Biografia - por Màmía Martins Barata

DADOS BIOGRÁFICOS DE  JAIME MARTINS BARATA
 
     Natural do Alto Alentejo, veio ainda criança para Lisboa, onde seguiu seus estudos, terminando-os com o Curso da Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa. Na Escola de Belas Artes fez apenas os exames das cadeiras exigidas por aquele curso.
     Muito cedo se dedicou ao desenho e à aguarela, tendo exposto na Sociedade Nacional de Belas Artes desde os seus 17 anos. Sendo sempre premiado, até à Medalha de Honra. Tem aguarelas suas nos museus do Rio de Janeiro, de S. Paulo e de Madrid, como na posse de muitos particulares.
     Seguindo a carreira de professor liceal, nunca abandonou a pintura, começando a ocupar-se da grande decoração mural na Exposição de Sevilha de 1929. Depois dos dois grandes trípticos da Exposição do Mundo Português, executou outros dois grandes trípticos para a Escadaria Nobre do Palácio da Assembleia Nacional.
 
     Seguiram-se numa intensa actividade, compreendendo pintura religiosa e pintura de evocação histórica, um fresco na Igreja de Santo Eugénio em Roma, outros nas Igrejas de S. Tiago na Covilhã e na do Bom Pastor em Viseu, nos Palácios da Justiça de SantarémPorto, Vila Real, Castelo Branco, Fronteira, OlhãoMontijo, Vila FrancaSeiaGouveiaAveiro e Vila Pouca de Aguiar; e tapeçarias nos de LamegoOliveira do Hospital e Funchal.
     Dedicou-se muito em especial ao autêntico fresco o “Buon fresco” cuja técnica aprofundou com a prática de mais de 400 metros quadrados, executados sempre inteiramente por sua mão sem qualquer ajudante pintor. Destes quatrocentos metros quadrados dizia ele estar convencido serem absolutamente perfeitos, tecnicamente, umas duas dúzias.
     Como Consultor Artístico dos C.T.T. desenvolveu acção muito mais apreciada pela crítica estrangeira do que pela filatelia nacional, por ter chamado a colaborar nas emissões postais muitos dos nossos melhores Artistas modernos, na intenção de dar a conhecer nos nossos selos as variadas tendências actuais da Arte portuguesa, o que entre nós não é compreendido pela maioria filatelista.
     Fez também alguns estudos sobre Arqueologia Naval, dedicando-se principalmente ao século que decorre entre os meados de quatrocentos e os de quinhentosisto éos períodos henriquino e manuelino. Andava a preparar uma publicação quando a morte o levou.
 
Medalha de Oiro dos C.T.T. - 1970 (dias antes do seu falecimento)
 
 
Aos filhos e netos:
     Juntando às notas biográficas de Martins Barata, podemos dizer que a sua bondade foi largamente provada pela boa camaradagem e desejo constante de ensinar. Desde os alunos que passaram pelas suas aulas no liceu, aos serventes que o acompanharam nos seus trabalhos de fresco. A todos se dava inteiramente, no desejo de instruir e ensinar.
     Se muita gente ficou com a lembrança agradável da sua “pintura de cavalete” (os seus modelos alentejanos e as paisagens panorâmicas) poucos são os que acompanharam a sua evolução ou transformação em fresquista decorador de grandes salas. Além dos trípticos da Escadaria do Palácio de S. Bento, que em 1944 causaram justificado furor, depois disso pode dizer-se que foi trabalhando esquecido; no entanto progredindo sempre.
     Ele não cultivava nem lhe interessava a publicidade. E os “Críticos de Arte” como é natural não costumam frequentar os Palácios de Justiça espalhados pelo País.
     Quando em família alguém sentia pena de que não fossem mais conhecidas as suas obras, ele mostrava sempre a mais sincera indiferença: “Eu não pinto para eles...”. Quando muito dizia que talvez um dia se viesse a reconhecer o valor de um trabalho estudado, procurado, esforçado.
     A tortura para se aproximar do que desejava não a tinha ele com uma diminuição de valor, antes pelo contrário. E sofria muito quando trabalhava.