A Loja dos Potes

A Loja dos Potes
(ou das panelas de três pés)
 
Aguarela sobre papel
32,5 x 34,5 cm
c. 1930
     Registo de uma cena do quotidiano, localizada numa pequena loja de aldeia, esta aguarela revela-se de uma infinita delicadeza, quer a nível da concepção das figuras quer do espaço destacado. A composição surge visualmente estruturada em planos, entre os quais se estabelece, por vezes, uma determinada oposição: os potes empilhados fazem parecer mais diminuta a figurinha da criança e a verticalidade desta espécie de pirâmide contrasta com a superfície horizontal do balcão e a das prateleiras.
     A minúcia do desenho reflecte-se na resolução das linhas de alguns dos elementos da composição, levando a que as duas figuras apresentem uma modelação bem conseguida. Entretanto, a imagem ganha profundidade pela menor definição dos objectos que estão inseridos no último plano. Por contraste, avulta a figura da vendedeira, cujo rosto sobressai pela delicadeza das feições.
     A luz incide de um ponto virtual, provavelmente da porta, que não se encontra assi­nalada, e provoca reflexos de luminosidade na superfície de alguns dos potes e no recipiente de cobre. Neste interior, com excepção desses focos de claridade, a luminosidade apresenta-se meio atenuada, insinuando a ideia de tranquilidade para a qual contribui, igualmente, a predominância de matizes de verde e de cinzentos azulados.
Maria Lucília Abreu
in A Aguarela na Arte Portuguesa, ACD Editores, 2008