Biografia - por Fernando de Pamplona

Fernando de Pamplona:
DICIONÁRIO DE PINTORES E ESCULTORES
Portugueses ou que trabalharam em Portugal
Livraria Civilização Editora, 2ª Ed, 1988
 
     MARTINS BARATA (JAIME)  - PINTOR CONTEMPORÂNEO (1899-1970), que na aguarela continuou a tradição de Mestre Roque Gameiro, seu sogro, interpretando tipos rústicos plenos de carácter e aspectos majestosos da charneca alentejana, onde abriu os olhos para a luz. Disto dão testemunho as suas expressivas aguarelas «A fatada», soberbo friso de tipos da gleba, «O caçador» (Museu de Arte Contemporânea) e sobretudo «Sonhando com o mar», camponês alentejano com um pequeno barco na mão, a cismar nas lonjuras do oceano que os seus olhos nunca, por certo, enxergaram.
     Aguarelista de larga visão e de tintas impressivas, ele obteve a 1ª medalha em aguarela na Sociedade Nacional de Belas-Artes e o prémio de aguarela do Salão de Lisboa, promovido em 1947 para comemorar o 8º centenário da conquista da cidade aos Mouros. Mas Martins Barata ganhou sobretudo nomeada como autor de vastas composições evocativas de cenas da nossá História. Na Exposição do Mundo Português, em 1940, fez uma série de painéis históricos de boa urdidura e de sentido épico em sua movimentação e flama, nomeadamente os trípticos «Tomada de Lisboa aos Mouros» e «Cerco de Lisboa pelos Castelhanos no tempo do Mestre de Avis», a branco e negro, de largo e poderoso efeito. Os dons de notável compositor e de sugestivo evocador do passado, que neste artista concorriam, tiveram a sua justa consagração nos dois grandes trípticos a óleo executados em 1943 para a escadaria nobre do Palácio de S. Bento, o primeiro deles, «As Cortes de Leiria» (século XIII), do lado da Assembleia da República, com D. Afonso III no trono, rodeado pelos membros da Cúria Régia e pelos procuradores dos concelhos, de trajos sombrios, e nas abas o esplendor cromático do alto clero com suas dalmáticas e da nobreza com suas armaduras e pendões, e o segundo, intitulado «A Indústria, a Agricultura e o Comércio» (século XV), do lado da antiga Câmara Corporativa, com os mesteirais, os artistas, os letrados, os lavradores e seus gados, os mercadores e suas fazendas, os marinheiros e as naus do Norte e do Levante. É um conjunto imponente, no justo agrupamento das figuras, no carácter e vigor das máscaras, na intensa harmonia cromática e sobretudo no largo sentimento plástico que arranca da noite .dos tempos este mundo rumorejante e colorido. Os estudos dos dois trípticos, feitos de maneira exaustiva e escrupulosa e que orçam por algumas dezenas, estão espalhados por vários edifícios públicos.
     Ultimamente, este pintor fez uma notável decoração a fresco alusiva à figura de D. Pedro de Meneses, para o Palácio da Justiça de Vila Real.
 
BIBLIOGRAFIA:
Fernando de Pamplona - «Um século de pintura e escultura em Portugal»
e «Uma obra de arte: a Exposição do Mundo Português» in «Ocidente», Novembro de 1940;
«1ª Exposição de Arte Retrospectiva - 1880 a 1933» (catálogo, 1937).