Fortaleza das Berlengas
vista da arriba
Aguarela sobre papel
18,5 x 27,5 cm
JX
|
A imponente fortaleza de um ocre avermelhado que a espaços se tinge de uma cor mais intensa, centraliza a composição, conjuntamente com o rochedo de estranha configuração morfológica a que parece estar acoplada. O caminho traçado pelo homem num espaço em que a natureza tudo domina, serve de ponte sobre o mar; prolonga-se para lá de outro imenso penhasco parcialmente visível e já meio encoberto pela sombra que desce do alto morro do farol, espaço virtual que o artista não contemplou no quadro. As rochas, em caprichosas formas, tingem-se, com impressionante realismo, de um vermelho quente com misturas de branco acinzentado, interpenetrando-se uma tonalidade na outra através de quase imperceptíveis veios; laivos de verde de uma vegetação rarefeita cortam a cor dominante.
O artista aplica intensas tonalidades de verdes azulados ao redor dos rochedos e do forte, gerando a sensação de contemplarmos as profundezas marinhas. Manchas brancas de espuma embatem nos recifes numa aparente e enganadora calma. A medida que nos afastamos no espaço, até à linha da costa que mal se adivinha, a tonalidade dominante de azul vai-se gradualmente diluindo. O céu resolve-se numa envolvência de um rosa esfumado com abertas de azul, deixando idênticos reflexos sobre as águas.
O traçado oblíquo da estreita ponte, assim como as pequenas embarcações ancoradas, introduzem uma nota diferente numa composição marcada pelas massas compactas da fortaleza e dos rochedos, estabelecendo um perfeito equilíbrio com a superfície horizontal do mar e do céu.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005