em que o autor descreve em estilo ameno e fluente, as ri­dentes margens do Douro durante a época das vin­dimas. Todos estes escritos de mérito incontestável não satisfaziam, porém, a necessidade que havia, de um livro que historiasse e tornasse conhecidas as propriedades vinhateiras mais importantes, os pro­cessos de vinificação nelas empregados, e a descrição das castas de uvas que produzem o néctar precioso daquela região famigerada. Foi para pre­encher esta lacuna, que o visconde de Vila Maior publicou em 1876 o seu «Douro ilustrado». - Esta obra notável é escrita em português, francês e inglês, e é ornada com gravuras primorosas das propriedades de mais nomeada e dos pontos mais pitorescos do rio Douro, desde a Barca d'Alva até ao Porto. O autor descreve minuciosamente, não só as quin­tas, como as pequenas vinhas que bordam as margens do Douro, não olvidando os pontos históricos que aos vários sítios se referem; e termina, apresentando a lista ampelográfica das castas que no Douro são mais vulgares. - O visconde de Vila Maior fez progredir bastante a Universidade durante a sua rei­toria. Promoveu a celebração do centenário da re­forma pombalina; escreveu a notícia histórica e descritiva da Universidade, destinada à exposição de Paris em 1878; criou a escola ampelográfica, e quis obter autorização para levantar um empréstimo, com o fim de levar a efeito algumas obras de importância, empréstimo que se não realizou por lhe faltar o apoio da corporação a que presidia. - Em 1883 foi encarregado de formular um projecto de reforma de instrução superior. Não obstante achar-se numa idade bastante avançada, teve o visconde, para satisfazer cabalmente a esta comissão, que visitar as escolas superiores de Espanha, França, Itália e Inglaterra: trabalhava, na confecção do relatório do resultado da sua viagem, quando a morte o surpreendeu. - Além de oficial da Torre e Espada, era o ilustre visconde de Vila Maior par do reino, tenente-coronel reformado grã-cruz da ordem da Conceição, oficial da legião de honra, grã-dignitário da ordem da Rosa do Brasil, grã-cruz de Carlos III, comendador das ordens de S. Lázaro, de S. Maurício e de Leopoldo da Bélgica; sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa, antigo mem­bro da Sociedade de química de Paris, corresponden­te da Society of arts de Londres, da Académia geopónica de Florença, sócio honorário do Instituto de Coimbra e da Associação dos Artistas da mesma cidade. (A. M. Lopes: Agricultores ilustres de Por­tugal.)
Pág. 529 - Assassínio dos presos liberais, em Vila Viçosa
Veja-se em páginas 507 deste VIII volume da História a narração da bárbara chacina, representada pela nossa gravura.
Pág. 533 - José Maria Grande
José Maria Grande, do conselho de Sua Majestade, comendador da ordem da Conceição, cavaleiro da Torre e Espada e da Legião de Honra, par do reino, bacharel em medicina pela Universidade de Coimbra e doutor na mesma faculdade pela de Louvain (Bél­gica), director do Instituto Agrícola e Escola Regio­nal de Lisboa, lente de botânica na Escola politécnica, director do Jardim Botânico e da Ajuda, membro do Conselho Geral de Agricultura e Comércio do ministério das obras públicas, deputado às cortes em várias legislaturas, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, membro honorário da Sociedade de Ciências Medicas da mesma cidade, sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Madrid, da Academia Médico-Cirúrgica de Génova, da Sociedade Nacional e Central de Paris, etc., foi filho de D. Francisco Grande, cidadão espanhol, e de Antónia Isabel Caldeira de Andrade, natu­ral do Crato, e nasceu na cidade de Portalegre a 13 de abril de 1779. Tendo apenas 14 anos de idade, começou os seus estudos na Universidade de Coim­bra, onde recebeu o grau de doutor em 1823, tendo sido premiado em vários anos da faculdade de me­dicina. - Vítima das sua ideias liberais, sofreu al­gumas privações durante o reinado de D. Miguel, tendo que emigrar para Espanha. Voltando a Portugal, ainda no tempo da guerra civil, prestou, na província do Alentejo, bastantes serviços à causa que defendia, tendo obtido em remuneração o hábito da Torre e Espada. - Em 1838 entrou no movimento político que teve lugar nesse mesmo ano e que se propunha restaurar a Carta Constitucional da monarquia. Trabalhou conjuntamente com o barão de Cacilhas, visconde da Foz, etc., para que em Extremoz tivesse lugar, como na verdade teve, o pronuncia­mento dos corpos de infanteria ali existentes. Como, porém, abortasse a tentativa, teve novamente que emigrar para Espanha, onde esteve algum tempo, passando à França e daí à Bélgica e Inglaterra. No ano de 1839, durante a sua estada em França, frequentou várias cadeiras de botânica e agricultura, contraindo estreita amizade com muitos professores célebres daquele tempo. - Voltando novamente à pátria, e já sossegados os ânimos, foi escolhido pelo governo para representar e defender no congresso internacional de Paris, os interesses sanitários e comerciais do nosso país. Por esta mesma ocasião foi também encarregado de examinar alguns jardins botânicos e quintas exemplares de ensino, nos países mais adiantados no progresso agrícola. Regressando da sua difícil missão em princípio de 1852, começou a ocupar-se do ensino agrícola entre nós, e a colaborar para que esta organização se tornasse em lei do Estado. Efectivamente, o projecto por ele apresentado recebeu a sanção do conselho geral de agri­cultura e comércio, e foi convertido em lei pelo decreto de 16 de dezembro de 1852, que criou entre nós o ensino agronómico. Nomeado director geral do Instituto Agrícola logo no começo da sua criação, de tal maneira se houve no desempenho desse cargo, tratando tudo com extraordinário zelo e proficiência, que ainda hoje é lembrado com saudade por todos os seus contemporâneos. - José Maria Grande foi um fervoroso apóstolo da cultura das plantas industriais, fazendo cultivar na quinta da Bemposta muitas delas, cujas sementes mandava vir do estrangeiro. As plantas que mais cuidados lhe mereceram foram: Urtica nivea, Phormium tenax, Madia sativa e Sesamum oriental. -Tendo que ceder à irrevogável lei da morte, entregou a alma ao Criador a 15 de dezembro de 1857, deixando os parentes e os amigos inconsoláveis por tão grande perda. - Resta-nos dizer duas palavras acerca das obras que escreveu, e que se acham publicadas. A de maior vulto que o seu talento produziu é, sem contestação, o Guia e Manual do cultivador, ou elementos de agri­cultura, que foi primeiramente impressa no jornal a Época, nos tomos I e II, e depois em separado, em dois pequenos volumes. É uma obra conscienciosamente escrita, e foi acolhida com tanto entusiasmo e procura, que hoje raríssimos são os exemplares que se encontram à venda, das duas edições que se fizeram, pedindo-se por eles preços bastante eleva­dos. - Considerações sobre os principais obstáculos que se oppõem ao aperfeiçoamento da nossa agricultura, e sobre os meios de os remediar. É um discurso pronunciado por ocasião da inauguração do Instituto Agrícola de Lisboa. Memória sobre a moléstia das vinhas, opúsculo em 32 páginas in-4º grande, com estampas. Relatório sobre os trabalhos, escolares, processos, operações e serviços ruraes, instituídos no Instituto lndustrial de Lisboa, in-8º grande. - Além destas obras, existem ainda, de José Maria Grande, alguns artigos impressos em vários jornais sobre bo­tânica e agricultura, e bastantes folhetos de muito merecimento. (A. M. Lopes: Agricultores ilustres de Portugal.
Pág. 536 - Monumento a Gomes Freire
Bastante se tem escrito já acerca de Gomes Frei­re de Andrade e do papel que ele desempenhou na famosa conspiração de 1817, que tomou o seu nome; mas os principais factos 3 episódios dessa conspira­ção conservam-se ainda ocultos, parecendo que al­guém agora vai intentar levantar uma ponta do véu em que anda envolvida essa interessante figura do general português; esse alguém mesmo parece que­rer tentar justificar o procedimento havido para com Gomes Freire, da pane do general Beresford; afigu­ra-se-nos porém que não haverá meio de tornar simpático ao povo português o nome desse inglês que, em terras portuguesas, fez dar morte vergonho­sa a um português ilustre que tão bem soube honrar com a sua nobre espada o nosso nome. Neste volu­me oitavo da nossa História de Portugal encontra o leitor curiosíssimas notícias sobre esse notável episódio da História Pátria. - Mas, seja como for, o que é certo é que da memória dos portugueses se não obliterou a lembrança do valoroso general, e que, em 1853, no próprio sítio onde ele fora vilmente enforcado, mandou outro general português levantar o singelo monumento que a nossa gravura representa, monumento que tem sido por mais de uma vez obje­cto de sentidas romagens do povo português, em momentos de aflitivas crises em que o coração de este bom povo é rudemente ferido pelo estrangeiro. - Na frente do pedestal desse monumento lê-se o seguinte: «À memória do extinto e ilustre general Gomes Freire de Andrade, vítima em 1817, o seu admirador Barão da Victória da Batalha, general e governador da praça de S. Julião da Barra, lhe man­dou levantar este monumento como lembrança do exército, no ano de 1853». - Numa das faces laterais vê-se gravada uma epigrafe, que, por longa, não copiámos, mas em que se faz a resenha biográfica da sua vida, com a nota dos serviços prestados como militar, suas honras, etc. - Sobre a porta da prisão em que o desgraçado general esteve encerra­do, mandou também o barão da Batalha colocar uma lápide em que se acham gravadas três quadras escritas pelo oficial do Estado Maior, sr. Sá de Maga­lhães, e que se podem ler na Revista Militar, de ju­lho de 1853. -Corno se vê da nossa gravura, o monumento é tudo quanto há de mais simples, um pedes­tal, uma coluna, e encimando isto uma cruz de pedra, imitando a rude cruz feita de troncos de árvore; e em volta um largo gradeamento.
Pág. 537 - Visconde de Laborim
José Joaquim Gerardo de Sampaio, visconde, e mais tarde, conde de Laborim, foi um notável jurisconsulto português, vice-presidente da câmara dos pares, e nasceu no Porto a 24 de setembro de 1784. Filho do desembargador de agravos da casa da suplicação, Bento António de Sampaio, seguiu como seu pai a carreira da magistratura, e, formando-se em leis na Universidade de Coimbra em 1804, exerceu per algum tempo a advocacia. Tendo requerido, sem despacho favorável, alguns lugares a que se jul­gava com direito pelas suas habilitações, recolheu-se a tratar dos negócios de sua casa até que a revolu­ção de 1808 o veio afastar do lar doméstico, sendo um dos primeiros a assentar praça em infanteria nº 6, distinguindo-se em várias ocasiões, contribuindo poderosamente para a restauração de governo legíti­mo em Lafões, e oferecendo para as despesas da guerra importantes quantias e seis cavalos. Despa­chado em 1810 juiz de fora de Castro Marim e de Vila Real de Santo António, de tal modo se houve no exercido desse lugar que a câmara pediu a recondução do magistrado, mas a súplica não foi atendida, porque o juiz Sampaio não a desejava. - Nomeado em dezembro de 1815 juiz de fora do cível do Porto, também aí se tornou estimado e bem-quisto pela maneira por que desempenhou as funções do seu cargo, e o corpo municipal solicitou igualmente a recondução do magistrado distinto. Em 1821 foi despachado corregedor do crime do bairro da Ribeira Nova em Lisboa, com a graduação de desembargador da relação do Porto, mas os sucessos políticos de 1823 trouxeram consigo a demissão e a prisão do ilustre jurisconsulto. Elevado em outubro de 1824 a desembargador da cidade do Porto, foi eleito deputado às cortes de 1816, e achando-se em 1828 no exercício do seu lugar na segunda cidade do reino, recusou-se a assinar a representação que se dirigiu a D. Miguel, pedindo-lhe que se declarasse rei absoluto, e abertamente confessou os seus sentimentos liberais, e o quanto era contrário a ideias absolutistas e reacionárias. Escolhido para membro da junta provisória que se constituiu depois da revolução de maio de 1828, partiu para Inglaterra a bordo do Belfast, e foi pelo governo do usurpador condenado à morte. - Durante o tempo que residiu em país estrangeiro trabalhou com fervor para aju­dar o restabelecimento do governo constitucional, e voltando ao reino depois do desembarque do Mindelo, alistou-se nas fileiras do exército de D. Pedro e foi em 1833 despachado conselheiro e fiscal das mercês. - Depois da entrada do duque da Terceira na capital do reino foi nomeado membro do supremo tribunal de justiça, elevado ao pariato em 1834 e agraciado com o título de visconde de Laborim, em outubro do ano seguinte aderindo à revolução de 1836 pediu a demissão de juiz do supremo tribunal, e em 1840, por voto unânime das duas câmaras foi reintegrado nesse lugar, tendo sido anteriormente eleito senador em 1808 pelos círculos de Braga e de Santarém. Nomeado em 1844 para a presidência do supremo tribunal de justiça em substituição de Silva Carvalho, exerceu este lugar até junho de 1847, em que foi reintegrado o ilustre ministro do imperador, e depois que ele faleceu, foi definitivamente provi­do nesse importante cargo da magistratura portuguesa. Escolhido por diferentes vezes para presidir à câmara alta na falta do presidente e vice-presidente, elevado a este último lugar em 1837, nomeado con­selheiro de estado e agraciado com o título de conde em outubro de 1802. Morreu a 4 de janeiro de 1864.
Pág. 541 - Duas páginas dum livro de armas
Do livro das armas dos reis, príncipes e famílias nobres, manuscrito em pergaminho, in-folio, ilustrado com belas estampas douradas e coloridas, mandámos reproduzir essas duas páginas para mos­trar ao leitor esse primor de arte. Este livro foi man­dado fazer por D. Manuel, e está assinado pelo rei d'armas Portugal, em 15 de agosto de 1509. Perten­ce ao sr. conde de Mesquitela.
Pág. 544 - João António Tavares
O general José António Tavares foi um militar valente e honrado, e que no começo da sua carreira passou por duras provações em campanha. Serviu o império francês em 1890 com o posto de cadete, vol­tando à pátria em 1815. Durante este período da sua vida fez a campanha da Rússia e da Áustria, assis­tindo a todos os horrores da retirada da Rússia. Foi nomeado alferes deputado assistente do quartel-mes­tre general do exército em 4 de janeiro de 1817. Despachado tenente em 16 de novembro de 1821, foi nomeado ajudante de ordens do governador da pro­víncia de Cabo Verde em 1822, capitão em 20 de setembro de 1823; major em 24 de julho de 1834; tenente-coronel em 13 de março de 1834; coronel em 19 de dezembro de 1848; reformado em briga­deiro em dezembro de 1850. Depois destes postos, serviu vários cargos no ministério da guerra. Teve o grau de cavaleiro das ordens de Cristo, Concei­ção e Aviz, as comendas de Aviz e Legião de Honra e a medalha de Santa Helena. O retraio que publicamos é cópia de uma miniatura que o bravo mi­litar tirou quando era capitão e que se acha em po­der do seu filho, o sr. José António Tavares.
Pág. 545 - Teles Jordão em S. Julião da Barra
A cena representada pela nossa gravura é apenas um episódio dos incomportáveis tratos e barbaridades que às ordens do ignorante e retrógrado militarão que se chamou Teles Jordão, se praticaram eu nome de D. Miguel, nas terríveis masmorras de S. Julião da Barra. Veja-se em págs. 500 e seg. deste 8º vol. da nossa «História».
Pág. 549 - Visconde das Picoas
António Esteves Costa, 1º visconde das Picoas, nasceu em Cabeceiras de Basto em 1765; veia para Lisboa muito novo, praticando no comércio, chegando a alcançar abastada fortuna; foi director do Banco de Portugal; tem a comenda de Cristo e o título de barão pelo governo de D. Miguel. Morreu solteiro, na rua do Ferregial de Baixo, em 28 de fevereiro de 1837. O retrato que damos aqui é feito sobre fotografia de um retrato a óleo existente em poder da família.
Pág. 552 - Cálice de prata dourada e sua patena, século XVI
Este objecto sacro mede 32 centímetros de alto. A copa é ornada de figuras de anjo com instrumentos músicos e de folhagens e rosáceas na parte superior. Na parte média restam doze anéis que serviram para sustentar os tintinábulos que faltam. Na parte infe­rior, figuras de anjo, aves, urnas e folhagens, cinco anéis semelhantes aos da parte média e falta um sexto. Nó formado de arcarias góticas com coru­chéus e duas ordens de nichos com baldaquinos, na parte inferior dos quais se veem seis estatuetas de santos. No pé seis nichos semelhantes aos da parte superior. A base é dividida em doze gomos, seis dos quais contêm em relevo figuras de santos e os outros seis, folhagens e rosáceas de prata não doura­da. A patena tem ao centro um brasão esmaltado e em roda a legenda: Ab istis mine ali gravetur. Decorado com ornatos gravados. À volta lê-se em caracteres góticos: Ad laudem dei milícia abatisa me fecid. O reverso está ornado a pointillè e a buril com brasões intercalados. No meio repete-se o mes­mo brasão em ponto, e em roda do qual se lê em ca­racteres góticos: Este cales trouxe llena da Maia, filha da Maia, de N. da Maia. - É este cálice do sé­culo XVI, pertenceu ao mosteiro de Arouca, e é hoje da Misericórdia do Porto e não de Faro, como por lapso saiu no título da gravura que acompanha esta nossa edição da «História».
Pág. 553 - Visconde de Portocarrero
João Cardoso da Cunha Araújo e Castro Portocarrero, primeiro visconde de Portocarreiro, nasceu na quinta de Gaçamar, termo da Vila da Feira, aos 20 de outubro de 1792 e era filho do desembargador João Bernardo Cardoso da Costa (que morreu vítima da invasão francesa em 1809 na cidade do Porto) e de D. Jerónima Delfina da Cunha Portocarreiro. Os seus avós remontam a D. Reimão Garcia Portocar­reiro (filho de D. Garcia Afonso Portocarreiro, rico homem no tempo de D. Ordonho 3º de Leão), acom­panhou o conde D. Henrique nos seus combates con­tra os mouros, e foi-lhe dado o senhorio da terra que dele tomou o nome de Portocarrero e aí estabele­ceu seu solar no lugar chamado da Torre, onde permanecia ainda em 1374. O visconde, não desdizendo dos seus Ilustres antepassados, foi um magistrado integérrimo, dotado de variada instrução, amante das letras e de uma probidade inconcussa. Em 1844 casou com sua prima co-irmã D. Helena Cardoso Maciado, de cujo consórcio nasceram quatro filhas. Ainda bastante novo, em 1809, prestou o visconde à sua pátria o serviço das armas, tomando parte como voluntário académico na campanha do Vouga. Con­cluídos os seus estudos na Universidade, fez leitura no desembargo do paço em 1815, servindo de juiz de fora do cível em Santarém desde 1816 a 1820. - Acabado este lugar, onde granjeou a simpatia e a estima dos habitantes da sua jurisdição por seus actos e por sua imparcialidade como juiz, ofereceu às cortes uma Memória económica-estatística, acom­panhada de um mapa corográfico da então vila e termo de Santarém, que foi recebida com agrado, como consta dos papeis daquele tempo. - Despa­chado em 1820 corregedor de Viseu, foram tão gran­des os serviços que prestou, que mereceu o ser elogiado pelo ministro da justiça daquele tempo, em portaria de 6 de junho de 1821. Em 1813 foi demitido por liberal, retirando-se à sua casa do Porto. - Outorgada a Carta por D. Pedro IV, despachou-o a infanta D. Isabel Maria para corregedor do Porto em 1826, onde esteve até ser mandado sair para Braga em virtude das tramas urdidas pelo ministro José Freire de Andrade. Achava-se o visconde de Portocarrero oculto na Foz quando no Porto re­bentou a revolução de 16 de maio de 1826, sendo imediatamente chamado para exercer o lugar de corregedor do Porto. Apesar de doente, aceitou o cargo, provendo a tudo com o zelo que lhe era pecu­liar. Embarcados no Belfast os membros da junta e exposta a cidade aos desmandos miguelistas, retirou-se o visconde do Porto, embarcando para Inglaterra, juntamente com outros portugueses, seus compa­nheiros de infortúnio. Tanto na Inglaterra como na Bélgica, sofreu todas as privações que no exílio se costumam afrontar, empregando o seu tempo em congraçar os seus companheiros de infortúnio. Logo que D. Pedro IV partiu para a Terceira embarcou de Plymouth para a sobredita ilha; daí partiu para S. Miguel para tomar parte na expedição. Voltou à pátria quando ainda o Porto existia cercado, sendo nomeado, por decreto de 23 de março de 1833, para a Relação da mesma cidade, lugar que ocupou até ser nomeado juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, por decreto de 26 de novembro de 1836. - Foi nomeado senador em 1838, ministro da justiça em 1839, fidalgo cavaleiro e comendador da Ordem da Conceição e visconde de Portocarrero em 18 de agosto de 1855.
Pág. 556 - Máximo José dos Reis
O retrato que a nossa gravura representa é do pai de um dos implicados no assassínio dos lentes de Coimbra. Era capitão-mor de Sintra, homem riquíssimo, e que gastou uma boa parte da sua fortuna para salvar o filho, mas baldadamente, porque o infeliz mancebo lá seguiu a triste sorte dos outros que foram apanhados, sendo, como eles, executado. Este retrato é cópia fotográfica do que existe em po­der da família, a quem aqui manifestamos o nosso agradecimento.
Pág. 557 - Grupo de Anjos em barro
É um grupo feito em barro de quatro figuras evangélicas, entoando um coro; é do século XVIII e pertence a Henrique Nunes Teixeira, do Porto.
Pág. 560 - António da Silva Bastos
Foi este um dos mil e quinhentos do Mindelo; faleceu com 42 anos em 8 de dezembro de 1849, tendo, portanto, nascido em 1807. O retrato que aqui damos foi copiado de outro a pastel, em poder dos seus herdeiros, sendo a uma distinta senhora, filha do retratado, que devemos o prazer de aqui o dar. Aproveitamos o ensejo para agradecer a delicada fi­neza.
Pág. 561 - Desarmamento dos miguelistas pelos liberais na Ilha Graciosa
Ver Original:

A pág. 494 deste 8º volume da História se encon­tra a descrição da cena representada por esta estampa.
Pág. 564 - Félix Pereira de Megalhães
Do Conselho de Sua Majestade, conselheiro de Estado Extraordinário, Par do Reino, Ministro de Es­tado Honorário, Grã-Cruz de S. Maurício e S. Lázaro do Piemonte, Comendador da Ordem de Cristo Cavaleiro na de Nossa Senhora de Vila Viçosa; foi natural de Chaves. Destinado por seus pais ao estado eclesiástico, recebeu as ordens menores tendo treze anos de idade, pouco mais ou menos. Alistou-se no batalhão eclesiástico, que em Cha­ves se organizou por ocasião da invasão francesa, e de cuja organização foi secretário. Mais tarde foi obrigado ainda, em virtude da guerra dos franceses, a interromper os seus estudos e a alistar-se no regi­mento de milícias de Chaves, onde teve a patente do alferes, e, passando para o batalhão de Trás-os-Montes, fez duas campanhas - a do cerco de Samora em Espanha e a da Beira Alta, invadida pelo inimigo. Feita a paz geral e alcançada a sua demissão do ser­viço militar continuou com os seus estudos, seguindo o curso da Faculdade de Leis na Universidade de Coimbra. - Abraçando os princípios políticos, pro­clamados em 1820, traduziu e publicou o extrato de uma excelente memória sobre a origem do juízo por jurados, anotando-a para ilustração do texto, demonstrando que no começo da monarquia era por jurados que se julgavam os pleitos judiciais. Achan­do-se no Porto em 1822 foi convidada para membro da Patriótica Portuense, da qual foi pri­meiro secretário, e depois eleito orador no dia 13 de maio, aniversário de D. João VI, recitando nessa ocasião a oração panegírica, que muitos aplausos colheu. - Foi eleito alferes da Guarda Nacional em virtude da grande popularidade que alcançara entre os seus contemporâneos, prestando nessa ocasião inúmeros serviços aos membros da Sociedade Patriótica, que, por motivo da Vila-Francada, se achavam gravemente comprometidos. - Passada aquela crise política estabeleceu banca de advogado na cidade do Porto, onde exerceu aquela nobre profissão até 1828. - Por ocasião da revolta de 16 de maio de aquele ano foi convidado, juntamente com outros, a elegerem uma junta, que na história ficou conhe­cida pela Junta do Porto, cuja única mira era o res­tabelecimento do sistema constitucional. Malograda a tentativa e retiradas as tropas para a Galiza seguiu Félix Pereira com os seus camaradas para o Ferrol, donde embarcaram para a cidade de Bordeaux. Conservou-se em França até chegar o momento de passar às ilhas açorianas, onde assentou praça como sargento na 4ª companhia do batalhão de caçadores nº 3. Embarcado na corveta para aportar à ilha Ter­ceira, onde o batalhão foi dissolvido, passando a ser­vir no batalhão académico entrado no Porto pelo exército liberal, foi Félix de Magalhães nomeado secretário da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro, auxiliando poderosamente o governo, com capitães, géneros, aprestos, etc. - Estabelecido o governo legitimo, foi Félix Pereira nomeado secretário da comissão encarregada de propor as medi­das necessárias para o desenvolvimento do conteúdo no decreto nº 13 de 16 de maio de 1832: o bom ser­viço, zelo e inteligência com que se houve nesta comissão, mereceu ser louvado por portaria de 7 de janeiro de 1834. -Restaurada a Carta Constitucio­nal em 1842 foi eleito deputado por Trás-os-Montes, tomando parte nas discussões mais importantes. - Sendo nomeado par do reino por carta régia, em 3 de novembro de 1845, recebeu na câmara alta os maiores testemunhos de consideração que na câmara popular havia recebido, sendo eleito para quase todas as comissões. - Em 18 de junho de 1849 foi no­meado ministro e secretário de estado dos negócios eclesiásticos e de justiça, cargo que desempenhou com hombridade notável. - O seu retrato é cópia da litografia que a «Revista Contemporânea» publicou, ainda em vida, do conselheiro Félix Pereira de Magalhães.
Pág. 565 - Tinteiro de bronze - século XVIII
É um primoroso trabalho em bronze doirado, executado no século XVIII, ao tempo em que vivia o grande estadista marquês de Pombal, a quem pertenceu. - Representa uma base mantida por quatro leões; tem na tampa um monstro marinho subjugado pelo génio da nação portuguesa, simbolizado numa figura com as armas do reino o tiracolo; o com­primento da base é de 91 centímetros, e de alto 42 centímetros. Pertence ao actual marquês de Pombal.
Pág. 568 - J. G. da Silva Sanches
Júlio Gomes da Silva Sanches foi um magistrado e político português, que viveu 66 anos. Nasceu no casal de Gomiei (Viseu) em 1803, vindo a falecer em Lisboa em 1869. A sua família queria que seguisse a advocacia e para esse efeito matriculou-se em 1820 na Universidade, onde esteve até 1824, tendo de interromper os seus estudos pelos avançados ideais liberais que professava, o que lhe valeu ser degreda­do para a ilha de Fogo, no Cabo-Verde, além de ser riscado por completo da Universidade. Conseguindo evadir-se, viveu homiziado até 1825, ano em que D. João VI concedeu indulto a todos os perseguidos por opiniões políticas, no que estava compreendido o biografado de quem vimos falando, tornando en­tão para a Universidade, fazendo acto do quarto ano e matriculando-se no quinto, formou-se em 1826. Em novembro desse ano alistou-se no corpo académico, fez parte das 4 companhias que foram juntar-se em Ceia com a divisão do conde de Vila-Flor e em seguida abriu escritório de advogado em Midões. Em 1828 obstou que em Midões se fizesse a aclamação de D. Miguel, e, não contente com isso, também impediu que na próxima vila de Couto se assinasse o voto que já estava lavrado, quando ele chegou à casa da câmara. - Quando rebentou a revo­lução no Porto em 16 de maio, o jovem advogado tratou de ir juntar-se aos defensores da causa con­stitucional, e emigrou depois para a Inglaterra; passou à Bélgica e à França, tomou parte na expedição de Bele-Isle, e entrou nas praias do Mindelo com o exército libertador. Apenas D. Pedro entrou no Por­to, foi Silva Sanches nomeado membro e secretário da comissão incumbida de apresentar um projecto de reforma dos forais, mas declinando essa honra, antes quis continuar a defender o partido liberal como soldado académico e dirigiu-se para a Serra do Pilar com a segunda peça de brigada de montanha, de que fazia parte. - Em 14 de outubro combateu denodadamente, o que fez com que o galardoassem com o hábito da Torre e Espada, e passado tempo (1835) deu de novo mostras de intrepidez, sustentando no dia 5 de setembro a importante posição do Jardim do Provedor dos Armazéns, em S. Sebastião da Pedreira. - No ano imediato foi nomeado juiz de direito da Figueira, e em abril seguinte juiz de fora da dita vila até que pudesse entrar no exercício do primeiro cargo, e seguiu para o seu destino em fins de maio; pouco tempo, porém, exerceu as funções de magistrado, porque daí a alguns dias foi eleito deputado pela Beira-Baixa, sendo um dos brilhantes ornamentos da oposição, e tornou a ser deputado em várias legislaturas, até que, por carta régia de 1853, teve o pariato. - Ocupou por várias vezes o cargo de presidente da câmara dos deputa­dos, e por diferentes épocas nomeado para presidir à câmara alta em substituição do presidente e vice-presidente. - Foi ministro do reino de 1837 a 1838, e encarregado de gerir a repartição do ministério que se estabeleceu, presidido pelo barão da Ribeira de Sabrosa. Em 1846 foi ministro da fazenda, recu­sando em 1851 as pastas da fazenda e do reino, que o duque de Saldanha lhe oferecia, após o triunfo da Regeneração. Foi titular das pastas da fazenda e do reino, no ministério histórico, que caiu em 1857 e entrou novamente para os conselhos da coroa co­mo ministro do reino e interino da justiça no gabi­nete presidido pelo marquês de Sá, o qual foi sub­stituído pelo ministério da fusão. - Estava exercendo o cargo de presidente da Relação quando faleceu.
Pág. 569 - Entrada da esquadra francesa no Tejo
É reprodução duma excelente gravura francesa esta, que representa um insulto feito ao nosso brio e de que o governo absolutista, tão insolente e tão forte para com os fracos, não soube desforçar-se co­mo claramente indicavam os acontecimentos e a honra do nome português. - Veja-se em págs. 512 e seg. deste volume, a descrição da cena que a gra­vura representa.
Pág. 570 - Conde do Casal
Primeiro barão e primeiro conde do Casal, José de Barros Abreu Sousa e Alvim, nasceu a 9 de novembro de 1796 e foi filho de António de Barros Abreu Sousa e Alvim e de D. Maria Luiza de Barros Abreu Sousa e Alvim. Sendo ainda de menoridade assentou praça na cavalaria de Chaves, em 1 de fe­vereiro de 1806, como predestinado já para a brilhante carreira que mais tarde havia de ilustrar. Frequentava ainda os estudos para seguir os da Universidade de Coimbra, quando se deu a invasão francesa, sendo por isso obrigado a reunir-se ao seu regimento e com ele marchar para Elvas, e, sendo pouco depois despachado alferes, por decreto de 10 de fevereiro de 1811, para o regimento de cavalaria 1, com ele assistiu à batalha de Albuera. - De­pois da batalha de Salamanca, foi despachado tenente, entrando nas batalhas de Vitória e Pirenéus, en­trando em França nos memoráveis acontecimentos que se deram até à paz geral. - Com a patente de capitão dos Voluntários Reais de El-Rei fez a cam­panha do Rio da Prata, e tais actos praticou de va­lor que foi despachado major por distinção pela parte que teve na acção de Toledo. - Casou em 1822 com D. Margarida Iriarte Viorlada de Cóce. Regressando à pátria foi-lhe entregue o comando do regimento de cavalaria nº 12, sendo então nomeado tenente-coronel daquele regimento. Ferido em Trás-os-Montes pelas tropas do marquês de Chaves, foi feito prisioneiro por capitulação e conduzido para Espanha e depois para Miranda do Douro. Evadindo-se da escolta que o conservava prisioneiro, salvou-se numa jangada que atravessou o Douro perto de Barca d'Alva, indo em seguida incorporar-se às tropas do conde de Vila-Flor, que estava em Trás-os-Montes, donde partiu para o Porto a organizar o seu regimento. Nomeado pela Junta do Porto comandante da força que devia operar con­tra o general das Armas do Porto, avançou com va­lor sobre a ponte fortificada, dispersando o inimigo, recebendo por essa ocasião vários ferimentos. Em seguida marchou sobre Amarante, obrigando Gaspar Teixeira a retirar-se para Vila Real. Depois de ter obrigado ainda Gaspar Teixeira a fugir até às abas do Mourão e de obrigar D. Álvaro da Costa a deban­dar e retirar-se para Basto marchou para o Porto, onde ao tempo a junta se tinha dissolvido, vendo-se obrigado a emigrar para Inglaterra. Com outros companheiros de exílio passou à Terceira, pagando as passagens à sua custa, e veio com a brilhante plêiade que acompanhou D. Pedro desembarcar nas praias do Mindelo; tomando parte em todas as ba­talhas e acções da companhia liberal. Em 1832 foi nomeado coronel e em 1833 brigadeiro. Em 1836 foi eleito deputado pela Estremadura, sendo pouco tem­po depois mandado governaria a 7ª divisão militar. Em 5 de setembro foi nomeado marechal. - Recolhido a Lisboa, depois da revolta que na História ficou reconhecida pela Revolta dos Marechais, e, depois de pedir a sua exoneração do governo da praça de Pe­niche, retirou-se para o Minho a tratar dos negócios da sua casa. - Fiel à Rainha tomou parte na revolta chamada «da Maria da Fonte», perseguindo Macdonel e expulsando-o de Braga. Achava-se em Viana quando recebeu ordem de passar a Trás-os-Montes, o que imediatamente cumpriu, escapando-se ardilosamente ao ataque que seus inimigos lhe preparavam, e entrando em Galiza por Sobias, e fazendo uma marcha forçada ganhou num dia aquelas cinco léguas de território espanhol, chegando no mesmo dia a Mixtos, donde passou a Chaves e daí a Vila Real a juntar-se às forças de Saldanha. - O conde de Casal foi Par do Reino, Grã-Cruz de Carlos III de Espanha, Comendador das Ordens da Torre-Espada, de Cristo, de S. Maurício, etc., etc.

 

Vol. 8