Volume 7

Vol. 7
 
 História de Portugal, popular e ilustrada - Volume 7:
Da Morte de Clemente XIII (1769)  até ao Regresso de D. João VI (1821)
 

Pág. 5 - Francisco Rodrigues Lobo
Notável escritor português, natural de Leiria, filho de André Lázaro Lobo e de Joana de Brito Gavião, pessoas de nobreza qualificada e favorecida dos bens de fortuna, segundo diz Barbosa. Viveu nos séculos XVI e XVII, ignorando-se pormenores de sua vida, sabendo-se apenas que teve uma morte desastrosa, pois que pereceu afogado no Tejo, quando vinha de Santarém em um barco que naufragou. Entre outros livros notáveis que deixou contam-se: Romances, primeira e segunda parte, 1596, 1654; A Primavera, 1601, 1619, 1633, etc.; As Eclogas, 1605; O Pastor Peregrino, 1608; O Condestável de Portugal, D. Nuno Álvares Pereira, 1610; O Desenganado, 3ª parte da Primavera, 1614; Canto Elegíaco ao lamentável sucesso do Santíssimo Sacramento, 1614; Corte na Aldeia e Noites de Inverno, 1619; La jornada que la magestad católica del Rey Filipe III hijo al reyno de Portugal, etc. 1623; Auto del nascimiento de Cristo y edicto del Emperador Augusto César, 1676; História da Árvore Triste, pequeno poema em oitava rima, que só se imprimiu na Fénix Renascida; Canção em louvor de Fr. Bernardo de Brito, etc. O retrato que aqui damos é cópia do que acompanha a edição original da Corte na Aldeia.

Pág. 8 - Santa Maria do Castelo, em Tavira
Esta igreja era, em tempos remotos, mesquita-mor de Mouros, que, depois da tomada de Tavira, D. Paio Peres Correia fez benzer, para nela serem enterrados seis bravos cavaleiros, que tinham perecido numa escaramuça entre os infiéis. Também ele quis ser aqui enterrado, e assim o dispôs no seu testamento. Morrendo no mosteiro de Velez (outros dizem Uclés) em Espanha, cabeça do mestrado da ordem de S. Tiago, da qual era grão-mestre, a 10 de fevereiro de 1275, foram seus ossos conduzidos para esta igreja de Santa Maria. Estão em um caixão de pedra no altar-mor, do lado do Evangelho; adiante reproduzimos a lápide indicativa da sua última jazi­da. Do lado da Epístola, está uma lápide, embutida na parede, com 6 cruzes vermelhas, indicando o lugar em que D. Payo mandou sepultar os seis cavaleiros a que nos referimos. À entrada da capela-mor está um carneiro, contendo os ossos do alcaide-mor José Félix da Cunha. O terramoto de 1755 apenas deixou de pé a capela-mor desta igreja, que ainda hoje, em sua gótica arquitetura, denota a sua antiguidade. O benemérito bispo do Algarve, Francisco Gomes de Avelar, a mandou reedificar com a maior magnificência. É um templo majestoso, de três naves, muito claro. A área da freguesia de que Santa Maria é a sede estende-se a 18 quilómetros para as bandas da serra.

Pág. 9 - Padre Gabriel Malagrida
O muito que à cerca deste desgraçado jesuíta diz M. Pinheiro Chagas no vol. 6° da nossa edição da História de Portugal dispensa-nos maiores referências à sua triste individualidade, devendo nós apenas indicar que o retrato que aqui damos é copiado de uma gravura em medalhão existente na Biblioteca Pública de Lisboa contendo os retratos de três jesuítas.

Pág. 12 - Castelo de Portel
O castelo de Portel, com a sua cerca de muralhas, está no ponto mais elevado da vila, tendo no seu recinto os velhos paços dos duques de Bragança, fundados em 1547 pelo duque D. Teodósio I, outras casas importantes e uma torre de mármore, que se julga ser obra de D. Diniz.

Pág. 13 - Pedro Barbosa
O varão famoso, cujo retrato, copiado de outro que existe na Biblioteca Pública de Lisboa, aqui reproduzimos, foi cognominado Insigne e teve por berço Viana do Minho. Foi um notável jurisconsulto que floresceu na segunda metade do século XVI e chegou ainda aos primeiros anos do século XVII, pois faleceu em Lisboa a 19 de junho de 1600. Coube à Universidade de Coimbra a glória de conferir-lhe o grau de doutor e, mais tarde essa mesma Universidade ufanava-se de possuir entre os seus mais abalizados professores Pedro Barbosa, que ali foi lente de prima e proficientemente regeu a sua cadeira durante muitos anos. A sua profunda erudição em todos os ramos de jurisprudência valeu-lhe o epíteto com que o tratavam de segundo Papiano. Escreveu em latim vários volumes acerca do direito civil, assim como judiciosos Comentários e vários títulos de Registo, obra de que o célebre padre Teófilo Reinaldo fala com grande louvor nas suas Taboas Chronologicas. Pedro Barbosa foi desembargador do paço nos reinados de D. Sebastião e do cardeal D. Henrique. Che­gou mesmo a ocupar o importantíssimo cargo de chanceler-mor do reino; e, depois mesmo de avassalada a autonomia da pátria perante as hostes castelhanas, o próprio Filipe II por tal forma reconheceu e apreciou o merecimento distintíssimo de Pedro Barbosa, que, apesar de o saber adverso à sua pessoa, nem por isso hesitou em convidá-lo a ir para Castela, nomeando-o ministro de Portugal naquela corte. Barbosa, porém, é que não contemporizava nem transigia em questões de honra e de justiça; para ele o rei de Castela colocando na cabeça a coroa de Portugal, reduzia-se a um astucioso usurpador: coisa nenhuma havia que lhe fizesse perder esta ideia nem expandir opinião em contrário. A integridade de ca­rácter e a firme coragem deste homem notável exemplifica-se bem com o seguinte: Quando Filipe II faleceu, vieram participar a Pedro Barbosa que el-rei tinha entregue a alma ao Criador dando todas as demonstrações dos mais piedosos sentimentos. - «E a coroa de Portugal? replicou ele, mandou porventura sua majestade que a restituíssem a quem de direito pertence?»

Pág. 16 - Lapide de D. Paio Peres Correia
Graças à amabilidade dum nosso solícito correspondente em Tavira, o sr. José Maria dos Santos, temos o prazer de dar aqui esta curiosa antiqualha reprodução duma excelente fotografia, que por aquele cavalheiro nos foi enviada. O túmulo existe na igreja de santa Maria do Castelo, naquela cidade, como na 1ª coluna da pág. precedente fica dito.

Pág. 17 - Torre de S. Roque
Reproduzimos duma colecção de seis gravuras muito curiosas e muito raras publicada em 1757, esta bem como as restantes cinco, interessante estampa, que nos dá a ideia flagrante do estado de ruína a que o terramoto de 1755 reduziu os melhores monumentos de Lisboa dos séculos XVII e XVIII. Intitula-se assim esta série de estampas, da qual a qual aqui apresentamos é a primeira: Colecção de algumas ruínas de Lisboa causadas pelo terremoto e pelo fogo do primeiro de Novembro do ano de 1755, debuxadas na mesma cidade por MM. Paris et Pedegache e abertas ao buril em Paris por Jac. Ph. Le Bas (Recueil des plus beles ruines de Lisbonne causées par le tremblement et par le feu du premier de Novembre de 1755. Dessine sur les hhux par MM. Paris et Pedegache. Et gravé à Paris par Jac. Ph. Le Bas, premier Graveur du Cabinet du Roy em 1757).

Pág. 21 - Frei António Brandão
Foi um dos governadores da Índia. Quanto à autenticidade do retrato que apresentamos veja-se o que, a pág. 609 do vol. 6º dissemos de outro gover­nador da Índia, D. Francisco Coutinho.

Pág. 24 - Igreja de Nossa Senhora da Graça
É copiada do livro inédito de Luiz Gonzaga Pereira, livro já citado no anterior volume da nossa História, Descripção dos Monumentos Sacros de Lisboa a estampa que aqui damos deste magnífico templo da capital. O convento dos religiosos eremitas de Santo Agostinho, que mais tarde vieram instalar-se neste edifício, foi primitivamente fundado junto ao almocavar (cemitério) mourisco, próximo das Olarias e depois no monte de S. Gens, actualmente conhecido pela simples denominação de Monte. Em 1271 é que foi este mosteiro mudado para o sítio onde se edificou a igreja que a nossa gravura representa. Até 1305 se chamou convento de Santo Agostinho, e desde então, da Graça. A igreja antiga caiu, e a nova foi fundada por frei Luiz Montoya, reformador da ordem, lançando-lhe a primeira pedra o bispo D. Frei Ambrósio Brandão, em 9 de março de 1550, concluin­do-se em 1565. A igreja é sumptuosíssima e dos melhores templos de Lisboa e de todo o reino. Tanto a igreja como o edifício do mosteiro sofreram muito com o terramoto de 1755, sendo a igreja reconstruída no fim do século XVIII, com a grandeza e magnificência que hoje ali se admira, sendo um dos templos mais claros e alegres de Lisboa.

Pág. 25 - D. Jerónimo Osório
Motivos alheios à vontade de quem dirige esta publicação deram lugar à saída na nossa História deste retrato, reprodução de outro já publicado numa edição da mesma História, e que é apenas resultante da fantasia do autor do desenho. Mais adiante encontra o leitor, a quem pedimos desculpa da involuntária falta, o retrato do ilustre bispo de Silves, cópia do autêntico existente na Biblioteca Pública de Lisboa.

Pág. 28 - Igreja de S. João da Cruz
O convento de S. João da Cruz em Carnide, termo de Lisboa, pertencia à ordem dos Carmelitas e foi fundado em 1681. Por ocasião da guerra civil de 1833, os religiosos abandonaram-no, refugiando-se nos que a ordem possuía dentro da cidade de Lisboa donde saíram em virtude do decreto que extinguia as ordens religiosas em 1834. As capelas eram da invocação de Nª Senhora e S. João da Cruz, cujas imagens passaram para a igreja de Santa Teresa de Jesus, também existente em Carnide. Depois da extinção das ordens religiosas, foi este convento vendido a um particular, que o secularizou, achando-se actualmente em grande decadência. A estampa que aqui damos é reproduzida da preciosa colecção intitulada Descripção dos Monumentos Sacros de Lisboa, por Luiz Gonzaga Pereira, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 29 - Fr. Leão de S. Tomás
É copiado dum retrato existente na Imprensa da Universidade de Coimbra, o que aqui damos deste ilustre Conimbricense, que foi lente de prima naquela Universidade, e que viveu no século XVII. Faleceu em 1661.

Pág. 32 - Túmulo da mulher do Almirante Cogominho
Não é, como por lapso se diz na epigrafe que acompanha a gravura, da mulher do Almirante Cogo, mas sim duma princesa portuguesa, filha de D. Pedro I, o túmulo que a nossa História reproduz e que existe, com o outro a que se refere a epigrafe (daí a confusão), nos claustros da Sé de Lisboa.

Pág. 33 - Ruínas da igreja de S. Paulo, em 1757
É esta a segunda das estampas da Colecção de algumas ruínas de Lisboa, etc., a que acima nos referimos.

Pág. 37 - Frei João da Silveira
Foi um dos mais célebres teólogos portugueses, nasceu em Lisboa a 3 de agosto de 1592, vestiu o hábito de carmelita calçado no convento de Setúbal em 1611, estudou no colégio de Lisboa e professou em seguida ciência escolástica em Lisboa e Évora. Entregou-se com afinco ao estudo e exegese da Escritura, e tornou-se tão exímio nessa especialidade, pelo menos debaixo do ponto de vista do seu tempo, que granjeou fama estrangeira, e a tal ponto que vinham de fora visitantes para o verem e admirarem. Escreveu muitos livros em latim, e todos eles notáveis pelas subtilezas teológicas de que vem recheados. O retrato que aqui damos do famoso teólogo é cópia de um que existe na Biblioteca Pública de Lisboa.

Pág. 40 - Convento do Carmo, em Santos, Brasil
É este um dos mais belos edifícios da importante cidade do Brasil, e fundado ainda no tempo em que aquela República era domínio colonial dos Portugueses. Se bem nos lembra é naquela igreja que estão depositados os restos mortais do patriarca da Independência do Brasil, o famigerado José Bonifácio de Andrade e Silva.

Pág. 41 - António Paes de Sande
Governador da Índia, nasceu em Estremoz e logo em 1643 começou a servir com as armas a sua pátria, militando na guerra da Restauração e distinguindo-se muito no assalto de Badajoz e na tomada de Vila Verde, etc. Nomeado governador de Monção, passou depois a provedor das armadas do reino, e em 1666 foi despachado secretário-geral do Estado da Índia. Doze anos exerceu esse cargo, sendo encarregado sucessivamente da vedoria da fazenda, provedor no lugar de guarda-mor da Ribeira e nomeado conselhei­ro do Estado. Tendo resignado em 1678 o governo da Índia o conde de Assumar, abriram-se as vias de sucessão, e encontraram nomeados o arcebispo Fr. António Brandão (cujo retrato damos a pág. 21) e o chanceler Dr. Francisco Cabral. Este morrera; tomaram conta os dois do governo e tendo falecido o bispo daí a meses, ficou governando o estado António Paes de Sande até 1681, ano em que entregou o governo ao seu sucessor partindo para a Europa e sendo nomeado em Portugal conselheiro Ultramarino. Em 1685 foi nomeado governador do Rio de Janeiro, cargo que exerceu até à morte, que ocorreu em 1695. Veja-se, para justificar a autenticidade deste retrato, o que a pág. 609 do 6° vol. da História dizemos acerca de D. Francisco Coutinho.

Pág. 44 - Palácio do conde de Aveiras
Copiou-se do livro de Camilo Castelo Branco, Perfil do Marquês de Pombal, onde, por sua vez, fora copiado do livro de Colmenar Delícias de Portugal, a gravura que aqui damos e que representa o palácio onde estava o Páteo dos Bichos, donde saíram para o patíbulo os Távoras e os outros implicados na tentativa de regicídio contra D. José. Este palácio foi comprado por D. João V, por 200.000 cruzados, ao 3º conde Aveiras João Tello de Menezes, e está hoje transformado no conhecido palácio real de Belém.

Pág. 45 - Manuel de Azevedo Fortes
damos deste célebre escritor militar; que nasceu em Lisboa em 1660. Indo para Madrid, quando contava dez anos de idade, aí estudou humanidades no colégio imperial, depois frequentou filosofia na Universidade de Alcalá de Henares e passando a França, estudou de novo filosofia, teologia e matemática no colégio de Plessis. Em concurso obteve a cadeira de filosofia na Universidade de Jena, e depois de a ter regido por espaço de seis anos, voltou a Portugal, onde lhe foi dada a patente de capitão de infanteria e o lugar de substituto na cadeira de matemática na aula da Ribeira das Naus. Sendo tenente do mestre do corpo general, passou a ocupar o posto de coronel e governador da praça de Castelo de Vide e de engenheiro-mor do reino por patente de 23 de setembro de 1710. Dirigiu várias obras nas praças de Campo Maior, Elvas, Olivença, Extremoz, Juromenha e Arronches, e delineou uma nova praça de guerra na Beira Baixa. Foi um dos primeiros cinco académicos da Academia Real de História, e deixou impressas várias obras sendo de todas a mais notável a que se intitula O Engenheiro Português. Tendo António do Couto Castelo Branco censurado essa obra nas Memórias Militares, Azevedo Fortes respondeu com um livro, a que deu o título de Evidência apologética e crítica sobre o 1º e 2º tomos das Memórias Militares. Morreu a 28 de março de 1749.

Pág. 48 - Báculo dos Arcebispos de Évora
Ao ver-se este precioso monumento artístico, reconhece-se imediatamente esse povo que produziu os Lusíadas, os Jerónimos e a soberba custódia de Belém. É esta obra-prima da ourivesaria portuguesa feita de prata dourada (silver-gilt, como dizem os ingleses, ou vermeil, como se exprimem os franceses) e ornada de pedras ricas de variadas cores. Altura 0,4m. A parte inferior é cilíndrica, toda canelada e acaba por um braço de fuste em prisma hexagonal, terminando superior e inferiormente por um grupo de molduras, próximo das quais se veem ao todo doze pedras preciosas engastadas em duas ordens, e em cada face do prisma. Tem seis baixos-relevos separados por ornatos e representando figuras de fantasia em diversas posições. Por cima desta parte guarnecida de folhagens e de baixos-relevos, acha-se sobreposta uma espécie de torre ou templo gótico, composto de dois andares, o inferior de maior circunferência, e o superior concêntrico com o maior. Tanto a parte inferior como a superior do templo constituem arcadas ogivais rematadas por folhagens caprichosas. Junto à coluna central, há seis estatuetas representando os quatro evangelistas e dois apóstolos todos ajoelhados. As figuras do templo superior estão em pé e representam apóstolos e profetas. Um pouco mais acima começa a coluna que superiormente vai formar a arcada no meio da qual se vê a imagem da Virgem. Pertence este báculo ao puro estilo gótico florido, na qual a arquitectura tem sempre o primeiro lugar em quase todos os objectos de arte daquela época.

Pág. 49 - Estampa alegórica à inauguração da Estátua Equestre
Esta é a sexta e última das estampas que formam a colecção intitulada Factos memoráveis relativos à administração do grande Marquês de Pombal, etc. É, como as outras, desenho de Sendim, e na epigrafe que a acompanha lê-se: «O escultor Joaquim Machado de Castro apresenta ao Marquês de Pombal o modelo da Estátua Equestre, merece os elogios de tão distinto ministro, e a sua obra a approvação do Soberano. Encarregado o artista de executar o famoso monumento, em cinco meses o completou em Lisboa, fundida de um só jacto pelo célebre Bartolomeu da Costa. Nem um só artista estrangeiro concorreu para que fosse realizada

Pág. 53 - Agostinho Barbosa
De um retrato existente na Biblioteca Pública de Lisboa mandámos copiar este do distintíssimo jurisconsulto português Agostinho Barbosa, nascido em Guimarães em 1500 e filho de Manuel Barbosa, jurisconsulto também notável. De tenros anos ainda começou a mostrar o que valia, publicando aos vinte e um de idade o seu Dictionarium Lusitanico Latinum (impresso em Braga em 1611), obra a que o padre Bento Pereira no seu Thesouro da Lingua Portuguesa não hesitou em chamar o mais copioso de todos os nossos vocabulários. Matriculando-se na Universidade de Coimbra, aí desfrutou sempre grandes créditos de estudante aplicado e inteligentíssimo; e, ordenando-se, recebeu o grau de bacharel em ambos os direitos. Mas o insaciável desejo de ilustrar-se cada vez mais não lhe consentia contentar-se com o que lera e aprendera no seu país. Agostinho Barbosa foi visitar as principais Universidades da Europa, e, se nelas encontrou muito que aprender, nelas mostrou igualmente muito em que se fazer admirar pela sua profunda erudição. Quando rebentou a revolução de 1640, Agostinho Barbosa, pouco afeiçoado ao Duque de Bragança, foi definitivamente estabelecer-se em Roma, onde já dantes havia residido algum tempo, e aí, dedicando-se especialmente aos misteres eclesiásticos cujas ordens tomara antes de se formar em cânones, teve afinal a honra de ser escolhido para bispo de Ughento em Nápoles, onde morreu em 19 de novembro de 1649. Escreveu vários livros, quase todos em latim, sobre jurisprudência, e um, em espanhol, acerca de S. Filipe Nery.

Pág. 56 - Igreja da Penha de França
Foi fundada a ermida primitiva da Penha de França por António Simões, escultor lisbonense, em 1578, em uma quinta que para este fim fora doada por Afonso Torres de Magalhães e sua mulher, D. Constança de Aguilar, em 1595. Em 1601 fez o fundador doação da ermida aos eremitas de Santo Agostinho. Os domínicos opuseram-se a esta doação, havendo litígio, no qual ficaram vencedores os de Santo Agostinho que logo em 1603 começaram a fundação do mosteiro, principiando o senado em 1607 a obra da capela-mor para cumprimento dum voto. A construção da igreja concluiu-se em 1625, e assim se conservou até 1754 em que foi restaurada; mas logo no ano seguinte de 1755 o terremoto a reduziu a um montão de ruínas, ficando esmagadas sob as suas abóbadas mais de 300 pessoas que assistiam à festa de Todos os Santos. Em 1758 já o templo estava reedificado, pelo concurso simultâneo da munificência de D. José e do segundo marquês de Marialva e dos donativos dos mareantes e devotos do Senhor da Penha. Junto à sacristia há a chamada casa dos milagres, onde se veem curiosíssimas joias recordando os milagres atribuídos à imagem da Virgem que ali se venera.

Pág. 57 - Francisco de Távora
O vice-rei Francisco de Távora, conde de Alvor, sucedeu ao governador António Peres de Sande em 1681, até 13 de dezembro de 1686. Para justificação da autenticidade do presente retrato, veja o leitor o que a propósito de outro governador da Índia, D. Francisco Coutinho, dizemos a pág. 609 do 6º vol. desta nossa edição da História.

Pág. 60 - Edifício dos Loyos, em Évora
Foi fundado por D. Rodrigo Afonso de Mello, 1° conde de Olivença, lançando-lhe a primeira pedra o mesmo conde, a 6 de maio de 1485. Morrendo o conde de Olivença em 25 de novembro de 1481, deixou em seu testamento que sua filha concluísse a obra e dotasse o convento com as rendas necessárias. Sua filha única, D. Filipa de Mello e o marido desta, D. Álvaro, 3º filho de D. Fernando 1º, segundo duque de Bragança, concluíram a obra. Aqui jazem os fundadores (o conde e a mulher) e outros muitos membros desta família. Desde 1834 até há poucos anos esteve a igreja fechada. Os duques de Cadaval tomaram conta dela, restauraram-na e ali têm um capelão. O convento é hoje propriedade particular. A primeira missa que se disse nesta igreja foi a do galo em 24 de dezembro de 1491. Os fundadores (condes de Olivença, marqueses de Ferreira e hoje duques de Cadaval) tinham dado isto aos religiosos, com a cláusula da reversão. É hoje dos senhores duques do Cadaval. Há na igreja luxuosas campas, sendo algumas de bronze, com ricos relevos, que foram à exposição de Paris em 1867, sendo aí muito admiradas.

Pág. 61 - Fr. Agostinho de Santa Maria 
Pregador, natural de Lisboa; professou na ordem da Trindade no convento de Santarém em 1705, foi lente de teologia e protonotário apostólico. Tornou-se notável pelos seus sermões e também pelo seu talento de poeta latino e improvisador. Publicou dois sermões: o da Senhora da Quietação e o de acção de graças pela celebração de um capítulo provincial da Trindade em Lisboa e panegírico fúnebre da condessa de Pontével, a Grinalda de várias flores, livro composto em louvor de Benedito XIII, quando ele subiu ao sólio pontifício. Morreu em 1730 deixando manuscritos uns comentários latinos ao cântico Nunc dimittis. O retrato que aqui damos é copiado de outro a óleo, em meio corpo, medindo 104x78, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 64 - Antiga casa da Câmara, cadeia e pelourinho de Leiria
À amabilidade do sr. Tito Benevenuto Lima de Sousa Larcher devemos o prazer de dar a reconstituição de um trecho da praça de Leiria, como ela era ainda em meados do século XIX. O pelourinho já desapareceu, e a casa da câmara, onde esta funcionava desde o século XV, acha-se completamente modificada. O desenho sobre o qual foi feita a nossa estampa foi delineado pelo sr. Larcher, sob as indicações e referências de pessoas de mais idade daquela cidade.

Pág. 65 - Ruínas da Basílica da Sé, em 1757
É a reprodução da 2ª gravura da colecção publicada em 1757 por Jac. Ph. Le Bas, e à qual já anteriormente (pág. 598) nos referimos quando falámos da Torre de S. Roque, reproduzindo-lhe o título por extenso.

Pág. 69 - Fr. Francisco de Mendonça
Existe na Biblioteca Pública o retrato donde foi copiado o que aqui damos deste famoso jesuíta. Nasceu em Lisboa em 1503. filho de D. Álvaro da Costa, armeiro-mor de D. Sebastião. Apesar da oposição da família, vestiu a roupeta aos 11 anos, foi professor nos colégios de Lisboa e Coimbra e recebeu o grau de dr. em teologia na Universidade de Évora em 1607, trocando então o nome de Francisco Costa pelo de Francisco de Mendonça. Posteriormente foi lente da Sagrada Escritura nessa Universidade, governou os colégios de Coimbra e Évora, foi eleito procurador-geral à corte de Roma em 1625 e regressando da capital do mundo católico, adoeceu em Lvão e aí morreu em 3 de junho de 1626. Deixou publicados: Commentarios à Sagrada Escritura, escritos em latim, e vários Sermões coligidos em dois volumes.

Pág. 72 - Frontaria do convento do Carmo, antes de 1755
Reprodução de uma gravura feita em 1745. Representa a fachada que deitava para o lado do Rossio. Para que a cópia fosse em tudo fiel, foram-lhe conservadas as figuras que nela se veem, e entre as quais o artista representa o condestável D. Nuno Álvares Pereira, no traje de religião. Esta e outra gravura que damos a pág. 80 deste mesmo volume completam-se.

Pág. 73 - Francisco Xavier Ribeiro dos Santos
Foi feito sobre uma lindíssima miniatura que muito obsequiosamente nos facultou uma neta do retratado a gravura que aqui damos deste personagem que algum tanto figurou na cena política portuguesa no tempo do marquês de Pombal de quem era amigo. Foi desembargador, e primeiro juiz de fora de Oeiras.

Pág. 76 - Coimbra, convento de S. Tomás
Foi começado no reinado de D João III e era destinado aos religiosos que quisessem cursar as aulas da Universidade. Acerca dele escreve Bernardo de Brito Botelho na História breve de Coimbra o seguinte: «O Colégio de Santo Tomás da Ordem de S. Domingos, foy fundação d'El-Rey D. João III. Sua habitação teve princípio no ano de 1566. He por dentro um lindo, e perfeito Colégio, com gravíssima aula, que de continuo he ornada com gravíssimos, e doutos Mestres, Doutores, e Collegiaes, que nele se crião, e tem criado para ornato das Mitras, e supremo Concelho do Santo Ofício». O pórtico de entrada do convento de S. Tomás, que ainda hoje ali se vê, embora bastante deteriorado é um belo espécimen do século XVI duma delicadeza extrema nos ornatos. Já demos dele duas gravuras, uma a pág. 117 do 3º volume da História e outra a pág. 377 do 4º volume. A igreja, que hoje já não existe, continha um Cristo que a tradição asseverava ter assistido no Santo Ofício aos juramentos dos réus. Está hoje na capela particular do rev. Simões Dias, em Coja. Havia lá também dois formosos retábulos de altar, em pedra, com pintura policrómica, e estofamentos de oiro, que representavam um a Virgem, tendo aos lados seis figuras, que eram seis frades da Ordem de S. Domingos e o outro S. Gonçalo. Aquele esteve há anos em Lisboa. O que representa S. Gonçalo está hoje no Museu do Instituto de Coimbra e pertence ao erudito amador de arte dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho. Ao lado direito da capela-mor da igreja jazia Fr. Luiz de Sotto-Mayor, dominicano, cujo epitáfio vem na História de S. Domingos, na Vida de Fr. Bartolomeu dos Martyres e na pág. 48 do volume 6º da nossa História, onde publicámos a gravura do singelo monumento que encerra as cinzas do grande teólogo. O claustro, que ultimamente foi restaurado pelo actual possuidor o sr. conde do Ameal, que projecta fazer do convento um sumptuoso palácio, é um bom espécimen no género, com ornatos arquitetónicos e imagens de santos em alto relevo. Antes de pertencer àquele titular, o convento de S. Tomás foi habitado pela família do nosso colaborador artístico dr. Vale e Sousa que em 1890 tirou o desenho que hoje publicamos e onde se vê uma parte do edifício que está inteiramente substituído. Ao lado direito desse desenho vê-se um trecho do jardim do convento a que se refere o sr. A. Forjaz na notícia que publicou no Instituto, vol. 10, pág. 60, acerca do grande orador Fr. António José da Rocha. Diz assim este escritor: «Quem hoje atravessar a rua de Santa Sophia, observará, do lado do rio, junto aos casarões que foram colégio de S. Tomás, um pouco de arvoredo, e mostras de terreno ajardinado. Aí, repartindo com as flores o culto que votava às letras, reunia frequentemente o amável dominico Fr. António José da Rocha, seus muitos amigos; os quais gozavam, por ele e com ele, a formosura do sítio e mais que tudo a doce suavidade da conversação do philosopho». No convento de S. Tomás esteve instalada a Junta Governativa do distrito de Coimbra, sob a presidência do dr. José Alexandre de Campos, por Ocasião da guerra da Patuleia ou da Maria da Ponte. Num celeiro deste convento reuniu-se uma associação secreta, o Grupo dos 13, composto de estudantes, e que se constituiu com o fim de empalmar o governador civil Zé Pereira. É interessante o que a este respeito reza Trindade Coelho no seu livro In illo tempore.

Pág. 77 - D. Rodrigo da Costa
Sucedeu no governo da Índia ao vice-rei D. Francisco de Távora, conde de Alvor, em 1686. Governou até 23 de junho de 1690. Faleceu em Goa, sendo sepultado fora da capela de S. Francisco Xavier na igreja do Bom Jesus. Veja-se acerca da autenticidade deste retrato o que fica dito pág. 609 do 6° volume, quando tratámos de D. Francisco Coutinho.

Pág. 80 - Frontaria da Igreja do Carmo, antes de 1755
Foi feita no ano de 1745 a gravura que serviu de modelo à que aqui damos, e representa a fachada do convento que deitava para o largo. Nela se vê representado o condestável D. Nuno Álvares Pereira no seu traje de guerra. Veja-se o que dizemos da outra estampa que representa a fachada do mesmo convento que deita para o Rossio.

Pág. 81 - Tumultos no Porto, nos fins do século XII
No capítulo XXIV (págs. 494 e segs.) do 6° volume da História se encontram minuciosamente descritos os pormenores dos terríveis tumultos de que a nossa estampa representa um dos episódios.

Pág. 85 - Francisco Xavier de Mendonça Furtado
Nasceu em 4 de setembro de 1700 este irmão do célebre Marquês de Pombal, durante cujo governo exerceu um importante papel na política portuguesa. Faleceu em Vila Viçosa em 1709. O retrato que aqui damos é copiado de um a óleo existente no palácio dos Marqueses de Pombal, em Oeiras.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

Pág. 88 - Praça do Geraldo
É esta praça a mais vasta e formosa da cidade de Évora. Como no século XVI, como diz o sr. A. F. Barata, a quem vamos seguindo, ainda hoje dela derivam oito ruas das principais. De tal modo tem esta praça figurado na história municipal e política do país que bem é se diga dela alguma coisa para os menos sabedores de antiguidades eborenses. Sem remontar a tempos anteriores ao domínio português, ao dos árabes, e mais retiradamente ao dos romanos tempos em que já existia, recordaremos que depois da morte de D. Fernando, um dos dois maridos de D. Leonor Teles, quando o reino se bandeara por ela e pelo mestre de Aviz e quando os seguidores de um e de outro pendão se digladiavam, nesta cidade, nesta praça, foi que a desventurada Abadessa de Castris, D. Joana Peres Ferreira, aparentada da regente viúva do rei formoso, foi morta cruelmente pelo povo, que seguia a causa mais simpática do bastardo de D. Pedro I. - Temendo agressões dos tumultuários do Mestre fora dos muros da cidade, onde era o mosteiro, recolhera a sua casa que a Ordem tinha a Freiria de Cima, não cuidando a abadessa que tal passo era, precisamente, o que dava para a morte. Provocara, sem o pensar, as iras popu­lares. - Em 1409, nas cortes de Lisboa, ordenara-se a fundação de Estáos, casas próprias para aposentadorias do rei e da sua corte; e, pouco depois, a Évo­ra se concedeu o mesmo direito, fundando-se os Estáos nesta praça, no sítio em que, no ano de 1830, se fundou, sobre as ruínas daqueles Estáos a casa do comendador J. M. de Sousa Mattos. Desses Estáos assistiam os reis às corridas de touros nesta praça. - Entre os anos de 1491 e 1513, a impulso patriótico do cidadão Joanne Mendes Cecioso, foi fundado o edifício dos Paços do Concelho hoje postos de parte, como de parte se pusera então o que demorava no sítio da primeira Sé, onde hoje existe a Biblioteca Pública, fintando-se para isso o povo, designado em carta de D. Manuel de 22 de julho de 1513, com 30 reis por pessoa, que segunda vez se pediram por não ser suficiente a soma da primeira cobrança. Ali ordenara o rei que fossem postas as armas dos Ceciosos, actualmente perdidas. - Retrocedendo cronologicamente, nesta praça foi degolado o du­que de Bragança, D. Fernando II, em 20 de julho de 1483, ao brado do pregão real de D. João II, o per­seguidor de nobres, que quisera ver no duque um traidor à fé jurada, se não uma vítima inocente dos erros de seu progenitor, o primeiro duque de Bragança, que arrastara a um acabamento desgraçado e vergonhoso em Alfarrobeira a seu avô materno, o glorioso duque de Coimbra. - Defronte da casa, cuja loja tem a papelaria Franco & Souza, e que em 1483 era habitada por Antão Vaz dos Baraços, cortara a cabeça ao duque um saião mascarado. No patíbulo, erguido de noite e prolongado até à casa referida, onde o duque entrara depois da meia-noite, levado dos paços do conde de Olivença, hoje da casa Cadaval, desafrontou a realeza o seu absolutismo, ostensivamente ultrajado, que obscuro é o ponto na história. - E os sinos da velha igreja de Santo Antão, no seu dobrar a finados, levaram ao rei sanguinário a nova triste para muitos e jucunda para ele. - E, pois, que tocámos na velha igreja de Santo Antão, diremos que a nova, a actual, foi mandada construir pelo cardeal D. Henrique, primeiro Arcebispo de Évora, entre os anos de 1558 a 1583. - Nesta obra desgraciosa consumira o futuro rei de um momento, passante de 70.000 cruzados. Do mau gosto artístico do arquiteto, se foi Manuel Pires, apenas existe no templo uma formosa escada helicoidal, ou de caracol, vazada de peão, como semelhante só tem Évora outra no arruinado palácio ao fundo da rua de Alçonchel, embora de curta extensão, fundado em 1500. - E digno de menção neste templo só há mais o frontal de mármore do altar-mor, possível aproveitamento do que fora da igreja mozárabe, que houve nesta cidade. Representando o Apostolado em alto relevo de incipiente lavor e desenho, deve ser conhecido, como raro monumento da escultura, no princípio da monarquia ao sul do Tejo. - A fonte pública ou chafariz é obra do mesmo cardeal D. Henrique, para a feitura da qual D. Sebastião dera licença. - A taça, de uma só pedra, mede 51 palmos em circunferência, e oferece água da Prata aos habitantes das oito ruas por outras tantas carrancas de bronze; - Era este chafariz, sem dúvida notável, cercado de guardas de cantaria, não desgraciosas, das quais só pode fazer ideia a gente moça por uma pintura a fresco que o re­presenta num tecto de uma sala da Casa Pia. - Deplorável foi que para colocar ali este chafariz o Cardeal mandasse derribar até aos fundamentos o formoso Pórtico romano, que ali existia, que abrangia a praça com seus três arcos, e se elevava a grande altura nas suas três ordens de colunas, algumas das quais a tradição diz terem sido empregadas no Colégio da Companhia, e no Convento de S. Francisco. Corre também na voz da tradição que só correra água nesta praça das bicas deste chafariz; mas, crendo-se romanos os três leões de mármore ainda existentes, dois no chafariz, que deles tem o nome, e um no Rossio da cidade, de crer é que fizessem parte da obra romana demolida, e que, portanto, ali tivesse jorrado a água da Prata em tempos antigos, como em volta do templo, dito de Diana, grandes tanques a recebiam também.

Pág. 89 - Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras
Construíram este palácio Francisco Xavier de Mendonça Furtado e Paulo de Carvalho Mendonça, irmãos do grande Marquês de Pombal. Tem quatro fachadas uma, a da entrada principal, que é flanqueada por dois pavilhões, deita para um grande pátio, duas caem sobre dois jardins e a última sobre a rua pública. As cavalariças e cocheiras ficam separadas do corpo central. Fez a planta e dirigiu as obras do palácio o arquiteto Carlos Mardel, natural da Hungria, que veio para Lisboa em 1753 e aqui morreu em 1763. O palácio tem ricas decorações exteriores, nas duas frontarias que olham para os jardins. Interiormente encerra belas salas; uma capela, bem ornada; várias obras de arte, de muito merecimento; e alguns objectos históricos, sendo os mais notáveis um painel de S. Francisco pintado por Ticiano, vários quadros originais de Vanloo, os painéis da capela feitos por André Gonçalves, um painel de Santo António copiado do original que está em Roma e se julga ser o retrato do taumaturgo. um quadro com os retratos do primeiro marquês de Pombal e de seus dois irmãos, Francisco e Paulo, de mãos dadas, e cercados da letra concórdia fratrum, que se julga ser produção de D. Joanna Inácia Monteiro de Carvalho, natural de Lisboa, onde adquiriu bem merecida fama de retratista insigne e chamada vulgarmente Joanna do Salitre, por morar aí, o primeiro modelo em cera do retrato de D. José I, obra do célebre Joaquim Machado de Castro, um magnífico presépio de marfim e madrepérola, duas estátuas de mármore, representando Alpheu e Arethusa, desenhadas pelo mesmo Machado, e esculpidas por João José Elveni e Francisco Leal Garcia, discípulos do famoso estatuário romano Alexandre Giusti, dois baixos-relevos em prata, alegorias do reinado de D. José I, um retrato em miniatura do pontífice Clemente XIV Ganganelli, oferecido por ele ao Marquês de Pombal, um anel de camafeu, que estava vinculado, representando o mesmo pontífice, a escrivaninha de que se serviu D. José quando habitou naquele palácio, e, finalmente, diversos móveis do uso de Sebastião José de Carvalho e Mello. Tem também o palácio uma boa livraria, que encerra alguns manuscritos raros. Pelas duas frontarias mais nobres do palácio, correm os jardins plantados no gosto antigo, mas ainda assim, belos e adornados com boas estátuas de mármore. Os objectos mais notáveis desta quinta são a cascata dos poetas e a adega e porta ajardinada. A cascata apresenta um lindo efeito, pela sua construção original, pelas obras de arte que a decoram e pelo dossel de verdura com que a cobrem árvores gigantescas muito famosas. A adega é a mais sumptuosa oficina deste género que existe no país. É um grande edifício de dois andares, sendo o primeiro para adega e o segundo para celeiro. A fachada principal é, como palácio, adornada com doze bustos de imperadores romanos, maiores que o natural, esculpidas em mármore de Carrara e colocadas em altos pedestais.

Pág. 92 - D. Miguel de Almeida
Sucedeu no governo da Índia ao governador D. Rodrigo da Costa, em 24 de junho de 1690, e governou só, por serem falecidos os dois governadores seus companheiros. Só apenas exerceu esse cargo durante seis meses e seis dias, pois que faleceu em dezembro de 16_0. Quanto à autenticidade deste retrato, veja-se o que ficou dito a pág. 609 do vol. 6º desta mesma edição da História, quando tratamos do retrato de D. Francisco Coutinho.

Pág. 93 - Padrão de Santa Iria
Foi pelos anos de 631 ou 632 de J. C., segundo conta a lenda, que em Nabancia (hoje Tomar) teve lugar o martírio de Santa Iria, filha de Ermígio e Eugénia, e sobrinha do abade Celio. Seu assassino foi Tribaldo, filho de Castinaldo e de Cácia. Segundo a mesma lenda, o corpo da Santa Virgem, sendo lançado ao rio Nabão, este o lançou no Zêzere, e este no Tejo, onde os anjos lhe construíram um belo sepulcro, no meio do rio, em frente de Santarém, cuja povoação tomou pouco depois, o nome de Santa Irene que se corrompeu no actual. Onde existiu (?) o túmulo da Santa, mandou depois a rainha Santa Isabel, mulher de D. Diniz, erigir um padrão que ainda existe e que a nossa gravura representa.

Pág. 96 - Paulo de Carvalho
Outro irmão do Marquês de Pombal, cujo retrato mandámos reproduzir do que existe a óleo no palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras.

Pág. 97 - Ruínas do Teatro da Ópera

É esta a quarta das estampas, gravadas por Le Bas em 1757, colecção composta de 6, e da qual já atrás, pág. 598, damos mais desenvolvida notícia. Esta opera fica situada aproximadamente onde é hoje o Arsenal de Marinha, e tinha sido acabada de construir pouco antes do terrível terramoto que a derrubou.

Pág. 101 - Marquesa de Alorna
D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, condessa de Oyenhausen e marquesa de Alorna, nasceu em Lisboa a 3i de outubro, de 1720, e faleceu a 11 de outubro de 1839. No volume 6° da História de Portugal se encontra uma notícia da sua vida, pois que esta dama era filha do marquês de Alorna D. João, um dos implicados na conjuração dos Távoras contra D. José I, donde proveio à inocente criança D. Leonor, que então contava apenas oito a­nos, ir em companhia de sua extremosa mãe para o convento de Chelas, onde passou enclausurada o melhor tempo da sua vida, pois que só de lá saiu depois de dezoito anos de encerramento. Na Ilustração, jornal universal vol. 2º, a pág. 27 vem a seu res­peito uma notícia biográfica, resumida, ao que parece, de outra mais ampla que saíra no tomo 1 das suas Obras Poéticas. Também no Panorama de 1844 a pág. 403 se encontra um artigo crítico, da pena de A. Herculano, acompanhado de um pequeno retrato da ilustre poetisa, tirado nos últimos anos da sua vida, e que, por esse facto, em nada se parece com o que aqui damos e que é copiado do que acompanha o 1° volume das suas Obras, retrato tirado quando a talentosa senhora contava apenas 31 anos de idade. Durante o tempo que esteve em Chelas entregou-se ao cultivo das letras, publicando em seu tempo dois pequenos livros, um em 1814, outro em 1820; mas as melhores das suas obras foram publicadas póstumas, por diligências de suas filhas, e tem o seguinte titulo: Obras poéticas de D. Leonor de Almeida, etc., conhecida entre os poetas portugueses pelo nome de «Alcipe», Lisboa Imprensa Nacional, 1841, 8º gr., com um retrato da autora (o que serviu de original ao que ora aqui damos), seis volumes, sendo o pri­meiro deles acompanhado de uma Notícia biográfica da marquesa, seguida de outras Notícias histó­ricas de seu esposo, o conde de Oyenhausen. A edição destas obras é asseada e talvez elegante; porém, a in­cúria que houve na revisão das provas fez com que saísse deturpada com grande número de erros, de que se encontram extensas tabelas no fim dos volumes. - Nesta edição não se encontram todas as obras da notável escritora, pois que Inocêncio Francisco da Silva no artigo que, no seu Diccionario Bibliographico, dedica à ilustre senhora, declara ter em seu poder um volume contendo manuscritas muitas composições, em prosa e em verso, que estão completamente inéditas.

Pág. 104 - Coleginho de Santo Agostinho
Foi este o primeiro convento que os jesuítas tiveram em Lisboa, e o fundaram no princípio do século XVI. Parece que o conde de Soure ou lhes deu o edifício para o colégio ou concorreu muito para a sua construção, pois que foi feito padroeiro do mosteiro. Resolvendo os jesuítas fundar um colégio mais vasto e sumptuoso próprio para ser a cabeça da sua ordem em Portugal, venderam este aos Gracianos, que aqui se estabeleceram em 1600, e onde viveram temporariamente até passarem para o convento da Graça fundado pelo reformador da ordem de Santo Agostinho, frei Luiz de Montoya.

Pág. 105 - D. Fernando Martins Mascarenhas
Sucedeu, de companhia com o reverendo Luiz Gonçalves Gosta, que foi secretário de Estado, pelo óbito do governador D. Miguel de Almeida, em 15 de dezembro de 1691. Governaram ambos até 5 de junho de 1691, dia em que faleceu este último, e governou só até 19 de setembro daquele ano, em que teve por companheiro chegado naquela monção do reino o arcebispo primaz D. Fr. Agostinho da Anunciação. Veja-se para justificação da autenticidade do retrato que aqui damos o que ficou dito de D. Fran­cisco Coutinho, a pág. 60 do 6° volume da nossa História.

Pág. 108 - Igreja do Carmo, em Viseu
Foi fundada em princípios do século XVIII, tendo seu acabamento em 15 de junho de 1738. Nos últimos anos daquele mesmo século foi restaurado e ampliada na forma que a nossa estampa representa, com uma elegante frontaria nova e duas torres. É um dos templos mais vistosos e formosos de Viseu, e muito bem situado. Ergue-se à entrada do espaçoso campo de Santa Cristina, do lado poente, à direita de quem vai da cidade.

Pág. 109 - Mendo de Foios Pereira
Diplomata português. nasceu em Tomar no ano de 1643. Estudou na Universidade de Coimbra, recebeu o grau de bacharel em direito civil, foi juiz do cível de Lisboa, escrivão do senado na mesma cidade, e tendo servido na embaixada de Madrid, foi por último nomeado secretário de estado em 1680. Faleceu em 1708. Era muito dado à cultura da poesia, e dele andam algumas composições na Fénix Renascida, e noutros livros. Jaz sepultado na sacristia da igreja da Graça em Lisboa, em sumptuoso mausoléu, que já reproduzimos num dos volumes anteriores desta nossa edição da História.

Pág. 112 - Memória da execução dos Távoras

Antes do atentado contra D. José I, o palácio do duque de Aveiro ocupava então todo o espaço que hoje fica entre o largo do Chafariz, próximo do convento dos Jerónimos, em Belém, e a travessa que fica a leste, na rua Direita de Belém e junto à calçada do Galvão. Arrasado pela sentença que condenou à morte os seus proprietários, o palácio e muros da quinta e jardim, se salgou todo este terreno, e nele se erigiu uma memória, a que a nossa gravura representa, para perpetuar o crime e o castigo deles. É uma coluna cilíndrica, de cinco metros de altura, terminando por uma chama em forma de pira, e cercada de cinco anéis, também de pedra, re­presentando os cinco membros da família de Aveiro que entraram na conjuração. No plinto da coluna, que é quadrada, está gravada esta inscrição:

AQUI FORAM ARRASADAS E SALGADAS / AS CASAS DE JOSÉ MASCARENHAS, / EXAUTORADO DAS HONRAS DE DUQUE / D'AVEIRO E OUTRAS / CONDEMNADO POR SENTENÇA PROFERIDA / NA SUPREMA JUNTA DE / INCONFEDENCIA, EM 12 DE JANEIRO / DE 1759 / JUSTIÇADO COMO UM DOS CHEFES / DO BARBARO E EXECRANDO DESACATO / QUE NA NOITE DE 3 DE SEPTEMBRO / DE 1758 SE HAVIA COMMETTIDO / CONTRA A REAL E SAGRADA PESSOA DE / D. JOSÉ I / NESTE TERRENO INFAME SE NÃO PODERÁ / EDIFICAR EM TEMPO ALGUM

Este terreno salgado ficou pertencendo à Câmara de Belém, e esteve deserto e abandonado como chão infame até ao reinado de D. Maria I, em o qual a câ­mara foi dando licenças para se edificarem casas no âmbito condenado. Ao presente todo ele se acha edificado por pequenas casas, que escondem a memória que actualmente está com a frente virada para as traseiras duma dessas casas, ao fundo de um pátio, que tem entrada pelo largo do chafariz. Da rua direita de Belém mal se avista o resto da coluna, um pouco mais alta que uma casa abarracada de um andar.

Pág. 113 - Suplícios no Porto
A estampa representa o epílogo dos famosos tumultos a que aludimos páginas acima, e vem descritos neste 6º vol. da nossa História.

Pág. 117 - O Jesuíta João de Mattos
Um dos companheiros do Padre Malagrida, por mais de uma vez citado na nossa História, quando se tratou do processo e execução do infeliz jesuíta. O retrato que aqui damos é copiado de outro que, em medalhão conjuntamente com os dos Padres Malagrida e Alexandre de Mattos se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 120 - Évora, Praça do Geraldo
Já noutro ponto (pág. 601) falámos desta histórica praça, para acompanharmos uma gravura que a representa. Agora para honrar outra que lhe representa o lado oposto, mais algumas notícias daremos. O edifício da câmara, os penúltimos paços do concelho e a cadeia pública, ainda ali existente, são os edifícios que mais avultam na gravura. Sabe-se que a cadeia fui começada a construir em tempo de Afonso V, o Africano, devido aos esforços de D. Fernando de Mello, que do filho, o terrível D. João II, alcançou para continuação um alvará, datado de Santarém em 2 de março de 1468. D. Manuel a mandou concluir. Nesta cadeia esteve preso em 1846, há ainda pouco falecido, o chefe de um partido político, António de Serpa Pimentel. Para os presos poderem ouvir missa da cadeia, instituiu Baltasar dos Reis a capela de Nossa Senhora dos Santos Reis, na esquina dos Estáos, mais tarde convertidos no prédio de habitação do comendador Matos. Lá está ainda a pequenina capela, para que dá urna tribuna de parte do grande prédio, em que habitava há pouco o sr. Inácio de Brito Pardelha. No testamento de Baltasar dos Reis deixaram-se bens próprios para a manutenção da capela, e o sucessor era obrigado a dar dois vinténs a cada preso em dia de Reis, confessados e comungados previamente. Ao Arcebispo ou aos seus delegados corria o cuidado de superintender na execução do legado in totum. Não sabemos neste momento em que pé está a disposição testamentaria. Dos paços do concelho diremos que foram os primitivos, de que há memória, junto a São Joaninho, aí pelos sítios em que existe a Misericórdia, e os segundos no edifício, que hoje é a Biblioteca e que em tempos mais retirados foi uma igreja, talvez a primeira Sé de Évora. Foi o vereador João Mendes Cecioso quem promoveu a feitura dos paços do concelho na praça, pelos anos de 1457, ou seguintes, antes de 1499. Em 1513 ainda as obras não estavam totalmente concluídas, mas, provável é que neste ano tivesse lugar a mudança dos antigos paços junto da sé para os novos. Quem por meudos quiser ler a história desta edificação veja um escrito do laboriosíssimo Rivara, sobre o Cecioso, na Aurora, periódico luterano, publi­cado em 1846. Foi há pouco demolido parte do edifício, incluindo a varanda, cujas lápides, verdadeiras e falsas, se guardam na Biblioteca pública. Desta demolição veio à cidade notável melhoramento, com o alargar da rua do Paço, que ali era angustiosa, em oposição à Rua Ancha, que lhe ficava em frente.

Pág. 121 - Igreja da Memória, em Belém
D. Maria I, logo depois do frustrado atentado contra D. José, fez voto de erigir uma igreja, dedicada a Nossa Senhora do Livramento e S. José, em memória e acção de graças por seu pai ter escapado, devendo esta igreja ser edificada no próprio sítio onde foram disparados os tiros contra o rei, na calçada do Calvário ou do Galvão. A este templo se chama vulgarmente igreja da Memória. D. Maria, sendo ainda princesa do Brasil, deu princípio ao cumprimento da promessa, em 1760, no mesmo ano em que casou com seu tio o infante D. Pedro, depois Pedro II. Fez o risco e superintendeu à sua construção o engenheiro Adriano João Carlos Bibiena.

Pág. 124 - Conde de Linhares
Foi copiado de um retrato da época o deste célebre estadista português, cujo nome era D. Rodrigo de Sousa Coutinho, filho de D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho e de D. Ana Luiza Joaquina Teixeira; nasceu em Chaves em 1740 e morreu no Rio de Janeiro a 26 de janeiro de 1812. Seguiu a carreira diplomática e estava como ministro de Portugal em Turim, quando, morrendo Martinho de Mello e Castro, em 1795, foi chamado para o substituir na pasta da marinha, em que prestou relevantes serviços, continuando a obra de reorganização de Martinho de Mello, criando o corpo de engenheiros construtores, e a junta de fazenda de marinha. Foi nomeado depois presidente do Real Erário, por morte do Marquês de Ponte de Lima. O seu ministério ficou célebre pelo grande impulso que deu às ciências desenvolvendo os trabalhos geodésicos, mandando Alexandre Rodrigues Ferreira fazer viagens botânicas no Brasil, outras em África, mandando tentar a travessia da África de leste a oeste pelo célebre Lacerda de Almeida, etc. Foi demitido como partidário da aliança inglesa quando o ministro francês, Gerardo Lannes, aqui exerceu grande influência. Emigrou para o Brasil com a família real e apenas lá chegou foi imediatamente nomeado ministro dos negócios estrangeiros e da guerra. Seu irmão, Domingos de Sousa Coutinho, depois marquês do Funchal, era ministro em Londres, e, como D. Rodrigo era também partidário decididíssimo da aliança inglesa, pode-se dizer que estávamos nessa época perfeitamente enfeudados à Inglaterra. Foi ele quem mandou invadir a Guyana e Montevideu. Era sócio honorário da Academia Real das Ciências, e nas Memórias desta cor­poração publicou uma memória sobre a verdadeira influência das minas dos metais preciosos na indústria das nações.

Pág. 125 - Torre da Patriarcal, na Ajuda
Quando pelo terramoto de 1755, derruiu a grandiosa patriarcal de Lisboa, ficaram os espíritos atemorizados com tamanho cataclismo, e como se se pensasse em construir nova patriarcal, foi escolhido um sítio da Ajuda, e nele se começou a levantar uma enorme barraca, em que o elemento principal era a madeira, sem gosto nem grandeza de espécie alguma, sendo a única coisa de pedra e cal que se construiu, a torre que a nossa gravura representa. A pouco e pouco foi essa patriarcal sendo abandonada, e depois destruída, ficando apenas isolada e erecta no meio do terreno aquela torre, como sentinela vigilante, a atestar aos vindouros que ali existiu uma patriarcal.

Pág. 128 - António Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho
Almotacel-mor do reino. Foi para a Índia como vice-rei, sucedendo a D. Pedro António de Noronha conde de Vila Verde, em 27 de setembro de 1698. Governou até 17 de setembro de 1701. Para justificação da autenticidade deste retrato, recorra-se ao que ficou dito quando tratamos dos anteriores governadores da Índia.

Pág. 129 - Ruínas da igreja de S. Nicolau, em 1757
Fez parte da estimada coleção das 6 estampas, que por serem raras aqui reproduzimos todas, publicadas cm 1757 por Le Bas. Para mais indicações acerca desta curiosa coleção, veja-se o que ficou dito a pág. 593, na notícia com que acompanhámos a gravura representativa da Torre de S. Roque.

Pág. 133 - D. Vasco Luiz Coutinho
Governador da Índia, que sucedeu ao vice-rei António Luiz Gonçalves da Câmara Cominho conjuntamente com D. Agostinho da Anunciação; governaram ambos até 1 de outubro de 1707. Veja-se, para a autenticidade do retrato, o que a pág. 609 do 6° vol. dissemos de D. Francisco Coutinho.

Pág. 136 - Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Viseu
Este edifício e considerado o primeiro de Viseu, e pela sua vastidão, majestade e solidez, pela sua vantajosa situação e pelo seu bom serviço clínico é o primeiro hospital da província da Beira Alta, e um dos primeiros do país. Demora ao sul de Viseu, a montante do velho hospital, em terreno enxuto, plano, alegre e vastíssimo, a pequena distância da cidade e no ponto mais alto dela. Lançou-lhe com grande pompa a primeira pedra o bispo D. Francisco Monteiro Pereira de Azevedo, no dia 29 de março de 1793 e sob a mesma pedra se colocou um exemplar de todas as moedas portuguesas cunhadas até aquele tem­po no reinado de D. Maria I, a qual, por provisão de 12 de fevereiro de 1799, obrigou todos os concelhos da amiga comarca de Viseu a pagarem um real de contribuição por cada quartilho de vinho e arrátel de carne em favor das obras do dito hospital, mas mui­tos concelhos alegando a distância deles à sede da comarca, não quiseram sujeitar-se à dita contribui­ção. Alguns foram compelidos judicialmente e outros nada pagaram até hoje, pelo que, aberto o novo hospital, a Misericórdia se recusa a aceitar os doentes pobres daqueles concelhos e apenas mediante uma avença com as respectivas câmaras as aceita, avença que, ainda há poucos anos, era de 160 reis diários pelo tratamento de cada doente pobre dos ditos concelhos. Ignora-se quem fez a planta deste hospital, mas sabemos que o mestre pedreiro Jacinto de Matos, de Vilar de Besteiros, arrematou a construção das paredes por 30.00$000 reis, e o mestre Manuel Ribeiro, de Viseu, arrematou as obras de madeiramento e ferragens por 13.000$000 reis. A construção correu lentamente e esteve alguns anos suspensa por falta de dinheiro e por causa da guerra da península e das guerras civis posteriores. Recebeu os primeiros doentes em 1842, estando incompleto ainda; continuaram, porém, as obras até seu final acabamento, seguindo-se depois outras indicadas pela experiência para melhorar o serviço clínico, a fiscalização e administração, etc. Em 1842 fez-se o grande portão de ferro da entrada do edifício, pelo que nele se lê aquela data, e em 1876 fez-se a bela escadaria semicircular exterior, na entrada para o terreno em forma de paralelogramo e que toma toda a frente do edifício, terreno ajardinado e circuitado por pila­res de pedra e formosa gradaria de ferro, que fecha o terreiro por três lados, tendo em cada uma das três faces um portão de ferro também.

Pág. 137 - O Papa Clemente XIV
Era de direito aqui o retrato deste pontífice, o famigerado Ganganelli, homem honesto e cheio de boas intenções, que decretou a extinção dos jesuítas, o que lhe valeu uma morte rápida, como ele próprio o previra quando assinou a bula em que decretou essa extinção: «Assino a minha sentença de morte». O retrato é copiado de outro magnífico da época.

Pág. 140 - Igreja de Nossa Senhora do Monte Olivete
O convento desta invocação, pertencente aos ermitas descalços, de Santo Agostinho, foi fundado pelo padre Fr. Manuel da Conceição, confessor da rainha D. Luiza em 1664. O frontispício do convento que apresentamos foi fielmente copiado pelo infatigável Luiz Gonzaga Pereira e faz parte da preciosa coleção. A igreja tinha nove altares, sendo o primeiro da invocação de Nª Sª do Monte Olivete. Possuía alguns quadros a óleo, de valor, sendo o mais notável o de Santo Agostinho e várias esculturas em pedra e madeira, de subido valor.

Pág. 141 - Abade José Correia da Serra
Ilustre sábio português dos fins do século XVI e princípios do XIX, nascido em 6 de julho de 1750 na vila de Serpa, e falecido nas Caldas da Rainha a 11 de setembro de 1823. Foi ele a alma da Academia Real das Ciências, e na nossa História é o seu nome repetidas vezes citado com grande e merecido louvor. Para pormenores da vida do ilustre sábio, gloria da nossa terra, leia-se a notável biografia escrita por Teixeira de Vasconcelos. O retrato por nós apresentado é copiado de outro da época.

Pág. 144 - Igreja de Nossa Senhora do Monte de S. Gens
Foi esta capela fundada logo depois de Lisboa ser resgatada do poder dos mouros, e mesmo no ano de 1157. Foi primeiro dedicada a S. Gens, primeiro ou segundo bispo de Lisboa, que neste sítio tinha sido martirizado, em 11 de outubro do ano 66 de Jesus Cristo, com seus companheiros S. Plácido, Santo Anastácio e outros que se perderam, segundo se lê no Ano Histórico. - Foram os frades gracianos, com esmolas do povo de Lisboa que funda­ram esta capela, e umas casas contíguas, para lhes servirem de hospício. A sua primeira fundação foi ao fundo do monte que olha para O, no sítio chamado Fornos do tijolo, ao pé do almocabar (cemitério) dos Mouros, e a este lugar ainda até aos fins do século XVII se dava por isso o nome de Almocabar e hoje Olarias. - Já aqui havia, ou uma capelinha ou uma cadeira de pedra, em que S. Gens costumava pregar ou ensinar a doutrina aos cristãos, que já então por ali havia. - S. Gens era natural, assim como a maior parte, ou todos, os seus companheiros de martírio. - Aqui estiveram os religiosos agostinhos (gracianos) até 1243. Então, uma senhora, chamada D. Susana, compadecida de ver os frades habitarem em sítio baixo e doentio, sendo de mais a mais nesse tempo muito distante da cidade, o que era incómodo para o povo que queria ir à doutrina e assistir aos ofícios divinos àquele hospício, fez D. Susana, doação aos frades do monte de S. Gens, que lhe ficava iminente, e de todas as tetras circunvizinhas, que eram dela. Para este sítio se passaram, edificando logo algumas celas; mas como o sítio era muito falho de água, e no inverno muito desabrido e exposto nos rigores dos ventos que aqui são constantes, viviam os religiosos com muito incómodo ali, onde só residiram até 1271, mudando para um sítio mais a sudeste, que então se chamava Almofála ou Almafala e hoje Graça. - A cadeira de pedra em que, segundo a tradição, S. Gens se sentava a pregar aos cristãos, que estava na capela primitiva, foi transportada para o alto do monte, onde se erigiu a segunda capela de S. Gens, e ainda lá está no alpendre da casa da Senhora do Monte. Nesta capela é venerada uma muito antiga imagem de Nª Sª. - Esta capela foi reedificada com magnificência, e ampliada com esmolas do povo. E o adro desta capela um dos mais deliciosos pontos de vista de Lisboa, que daqui se descobre quase toda, assim como uma vasta extensão do Tejo, e muitas serras, planícies e povoa­ções das suas margens.

Pág. 145 - Ruínas da Patriarcal, em 1757
É a sexta e última da preciosa colecção de estampas de Le Bas, gravadas em 1757, e de que a pág. 598, deste mesmo volume demos notícia quando tratámos da vista representando a Torre de S. Roque.

Pág. 149 - Duque de Lafões
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o retrato donde foi reproduzido o que aqui damos do célebre fundador da Academia Real das Ciências de Lisboa. Filho segundo de D. Miguel, filho bastardo de D. Pedro II, n. em Lisboa em 6 de março de 1519. Rece­beu uma educação esmerada, e quando chegou à cidade própria, foi frequentar a universidade de Coimbra. Nunca tinham tido nos seus bancos o reitor e os lentes da universidade, pessoa de tão alta cate­goria; na época dos exames ficaram incertos, sem saber qual o formulário que haviam de empregar, no mo­do de o examinarem. Expressaram as suas dúvidas para a corte, e receberam em resposta uma repreensão - que não reproduzimos, para não alongar­mos esta notícia, - que bem mostra o que eram aquelas cortes do século XVII e até que ponto che­gara a enfatuação monárquica e o fetichismo cortezão. Ao duque de Lafões também a corte enviou uma carta mandando-o retirar da universidade e recolher a Lisboa, onde se manteve até à morte de D. João V, ordenando-lhe, pouco depois D. José que fosse via­jar pela Europa, por onde se demorou 20 anos, e onde a sua ilustração o fez bem acolhido por todos os homens notáveis. Para pormenores sobre a sua vida, veja-se o que acerca deste homem notável escreveu Teixeira de Vasconcelos no seu livro Glorias Portuguesas.

Pág. 152 - Caixão onde estão os ossos do Marquês de Pombal
Morto o grande Marquês em Pombal, foram os seus restos depositados na capela desta vila, onde permaneceram durante vinte e oito anos, metidos em um caixão ordinário que o tempo e os homens foram estragando e dispersando. Quando Massena invadiu Portugal, chegou a Pombal, e sabendo do estado em que se encontravam os restos de tão grande homem, fez juntar os ossos espalhados e recolheu-os em um caixão que mandou guardar convenientemente. Em 1848 levantou-se um brado de protesto contra o esquecimento havido para com tal homem, e em junho de 1854, chegavam a Lisboa em honroso préstito os restos mortais do enérgico estadista, sendo-lhe feitas solenes exéquias, e depositados na capela das Mercês, pertencente aos Marqueses de Pombal. Em um caixão modesto sobre dois desengraçados elefantes jaz o que resta do grande homem de estado. Quando se tratou da celebração do centenário do grande marquês em 1882, a comissão académica havia obtido do actual marquês autorização para a trasladação daqueles restos para o templo de Belém; depois, não sabemos porque escrúpulos de consciência, aquele titular reconsiderou e negou tal autorização.

Pág. 153 - Sala dos actos na Universidade de Coimbra
É uma sala majestosa, em que se veem os retratos a óleo, em tamanho natural, de quase todos os monarcas portugueses. É nesta sala que se defendem as teses, se faz o exame de licenciado e se dá a graduação de doutor. É também nela que se costuma celebrar anualmente a 8 de dezembro a distribuição dos prémios e honras de accessit aos estudantes mais aplicados e talentosos.

Pág. 156 - Luiz António Verney
Este célebre autor do Verdadeiro Método de Estudar, que tanto contribuiu para auxiliar a transformação introduzida pelo Marquês de Pombal no ensino do nosso país, em Lisboa em 1713, era filho de Dionisio Verney, oriundo de Lyão, em França, e de D. Maria da Conceição Arnaut, natural de Penela. Depois de estudar humanidades graduou-se em teologia na universidade de Évora, e tomou o grau de mestre em artes na mesma universidade, onde também se doutorou. Em 1736 partiu para a Itália, tendo 23 anos de idade, e formou-se na universidade de Roma em direito civil. Obtivera a dignidade de arcediago da Sé de Évora e teve também o grau de cavaleiro de Cristo. Em Roma, porém, se deixou ficar e lá morreu em março de 1792. O retrato que aqui damos é copiado do que vem na colecção de Retratos e Elogios de Varões e Donas, etc.

Pág. 157 - Igreja do Coucieiro
A freguesia de Coucieiro ou Concieiro ficava situada no concelho de Vila Verde, no Minho. A igreja foi dos templários e foi sagrada. Acham-se à porta da igreja principal cinco letras, indicando, na opinião de alguns escritores a era (de César) em que este templo foi fundado. Como não há caracteres romanos com as suas abreviaturas e letras inclusas, pomos a inscrição, com as letras correspondentes, por extenso, que são MCCII. Vemos, pois, a ser o ano de 1664 de Cristo. Há, porém, quem julgue ser esta a data, não da fundação, mas da sagração da igreja.

Pág. 160 - D. Isabel de Sousa Coutinho
Reproduziu-se de uma curiosíssima miniatura que o sr. Marquês de Funchal mui delicadamente nos facultou o retrato desta notável senhora, que pelo seu procedimento enérgico e inquebrantável fez vergar o omnipotente Marquês de Pombal. Veja-se em págs. 57 e seguintes deste volume da nossa História a narração do comovente e romântico episódio, de que ela foi a heroína.

Pág. 161 - A expulsão dos Jesuítas
Representa uma das cenas desse famoso golpe de estado levado a cabo pelo Marquês de Pombal, e cuja desenvolvida narrativa se lê nos últimos capítulos do volume 6°, e primeiros do volume 7° da nossa História.

Pág. 165 - Francisco de Almada e Mendonça
Em 5 de setembro de 1885 foi inaugurado no cemitério do Prado do Repouso, no Porto, o monumento erguido per um grupo de patriotas à memória do ilustre corregedor daquela cidade, Francisco de Almada e Mendonça. O Porto deve muito à memória daquele cidadão insigne que, durante o tempo que durou a sua corregedoria dotou aquela cidade das seguintes obras grandiosas: o passeio das Fontainhas e respectiva fonte; a Casa Pia; o quartel de Santo Ovídio, e o teatro de S. João. Francisco de Almada e Mendonça nasceu nos Olivais em 28 de fevereiro de 1757 e faleceu no Porto em 18 de agosto de 1804. O monumento que lhe foi erigido, e do qual a nossa estampa é cópia, deve-se à iniciativa do padre portuense Alexandre Pinheiro, que promoveu particularmente uma subscrição para ocorrer às despesas daquela obra. Consiste num busto colossal, em bronze, assente em um pedestal em mármore. O busto, modelado pelo malogrado artista Soares dos Reis, foi copiado de um retrato a óleo existente nos Paços do concelho da cidade invicta.

Pág. 168 - Nossa Senhora da Boa Hora
Pertenceu esta igreja aos padres dominicanos irlandeses que vieram ao reino de 1630 e assistiram neste local até 1668, em que passaram para o Corpo Santo, onde ainda hoje têm a sua igreja. Depois deles entrou a congregação de S. Filipe Nery, de que foi fundador o padre Bartolomeu do Quental, cujo retrato já publicámos, e que se conservou até ao ano de 1674, passando para a sua igreja em 14 de agosto do mesmo ano; finalmente em 8 de setembro de 1677, lançaram a primeira pedra para se fazer nova igreja os eremitas descalços de Santo Agostinho. Tanto o convento como a igreja desapareceram pela extinção das ordens religiosas, servindo o edifício actualmente de tribunal de justiça. A gravura que damos é copiada da preciosa colecção de Luiz Gonzaga Pereira.

Pág. 169 - D. Frei Agostinho da Anunciação
Governador da Índia; Sucedeu com D. Vasco Luiz Cominho ao vice-rei António Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho em 17 de setembro de 1701. Para autenticidade deste retrato veja-se o que dissemos quando tratámos do retrato de D. Francisco Coutinho, a pág. 609, do 6º vol. da História.

Pág. 172 - Convento de Grijó
Vivia pelos sítios de Grijó, em 912 de Jesus Cristo (se lê no Portugal Antigo e Moderno de Pinto Leal) um rico homem chamado D. Nuno Soares Velho, senhor das terras de Santa Maria (hoje terra da Feira). Tinha dois irmãos padres, um chamado Guterres Soares, e outro Ausindo Soares. Edificaram estes dois clérigos uma pequena igreja em mesquita que seu irmão D. Nuno lhes deu para isso: e como o templo era de acanhadas dimensões, lhe chamaram eles ecclesiola e o povo igrejola ou egrejol, diminutivo de igreja e o mesmo que igrejita ou igrejinha, eis aqui a origem do nome do convento, da vila e da freguesia de Grijó. Fizeram os dois frades casas para a sua residência e ali viviam orando e praticando actos de caridade. Bem depressa se lhes reuniram outros clérigos, a pontos de lhes ser preciso, em 922, edificar convento; dando-lhes os dois fundadores, além da quinta que D. Nuno lhes doara, uma grande herdade que tinham na freguesia de Perosinho. D. Guterres Soares foi o primeiro abade deste convento e por sua morte lhe sucedeu na abadia seu irmão D. Ausindo Soares. D. Soeiro Formarigues, filho e herdeiro de D. Soares Velho, vendo que era pequena a igreja que seus tios haviam construído, fez uma nova muito mais ampla e sumptuosa, que se concluiu em 1093. Foi esta igreja dedicada ao Salvador do Mundo e sagrada a 3 de novembro daquele ano. Ao cabo de muitos anos, e com sucessivas doações, o convento foi tomando incremento, a ponto de ter tal preponderância que, além de outras prerrogativas, os priores de Grijó podiam usar insígnias pontifícias, toga e mitra, nas festas solenes trazer cruz peitoral e anel como os bispos, e conferir ordens menores. No temporal tinham a jurisdição civil dos seus coutos, nomeando justiça e empregados dela. No século XVI, estando bastante deteriorada a igreja, construiu-se uma nova, lançando-lhe a primeira pedra o prior D. Pedro Salvador a 28 de junho de 1574, e é a actual. A igreja do convento de Grijó foi sempre, e ainda é, a matriz da freguesia. É um templo grandioso e dos melhores do bispado do Porto. Tanto a cerca como o edifício do convento foram vendidos em 1833 a um particular pela oitava parte do seu valor.

Pág. 173 - Caetano de Mello de Castro
Vice-rei da Índia. Sucedeu aos governadores D. Fr. Agostinho da Anunciação, arcebispo primaz, e D. Vasco Luiz Coutinho, em 1 de outubro de 1702. Governou até 29 de outubro de 1707. Veja-se para justificação da autenticidade deste retrato o que ficou dito quando tratámos dos outros governadores da Índia.

Pág. 176 - Capela de Cristóvão Gonçalves
É uma das mais interessantes curiosidades da vetusta Vila Real, a capela que a nossa estampa reproduz, e cuja fundação data de alguns séculos. A atestar-lhe a antiguidade lá se leem as ameias, ornamento necessário nos tempos, em que os templos, igrejas e capelas eram outros tantos redutor de defesa contra os ataques do inimigo.

Pág. 177 - Aspecto do largo do Pelourinho em Lisboa, em fins do século XVIII
Dum curiosíssimo livro inglês de viagens, As Capitaes do Mundo foi copiada a interessante estampa que aqui damos, e que entre outras curiosidades, nos dá a nota dos costumes e hábitos do povo português em fins do século XVIII.

Pág. 181 - D. Rodrigo da Costa
Vice-rei da Índia, sucedeu ao vice-rei Caetano de Mello de Castro em 2 de outubro de 1707. Governou até 19 de setembro de 1712. Quanto à autenticidade deste retrato, veja-se o que ficou dito quando tratámos dos retratos dos anteriores governadores da Índia.

Pág. 184 - Igreja de Santa Rita de Cássia
Pertenceu esta casa à ordem dos eremitas descalços de Santo Agostinho, cujos frades tomaram posse dela, segundo afirma o beneficiado Castro, em 2 de abril de 1749. Pouco sofreu com o terramoto grande. Fica situada próximo do chafariz de Andaluz e pertence à freguesia de S. Sebastião da Pedreira. Tem três capelas sendo a principal a de Santa Rita de Cássia. Pelo decreto de 8 de maio de 1834, foi a igreja secularizada e as imagens repartidas por várias igrejas, servindo o edifício para quartel da guarda municipal. Há anos que deixou de ser quartel, sendo actualmente pertença duma fábrica de papeis.

Pág. 185 - Palácio de Palhavã
Saindo de Lisboa pelas antigas barreiras de S. Sebastião da Pedreira pela estrada de Benfica, está a histórica propriedade denominada Quinta de Palhavã e seu palácio, cuja fachada oriental a nossa gravura representa. Tanto este como aquela foram construídos pelos anos de 1660, por D. Luiz Lobo do Silveira, 2º conde de Sarzedas, e melhorado por seu filho, o 3º conde, que lhe mandou construir o gran­de portão da entrada principal sobre o qual estão as armas desta família. Neste palácio faleceu D. Maria Francisca Isabel de Saboia, mulher de D. Afonso VI e de D. Pedro II. Foi também por muitos anos residência dos infantes D. António, D. Gaspar e D. José, fi­lhos naturais de D. João V que, por irem para ali de tenros anos, se ficaram denominando os Meninos de Palhavã. Foi durante a sua residência naquele palácio que ele chegou ao maior estado de esplendor e magnificência. Por sua morte começou a decair muito a propriedade; os franceses também a devastaram muito quando da invasão; e em 1833, como aqui se deu um combate entre as tropas liberais e miguelistas o estrago da quinta foi completo. Mais tarde esta propriedade pertenceu ao sr. conde de Lumiares, que a vendeu posteriormente ao sr. conde da Azambuja, que restaurou o palácio, o qual apresenta hoje um excelente aspecto. A quinta é que mudou completamente de aparência, e acabou de ser expropriada para a abertura de uma avenida em construção que vai dar ao Campo Grande.

Pág. 188 - Marquês do Louriçal
D. Luiz de Menezes, 5° conde da Ericeira e primeiro marquês do Louriçal, era filho de D. Francisco Xavier de Menezes, 5° conde da Ericeira, nasceu a 4 de novembro de 1689. Serviu na guerra da Sucessão e distinguiu-se em várias ocasiões, principalmente quando, sendo coronel do regimento de Serpa, foi socorrer a praça de Campo Maior, sitiada pelos espanhóis, merecendo, por isso, ser promovido a briga­deiro. Em 1717 foi nomeado vice-rei da Índia. Regressou ao reino depois de várias peripécias, que lon­go seria narrar aqui, em 1723. Os bons serviços po­rém que prestara na Índia, onde o seu nome ficou sendo muito respeitado, fizeram com que, em 1740, quando o estado das nossas possessões do Oriente reclamava instantemente um chefe inteligente e enérgico, fosse o conde da Ericeira de novo nomeado vice-rei da Índia, dando-lhe o monarca por essa ocasião o título de marquês de Louriçal, que continuou nos seus descendentes. Chegando a Goa, depois de uma trabalhosa viagem a 13 de maio de 1741, restaurou a província de Bardez, desassombrou a ilha de Goa e as suas adjacentes do terror dos inimigos, obrigando o Bounsoló a pedir-lhe a paz e concluiu com ele o tratado de 11 de outubro desse ano. Quando todos esperavam, com justo fundamento, grandes progressos e acertadas medidas da sua reconhecida tática administrativa e inteligência, faleceu a 13 de junho de 1742. O retrato que aqui damos é copiado de um a óleo existente no museu de Belas-Artes, de Lisboa.

Pág. 189 - Palácio da Inquisição
Sendo regente do reino o infante D. Pedro, na menoridade de D. Afonso V, seu sobrinho, mandou edificar na praça do Rossio de Lisboa, do lado do Norte, um palácio para servir de habitação aos embaixadores estrangeiros: do fim para que foi destinado tem o seu nome de paço dos Estáos. Até ao reinado de D. João III não mudou de destino; porém, como este soberano obtivesse de Clemente VII a bula que criou nestes reinos a Inquisição, ordenou que o novo tribunal do Santo Ofício se estabelecesse no paço dos Estáos, onde se conservou até ao primeiro de novem­bro de 1755, em que o espantoso terramoto sucedido neste dia destruiu inteiramente aquele edifício. Ao mesmo tempo que Lisboa se levantava das suas ruínas com mais formoso e senhoril aspecto surgia das suas cinzas o palácio da Inquisição mais belo e soberbo do que outrora. Apenas se acabaram as obras tornou para ali o tribunal do Santo Ofício. Durante a residência da família real no Brasil celebraram as suas sessões neste palácio os governadores do reino; e quando a revolução de 1820 mudou a ordem de coisas em Portugal, instalou-se em suas salas a regência provisória então criada. Em consequência destes acontecimentos foi extinta a inquisição, e o seu palácio franqueado ao povo, que avidamente correu a ver com os seus olhos esses subterrâneos até ali objecto de tanto mistério e de tanto terror. Pouco depois, a estátua da Fé, que campeava sobre o palácio da Inquisição era apeada no meio dos aplausos da multidão que enchia a praça do Rossio. Passando nós por muitos sucessos de que este edifício foi teatro tais como os que tiveram lugar no dia e noite de 17 de novembro de 18_0 e no dia 30 de abril de 1824, diremos, para abreviar esta notícia, que, pelo tempo adiante vieram estabelecer-se neste palácio várias repartições públicas e nele celebrou as suas sessões a primeira câmara dos pares que houve em Portugal. Achavam-se acomodados no seu vasto recinto o tribunal, e contadoria do Tesouro Público; a secretaria da Fazenda; a Comissão do Crédito Público e a oficina de Papel Selado, quando no dia 14 de julho de 1836 foi reduzido a cinzas por um incêndio voraz, que zombou de todos os esforços humanos. Em agosto do ano seguinte resolveu-se a Câmara Municipal de Lisboa e pedir ao governo o palácio incendiado para nele edificar os paços do concelho, descontando-se o seu valor na avultada divida, por que era credora ao mesmo governo. Os desejos da Câmara cumpriram-se em parte; o edifício foi-lhe cedido, e obteve autorização do corpo legislativo para contrair no Banco um empréstimo de 40 contos de reis para as despesas da referida edificação. Estando decretado que de uma parte do terreno ocupado pelo palácio, se fizesse uma praça com o nome de Camões, começaram as obras pela destruição dessa parte do edifício, que compreendia seguramente metade da sua extensão. Em 1840 achava-se concluída a demolição; não restava do palácio mais que a parte que a nossa estampa representa, que era aquela em que se devia construir o palácio municipal, cujo risco estava já feito e aprovado; porém, as críticas circunstâncias do cofre do município, sobrecarregado com uma dívida enorme, e com pouca probabilidade de receber a quantia avultada por que era credor ao governo, obrigaram a Câmara a adiar este negócio. Em maio, porém, de 1841, por acordo da Câmara e do governo, foi o edifício reincorporado nos nacionais para nele se construir o teatro normal. Em julho de 1842 principiou-se a segunda demolição e no fim do ano tinham desaparecido inteiramente os últimos vestígios do antigo palácio da Inquisição de Lisboa. Mas os habitantes da capital tiveram com que se consolar da perda de tão nobre edifício, porquanto aquele que hoje avulta em seu lugar, o teatro de D. Maria II, excedeu-o em muito em formosura e magnificência.

Pág. 192 - António Nunes Ribeiro Sanches
Filho de Simão Nunes e de Ana Nunes Ribeiro, descendente do famoso médico português e lente da Universidade de Tolosa Francisco Sanches, nasceu António Nunes Ribeiro Sanches na vila de Penamacor a 7 de março de 1699. Seu pai, apesar de se dedicar exclusivamente ao comércio, era homem de grande cultura intelectual, muito amante de letras, cujo gosto inoculou a seu filho, dirigindo-o nas suas leituras, fazendo-lhe ler sobretudo as obras de Plutarco e Montaigne. Tendo sido muito doente na infância e na adolescência e tendo reconhecido com a sua viva perspicácia que o médico lhe errara o tratamento de umas quartãs, resolveu estudar medicina para se curar a si próprio; mas quando estava decidido a seguir esse caminho teve proposta de um tio seu, que era advogado em Pernambuco, que lhe prometia, se ele seguisse os estudos de jurisprudência, ceder-lhe o seu cartório, e dar-lhe ao mesmo tempo a mão de sua prima, uma menina de 18 anos, cuja doce influência esteve quase desviando da sua vocação o nosso ilustre Ribeiro Sanches. A leitura, porém, dos aforismos de Hipócrates acendeu de novo o entusiasmo adormecido, e António Nunes deliberou ir formar-se em medicina, escapando, pela fuga, aos projectos de seu tio. O moço querido da casa fugiu à noite, como um salteador pelas janelas do seu quarto, para ir estudar medicina, e com o fim de evitar explicações desagradáveis. Refugiou-se então Antó­nio Nunes em casa de seu tio materno, o dr. Diogo Nunes Ribeiro, que o favoreceu e o mandou curar em Coimbra à faculdade de medicina. Não podemos aqui dispor do espaço suficiente para narrarmos, por alto que seja, os episódios da acidentada vida do ilustre homem de ciência, depois da sua entrada na Universidade; pelo que nos limitaremos a citar rapidamente os factos principais da sua vida como médico, dizendo de antemão que percorreu as principais cidades da Europa (Salamanca, Paris, Londres, Génova, Leyde, Moscovo, etc.), travando relações com os homens mais notáveis nas ciências médicas e naturais (Douglas, Vicq d'Azyr, Boerhaave, Van Swieten, etc.). Nessas cidades exerceu cargos importantíssimos, sendo um deles o de médico em chefe de Moscovo, e posteriormente médico dos exércitos imperiais da Rússia, fazendo nesta qualidade as campanhas da Polónia. Apesar de, porém, longe da sua pátria, não deixava por isso Ribeiro Sanches de se preocupar com todas as questões a ela relativas, pelo que travou relações com o Marquês de Pombal, que soube aproveitar muitas das indicações por ele dadas para o desenvolvimento do ensino em Portugal. No entanto lá fora passou o resto de sua vida e lá fora, em Paris, faleceu, com 84 anos de idade em 1783. Ao terminar a biografia de tão ilustre português, escreve um seu biografo: «Deixando em França a reputação de um dos mais ilustres sábios do seu tempo, é talvez menos conhecido em Portugal do que no estrangeiro, e se o marquês de Pombal não sobe ao poder, e o não associa intimamente aos seus projectos de reforma, quebraria para sempre os laços com a pátria, que não fizera senão persegui-lo, e seria considerado não um sábio português, mas um sábio francês ou russo». O seu retrato existe na Biblioteca Pública de Lisboa, donde foi copiado o que aqui damos.

Pág. 193 - Vasco Fernandes César de Menezes
Alferes-mor do reino e, posteriormente, vice-rei da Índia, sucedendo ao vice-rei D. Rodrigo da Costa, em 19 de setembro de 1712. Governou até 13 de janeiro de 1717. Copiamos este retrato da mesma colecção donde foram copiados os dos anteriores go­vernadores da Índia.

Pág. 196-197 - A execução dos Távoras
Há duas estampas da época representativas desta trágica cena, muito semelhantes na disposição geral, mas diferindo na ordem por que os réus foram supliciados. Das duas estampas, aquela que aqui reproduzimos é a menos vulgar, e tem em volta do patíbulo as tropas encarregadas de o defenderem dos ataques da multidão, o que não vem na outra estampa.

Pág. 201 - Execução do Marquês de Távora
Esta, bem como as três gravuras idênticas que adiante damos, representando os suplícios sofridos parcialmente por cada um dos réus implicados no atentado de D. José, são reproduzidas de outras tantas estampas da época, que vem insertas, ainda que impressas em folhas soltas no tão curioso como pouco vulgar opúsculo em que se encontra a sentença condenatória dos infelizes conspiradores.

Pág. 205 - Execução de José Maria de Távora
Veja-se o que acima dissemos quando tratámos da estampa de pág. 201..

Pág. 208 - D. Sebastião de Andrade Pessanha
Arcebispo primaz e governador da Índia. Sucedeu ao vice-rei Vasco Fernandes César de Menezes em 13 de janeiro de 1717. Governou até 16 de outubro daquele ano. Para se verificar a autenticidade deste retrato veja-se o que dissemos quando tratámos do de D. Francisco Coutinho, em pág. 609 do 6º vol. desta História.

Pág. 209 - Fogueiras de regozijo pela expulsão dos jesuítas
Além da narração larga e explicita de M. Pinheiro Chagas acerca do grande acto de força do Marquês de Pombal, da qual os festejos em Lisboa, foram como que a apoteose popular, quem desejar mais completos esclarecimentos sobre o assunto encontra-os num curioso livro também publicado pela nossa Empresa, História Geral dos Jesuítas, de autor que tinha a especialidade neste género de estudos, Lino de Assumpção, cuja perda recente as boas letras portuguesas deploram.

Pág. 213 - Frei Manuel do Cenáculo
Este célebre arcebispo de Évora, um desses ilustres prelados do século XVIII, que entre nós tanto auxiliaram o movimento civilizador do seu tempo, nasceu em Lisboa em 1 de março de 1724. Era filho de um serralheiro chamado José Martins, e, longe de se envergonhar de sua humilde origem com ela se vangloriava. Professou na ordem dos franciscanos em 1740, com 16 anos de idade, e foi depois a Coimbra doutorar-se em teologia. Tomou capelo em 1749, e no ano imediato foi a Roma assistir ao capítulo geral da sua ordem. Voltando a Portugal seguiu para Coimbra, a fim de reger uma cadeira de teologia, regência que exerceu desde 1751 a 1755. Em 1768 foi eleito provincial da ordem terceira em Portugal. Pombal, que carecia de homens inteligentes para o auxiliarem na execução dos seus grandiosos planos, conquistou-o para a sua política, e fê-lo nomear sucessivamente em 1760 confessor do príncipe D. José, em 1770 seu perceptor e bispo de Beja, presidente da mesa censória, presidente da Junta da Providência Literária criada para tratar da reforma dos estudos e finalmente presidente da Junta do Subsídio Literário. Morto D. José e demitido o marquês de Pombal, recebeu D. Fr. Manuel do Cenáculo ordem para se retirar para o seu bispado, onde entrou solenemente em 18 de maio de 1777, e onde residiu 20 anos, tratando com amor do desenvolvimento da instrução, entregando-se ardentemente aos seus estu­dos predilectos, fundando bibliotecas, sendo enfim o modelo dos prelados. Em 1802, já esmorecidos os ódios e rancores dos inimigos do marquês de Pombal, lembrou-se o governo do príncipe regente do grande prelado, nomeando o arcebispo de Évora, por morte do prelado D. Joaquim Xavier Rebelo de Lima. Estava exercendo o lugar quando surgiu a invasão francesa. Rebentando no reino o movimento insurrecional, Évora pronunciou-se e foi castigada severamente por Loison, que praticou atrocidades. Não escapou à fúria francesa o venerável prelado, que tinha então oitenta e cinco anos e qui, apesar disso, foi levado preso para Beja entre apupos e ameaças. Quando os franceses saíram, foi restituído à sua diocese, mas poucos anos sobreviveu a esses maus-tratos, falecendo no dia 26 de janeiro de 1814, com noventa anos de idade incompletos. Poucos escritores temos tido como Fr. Manuel do Cenáculo, que em quase todos os assuntos, experimentou a sua fácil e erudita pena; mas o que lhe granjeou sobretudo o respeito e a estima da posteridade foi o valiosíssimo auxílio que deu ao marquês de Pombal, na sua intentada reforma dos estudos e o muito que trabalhou no desenvolvimento da instrução pública. Foi sobretudo um grande fundador de bibliotecas. A biblioteca do convento de Jesus em Lisboa, hoje biblioteca da Academia Real das Ciências, foi por ele fundada; à Biblioteca Pública de Lisboa deu valiosos presentes; no palácio episcopal de Beja fundou uma excelente biblioteca de nove mil volumes, que deixou quando partiu para Évora; nesta última cidade fundou duas: uma pública, que é a actual Biblioteca Eborense, outra rica em raridades históricas e bibliográficas, e em medalhas e outras preciosidades. O retrato que aqui damos é copiado do que existe na Biblioteca Pública de Lisboa.

Pág. 216 - Execução do Marquês de Távora

Para justificação desta gravura, leia-se o que acima dissemos ao tratar da estampa idêntica que publicámos em pág. 201 deste volume.

Pág. 217 - D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho
Governador de Angola que prestou grandes serviços a esta possessão africana da coroa portuguesa onde chegou em junho de 1764 para suceder no governo a António de Vasconcelos. Auxiliou o comércio deu regimento aos escrivães das feiras e fez que os revisores do comércio fossem abolidos, com o que elevou o contracto real da saída dos escravos a um rendimento que nunca antes tivera. Organizou a força militar, empreendeu e concluiu em 17 meses a fortaleza do Penedo, expediu o regimento dos capitães-mores para coibir as violências que eles praticavam no interior batendo o gentio, restituiu o sossego aos habitantes das províncias de Ancôge e Ambaca que anteriormente viviam em contínuo susto. Estabeleceu uma aula de geometria e fortificação, introduziu muitos melhoramentos em Benguela, mandou levantar o presidio de Novo Redondo e receando-se a guerra na Europa fez concertar e aumentar as fortalezas na capital. Mandou edificar a casa da Alfândega e a da junta da fazenda, e estabeleceu fundições de peças de campanha, obra nunca vista até então naquelas regiões. Reduziu a melhor forma a cobrança dos dízimos com o que lhe triplicou o rendimento e o mesmo fez no contracto do sal. No último ano do seu governo (1772) cuidava em construir uma fragata que não concluiu em consequência da chegada de D. António de Lencastre, que lhe sucedeu. Antes de ir para a África, serviu no exército como coronel de infanteria e, depois, de cavalaria, tomando parte, com este último posto na campanha de 1762. Depois de voltar a Portugal, foi nomeado embaixador em Madrid e aí faleceu. O retrato que aqui damos é cópia do que existe actualmente em casa do sr. Marquês de Funchal, que muito graciosamente nos facultou autorização para o reproduzirmos. O mesmo soubessem fazer outros cavalheiros, cujos nomes caridosamente ocultamos, de quem em vão temos solicitado fineza semelhante.

Pág. 220 - Execução do Duque de Aveiro
Para nos não repetirmos, recorra o leitor ao que dissemos na ligeira notícia com que acompanhamos a estampa idêntica de pág. 201.

Pág. 221 - D. Eusébio Luciano de Carvalho
É uma reprodução fac-similada de uma gravura da época o retrato que aqui damos deste ilustre prelado português na Índia.

Pág. 224 - S. Pedro de Alcântara
Ainda do curioso livro de Luiz Gonzaga Pereira, a que tantas vezes nos temos referido e que existe manuscrito na Biblioteca Pública, extraímos a estampa a que se refere esta ligeira notícia. Este edifício fora convento de arrábidos, e fundado por D. António Luiz de Menezes, conde de Cantanhede e primo do marquês de Marialva, em acção de graças pela vitória de Montes Claros, em 1665. O fundador comprou umas casas que eram do conde de Avintes e outras que eram de Marcos Rodrigues Tinoco, imediatas, para levar a efeito o cumprimento do seu voto. A primeira pedra foi lançada em 19 de abril de 1685. Depois da extinção das ordens religiosas, foi o edifício do mosteiro destinado para recolhimento de órfãs, dependente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e de recolhimento está ainda actualmente servindo.

Pág. 225 - D. Manuel, irmão de D. João V
Filho de D. Pedro II, nasceu em Lisboa a 3 de agosto de 1607. Dotado de um espírito ardente e aventuroso, tinha apenas dezassete anos, quando mostrou os mais vivos desejos de ir viajar no estrangeiro e militar nalguma das guerras que então ardiam na Europa. M. Pinheiro Chagas na nossa História largamente se refere a este simpático Príncipe, pelo que entendemos não dever aqui reeditar o que já ficou dito. D. Manuel foi um dos últimos príncipes portugueses, que ilustraram no estrangeiro o nome da nossa pátria e da sua família. O retrato que aqui damos é copiado de outro excelente que existe na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 228-229 - Aspecto geral do Terreiro do Paço
Por ser muito bem feita, encontrar-se já pouco e não nos parecer descabida a sua inclusão na História mandámos reproduzir esta curiosa gravura, represen­tando o plano primitivo para a Praça do Comércio, e que, como se vê comparando com o que está feito, se nos afigura muito mais elegante. Quem quiser acerca do assunto mais desenvolvida notícia do que a que nos dá P. Chagas na nossa História, leia o extenso artigo que a seu respeito se encontra na Lisboa Illustrada, outra publicação interessante da nossa Empresa.

Pág. 233 - Francisco José de Sampaio e Castro
Vice-rei da Índia, sendo o 76° na ordem de sucessão. Quanto à autenticidade deste retrato, veja-se o que fica dito acerca dos dois anteriores governadores da Índia.

Pág. 237 - S. Cornélio
A ordem dos religiosos de S. Pedro de Alcântara teve a sua primeira instituição na serra da Arrábida em 1660, e em Lisboa em 1672, sendo o convento a que nos referimos fundado em 1674 nas proximidades da freguesia dos Olivais, no termo de Lisboa. A igreja possui três capelas, sendo uma das laterais dedicada ao Santíssimo Sacramento. Na sacristia desta igreja observa-se um lindo tecto onde se vê uma formosa pintura dedicada à Assumpção de Maria Santíssima e os apóstolos, obra de invenção e pincel do sempre lembrado benemérito Pedro Alexandrino de Carvalho, obra esta de grande apreço. Depois do decreto de 1834, que aboliu todas as ordens religiosas, foi a cerca deste convento entregue à junta de paróquia dos Olivais para servir de cemitério e a igreja da capela, ficando assim ao abrigo da rapina a que foram entregues outras casas idênticas.

Pág. 240 - Joaquim Machado de Castro
É um dos homens mais populares da nossa história artística, tão pouco extensa, e ainda assim tão ignorada. Nasceu Machado de Castro em Coimbra no mês de junho de 1721, sendo seus pais Manuel Machado Teixeira e D. Teresa Angélica Taborda. Estudou gramática latina com os padres jesuítas, e principiou a exercitar-se na escultura, tomando, as lições de seu pai, que no dizer de Annes Rodrigues modelava com graça e expressão. Falecendo sua mãe, e passando seu pai a novas núpcias, de tais rigores usou para com ele a madrasta, que o obrigou a deixar a casa e terra natal, retirando-se para Lisboa aos quinze anos. Nesta cidade estudou com Nicolau Pinto, escultor em madeira; o qual notando a singular habilidade do discípulo o encarregou de fazer modelos, que o mesmo Pinto copiava em madeira, tornando-se deste modo seu discípulo. Da casa de Nicolau Pinto passou Machado para a de José de Almeida, que estudou com muito aproveitamento em Roma, a expensas de D. João V, a escultura em mármore. Aí se demorou Machado alguns anos, não só auxiliando seu mestre nas obras que este delineava, mas também fazendo algumas exclusivamente suas, e satisfazendo com prontidão as numerosíssimas encomendas de modelos que lhe faziam outros escultores. Apesar do módico preço que pedia por estes trabalhos, eram ainda assim uma boa fonte de receita, pela afluência deles e facilidade com que os executava; todavia, o interesse pecuniário não foi bastante poderoso para prender em Lisboa o nosso artista, sem dúvida por interesse de muito maior valia, qual era o de aproveitar as lições do insigne escultor italiano Alexandre Giusti, que então trabalhava nas obras de Mafra. Conseguindo ser ali admitido com modicíssimos vencimentos, em breve cativou a amizade do mestre, do qual foi nomeado ajudante no ano de 1756, permanecendo neste lugar, e trabalhando sempre com zelo infatigável e muito aproveitamento mais de 14 anos. Foi no decurso desse tempo que travou conhecimento com o padre Francisco José Freire (Cândido Lusitano), do qual recebeu lições de retórica e poética, e com Francisco Vieira Lusitano, o famoso pintor, de quem o nosso artista conservou sempre a mais grata memória. Em fins do ano de 1770, foi convidado para fazer o modelo em ponto pequeno de uma estátua monumental, em confronto com outra encomendada a um estrangeiro: é a História da estátua de D. José, de que P. Chagas nos dá desenvolvida notícia e de que nos parece ocioso transplantar para aqui mais nada. Além deste notável monumento, que constitui a sua maior reputação, deixou ainda Machado de Castro numerosíssimas obras, entre as quais citaremos: o baixo-relevo do frontispício da Basílica da Estrela, e as estátuas em mármore de Nossa Senhora, S. José, Santo Elias, S. João da Cruz, Santa Teresa, Santa Maria Madalena de Pazzi, e bem assim as da Fé, Gratidão, Adoração e liberalidade, colocadas sobre colunas. Sua é também toda a escultura dos túmulos de D. Maria Victoria. em S. Fran­cisco de Paula; D. Maria da Áustria, no Hospício de Joio Nepomuceno; D. Afonso IV, em bronze, na capela-mor da Sé de Lisboa. A estátua em mármore de Carrara, de D. Maria I executada pelos seus discípulos Constantino José Rodrigues e Feliciano José Lopes, e que actualmente existe na Biblioteca Pública, é também composição sua. Como remuneração de todo o serviço que fez para a estátua equestre recebeu apenas um diploma de cavaleiro professo da ordem de Cristo. Nomeado por D. José escultor da Casa Real e por D. João VI director de toda a escultura do palácio da Ajuda e obras reais, nunca recebeu outra recompensa mais do que o seu ordenado de lente da aula de escultura. Faleceu em 17 de novembro de 1822, contando noventa anos de idade; foi sepultado na igreja dos Mártires. O seu retrato é copiado de uma gravura muito conhecida da época.

Pág. 241 - Defesa de Ouguela
Representa a nossa estampa mais um glorioso feito de armas do valoroso povo português, e encontra-se a sua notícia nas págs. 47 e seguintes do volume 7º da nossa História.

Pág. 244 - Bartolomeu da Costa
General do exército português, especialmente conhecido por haver dirigido os trabalhos da fundição da estátua equestre de D. José I, de que a nossa História deu em lugar competente a respectiva notícia. Sentando praça em artilheria aos treze anos de idade, embarcou por várias vezes na armada de guarda costa, e fez algumas viagens ao Brasil e Angola, até que, sendo, em 1758, despachado condestável-mor de artilheria da guarnição da costa e marinha, foi mandado servir às ordens do tenente-general de artilheria Manuel Gomes de Carvalho e Silva, para ser empregado no arsenal do exército. Em 1762 foi promovido a ajudante de artilheria, e, por ocasião da guerra que nesse ano houve com a Espanha, deu a conhecer o seu génio não vulgar, fundindo peças de bronze e construindo reparos mais perfeitos do que aqueles que usava o nosso exército, vindos de ordinário de Inglaterra. O conde de Lippe, reconhecendo então o préstimo do jovem oficial, promoveu-o a capitão da companhia de bombeiros do regimento de artilheria de S. Julião, mas como logo se sentisse a sua falta ao arsenal foi mandado regressar a esse estabelecimento, e aí prestou magníficos serviços. Em prémio da fundição da estátua equestre, foi nomeado intendente geral da fundição de artilheria, e obteve a patente de brigadeiro de infanteria, em exercício em artilheria, soldo dobrado e a mercê do hábito de Cristo. Foi ainda depois incumbido de vários serviços de importância e responsabilidade. Acometido em 1800 de um ataque de hidropisia do peito, ainda se restabeleceu, mas faleceu a 7 de julho de 1801.

Pág. 245 - S. Bento da Saúde
Como se vê em pouco ou nada se alterou, desde os princípios do século XIX para cá, o aspecto do edifício, onde actualmente se acham instaladas a Tor­re do Tombo e as duas casas do Parlamento. Escusado é dizer que foi ainda do livro inédito de Luiz Gonzaga Pereira, Descripção dos Monumentos Sacros de Lisboa, que copiámos a estampa que temos à vista. O convento de S. Bento da Saúde foi fundado pelo Geral da Ordem Beneditina D. frei Baltasar de Braga, e pelo desenho de Baltasar Álvares. Principiou a sua construção em 1598 e ficou concluída a obra em 1615. É um edifício vasto e tinha grandes rendas. Depois da extinção das ordens religiosas foi destinada uma parte dele logo em 1834, para parlamento, como acima dizemos, e, outra parte para Torre do Tombo.

Pág. 248 - D. Cristóvão de Mello
Exerceu por três vezes o cargo de governador da Índia: a primeira só, e a segunda e a terceira com companheiros. Para autenticidade deste retrato veja-se o que ficou dito acerca dos de outros governa­dores seus antecessores.

Pág. 249 - Abside de S. Domingos, de Elvas
O convento a cuja igreja pertence esta abside foi fundado em 1543 por duas irmãs que depois foram ali freiras, nas suas próprias casas e com as suas rendas, dando-lhes também D. João III as fazendas e rendas do Padre Pero Esteves. O convento foi suprimido em 1861, por ter uma só freira professa, que teve de ir viver para casa de sua sobrinha. Morreu esta freira em 1873, de 104 anos de idade.

Pág. 252 - Diogo Inácio de Pina Manique
Este célebre intendente da polícia nasceu a 3 de outubro de 1733. Dos seus actos, que em geral têm todo o cunho da reacção que servia com dedicação e diremos mesmo que com convicção, já este volume da História tem dado minuciosa conta. Pina Manique faleceu com 72 anos de idade em 30 de julho de 1805. A História estigmatiza e com justificado motivo este perseguidor dos liberais e o apologista de todos os actos tendentes a fazer retrogradar o espírito do público, mas não pode deixar de apregoar os louvores do fundador da Casa Pia, do homem que primeiro fez de Lisboa uma cidade verdadeiramente europeia, e que contribuiu, portanto, involuntariamente é certo, para esse progresso, que odiava profunda e rancorosamente. O retrato que aqui damos é cópia dum conhecido retrato da época.

Pág. 253 - Nossa Senhora da Estrela
Pertencia esta casa à ordem dos Beneditinos, que foi instituída em Portugal no ano de 1548. A igreja possuía capelas da invocação de S. Bento e de outros santos da ordem. Depois da extinção das ordens religiosas foi destinado o convento para hospital militar que ainda lá se conserva, tendo também num dos dormitórios a Real Academia de Desenho de História e de Arquitectura Civil, criada em 23 de agosto de 1781, a qual tem percorrido bastantes casas, até que em 1876 passou de todo para o extinto convento de S. Francisco, onde actualmente se acha instalada.

Pág. 256 - Filinto Elísio
Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido no mundo das letras pelo nome de Filinto Elísio, que adoptou depois de ter usado por algum tempo o de Filinto Niceno, nasceu em Lisboa em dezembro de 1734. Era presbítero secular e, por haver proferido certas proposições pouco ortodoxas, foi denunciado ao Santo Ofício, sendo-lhe em seguida passada ordem de captura, a que, felizmente, conseguiu escapar homiziando-se em casa de dois amigos durante 11 dias, ao fim dos quais logrou embarcar para o Havre, disfarçado em moço levando um cesto de laranjas às costas. Isto foi em 1778. Do Havre, onde desembarcara depois de 27 dias de trabalhosa viagem dirigiu-se a Paris, permanecendo na grande capital francesa até 1792, em que passou, na qualidade de secretário particular do conde da Barca, António Araújo de Azevedo, para a Haya, onde residiu cinco anos em continuo dissabor, pois que, conta-o ele próprio numa passagem da sua grande obra, não tinha com quem falar, senão com judeus portugueses, porque da língua holandesa, ainda que ali vivesse cem anos, nem palavra. Voltando a França em 1797, aí permaneceu até 1819, em que faleceu duma hidropisia com 85 anos de idade, depois de uma vida fadigosa e atribulada a que o fez resistir a sua compleição física, bastante robusta. Os seus restos mortais foram trasladados 23 anos depois em 1842, para a pátria, e guardados em 1866 em monumento erguido à sua memória no Alto de S. João. É extensa bastante a obra do notável poeta, cuja biografia tem sido largamente tratada por grande número de escritores de nomeada, nacionais e estrangeiros. As suas Obras completas (a que se não pode bem dar este nome porque nelas faltam muitas composições, umas já então impressas em separado, outras publicadas depois), estão compendiadas em 11 volumes, impressos em Paris, à custa dum livreiro portuense, Domingos Ribeiro França, de 1817 a 1819. O retrato que aqui damos é reproduzido do que acompanha o primeiro volume desta edição da mesma obra.

Pág. 257 - Suplicio do capitão Graveron
Em pág. 55 deste volume se lê a notícia deste suplício, justificadíssimo na época, em que se vê como o grande marquês compreendia como se devem castigar os delapidadores do dinheiro nacional.

Pág. 260 - D. Maria I

Pertence à Real Casa Pia de Lisboa, o retrato (mandado fazer pelos frades Jerónimos) que aqui damos desta soberana portuguesa.

Pág. 261 - Túmulo de D. Maria I
Como se sabe esta infeliz rainha faleceu no Rio de Janeiro em 1816, com perto de oitenta e dois anos de idade, sendo o seu cadáver depositado no dia 23 de março daquele ano no convento das religiosas de Nossa Senhora da Ajuda, donde foi trasladado para Lisboa a bordo do paquete Princesa Real, que chegou a esta cidade em 4 de julho de 1821, sendo o caixão depositado provisoriamente, no dia 7, na igreja de S. José de Ribamar. No dia 18 de março de 1812 se trasladou para o mosteiro da Estrela, e no dia 20 foi entregue a soror Maria Barbara, freira do mesmo mosteiro. Foi então depositada naquele túmulo, que a nossa gravura representa, túmulo construído por Luiz Chiari, na capela-mor da mesma igreja do lado do Evangelho. Abstemo-nos de reproduzir aqui o longo epitáfio que se lê nesse túmulo, por ser em latim, o que nem todos estão habilitados a compreender e por isso não interessa muito ao assunto destas notas.

Pág. 264 - João de Saldanha da Gama
Sucedeu no governo da Índia aos governadores D. Inácio de Santa Tereza, arcebispo primaz e chanceler de estado, Cristóvão de Mello, em 28 de outubro de 1725. Governou até 23 de janeiro de 1732. Veja-se para a autenticidade deste retrato o que ficou dito acerca dos retratos de outros governadores da Índia anteriormente publicados na nossa História.

Pág. 265 - Portal do convento de Cristo
É sem dúvida este um dos restos mais brilhantes do grandioso convento de Cristo em Tomar. Descrevê-la, levar-nos-ia um tempo e um espaço de que não podemos dispor. Quem desejar mais ampla informação não só sobre o portal, mas ainda sobre o edifício veja o interessante livro impresso nos prelos da Empresa da História de Portugal, Ordem de Cristo, pelo sr. dr. Vieira Guimarães.

Pág. 268 - D. Inácio de Santa Tereza
Arcebispo primaz das Índias, em cujo governo se manteve, com o chanceler de estado Cristóvão Luiz de Andrade e D. Cristóvão de Mello, desde 13 de setembro de 1728; governaram todos três até 28 de outubro de 1725. O dito arcebispo sucedeu segunda vez ao vice-rei João de Saldanha da Gama, com D. Cristóvão de Mello e Tomé Gomes Moreira, governando os três até 7 de novembro de 1732. Para justificação da autenticidade deste retrato, vejam o que fica dito nas notícias anteriores acerca do governador da Índia.

Pág. 269 - Chafariz das Janelas Verdes
Diz-se ser obra de Joaquim Machado de Castro a artística estátua que encima o elegante chafariz que se ergue no espaçoso largo em frente do actual Museu das Janelas Verdes. É este o motivo por que para aqui mandámos reproduzir aquela obra de arte, uma das fontes mais monumentais que ornamentam os largos de Lisboa.

Pág. 272 - Manuel Maria Barbosa do Bocage
Nascido em Setúbal, a 15 de setembro de 1765, Manuel M. B. do Bocage, depois de feitos os primeiros estudos com o padre D. João de Medina, sentou praça de cadete, em 1780, no regimento de infantaria, sendo despachado guarda-marinha para o estado da Índia em 1786. Passado pouco tempo, em 1789, foi promovido a tenente de infanteria para servir em Damão, onde apenas se conservou dois dias, ausentando-se furtivamente para Macau, donde passou ao reino em 1790. A sua vida foi sempre muito acidentada e irregular, a ponto de, em 1797, ser preso e conduzido à cadeia por ordem do intendente da polícia, e em virtude de denúncias dadas contra ele, como autor de papeis ímpios, sediciosos e satíricos, especialmente de um, que era nem mais nem menos do que a celebrada Pavorosa illusão da eternidade... Meses depois, era posto em liberdade, sendo-lhe proveitosa a correcção expiatória que sofreu, e que o obrigou a alterar um pouco os seus hábitos de vida desordenada. É enorme o catálogo das suas obras e das edições que delas se fizeram, e de que Inocêncio da Silva dá uma bela resenha no seu Diccionario Bibliographico, vol. 6°. Foi o mesmo Inocêncio que notando a dificuldade de se poder reunir toda a obra do insigne Elmano, avocou a si o enorme trabalho de a colecionar harmonicamente, em 6 bons volumes, editados pelo falecido livreiro António José Fernandes Lopes, subordinados ao título geral de Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, colligidas em nova e completa edição, dispostas e anotadas por I. F. da Silva e precedidas de um estudo biographico e litterario sobre o poeta, por L. A. Rebelo da Silva, Lisboa na tipografia de António José Fernandes Lopes, 1853, 8° gr., com um retrato do poeta, copiado da gravura original de Bartolozzi; 6 volumes de cerca de 400 páginas cada um. Em igual formato ao desta edição há o chamado 7° volume, que inclui as poesias eróticas, burlescas e satíricas do mesmo poeta. O grande poeta que, durante algum tempo foi sócio da Nova Arcádia, onde tinha o nome de Elmano Sadino, foi arrebatado em plena florescência da vida aos 40 anos, falecendo em 21 de dezembro de 1805. Acerca de Bocage há muitos estudos críticos e biográficos, sendo dignos de especial menção os tra­balhos de Rebelo da Silva, A. M. do Couto, J. F. de Castilho, Lopes de Mendonça, T. Braga, etc. É reproduzido de um bom retrato da época o que aqui apresentamos do genial poeta.

Pág. 273 - Inauguração da estátua de D. José
Veja-se nos primeiros capítulos deste volume a descrição da inauguração deste monumento, o mais grandioso no género que Lisboa possui, cujas festas se iniciaram com a saída da estátua do arsenal em que fora fundida, até três dias depois de assente no seu condigno pedestal, ser exposta às vistas da população.

Pág. 276 - D. Pedro III
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o retrato donde foi copiado o que aqui damos do príncipe consorte D. Pedro, que não deixou de si grande memória.

Pág. 277 - Igreja de Laveiras
Já num volume anterior da nossa História demos a reprodução deste edifício, conforme ele actualmente se encontra, acompanhando a gravura uma pequena descrição, o que nos dispensa de aqui nos alongarmos, limitando-nos a dizer que pouco difere o estado actual da igreja daquele em que se encontrava nos princípios do século XIX conforme na sua Descripção dos monumentos sacros de Lisboa o traz Luiz Gonzaga Pereira, donde copiámos o que o leitor tem à vista.

Pág. 280 - José da Silva Xavier, o Tiradentes
Todos os retratos existentes deste protomártir da liberdade brasileira são copiados de um pintado em madeira feito por indicação de pessoas de família do famoso republicano brasileiro. O retrato existente no Museu de Ipiranga em S. Paulo tem a seguinte nota, que o autor destes apontamentos copiou com o fim de a reproduzir aqui: «Este busto não é autêntico, porquanto o Tira-Dentes não deixou retrato algum, visto não haver fotografias naquele tempo. Em 1792 foi feito um retrato a pin­cel em tábuas de pinho, pregadas horizontalmente e executado segundo informações da fisionomia do morto prestadas pela família. A família e parentes, achando o retrato parecido aceitou-o e o fez reproduzir».

Pág. 281 - Coro do convento de Santa Clara
Já noutro volume da nossa História demos um aspecto deste convento, e na notícia que lhe consagrámos, dissemos o que o espaço nos permitia dizer. Aqui apenas acrescentaremos, como esclarecimento que o coro, que a nossa gravura representa, é tão vasto como uma grande igreja, e está ornado de quadros de pintura antiga. No fundo do coro está o mausoléu de D. Leonor Afonso, filha natural de D. Afonso III, que foi freira neste mosteiro.

Pág. 284 - Pedro de Mascarenhas
Vice-rei da Índia, primeiro conde de Sandomil. Sucedeu naquele elevado cargo a D. Inácio de Santa Teresa, arcebispo primaz, D. Cristóvão de Mello e Tomé Gomes Moreira, em 7 de novembro de 1732, e governou até 18 de maio de 1741. Quanto à autenticidade deste retrato, veja-se o que dissemos quando tratámos do de D. Francisco Coutinho, a páginas 609 do 6º volume da História.

Pág. 285 - Coche de gala de D. João V
Constituía um dos luxos de D. João V a exibição de grandes e artísticas equipagens, que, em verdade, rivalizavam, senão excediam em beleza e valor, as de que usavam os outros reinantes da Europa. Alguns deles acham-se ainda em uso, outros conservam-se no Museu de Belas-Artes, como o que a nossa gravura representa.

Pág. 286 - Tomás António Gonzaga
Poeta português da segunda metade do século XVIII, tão célebre pelas composições que nos deixou como pelo triste fim que teve em consequência de haver entrado na revolta de Minas Gerais, de que era chefe o Tira-Dentes. Nasceu no Porto em 1741, mas viveu quase sempre no Brasil, até à sentença que, em consequência de se achar implicado nos acontecimen­tos a que acima nos referimos, o condenou a ir para a África, onde morreu doido em 1807. A nossa História refere-se largamente ao ilustre poeta e ao seu triste fim. Tomaz Gonzaga é autor de um belo livro de versos Mariha de Dirceu, em que há encantos e maravilhas que fazem lembrar Petrarca. Do Panteão Brasileiro mandámos copiar o excelente retrato que aqui damos do notável quanto infeliz poeta..

Pág. 289 - Estátua de D. José I
Por ser trabalho português de inexcedível perfeição, e feito ainda no século XVIII, do qual nos representa alguns dos costumes, e ainda por ir rareando cada vez mais, preferimos reproduzir aqui esta gravura do elegante monumento, a fazer a reprodução directa de qualquer fotografia actual.

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Pág. 292 - D. José, Príncipe do Brasil
Filho de D. Maria I, nasceu em Lisboa em 21 de agosto de 1761. Conta-se que o marquês de Pombal tinha por ele muita predileção, que desejara fazer com que a coroa passasse directamente da cabeça de seu avô, D. José I, para a dele, e que, para isso, ins­tara para introduzir em Portugal a lei sálica. Acrescenta-se que fora por isso que D. Maria I votara um ódio implacável ao ministro de seu pai, e que, por ter descoberto à rainha D. Maria I, ainda outra princesa real, os projectos do grande marquês, é que José de Seabra fora desterrado para Angola. Outros dizem, porém, que, longe de ser o príncipe D. José o discípulo predileto do marquês de Pombal, e de lhe oferecer garantias de conservação de poder, era, pelo contrário, pouco afeiçoado ao marquês. É já hoje impossível destrinçar a verdade deste mistério da corte. O que é certo é que D. José passava por ser um príncipe inteligentíssimo, ou porque assim fosse realmente, ou porque a sua morte prematura fizesse com que lhe atribuíssem todas as virtudes e todas as qualidades, como é costume. O príncipe D. José casou a 21 de fevereiro de 1777, três dias antes da morte de seu avô, que estava já nesta ocasião doentíssimo, com sua tia a princesa D. Maria Benedita. Morreu em 1788, ficando então herdeiro do trono seu irmão D. João, que foi depois D. João VI. Foi pranteadíssima por todos a sua morte. Consagrou-lhe um epicédio o grande poeta Bocage.

Pág. 293 - Santo António dos Capuchos
Foi fundado este convento por Diogo Botelho, que lhe deu o edifício e a maior parte da cerca. Outros devotos lhes deram terrenos e várias rendas. O rei D. Sebastião lhes mandou fazer a cerca. Principiaram as obras em 1570, lançando-se-lhe a primeira pedra a 15 de fevereiro do dito ano. Outros reis lhe fizeram obras e lhes deram rendas. Suprimidas as ordens religiosas em 1833, foi depois este mosteiro destinado para asilo de mendicidade de ambos os sexos, cujos asilados são caridosamente sustentados por este estabelecimento. Fica situado perto do Campo de Sant'Ana, na freguesia da Pena. Junto ao edifício, no lado direito estão as chamadas capelinhas com os passos da paixão, muito visitadas em certas épocas do ano.

Pág. 296 - Domingos Francisco Vieira

Pintor português do século XVIII, que, segundo os seus biógrafos, reunia à profissão da arte de pintura, em que dizem não era dos de menos conta, a de negociante ou vendedor de drogas. Foi pai do célebre pintor português Francisco Vieira, Portuense. Mandámos copiar o seu retrato do que existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

Pág. 297 - Basílica da Estrela
Dos grandes monumentos de Lisboa, o que data de tempos mais recentes é a Basílica da Estrela, formosa construção, em que se despendeu muito dinheiro acumulado pelo Marquês de Pombal nas arcas do Tesouro. Foi a rainha D. Maria I, quem, impelida por uma requintada ternura para com o Santíssimo Coração de Jesus, lhe votou e edificou em seu louvor o magnífico convento da Estrela. Parece que a rainha prometera o cumprimento deste voto para quando chegasse a obter sucessão à coroa. Depois doou o convento às freiras de Santa Teresa, ou Carmelitas descalças, instalando aí, em 16 de junho de 1781, dezasseis freiras. Foi grande festa a desse dia, assistindo ao auto a rainha e toda a família real, e seguindo-se às cerimónias da igreja um esplêndido jantar, durante o qual todas as pessoas reais quiseram servir as freiras à mesa. As obras do Convento da Estrela, calculadas por alguns em cinco milhões de cruzados e por outros em nove milhões, foram postas a cargo de Anselmo José da Cruz Sobral, a quem a rainha deu a Carta de Conselho pelo muito zelo que na direcção tomou, e que também recebeu como oferta todas as madeiras que haviam servido nos andaimes «e que foram tantas, que quase lhe chegaram para a construção de numerosas propriedades de casas que edificou, e formam o grande quadro isolado entre o Chiado, Calçada e Rua de S. Francisco e Rua Nova do Almada.» Para a grande obra da Basílica da Estrela lançou a primeira pedra el-rei D. Pedro III, no dia 24 de outubro de 1779; mas, apesar da actividade com que os trabalhos progrediram, onze anos foram precisos para a sua conclusão. O major Mateus Vicente foi o arquiteto desta basílica, que encheu de riquezas e defeitos. Tendo falecido em 1780, foi chamado para o substituir Reinaldo Manuel, que dirigiu os trabalhos até ao fim. Uma grande escadaria guarnecida de colunelos lavrados com primor conduz ao espaçoso adro. Adornam o frontispício quatro colunas, que sustentam as estátuas da Fé, da Adoração, da Gratidão e da Liberalidade; e aos lados avultam as estátuas de Santo Elias, S. João da Cruz, Santa Teresa e Santa Madalena de Pazzi, todas de mármore, e colocadas em outros tantos nichos; as duas primeiras junto das janelas, as outras aos lados das portas. Duas portas abertas no envasamento das torres dão serventia para o interior do con­vento; e três outras, entre as quatro colunas, dão entrada para o vestíbulo da igreja. Um grande defeito aí se patenteia aos olhos do observador menos perito em Arquitetura. Referimo-nos a essas cinco portas em que a mão do arquiteto tão mesquinha foi. Demasiadamente estreitas e baixas para tão nobre e magnífica fachada, ofendem as mais despercebidas vistas: e as colunas e estátuas colossais, com que se pretendeu guarnecê-las, estabelecem o contraste, e denunciam o indesculpável defeito. Destituídas dos ornatos com que a arte costuma aformosear tais construções, o arquiteto não encontrou por certo os seus modelos nas sumptuosas basílicas que a Europa moderna vira erguer com assombro e que fizeram o orgulho de Roma, de Londres, de Viena e de Veneza. As duas torres, que imitam em ponto mais pequeno as de Mafra, merecem alguma atenção, particularmente pelas formas ligeiras dos engraçados coruchéus que lhes servem de coroa. O sino grande das horas pesa 275 arrobas, e todos, que são 11, pesam 1_43 arrobas. A famosa cúpula, que se eleva com tanto garbo e majestade e que atrai as vistas de quem entra o Tejo, é o melhor ornamento de todo o edifício. As janelas e os rótulos, que iluminam a igreja, são guarnecidos de delicados ornatos. Um imenso globo de metal doirado, sustentando uma cruz de ferro igualmente co­lossal, remata o elegante zimbório, que um raio danificou em 21 de fevereiro de 1819, quebrando-lhe uma das colunas que formam a lanterna, os ornatos de um dos rótulos e um ângulo da balaustrada que cerca o terrado da igreja. No vestíbulo há duas estátuas gigantescas do mais precioso mármore, colocadas em nichos. Representam Nossa Senhora e S. José. As três portas que do vestíbulo dão ingresso para a igreja, muito mais pequenas que as exteriores, pouco ou nada diferem das portas dos corredores laterais. Se um grande defeito pesa sobre a fachada principal, outro não menos censurável diminui no interior da igreja o mágico efeito que deveriam produzir tanta magnificência e riqueza acumuladas. Quem pela primeira vez transpuser os limiares do templo, nota-lhe desde logo a estreiteza; e antes que os lustrosos mármores que revestem as paredes, refletindo mil luzeiros, lhe mostrem os difíceis e brincados lavores que a arte aí juntou, a primeira impressão é péssima. Na verdade, a sumptuosidade interior da Basílica da Estrela excede, e em muito, a exterior; e se o corpo da igreja não fosse tão estreito, se maior porção de luz o abrilhantasse, melhor se afirmaria esta asserção, reconhecida ainda pelos mais fracos entendedores. É aí admirável a profusão dos mais ricos mármores; ora cinzelados com delicado primor, ora figurando lustrosos espelhos, desde o pavimento da igreja até ao remate da cúpula. O guarda-vento todo guarnecido de cercaduras e festões de flores e delicados ornatos, é obra-prima de escultura. Os seis altares do corpo da igreja são, como o da capela-mor, adornados com magníficos quadros. Um desses quadros, do Coração de Maria, foi pintado pela princesa do Brasil D. Maria Francisca Benedita. Na capela-mor está o soberbo mausoléu onde repousa a augusta fundadora. É todo de mármores negros e brancos com guarnições de bronze trabalhadas com admirável perfeição, A igreja tem em ambas belas fontes de mármore, e alguns bons painéis. Em uma delas está o rico túmulo que encerra as cinzas do confessor da Rainha D. Maria I. Feito igualmente de mármore preto e branco, é bastante maior que o daquela Soberana, e com quanto não seja guarnecido de tantos ornatos, é, contudo, magnífico. Toda a escultura da Basílica da Estrela é de Joaquim Machado de Castro. As dez estátuas mencionadas, os serafins das capelas colaterais e o baixo-relevo do frontispício, foram executados pelos insignes artistas Alexandre Gomes, João José Eleveni, José Joaquim Leitão e José Patrício. O convento tem duas frentes: uma contígua ao frontispício da igreja, sobre o Largo da Estrela; a outra deitando sobre a antiga cerca, é muito maior e de mais regular arquitetura. A construção da Basílica da Estrela custou 16 milhões de cruzados, ou seja, 6.400 contos de reis, e foi levada a efeito, como diz um nosso ilustre historiador «quando o país se achava falto de canais, de boas estradas e de outros muitos melhoramentos com que os governos ilustrados fazem a felicidade dos povos» (Lisboa Illustrada, in­teressantíssima publicação da Empresa da História de Portugal, págs. 140 e 142).

Pág. 300 - D. Luiz Caetano de Almeida
Governador da Índia, como sucessor de D. Luiz de Menezes, conde de Louriçal, em 12 de junho de 1742. Teve por companheiros naquele governo a D. Francisco de Vasconcelos bispo de Cochim e D. Lourenço de Noronha. Por se achar o dito bispo na sua diocese, e outro governando Moçambique, manteve-se só no governo até 9 de dezembro do mesmo ano, em que chegou o dito bispo, governando ambos até 30 de março de 1743, dia em que faleceu aquele bispo. Depois continuou a governar só, até 17 de maio do mesmo ano, em que chegou a Moçambique D. Lourenço de Noronha, com quem governou até 24 de setembro de 1744. Quanto à autenticidade deste retrato veja-se o que dissemos dos dois governadores antecedentes.

Pág. 301 - Caixão em que se guardam os restos mortais de Egas Moniz
O conde D. Pedro diz no seu Nobiliário, que Truycosendo mandou construir para jazigo de família uma igreja denominada Corporal de Paço de Sousa, que ficava contígua ao mosteiro, sendo de presumir, por isso, que fosse nela sepultado seu neto Egas Moniz. Em 1605, porém, o túmulo foi removido para a capela-mor, e em 1784 para o corpo da igreja, sendo provável que na primeira ou segunda remoção, por não caber no lugar a que fora destinado, os frades aproveitassem apenas a fachada do monumento fúnebre, que lá se conserva ainda, e abandonasse o sarcófago propriamente dito, em que estavam os ossos de Egas Moniz, de mistura com cinzas, cal e restos de armadura, desenhando os ossos das pernas um homem de corpulência agigantada, encerraram estes em um pequeno cofre, que depositaram dentro do túmulo, vindo por isso o primitivo sarcófago - a pedra que primeiramente recebeu o seu corpo - parar à fonte de Agamus. Ultimamente, quando o governo considerou o mosteiro como monumento nacional, foi o túmulo aberto, e encontrou-se dentro o cofre, que no nosso desenho se representa, e que se mostra na sacristia do templo como encerrando as cinzas de Egas Moniz. Lavrou-se disto um termo em triplicado, ficando um exemplar no cartório do mosteiro, indo outro para a Câmara de Penafiel e o terceiro para o Porto. O cofre espera no entretanto que se reconstrua o túmulo de Egas Moniz, para nele ser de novo depositado.

Pág. 304 - Jacome Ratton
Famoso negociante e industrial, francês de nascimento, português pela naturalização, nascido na cidade de Monestier de Briançon, a 7 de julho de 1730. Vindo com seus pais para Portugal, e dotado de uma arrojada iniciativa, aqui se estabeleceu fundando várias fábricas e empresas importantes, para as quais encontrou logo auxílio no governo, que era então o do marquês de Sobral. Em 1762 naturalizou-se português e em 1788 foi nomeado deputado da Junta do comércio, e depois fidalgo cavaleiro da casa real, recebendo ao mesmo tempo o hábito de Cristo. Vivia tranquilo respeitado, considerado e feliz rodeado de seus filhos e escrevendo as suas memórias, quando em 1807 veio a invasão francesa de Junot. Claro é que foi uma das vítimas da Setembrada, sendo preso e conseguindo à força de dinheiro e de empenhos, que lhe permitissem exilar-se voluntariamente para Inglaterra. Foi lá que escreveu as suas Recordações, um livro preciosíssimo pela cópia de informações, de esclarecimentos e de anedotas que encerra com re­lação principalmente ao governo do marquês de Pom­bal e à reacção que se lhe seguiu. Não pôs à venda exemplar algum, limitando-se a brindar com eles alguns amigos. É esta a razão de ir rareando no mercado. Contudo, quem aqui lançou estas linhas tem a ventura de possuir um exemplar do qual foi reproduzido o retrato que o leitor tem à vista. Quando em 1815 se fez a paz geral, pôde Jacome Ratton voltar a Lisboa e acabar aqui tranquilamente os seus dias em fins de 1821 ou princípio de 1822. Foi ele o ascendente directo da actual família Daupias.

Pág. 305 - Suplício de João Baptista Pele
Os pormenores do processo, sentença e bárbara execução, que a nossa estampa representa vem minuciosamente descritos em páginas 99 e seguintes deste 7º volume da História.

Pág. 308 - Joaquim José de Barros Laborão
Escultor português, nascido em Lisboa em 1762. Em 1772, entrou para o atelier de João Groni, onde esteve dez anos, aprendendo principalmente a modelar. Depois foi trabalhar com João Paulo da Silva, escultor em madeira. Serviu de ajudante a Raimundo da Costa e ao Padre Crisóstomo Policarpo da Silva, e principalmente a Manuel Vieira. Enfim estabeleceu-se em casa própria, e as primeiras estátuas que modelou foram uma de Santa Clara e outra de S. Francisco. Os trabalhos de Laborão são numerosíssimos, e alguns deles bastante incorrectos. Notaremos especialmente a Fama, que se vê num obelisco situado no meio da quinta do marquês de Belas e que sustenta um medalhão com os retratos de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Esta estátua, apesar de não ser das mais correctas, encantou por tal forma o marquês de Belas, regedor das justiças, para quem foi feita, que não só lhe pagou largamente, mas ainda obteve para o artista a cruz de S. Tiago e o protegeu constantemente na sua carreira. Barros Laborão trabalhou também para o palácio da Bemposta, onde fez um excelente baixo-relevo na igreja. El-rei recompensou-o dando-lhe a direcção dos trabalhos artísticos de Mafra, que activou um pouco, e onde sucedeu a Giusti. Depois, trabalhou no palácio da Ajuda, e devem-se-lhe as estátuas da Honestidade, do Desejo e da Diligência, e diversos ornatos. Foi ajudado nestes trabalhos por seus discípulos Manuel Joaquim e José Pedro de Barros, assim como por um outro discípulo seu Gaspar Joaquim da Fonseca, natural de Viseu. Morreu a 3 de março de 1820, com cinquenta e oito anos de idade. Foi enterrado na sala do capítulo de Santo António dos Capuchos. O seu retrato existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa, donde foi copiado o que aqui damos.

Pág. 309 - Santo António da Convalescença
A ordem dos Religiosos Capuchos da Província de Santo António teve a sua origem em 1568 na província do Minho. Este convento mais conhecido pelo nome de Santo António da Cruz da Pedra foi edificado em 16_0; sendo reedificado em 1746. Fica situado junto da estrada de Benfica no sítio chamado Cruz da Pedra. Possui várias capelas, algumas das quais se acham adornadas com magníficas imagens e bons quadros. O convento foi vendido depois de 1834 edificando-se no seu lugar um palacete ficando a igreja entregue ao cuidado das pessoas daqueles lugares próximos.

Pág. 312 - Pedro Alexandrino de Carvalho
Pintor nascido em Lisboa no ano de 1730, filho de Lázaro de Carvalho e de Antónia Maria de Matos, batizado na freguesia dos Anjos e falecido na mesma cidade em 1810, trabalhando sempre com infatigável actividade, até aos últimos tempos da sua vida. Jaz sepultado na antiga igreja de S. José. É verdadeiramente célebre este pintor, não tanto pelo mérito das suas obras (não destituídas de valor ainda assim, e algumas delas muito apreciáveis), como pela sua extrema fecundidade. Não só as igrejas de Lisboa estão cheias dos quadros deste pintor, mas ainda se encontram não poucos, disseminados pelas igrejas da província. Uma das melhores obras, senão a melhor, é o quadro do Salvador do Mundo, que pode ver-se na Sé de Lisboa, e ao qual Cyrilo se refere com exagerado louvor, mas que, todavia, tem bastante mérito. O conde de Rackzinsky, excelente apreciador, compara Alexandrino, pela gran­de facilidade de trabalho, com o pintor prussiano Rod, seu contemporâneo, notando, contudo, no artista português, tendências mais elevadas. Ambos tinham de comum, segundo observação do mesmo autor, frouxidão de colorido e negligência nos toques. Discípulo de Bernardo Pereira, pintor obscuro, em breve excedeu o mestre, colhendo melhor resultado das lições de André Gonçalves, seu vizinho e cujas obras procurou imitar, o que lhe não foi difícil conseguir não poucas vezes com singular vantagem. É para lastimar que nunca pudesse sair do meio acanhadíssimo em que era forçado a viver em Portugal; tinha talento bastante, para lhe ser profícuo o estudo das obras dos grandes mestres, tão profusamente espalhados nesse vastíssimo templo das belas-artes na Itália. O seu retrato é copiado do que existe na Academia de Belas-Artes em Lisboa.

Pág. 313 - Projecto de monumento a D. Maria I
Quem tenha passado - e pode dizer-se que tem sido toda a população de Lisboa - pela Avenida da Liberdade, para cima da rua das Pretas, deve ter atentado em quatro estátuas de mármore, quatro figu­ras representativas da Europa, Ásia, África e América; o que, porém, estamos certos, muita gente ignora é há quanto tempo e para que fim foram essas estátuas feitas, e que é o que nós lhe vamos contar. Em 1794, por ordem do intendente geral da polícia Diogo Inácio de Pina Manique, fora encarregado João Gerardo de Rossi, director então dos pensionados de Portugal de Belas-Artes em Roma, de mandar executar um monumento a D. Maria I, cuja parte arquitetónica, o próprio dr. Rossi delineara, cometendo a João José de Aguiar, então ali pensionado de Portugal, a execução dos modelos da respectiva parte estatuária. Em 1797 achava-se ele já concluído, e, depois de tomado pelo exército francês, quando este invadiu os Estados da Igreja, fora resgatado por uma quantia insignificante e remetido para Lisboa, com todo o espólio da antiga Academia de Belas Artes de Portugal, que por esse tempo havia sido extinta pelo governo português. Chegado o monumento a Lisboa, jazeu no mais completo esquecimento até 1849, em que foi nomeada uma comissão para se escolher local para o monumento, que seria o actual Jardim da Estrela; mas esse local teve outro destino, e o monumento esqueceu-se de novo. Nomeada nova comissão, esta declara o monumento destituído de valor, e o monumento, que do Palácio de Belém, onde primitivamente estivera guardado, fora transportado para perto do Jardim da Estrela, lá voltou de novo para o Paço de Belém, donde tornou a sair para abrilhantar os festejos do casamento de D. Pedro V, sendo apropriado na decoração da coluna alegórica que então se levantou na praça do Rossio. Mais tarde foi cedido à Associação dos Arquitetos e Arqueólogos portugueses, que a mandou armar no seu Museu do Carmo, onde tem estado incompleta, e donde há poucos anos foram retirados para a Avenida, onde actualmente se veem as quatro estátuas dos cantos. - A estátua colossal da Rainha, como se vê pela nossa gravura, era destinada à parte culminante do monumento. No pedestal havia três baixos-relevos, cujos assuntos se referiam a actos do reinado de D. Maria I. O leitor curioso encontrará mais minuciosa notícia sobre o interessante ex-monumento no Archivo de Architectura civil, nos 9 e 10, de 1867.

Pág. 316 - Pedro Miguel de Almeida Portugal
Conde de Assumar, marquês de Castelo Novo; sucedeu como vice-rei da Índia aos governadores D. Francisco de Vasconcelos, bispo de Cochim, D. Lourenço de Noronha e D. Luiz Caetano de Almeida, em 14 de novembro de 1744. Em 1748 obteve a mercê do título de Marquês de Alorna. Governou até 27 de setembro de 1750. Para justificar a autenticidade deste retrato, veja-se o que ficou dito acerca dos outros governadores da Índia publicados anteriormente na nossa História.

Pág. 317 - Porta manuelina do convénio de S. Francisco
Este convento, de que já noutro volume da História nos ocupámos, tinha a igreja de arquitetura gótica; mas com a ruína do tempo e os sucessivos acrescentamentos, a construção geral é agora heterogénea; entretanto, vista por partes, tem coisas deliciosas de arquitectura, sendo uma delas a porta manuelina, que a nossa gravura representa.

Pág. 320 - Belchior Curvo Semedo
Entre a plêiade de bons poetas que do século XVIII transitaram ao XIX, trazendo já daquele século uma bagagem literária e um nome de primeira ordem, destaca-se o vulto de Belchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira, conhecido entre os Árcades por Belmiro Transtagano, decerto por ser originário das terras de além Tejo, pois que o notável poeta nascera na vila de Montemor-o-Novo, a 15 de março de 1766, vindo a falecer em Lisboa a 28 de dezembro de 1838, contando, portanto, 72 anos de idade. Sectário distintíssimo da escola francesa, Belchior Curvo Semedo é considerado como um dos melhores poetas da Arcádia, sendo os seus apólogos e ditirambos tidos como modelos do género, isto segundo os críticos mais especiais. Dos seus so­netos dizem os entendidos que pouco inferiores se podem considerar aos de Bocage, que foi o primacial em tal género de composições. E que tinha valor prova-o evidentemente a justiça que o próprio Bocage lhe fez depois de ter vivido com ele muito largo tempo como inimigo, em consequência de renhidas contendas literárias que um com outro tiveram, vindo, por fim, a congraçar-se. A tal respeito consulte-se a Colecção dos improvisos de Bocage na sua perigosa enfermidade, etc. - As suas composições andaram por muito tempo dispersas, até que, a pedido de amigos seus, o ilustre poeta as colecionou em 4 volumes subordinados ao título geral de Composições poéticas de B. M. C. S., entre os Árcades Belmiro Transtagno (1803-1835), o último dos quais ele já não pôde rever, por se lhe terem alterado nos últimos anos as faculdades intelectuais. Além destes quatro volumes, ainda em 1820 saiu na Imp. Régia um volume Traducção livre das melhores fábulas de Lafontaine, que foi depois reimpresso duas vezes (1834 e 1881). De Belchior Manuel Curvo Semedo conservam-se ainda algumas composições inéditas, de que Inocêncio Francisco da Silva, o ilustre bibliografo, do qual extratámos os dados para a presente nota biográfica, acusava possuir algumas. - O retrato que acompanha esta pequena notícia é reproduzido do que vem, aberto a buril, no primeiro volume das suas Composições Poéticas. - Belchior Curvo Semedo era fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo das Ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição, capitão do corpo de engenheiros e escrivão da Mesa dos Portos Secos da Alfândega geral de Lisboa.

Pág. 321 - Incêndio da Trafaria
Foi uma das últimas barbaridades e prepotências do omnipotente marquês de Pombal a cena que a nossa gravura representa, e que vem descrita a págs. 111 e seguintes deste 3° vol. da História de Portugal.

Pág. 324 - Manuel de Saldanha e Albuquerque
Conde da Ega, vice-rei da Índia, sucedendo neste cargo aos governadores D. António Taveira da Neiva Bruno, arcebispo primaz, o chanceler de estado João de Mesquita Matos Teixeira e Filipe de Valadares Souto Maior, em 23 de setembro de 1758. Governou até 19 de outubro de 1765. Para justificação da autenticidade deste retrato, recorra-se ao que dissemos nas notícias referentes aos anteriores governadores da Índia, cujos retratos temos vindo publicando na História.

Pág. 325 - Tumulo do bispo D. Estevão Annes Brochado
Este túmulo, como o de D. Tibúrcio, já publicado na História, foi descoberto quando se procedia aos trabalhos de reparação da Sé Velha de Coimbra. Estava do lado da Epistola, oculto pela grosseira talha que revestia a capela-mor e hoje encontra-se numa das naves laterais daquele templo. Sobre ele vê-se uma figura episcopal que representa o bispo D. Estevão Annes Brochado, que, de 1303 a 1318, governou a diocese de Coimbra. Aos pés do prelado está o dragão, que simbolizava a heresia e que se encontra mutilado.

Pág. 328 - Félix de Avelar Brotero
Célebre botânico português, nascido no Tojal no dia 23 de novembro de 1743. Homem inteligentíssimo e ilustrado, foi, como o seu contemporâneo e amigo Francisco Manuel do Nascimento, perseguido pelo Santo Ofício e teve de emigrar em 1778 para França, onde viveu até 1780. Foram seus mestres Daubenton, Vicq d'Azyr, Jussieu, e conviveu familiarmente com Lamarck, Condorcet e Cuvier. A sua fama não tardou a chegar a Portugal, que se envergonhou de ter longe do seu território um homem que era reconhecido no estrangeiro como um dos vultos mais eminentes da ciência europeia, principalmente na especialidade da botânica. Deram-lhe então a cadeira de botânica e agricultura na universidade de Coimbra, e em 1800 foi nomeado director do jardim botânico. Veio a invasão francesa, e Félix de Avelar Brotero entendeu que não devia transigir com os invasores, e retirou-se para os arredores de Lisboa, onde passou verdadeiras privações. Diz um biógrafo francês que lhe valeu nessas ocasiões o seu amigo e grande naturalista francês Geoffroy Saint-Hilaire. Quando veio a revolução de 1820, Félix de Avelar Brotero foi eleito deputado às cortes, onde se manifestou homem político importante, voltando logo a tratar das suas queridas ocupações científicas. Morreu em Belém a 4 de agosto de 1829 e foi sepul­tado na igreja de S. José de Ribamar. É reproduzido duma excelente gravura da época o retrato que aqui damos do eminente homem de ciência.

Pág. 329 - Extinto paço episcopal de Pinhel
Ainda que sem grande beleza arquitectónica é este, todavia, um dos melhores edifícios de Pinhel, e foi mandado fazer pelo bispo D. José de Mendonça Pin­to Arraes. Hoje está aproveitado em quartel.

Pág. 332 - D. João José de Mello
Governador da Índia, cargo em que serviu, a princípio como governador interino, com companheiros, sucessor do vice-rei conde da Ega, Manuel de Saldanha e Albuquerque, na via de sucessão aberta a 19 de outubro de 1765 por ter falecido na vaga o vice-rei conde da Louzan. Estando governando, foi provido no lugar de governador e capitão-general do mesmo estado, por uma carta regia de 14 de abril de 1767, e tomou posse do lugar a 19 de março de 1768 mantendo-se nele até 10 de janeiro de 1774, em que faleceu. Para a autenticidade deste retrato, veja-se o que atrás fica dito acerca de outros retratos de governadores da Índia publicados nestes últimos vols. da História.

Pág. 333 - Santo António da Carreira
A ordem dos padres capuchos da província da Conceição primeiramente reunida com a de Santo António, teve princípio em 1392 no reinado de D. João I. Separou-se da Província de Portugal no ano de 1705 e tomou o título de Conceição sendo o hospício a que nos referimos fundado em 1707 e reedificado em 1738 pela devoção do sereníssimo infante D. Francisco. Tem 3 capelas sendo a principal dedicada a Nossa Senhora da Conceição. A casa esteve entregue ao cuidado da sereníssima casa do infantado. Por ocasião da extinção das ordens religiosas foi o convento destinado a servir de casa de polícia, sendo mais tarde empregado em quartel de uma companhia da guarda municipal. A igreja ficou entregue aos cuidados dos fiéis devotos que a têm tratado com esmero.

Pág. 336 - D. João VI
Há inúmeros retratos deste monarca, e em todas as idades; foi copiado dum dos que se consideram mais autênticos, e que está na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 337 - O último interrogatório do marquês de Pombal
A crítica já se pronunciou sobre a alta valia deste quadro do insigne pintor português Malhoa, que tão bem soube interpretar os cruéis transes por que os inimigos do grande marquês, transformados em seus juízes, fizeram passar o espírito do outrora omnipotente ministro. A cena que o quadro representa vem descrita a págs. 101 e seguintes deste 7º volume da História de Portugal.

Pág. 340 - Mariana Victória
Infanta portuguesa, filha de D. Maria I e de D. Pedro III. Nasceu a 15 de dezembro de 1768. Era uma gentil e graciosa menina, que teve um triste destino. Casou aos 17 anos com o infante espanhol D. Gabriel, no mesmo ano em que a infanta espanhola D. Carlota Joaquina casava com o príncipe português que foi depois D. João VI. D. Mariana Victória desposara o infante D. Gabriel em 1783 em 1786 nasceu-lhes um filho, D. Pedro Carlos, que anos depois casou com sua prima, D. Maria Teresa. Em 1788 faleceu D. Mariana Victória, que apenas contava 20 anos de idade, e nesse mesmo ano morreu também seu marido. No mesmo ano de 1788, fatal, segundo se vê, aos príncipes da península, morreu em Portugal o príncipe D. José, herdeiro do trono. O retrato donde copiámos o que ora damos existe na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 341 - Nossa Senhora dos Anjos
Era uma antiga capela desta mesma invocação. Sendo arcebispo de Lisboa o cardeal D. Henrique, elevou esta capela a igreja matriz em 1563, e foi reedificada em 1725 e 1758. O estado em que actuamente se encontra em nada difere daquele em que Luiz Gonzaga Pereira no-la representa na estampa que do seu curioso livro mandámos copiar. Esta igreja está condenada a ser destruída dentro de breves meses, para a abertura de uma nova avenida em construção; entretanto, para a substituir está-se já construindo nos terrenos do antigo regueirão dos Anjos um novo templo da mesma invocação, e que ficará sendo sede de freguesia, como esta já o era.

Pág. 344 - Conde da Barca
Ver original:
Dum excelente retrato existente na Biblioteca mandámos copiar o que aqui damos deste ilustre diplomata português, o único que, nos tempos das nossas questões com a França no tempo da Revolução melhor se soube desempenhar do seu cargo, honrando o nosso país.

Pág. 345 - Um trecho da igreja de Santa Clara-a-Velha
Neste sugestivo trecho da igreja de Santa Clara-a-Velha, onde tão vivamente nos recordamos do peregrino vulto da santa mulher de D. Diniz, vê-se ainda os restos da capela-mor, que hoje está convertida numa eira. A igreja submersa em mais de metade da sua altura, pelos aluviões do Mondego, era ogival, dividida em três naves, e seria um grande serviço prestado à arte e à História, torná-la inacessível às inundações do rio.

Pág. 348 - D. Carlota Joaquina
Ver original:

Da pouco simpática esposa de D. João VI, bem como deste monarca existem muito retratos. Este foi copiado do que é considerado mais autêntico, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Pág. 349 - Túmulo de D. Leonor Afonso
Existe no coro do convento de Santa Clara de Santarém, como diz a epigrafe desta gravura, o túmulo desta preclara filha de D. Afonso V, o que nos dá o século XIII como da sua construção.

Pág. 352 - D. José Pedro da Câmara
Governador e capitão-general da Índia, como sucessor do capitão-mor Filipe de Valadares Souto-Maior, em 4 de setembro de 1774. Governou até 26 de maio de 1779. Veja-se quanto à autenticidade do retrato o que atrás fica dito acerca dos de outros governadores da Índia; a fonte é a mesma.

Pág. 353 - Quadro alegórico da fundação da Casa Pia
Era nosso intento irmos reproduzindo na nossa História os quadros que lhe dissessem respeito, existentes no Museu de Belas-Artes em Lisboa. Nesse intuito mandámos copiar o que a nossa gravura quer representar, quando ordens superiores fizeram suspender ao artista incumbido da reprodução, o seu trabalho, o que dá em resultado o quadro ser assim representado em esboço. Quando lá fora nos Museus se vê toda a gente de palheta ou de lápis em punho, com máquinas fotográficas, ou com simples kodaks a copiar por todas as formas os quadros dos grandes mestres, aqui para em tudo sermos atrasados e para evitar tanto quanto possível o gosto pelas belas-artes, manda-se suspender esta tão simples como inofensiva manifestação de bom gosto. Aqui fica arquivado o nosso protesto, para que conste.

Pág. 356 - D. Frederico Guilherme de Sousa
Governador e capitão-general da Índia, cargo em que sucedeu a D. José Pedro da Câmara. Chegou a Moçambique a 7 de setembro e saindo daquele porto a 12 do mesmo mês, tornou a arribar a ele, e seguindo a sua derrota na monção pequena chegou à Índia em 22 de maio de 1779, tomando posse do cargo em 20 daquele mesmo mês. Governou até 3 de novembro de 1786. Veja-se para autenticidade do retrato o que acima fica dito dos de outros governadores da Índia, por nós publicados.

Pág. 357 - Capela de Santa Comba
Fica no alto dum fresco e aprazível vale dos subúrbios de Belas a um quarto de légua da cidade de Coimbra, e é muito concorrida de romeiros por ocasião da tradicional festa de Santa Comba que nela se venera e que se realiza a 19 de julho. É uma ermida com alpendre, assentos e pequena torre, terminada por uma cruz e sobre cujo portal se vê um letreiro que nos diz ter sido ali sacrificada numa cruz a gloriosa mártir Santa Comba, natural de Coimbra. Está revestida de azulejos e possui alguns trabalhos em pedra e em madeira de algum merecimento. Na sacristia há uma escada que nos conduz a um estreito cubículo, onde a santa se refugiou para escapar aos que a perseguiam para a matar. Junto à ermida fica a Fonte de Santa Comba onde se diz que foi encontrado o corpo da santa e onde existe num nicho uma curiosa escultura do século XVII que representa o seu martírio e que publicaremos no próximo volume da História, dando então algumas notas sobre a virgem mártir de Coimbra, cuja vida o nosso poeta clássico António Ferreira comemora nas suas obras.

Pág. 360 - Princesa Francisca Benedita
D. Maria Francisca Benedita, irmã de D. Maria I, foi casada com seu sobrinho, o príncipe D. José, cujo retrato demos a pág. 292 deste volume da História, príncipe em que os Portugueses tiveram uma grande esperança, mas que a morte inesperadamente arrebatou ainda muito novo em 1788. A princesa D. Maria Francisca Benedita, cujo retrato é reproduzido do que vem no interessante opúsculo do sr. Augusto Carlos de Sousa Escrivanis, foi fundadora do Asilo de inválidos Militares, em Runa, instituição importantíssima que ela inaugurou quando perfazia 81 anos. A benemérita senhora faleceu em 18 de agosto de 1829.

Pág. 361 - Joaquim Manuel da Rocha
Distinto pintor português do século XVIII, discípulo de Domingos Nunes e de André Gonçalves, foi grande imitador e entusiasta de Vieira. Diz Cirilo que «o Rocha teve ao princípio colorido agradável, depois usou muito do preto de marfim a que chamava preto santo e da terra rosa que dá na cor de tijolo. Copiou quantos desenhos pôde de Vieira; e copiava-os tão bem, que se equivocavam muito com os originais». Pintou em 1760 o pano de boca para o teatro do Bairro Alto, pano que representava Apolo com as Musas e um Tejo; mas como lhe custava muito manejar as tintas, não quis pintar mais a têmpera, e, não pintando tetos, nem panos para casas, nem trabalhando fora da sua residência estava muitas vezes sem encomendas e então pintava naturezas mortas ou fazia gravuras a água-forte. Foi nomeado lente da aula régia de desenho. Há muitos quadros seus nas igrejas de Lisboa; no Carmo, Conceição das Freiras, Loreto, Santa Isabel, sacristia e portaria dos Paulistas, e em várias ermidas e orató­rios particulares. Uma das suas obras mais notáveis é o painel de S. Pedro. Há ainda quadros seus na Convalescença, em S. Pedro de Alcântara, no Beato António e também em igrejas da ilha Terceira. Existem muitos retratos pintados por Joaquim Manuel da Rocha: o seu e de sua mãe, o de Vieira Lusitano, o de Mayne, etc. Contribuiu muito para a Academia do Nú em S. José e depois para a dos Camilos. Requereu ser encarregado dos quadros da igreja do Coração de Jesus; mas como foi preferido o italiano Pompeu Batoni, mostrou-se com isso muito despeitado. Morreu em 2 de setembro de 1786. Desenhava bem, mas o seu estilo era rígido. Tinha colorido frouxo, mas distinguia-se no claro escuro. Teve bastantes discípulos, e entre eles seus dois filhos Joaquim Everardo e João Franco. É reproduzido este retrato do que existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Pág. 364 - Nossa Senhora da Conceição da Porciúncula
Era convento de capuchinhos franceses da província da Bretanha. A duquesa de Aveiro, D. Maria, com permissão de D. João IV, deu o terreno para a construção deste mosteiro, em Lisboa, em 11 de agosto de 1647. Teve sempre roucos religiosos. Não tinha padroeiro nem rendimento certo. A cerca era junto à casa dos condes de Vila Nova de Portimão.

Pág. 365 - Francisco Vieira Lusitano
Notável pintor português, nasceu em Lisboa a 4 de outubro de 1609. Este célebre artista, que, pelas suas obras, mereceu um lugar distinto entre os mais afamados pintores do nosso país, teve graves desgostos por causa dos seus amores com a senhora que veio a final a ser sua esposa, o que ele próprio contou minuciosamente num longo poema em toantes, impresso em 1780, com o título de O insigne pintor e leal es­poso, História verdadeira que ele escreve em cantos líricos. São inúmeros os trabalhos artísticos de Vieira, muitos dos quais se perderam com o terramoto, sendo de todos esses o mais notável o tecto da igreja dos Mártires, pintado em 1730, e em que se vê representada a tomada de Lisboa por D. Afonso Henriques. Em 1775 enviuvou Vieira e saindo de Mafra, onde perdera a sua querida esposa, largou os pincéis, indo viver para o Beato António, onde passou os seus últimos anos entregue a obras de piedade, até que faleceu em 1783. Das obras desse insigne pintor português, que escaparam ao terramoto, citaremos, segundo as Memórias de Cyrillo Wolkmar Machado: dois painéis em S. Roque, representando Santo António pregando aos peixes e prostrado diante de Nossa Senhora, os quais eram muito louvados por Pedro Alexandrino; Santo Agostinho na portaria do convento da Graça (1756); uns quadros de Carito António, S. Pedro, S. Paulo a Família Sagrada e Santa Bárbara, pertencentes à casa de Povolide e executadas de 1736 a 1740; outra Família Sagrada, pertencente ao conde de Assumar; um grande painel de S. Francisco; um Menino Deus; o quadro da capela-mor da Cartuxa, quadro de S Francisco de Paula, da Senhora da Conceição, da Sagrada Família e de Santo António na Igreja de S. Francisco de Paula; outra Família Sagrada, em Mafra; ainda outra na capela de S. Joaquim ao Calvário; uma Conceição, que estava na Junta do Comércio. O conde de Lipe levou para a Alemanha um Santo António e Guilherme Hudson, para a Inglaterra uma Adoração dos Reis, e, continua Cyrillo, «fez um número prodigioso de óptimos desenhos, dos quais a maior parte deles possui a Inglaterra, onde os amadores da Arte os pagavam muito bem e muitos foram ali estampados». - Vieira era também gravador a água-forte e entre os seus trabalhos desse género se citam principalmente Neptuno e Coronis e as Parcas cortando o fio vital de seu irmão. Entre os discípulos do insigne pintor conta-se sua irmã Catarina Vieira, de quem eram em parte alguns quadros da ermida de S. Joaquim e que pintou um S. Lucas e um S. João Evangelista, que no tempo de Cyrillio pertenciam a um particular chamado Moreira Dias, que tinha uma casa nobre na rua da Fé. Do retrato existente na Academia de Belas-Artes de Lisboa, mandámos copiar o que na nossa História se estampa.

Pág. 368 - Pelourinho de Buarcos
Os inúmeros pelourinhos que ainda existem no país são elementos importantíssimos para a História dos costumes, das instituições e da arte em Portugal, pelo que respeita à escultura. Eis o motivo por que a nossa História tem o mais vivo interesse em estampar nas suas páginas todos aqueles de que obtenha notícia. A D. Manuel se deve a maior parte dos pelourinhos do reino, assim como muitas matrizes e principais templos. Foi no reinado deste monarca, que foram dados ou renovados os foros à máxima parte, ou quase totalidade das povoações em que então estava subdividido o reino. Buarcos recebeu também foral concedido pelo monarca Venturoso em 15 de setembro de 15_6, e a respeito do seu interessante pelourinho, escreve o autor da presente aguarela, o sr. Dr. Vale e Sousa, num artigo acerca de Buarcos, em tempos publicado numa revista da capital: «Num pequeno largo eleva-se o pelourinho que simboliza a jurisdição municipal; este monumento apresenta uns baixos-relevos que são, talvez, as armas de Buarcos. Constam dum barco com a forma de caravela sobre o mar, encimada por uma estrela, tudo rodeado pelo arco-íris. Nos cantos superiores veem-se as quinas portuguesas. O pelourinho de Redondos - vila separada outrora de Buarcos apenas por uma rua - é semelhante aquele, tendo numa das faces uma cruz, na outra a esfera armilar ao meio da data 1_6_ e nas outras duas escudos em que se não divisa relevo algum».

Pág. 369 - A execução de Tira-Dentes
Todas as grandes ideias têm os seus mártires; este Tira-Dentes foi o primeiro da emancipação do Brasil, pela república. Não conseguiu com isso senão a morte, facto a que, como de razão, se alude neste 7º volume da História. Outros vieram depois dele e não tardou muito que a libertação daquele povo se tornasse um facto, em 1822. Foram precisos mais 69 anos, para que a ideia de Tira-Dentes, que se cingira apenas a Pernambuco, se tornasse em realidade mais lata do que ele imaginara, fundando-se a nova República Federal do Brasil; e esta foi então a emancipação daquele heroico povo.

Pág. 372 - Francisco da Cunha e Menezes
Governador e capitão-general da Índia; sucedeu a D. Frederico Guilherme de Souza, em 3 de novembro de 179_ e governou até 22 de maio de 1794. Quanto à procedência do seu retrato leia-se o que já dissemos nas notícias publicadas nestas notas acerca de diversos outros governadores da Índia.

Pág. 373 - Igreja de Santo André
A igreja de Santo André, que foi destruída passado o meado do século XIX, e que ficava situada perto do Arco que tem o seu nome, era notável por nela haver sido batizado S. João de Brito. D. Diniz dera o padroado desta igreja, no 1° de agosto de 1286, a Ayres Martins e sua mulher. Foi freguesia de per si durante muitos anos. Como em princípios do século XIX se destruísse outra igreja, de que adiante damos também a estampa, a de Santa Marinha, foi esta freguesia anexada à de Santo André, e é que pela destruição desta última igreja, foi a sé desta freguesia transferida para a igreja da Graça onde ainda se conserva. Escusado será dizer que a estampa que aqui damos é copiada de livro tantas vezes citado Descrição dos monumentos sacros de Lisboa, por Luiz Gonzaga Pereira.

Pág. 376 - Francisco Vieira Portuense
Célebre pintor português, cognominado o Portuense, para o distinguir do outro seu afamado contemporâneo, conhecido pelo nome de Vieira Lusitano; nasceu no Porto a 13 de maio de 1765. Foi seu pai Domingos Francisco Vieira, de quem igualmente damos o retrato a pág. 296 deste volume da História. Começando desde criança a manifestar grande vocação para o desenho e para a pintura, começou a estudar no Porto esta arte, primeiro com João Glama, depois com João _illement, como fizesse progressos foi passando sucessivamente para Lisboa, e daí para Roma, Hamburgo, Londres, onde travou rela­ções com Bartholozzi que lhe gravou um quadro de notável execução que o nosso artista aí pintara o Viriato. Voltando à pátria, foi nomeado lente da aula de desenho do Porto, donde passou a Lisboa sendo encarregado de várias comissões de arte de que se desempenhou sempre com grande brilhantismo. Neste período da sua vida pintou sucessivamente os seguintes quadros: Desembarque de Vasco da Gama na Índia. D. Inês de Castro ajoelhada com os filhos perante o rei D. Afonso, D. Filipa de Vilhena, Duarte Pacheco defendendo contra o Camorim o Passo de Cambalão. Estava ele acabando esta composição quando foi acometido de grave enfermidade que em breve o prostrou no túmulo. Esgotados todos os recursos da ciência para debelar esse mal, aconselharam-lhe os médicos o clima da Madeira, e Vieira empreendeu essa viagem; mas, em vez das melhoras que esperava, piorou repentinamente falecendo em 2 de maio, com 40 anos incompletos. Wolcknar Machado no seu tão curioso e raro livro Colecção de Memórias dá conta de um grande número de quadros do ilustre pintor. O retrato que dele aqui damos foi copiado do que existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Pág. 377 - Diogo Barbosa Machado
O patriarca dos bibliógrafos portugueses, o paciente e douto abado de Sever, um dos cinquenta primeiros académicos da Academia Real de História Portuguesa, nasceu em Lisboa, em 31 de março de 1682, sendo filho do capitão João Barbosa Machado e de sua mulher D. Catarina Barbosa, e faleceu, em 9 de agosto de 1772, sendo o seu cadáver sepultado na igreja dos Padres da Congregação da Missão em Rilhafoles. Dadas as produções do seu engenho, de que já vimos fazer enumeração, facilmente se compreende que Diogo Barbosa Machado foi um apaixonado bibliófilo, que, à custa de muitos sacríficos e despesas e com insaciável curiosidade, conseguiu reunir uma copiosa e selecta livraria, composta de alguns milhares de volumes, além de uma enorme colecção de retratos de portugueses célebres, mais de 200, preciosidades que o douto abade ofereceu a D. José I, logo depois do terremoto, o qual destruíra toda a rica biblioteca do paço da Ribeira. Esta preciosa colecção foi mais tarde, por ocasião da retirada da família real para o Brasil, levada relo inconstante e timorato D. João VI, e por lá ficou pelo Rio de Janeiro, onde constituiu o fundo da actual Biblioteca Nacional daquela cidade. Barbosa Machado é autor das seguintes obras: Conta dos seus estudos académicos, reccidos no paço em diversas datas, que saíram nos tomos 2°, 4°, 7º e 11° da Coleccção dos Documentos e Memórias da Academia da História; Elogio Fúnebre do beneficiado Francisco Leitão Ferreira, recitado no Paço, Lisboa 1735; Memórias para a História de Portugal, que empreendeu e governo del rei D. Sebastião, único ao nome desde o ano de 1554 até. . . ao de 1578, 4 vol. gr. Lisboa 1736 a 1751; As verdades principais e mai impor­tantes da fé e da justiça cristã, etc., Lisboa, 1710, sem nome do autor; Relação das solenes exéquias ... à memória de D. João V, Lisboa, 1751; Carta exhortatoria dos Padres da Companhia de Jesus da provincia de Portugal, que se supõe impresso em Amsterdão em 1756 ou 1758; e a Biblioteca Luzitana, a sua obra-prima, e verdadeiro monumento erguido às letras portuguesas. 4 vols., in. fol. grandes, impressos em Lisboa em 1751 a 1759. Quem desejar informações precisas acerca do erudito bibliógrafo, consulte o inesgotável Diccionario Bibliographico de Inocêncio Francisco da Silva; o artigo que acerca da sua pessoa escreveu na Biblioteca Lusitana o pró­prio autor; e a Oração fúnebre nas exéquias do rev. dr. Diogo Barbosa Machado, Lisboa, 1773.

Pág. 380 - Alegoria à expulsão dos jesuítas
Anda anexo e primeira edição do Uruguai (Lisboa, 176_), de José Basílio da Gama, poema que, como se sabe é um livro de combate contra os jesuítas, esta gravura que procurámos e por bastante rara, mandámos aqui reproduzir, no seu tamanho natural. A legenda em latim que se lê em volta quer dizer: Bate o sol nos áureos escudos, resplandecem os montes, e estes abatem a fortaleza das gentes.

Pág. 381 - Túmulo de D. Isabel, neta da Rainha Santa
É geralmente sabido que no novo mosteiro de Santa Clara de Coimbra, que D. João IV mandou construir no alto do Monte da Esperança, se encontra o notável túmulo de pedra que a Rainha Santa Isabel mandou fazer e no qual esteve sepultada até 1677. Mas o que quase todos ignoram é que no mesmo convento existem outros dois interessantes monumentos funerários, um dos quais é o lindo túmulo que contém os ossos de D. Isabel, neta da Rainha Santa, que reproduzimos em aguarela. Está ao fundo da igreja. ficando à direita de quem observa o coro de baixo, num local bastante escuro, de forma que é impossível obter dele uma fotografia.

Pág. 384 - Marquês de Niza
Do primeiro volume do interessantíssimo livro do sr. Cláudio Chaby, Excerptos históricos e colecção de documentos relativos à guerra denominada da Península (Lisboa, 1803), tomámos a liberdade de copiar este retrato do nobilíssimo fidalgo, que tão brilhantemente soube honrar o nome da sua família, naquela memorável campanha.

Pág. 385 - Partida do Príncipe Regente de Portugal para o Brasil, em 1807
Em pág. 500 deste volume se lê a triste cena, que uma gravura curiosíssima da época que aqui reproduzimos, representa. Bem descabidas e imerecidas foram as manifestações de saudade que o povo deu por quem tão egoistamente o abandonava, mas o povo há-de ser a eterna criança...

Pág. 388 - Marechal D. António de Noronha
Também do 2º volume (pág. 63) dos Excerptos Históricos de Cláudio Chaby, mandámos copiar o re­trato deste valente campeão das guerras da península.

Pág. 389 - Igreja do Menino Deus
A ordem do Seráfico Pe S. Francisco d'Assis foi implantada no nosso país em 12_4, separando-se em duas províncias no ano de 1532, pertencendo a casa a que nos referimos à província do Algarve, cujo edifício teve o seu princípio em 1710, reinando D. João V, que concorreu com grande esmola para a mesma obra. Possui esta igreja 9 capelas, estando colocada a imagem do Menino no altar-mor dentro de um excelente retábulo de cantarias de várias cores. Possui um quadro de Vieira Lusitano representando S. Francisco de Assis; tem mais dois laterais de Inácio de Oliveira sendo os restantes retábulos do pincel de André Gonçalves.

Pág. 392 - João António Lisboa
João António Lisboa, cujo retrato copiámos do que vem no primeiro volume dos Excerptos Históricos do sr. Cláudio Chaby, nascera em 1774, sendo já aos 19 anos, em 1793, ajudante de cirurgia do regimento de Cascais, qualidade em que desembarcou no porto de Rosas, na Catalunha, com a divisão auxiliar portuguesa. Serviu este distinto homem durante todas as campanhas daqueles tempos como membro do corpo de saúde, que com a nossa divisão se tornou benemérito, pelos desvelados cuidados e caridoso interesse, manifestados no desempenho dos seus importantes e santos deveres nos hospitais militares, onde a desgraça arrojou em África os soldados expedicionários. Voltou à pátria com o resto dos seus valentes companheiros e serviu o exército até 1811, em que abandonou aquela carreira, em virtude de injustiças, com que muitas vezes costumam ser pagos os bons serviços. José António Lisboa vivia ainda na capital em 1863.

Pág. 393 - Nossa Senhora do Carmo
Por simples curiosidade, e a fim de se ver o estado em que se encontrava este edifício em meado do século passado, que em nada diferia daquele em que ainda hoje se encontra (é excepção do rebaixo que lhe foi feito no portal), reproduzimos do já muito citado livro Descripção dos Monumentos Sacros de Lisboa, esta interessante estampa. Noutro ponto deste mesmo volume demos já o aspecto desta frontaria, antes de derruída pelo cataclismo de 1755.

Pág. 396 - António Teixeira Rebelo
A propósito deste militar, cujo retrato copiámos do que vem a pág. 89 do primeiro volume dos Excerptos Históricos de Cláudio Chaby, escrevia o tenente general Fortes nas participações oficiais remetidas em 29 de abril de 1794 ao ministro e secretário de estado dos negócios estrangeiros e da guerra, Luiz Pinto de Sousa Coutinho: «O sargento-mor António Teixeira Rebelo brilhou notavelmente, levando duas peças aonde nunca se tinha pensado que iria a artilharia, e fazendo com ela progressos inexplicáveis».

Pág. 397 - Túmulo de Martim Afonso de Castro
Está no extinto convento das Donas em Santarém o túmulo que a nossa gravura representa, e que é do governador da Índia Martim Afonso de Castro falecido em 1807. Martim Afonso de Castro pertencia à nobre família dos condes de Monsanto.

Pág. 400 - José António da Rosa
Mais um retrato que reproduzimos do primeiro volume dos Excerptos historicos do senhor Cláudio Chaby, um interessantíssimo livro em que se encontram preciosíssimos documentos acerca da inglória campa­nha do Rossilhão. Das notáveis façanhas deste sargento-mor se pode saber alguma coisa lendo aquele livro, em pág. 123.

Pág. 401 - Desastre da Ponte do Porto
Copiámos esta gravura da que vem inserta no segundo volume dos «Excerptos históricos e colecção de documentos relativos à guerra denominada da Península», etc., por Cláudio Chaby. Os dizeres que acompanham naquela obra esta gravura são os seguintes: «Quadro vulgarmente conhecido na cidade do Porto por Quadro das Almas», monumento votado à memória dos que no Douro pereceram vítimas pela pátria em 29 de março de 1809, e apreciável documento de piedade e patriotismo portugueses. Este quadro que, ao que nos informam, existe actualmente no Museu Municipal do Porto, foi substituído por um baixo-relevo em bronze, representando a mesma trágica cena, trabalho primoroso ao grande artista Teixeira Lopes. A pág. 395 deste volume se encontra a descrição do terrível episódio, em resultado do qual pereceram afogadas centenas de pessoas.

Pág. 404 - Francisco António da Veiga Cabral
Governador e capitão-general da Índia, grã-cruz da ordem de Aviz, tenente-general efectivo dos exércitos do reino, sucedeu no cargo de governador a Francisco da Cunha e Menezes, em 22 de maio de 1794 e governou até 30 de maio de 1807. Quanto à autenticidade do seu retrato, leia-se o que acerca de outros retratos de governadores da Índia aqui publicados, ficou dito.

Pág. 405 - Igreja de S. Tomé
Esta igreja chamada primeiramente S. Tomé do Penedo, e depois S. Tomé do Castelo estava fundada na actual rua de S. Tomé, no local ainda chamado Largo de S. Tomé, à rua do Infante D. Henrique, entre a travessa e as escadinhas do mesmo no­me. Chamava se do Penedo por ter sido edificada sobre um rochedo. Tinha sido fundada por D. Diniz em 1320. O terramoto a arruinou em 1755 e foi arrasada em 1807. A gravura que aqui damos é reproduzida da que vem na «Descripção dos monumentos sacros de Lisboa», inédito existente na Biblioteca Nacional, como repetidas vezes temos dito nestas nos­sas notas.

Pág. 408 - José Maria de Serpa Pinto
O retrato que aqui damos deste valoroso oficial português, que foi a primeira vítima das tropas portuguesas na primeira acção em que foram empenhadas, auxiliando o exército espanhol na guerra de Rossilhão, é copiado do que vem nos Excerptos Históricos, o qual foi, por seu turno, copiado de uma fotografia de um antigo retrato a óleo que nas províncias do norte existe apreciado e querido por pessoas de sua família.

Pág. 409 - José Joaquim de Sampaio
É copiado este retrato de José Joaquim de Sampaio, irmão do primeiro conde do mesmo título, de uma miniatura em poder dos seus descendentes. Era José Joaquim de Sampaio oficial de marinha, de patente elevada, nos últimos anos do século XVIII e princípios do século XIX, e que, pela sua posição, mais ou menos figurou nos acontecimentos políticos daquela época. Não podemos dar aqui, notícia especifica deste vulto de nossa História, pois que nos faltam todos os elementos, a começar por aqueles que os seus herdeiros nos poderiam dar, mas que, pelo temperamento próprio dos nossos patrícios, se têm demorado até ao momento desta folha entrar na máquina, sem nos ser, pois, possível esclarecer a seu respeito o leitor, como seria nosso desejo e vontade.

Pág. 412 - Aspecto geral do palácio da Ajuda
Este palácio foi principiado por D. João VI, sendo ainda príncipe regente, e foi ele quem lhe lançou a primeira pedra. Havia aqui um antigo palácio dos monarcas portugueses do qual ainda há restos no recinto do actual. Posto que ainda nem metade deste edifício esteja construído (a seguir-se a planta dele) pode afoitamente dizer-se que é um dos mais vastos e sumptuosos palácios reais da Europa. A sua posição é elevada e dele se desfruta um vastíssimo panorama. Não tentamos sequer descrever esta sumptuosa residência, já porque não é este lugar próprio para tal assunto, nem que o fosse o poderíamos fazer em algumas páginas; seria preciso um grande volume.

Pág. 413 - Fernão Mendo Froes
Foi um dos luminares da igreja lusitana no século XVIII, chegando a ocupar uma cadeira episcopal. Foi a expensas suas que se construiu a sumptuosa sa­cristia da igreja da Graça desta cidade, tão sumptuosa e tão vasta que é nela que se tem exercido o culto da freguesia, durante o largo período em que a igreja tem estado - e sabe Deus por quanto tempo estará ainda - em obras, que não tardará muito se assimilarão às de Santa Engrácia. O retrato que aqui damos é cópia do que existe, pintado a óleo, no tecto da mesma sacristia.

Pág. 415 - Florêncio José Correia de Mello
Nos Excerptos Históricos de Cláudio Chaby colhemos o retrato deste valente militar português, um dos que foram feridos durante a campanha do Rossilhão

Pág. 416 - Palácio dos condes de Vinhais
É este um dos poucos palácios brasonados na interessante vila de Vinhais, e pertenceu, como se deduz da epigrafe desta notícia aos condes de Vinhais, titulares de moderna data, porque o primeiro conde de Vinhais, Simão da Costa Pessoa, faleceu em 1848 tendo sido pouco tempo antes agraciado cem aquele título, depois de ter sido, em 1840 agraciado com o de barão de Vinhais e em 1847 com o de visconde do mesmo título.

Pág. 417 - Batalha do Vimeiro
Descreve-se no final deste volume esta famosa batalha em que os nossos, uma vez mais, manifestaram o seu bélico valor. Como na epígrafe dissemos esta gravura é reprodução de outra inglesa quase contemporânea dos acontecimentos que nos foi graciosamente facultada pelo sr. conselheiro Adolpho Loureiro, bibliófilo ilustre, a quem aproveitamos o ensejo de agradecer a sua tão desinteressada quanto amável gentileza para connosco. Esta gravura pertence à coleção das Campanhas de Portugal, serie de 19 estampas em grande formato, publicado em Londres em 1814.

Pág. 420 - Volkmar Machado
Cyrillo Wolkmar Machado, pintor histórico ao serviço de D. João VI, nasceu em Lisboa a 9 de julho de 1748 e morreu na mesma cidade a 12 de abril de 1823; A sua biografia histórica por ele escrita vem na Colecção de Memórias, etc. que pouco abai­xo citamos, de pág. 302 a 324. Escreveu o seguinte: Conversações sobre a pintura, escultura e arquitectura descritos e dedicados aos professores e amadores de belas-artes, Lisboa, 1704 a 1798, obra de que saíram apenas seis números; As honras da pintura escultura e Arquitectura, discurso de João Pedro Bellori traduzido do italiano com anotações, Lis­boa, 1815; Nova Academia de Pintura dedicada às Senhoras portuguesas que amavam ou se aplicam às Belas-Artes, 1817. Todos estes três álbuns saíram sem nome do autor. A única que saiu com o seu nome é póstuma, e intitula-se Colecção de Memó­rias relativas às vidas dos pintores e escultores, arquitectos e gravadores portugueses e dos estrangei­ros que estiveram em Portugal, Lisboa, 1823. Acerca deste livro diz Inocêncio: «O cónego Luiz Duarte Vilela da Silva, que figurou como editor nesta pu­blicação, persuadiu, (segundo consta) a irmã de Cyrillo, possuidora do manuscrito, que seu irmão deixara, a impressão dele, na mesma forma indigesta, e falto de meios em que se achava, animando-a à despesa, mediante a expectativa de muitos lucros, que se não realizaram, porque a obra pouca extra­cção teve e ainda hoje se conserva em ser boa parte da edição». Mal imaginava Inocêncio, ao escrever estas linhas, que tão bem que isto havia de ser depois, vendendo-se depois por bom preço os exemplares que actualmente aparecem à venda. Falando de Cyrillo, e deste seu livro, diz o conde de Rackznsky: «Era um fraco pintor e o seu livro parece-me uma bem magra produçãoNão ousaremos contestar as opiniões de sua excelência, escreve Inocêncio, mas a justiça pede se declare que dessa obra magra e incorrecta como é, tirou ele boa parte de notícias que no seu Diccionário nos dá acerca dos nossos artistas.» O retrato que aqui danos é copiado do que, gravado por Queiroz, aparece na curiosa Colleçcão de Memórias.

Pág.  421 - Igreja de S. Bartolomeu
Ficava esta igreja próximo à muralha do castelo de Jorge, mas fora dele. Era contígua ao paço real de S. Bartolomeu, que com ela comunicava por um passadiço. Em frente da igreja havia o largo do mesmo nome. A sua situação era entre a actual rua de S. Bartolomeu, rua do Chão da Feira e travessa do Funil. A igreja e paço foram completamente arrasados pelo terremoto de 1755. Esta igreja tinha si­do fundada por D. Afonso Henriques em 1160, para capela real dos seus paços. Foi para aqui reproduzido este desenho do que vem no interessante livro «Descripção dos Monumentos sacros de Lisboa

Pág. 424 - General Sepúlveda
Vem nos «Excerptos Históricos» de Cláudio Chaby o retrato donde reproduzimos o que aqui damos deste valente caudilho da guerra peninsular.

Pág. 425 - Agostinho José Freire
Valente militar português, a cujos beneméritos serviços à pátria se refere Pinheiro Chagas neste 7° volume da nossa História. O retrato que aqui damos é cópia duma excelente litografia do princípio do século XIX. Nasceu em Évora em 1780, e morreu assassinado por alguns guardas nacionais em novembro de 1836.

Pág. 428 - Convento de S. Francisco, de Vinhais
Foi fundado o convento que a nossa gravura representa em 1751 por José de Moraes Sarmento, benemérito filho de Vinhais. O convento era solidamente construído, tinha acomodações para imensa comunidade, e na excelente igreja ainda denominada a Igreja Grande, por ser a maior da vila, templo vasto e sumptuoso, de uma só nave com cinco altares. Tem um bom claustro gradeado, com arcaria de granito.

Pág. 429 - D. Jerónimo Osório
Este sim, que é o retrato verdadeiro e único conhecido do simpático e denodado Bispo de Silves, D. Jerónimo Osório, que com tanta verdade como ousadia disse a D. Sebastião o que pensava acerca da louca expedição intentada pelo irrefletido monarca contra os mouros. O retrato donde reproduzimos o que aqui damos, fomos o desencantar na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde tantas riquezas e curiosidades existem ignoradas e perdidas.

Pág. 431 - Cândido José Xavier
Foi um dos oficiais que fizeram parte da célebre legião portuguesa. Reproduzimos o seu retrato dos Excerptos Históricos, assim como deste interessantíssimo repositório das notícias acerca da guerra Peninsular, reproduzimos as palavras que o acompanham: «Ao sr. conselheiro Jacinto da Silva Menezes rendemos a expressão do nosso agradecimento por nos haver facultado o retrato que aqui reproduzimos, e que a sua ex.ª e apenas a mais cinco ou seis amigos íntimos de Cândido José Xavier, foi por este pessoalmente oferecido; retrato, por tal circunstância, raro de encontrar, pois que, preenchido aquele amigo e designado fim, foi a chapa inutilizada não se multiplicando as reproduções.»

Pág. 432 - Santa Clara de Coimbra - Túmulo da infanta D. Maria
Posto que não tenha a beleza do túmulo da neta de Santa Isabel, com que faz pendant, o monumento da infanta D. Maria é um curioso espécimen para a História iconográfica conimbricense. Extremamente simples, avulta nele a estátua jacente da infanta, vestida de freira clarista, tendo, porém, o véu pintado de preto, o que, destoa bastante, visto que as freiras de Santa Clara usavam véu branco. Essa pintura é moderna. A infanta D. Maria era filha de D. Pedro I e de D. Constança, nascendo em Évora em 6 de abril de 1342. A 3 de fevereiro de 1354, casou com um fi­lho de D. Afonso IV, de Aragão, de nome D. Fernando e que foi marquês de Tortoza e senhor de Albarracim. Ficando viúva regressou a Portugal e assistiu na vila de Aveiro. Consulte-se a História Genealógica da Casa Real t. I, pág. 386 e a História Seraphica P. 2.ª, liv. 6°, cap. 22°.

Pág. 433 - Desembarque das tropas inglesas, na Figueira da Foz
Esta, bem como uma série de gravuras que adiante damos representando episódios, minuciosamente descritos neste e no volume 8° da nossa História, das épocas da invasão francesa, são copiadas duma notável colecção de gravuras inglesas quase contemporâneas, coleção intitulada: Campanha de Portugal, constituída por 16 estampas, acompanhadas do respectivo texto. Devemos o prazer de dar aqui essas reproduções à amabilidade dum ilustre bibliófilo e homem de valor, o sr. Dr. Adolfo Loureiro, que mui obsequiosamente pôs à nossa disposição essa sua colecção.

Pág. 436 - José da Cunha Taborda
Pintor português, nascido a 24 de abril de 1766, na vila do Fundão. Vindo muito novo para Lisboa, foi aqui muito protegido pelo desembargador Geraldes, que o recebeu em sua casa. Durante cinco anos frequentou a escola régia de desenho, na qual estudou figura com Joaquim Manuel da Rocha e arquitectura com José da Costa e Silva. Em 1788 foi, como pensionista da Casa Pia dirigida por Manique, para Roma, onde teve por primeiro mestre La_ruzzi, que o era de todos os pensionistas; mas logo que àquela cidade chegou o ministro de Portugal junto da Santa Sé, D. João de Almeida, obteve, assim co­mo os seus companheiros, licença para tomar o mes­tre que quisesse, e Taborda escolheu António Cavallucci. Receando-se a entrada dos franceses em Roma, pediu licença para se retirar, e em março de 1796, ou no ano seguinte chegou a Lisboa, sendo depois nomeado professor da nova escola de pintura fundada pelo intendente de polícia no Castelo, com o vencimento de 200$000 reis anuais, em 1803 foi feito pintor régio com a pensão de 700$000 reis, e, no exercício dessas funções pintou vários tectos e painéis no paço da Ajuda, sendo - na opinião de Rackzynski - o mais notável o que representa a «Aclamação de D. João IV». Além desta obra pintou também outras para particulares, e afinal morreu pobríssimo a 4 de julho de 1836. Taborda publicou em 181_ uma obra com o título: «Regras da arte de pintar, com breves reflexões críticas sobre os caracteres distintivos das suas escolas, vidas e quadros de seus mais célebres professores, escritos na língua latina, por Miguel Ângelo Prunetti e traduzidos em português. Acresce a memória dos mais famosos pintores portugueses e dos melhores quadros seus que escreveu o tradutor». Este livro contém notícias de pouco mais ou menos cem pintores portugueses, encontrando-se nele particularidades interessantes, que revelam o espírito investigador de Taborda e a curiosidade com que procurava verificar os factos, consultando em grande número de obras, e examinando documentos nos arquivos públicos e particulares. Por estas qualidades o livro de Taborda é geralmente considerado superior ao que Cyrillo Wolkmar Machado compôs no mesmo género, sendo raro aparecer qualquer deles no mercado, e pagando-se por bom preço os que aparecem. O retrato de Cunha Taborda é copiado do que existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Pág. 437 - Senhor Jesus da Boa Morte e Caridade

Este convento dos Monges de S. Paulo o ermita existia em 1834 num local próximo no convento do Santíssimo Coração de Jesus e do Real Paço das Necessidades. A igreja podia acomodar 300 fiéis, e tinha 5 capelas, tendo a primeira a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo debaixo da invocação do Senhor Jesus da Boa Morte. A sua fundação deve-se ao venerável Pedro Baltazar da Encarnação que com o auxílio do infante D. António o erigiu em 1736. Nesta casa não havia obra de arte a não ser o retrato do fundador em corpo inteiro; as paredes da igreja eram lisas somente e revestidas de cal como era uso nas casas dos frades barbadinhos. Em 1835 foram o convento e a igreja vendidos ao desbarato começando-se logo a demolição bem como da memória do cruzeiro onde se achavam as imagens de Cristo e da Virgem.

Pág. 440 - João Frederico Ludovice
Arquiteto italiano que viveu bastantes anos no nosso país, onde deixou várias obras importantes, entre as quais se conta o grande edifício de Mafra. Nas­ceu em 1670 e faleceu cm 1752, com mais de oitenta anos de idade. O retrato que aqui damos é copiado do que existe no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Pág. 441 - Claustro do convento de Santa Clara
Já em notas dos volumes anteriores demos notícia deste notável convento dos franciscanos, do qual o claustro cuja fotogravura aqui damos é um dos mais curiosos trechos. Como se sabe este convento foi fundado por D. Afonso III uns dizem que em 1259 outros que em 1272.

Pág. 444 - Bernardim Freire de Andrade
Largamente se refere a nossa História a este valente caudilho da independência portuguesa, para que voltemos aqui a publicar-lhe a biografia. O retrato que apresentámos é copiado de outro da época, gravura do distinto gravador português do princípio do século passado, Queiroz.

Pág. 445 - S. Vicente de Paulo
A estampa que apresentamos representa o antigo convento de S. Vicente de Paulo cuja congregação teve origem em França no ano de 1625. Existiu este convento no alto de uma torre situada entre Santo António dos Capuchos e Rilhafoles; sendo o edifício adequado ao colégio militar em 1835 depois de se extinguirem as ordens religiosas. A igreja, que foi destinada a capela do colégio, possuía 5 altares tendo o principal a imagem de Nossa Senhora Padroeira do Reino.

Pág. 448 - Luiz Machado de Mendonça
A quem desejar notícia desenvolvida deste valente militar português, que tanto brilhou nas guerras de Rossilhão, aconselhamos a leitura do interessantíssimo livro de Cláudio Chaby, «Excerptos Históricos». Deste é copiado o retrato que aqui damos e cuja origem, segundo se lê numa nota daqueles Excerptos, é a seguinte: «Ao seu actual representante, filho do exmo actual conde da Figueira, o ex.mo D. José Luiz Machado de Castelo Branco, grande de Espanha de 1ª classe, nono marquês de Mortara, etc., devemos o singular obséquio de podermos ilustrar as páginas deste livro com o retrato do elogiado militar».

Pág. 448 - José Joaquim Champalimaud
Foi um dos valentes militares que se distinguiram durante a invasão francesa. O retrato que aqui damos é reproduzido do que vem a pág. 167 da parte 3a dos «Excerptos Históricos» de Cláudio Chaby.

Pág. 449 - Ataque ao forte de Grijó
É esta estampa a reprodução de uma das gravuras inglesas da notável coleção a que já nos referimos, quando tratámos da que representa «O desembarque das tropas inglesas na Figueira da Foz».

Pág. 452 - Domingos de Sequeira
O mais ilustre artista português, o pintor mais notável da nossa pátria, um dos mais notáveis pintores da Europa e talvez o único do seu tempo, Domingos António de Sequeira, a quem Raczynski chamou o Rembrandt do claro escuro, nasceu em Belém em 10 de março de 1768, sendo filho - segundo uma tradição que o marquês de Souza Holtein refere e que diz autenticada por contemporâneos e amigos do grande pintor - de um barqueiro chamado António do Espírito Santo e de sua mulher Rosa Maria de Lima. Não nos propomos, nem este é o lugar próprio, fazer aqui a biografia do ilustre pintor, pelo que apenas nos limitaremos a indicar algumas das obras mais notáveis que o seu talento nos legou. São elas: «A morte de Camões» quadro que, segundo se diz, inspirou a Garrett o seu imortal poema, - Descanso no Egipto, O Baptismo do Salvador, Crucificação de Cristo, a , Santa Verónica, Ca­minho da Cruz, Sacra Família, S. Rafael e Tobias pai e filho, Santo António pregando aos peixinhos, o Calvário (executado em Castelo Gandolfo), a Adoração dos Magos, a Ascensão, e o Juízo Final -; foram estes quatro últimos quadros que entusiasmaram Raczynski e lhe fizeram dizer, que Sequeira devia ser colocado na História da arte ao lado de Rembrandt. Domingos Amónio de Sequeira faleceu em Roma, em 7 de março de 1836.

Pág. 453 - Ponte da Foz de Arouce
Foi junto desta ponte, que em fevereiro de 1811, os Franceses de Massena foram atacados e batidos pelo exército anglo-luso, tendo de retirar para o Alentejo. Para comemorar este facto histórico, mandámos aqui reproduzir a antiga ponte.

Pág. 456 - D. Leonor da Fonseca Pimentel
Para nos não repetirmos, nada aqui diremos desta notável senhora, acerca da qual Pinheiro Chagas tanto escreve na nossa História. Limitar-nos-emos a dizer que este retrato é copiado directamente do que vem no 2° vol. do interessantíssimo livro de Portugal de Faria Portugal e Itália, e quanto à sua autenticidade (que parece duvidosa) daremos com a devida vénia a tradução de uma carta dirigida pelo major Guilherme da Fonseca ao nosso velho amigo Joaquim de Araújo: «As várias reproduções do retrato de Leonor que v. cita são tiradas quase todas de um quadro a óleo, encontrado por acaso numa estalagem da Apúlia, e que se julga autêntico. A minha família não possui outro. Eu sou justamente descendente do mais novo dos irmãos de Leonor, isto é, de José que foi meu avô».

Pág. 457 - General Canavarro, barão de Arcossó
Pedro António Machado Pinto de Sousa Canavarro, primeiro barão de Arcossó, em sua vida, fidalgo da Casa Real, por sucessão a seus maiores, terceiro senhor do Morgado de S. José de Arcossó, no termo de Chaves, cavaleiro das ordens de S. Bento de Aviz e da Antiga Torre Espada; brigadeiro do exército, que figurou durante a guerra peninsular, sucedeu naquele morgado a seu pai a 19 de janeiro de 1778. Nasceu a 30 de dezembro de 1772 e morreu em Trás-os-Montes, a 13 de maio de 1836, havendo casado a 23 de fevereiro de 1802 com D. Luiza Maria Slessor. O título de barão foi-lhe concedido por decreto de 2 de dezembro de 1835. O retrato que aqui damos é cópia da fotografia duma miniatura existente em poder dos herdeiros do barão de Arcossó.

Pág. 460 - Padrão da Foz de Arouce
Pelo motivo por que, página atrás, damos a reprodução da ponte da Foz de Arouce, pelo mesmo motivo aqui damos este padrão, que rememora historicamente mais uma vitória das armas portuguesas sobre as águias de Napoleão. As palavras que nesse padrão se leem são as seguintes: «15 de março de 1811 - Aos heroicos defensores da pátria o conde da Foz de Arouce

Pág. 461 - Conde de Lippe
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o retrato donde reproduzimos o que aqui damos deste organizador do exército português.

Pág. 463 - Espírito Santo
A congregação do oratório de S. Filipe Nery foi fundada em 1550 e aprovada pelo papa Gregório XIII. Em Portugal a introduziu o venerável padre Bartolomeu do Quental, cujo retrato já publicámos num dos volumes anteriores da nossa História. O local onde este convento existiu é no centro da cidade, no fim da rua Chiado, hoje rua Garrett, onde actualmente existe o palácio Barcelinhos. A igreja possuía 5 capelas sendo a primeira dedicada ao Espírito Santo. Na portaria deste convento, existiam além de outros quadros de valor, os retratos pintados a óleo de S. Filipe Nery, padre Bartolomeu do Quental e o do sábio padre Teodoro de Almeida. O convento e igreja foram vendidos ao desbarato ao negociante Manuel dos Contos, que tudo destruiu, construindo o edifício que hoje aí se encontra.

Pág. 464 - Luiz Inácio de Vasconcelos
Capitão de artilheria ao serviço do arsenal do exército, cavaleiro da ordem de Cristo, condecorado com a insígnia militar da campanha de Rossilhão, e fidalgo da Casa Real, nascido na freguesia do Salvador em Lisboa a 30 de abril de 1774 e falecido em 11 de novembro de 1831 na freguesia de Santa Engrácia. Casou pela primeira vez em 16 de junho de 1798, com D. Felícia Joaquina Freire Tavares Sarriá, de que houve uma filha, D. Maria Barbosa de Vasconcelos. Casou mais três vezes: com D. Joana Fremont e com D. Teodora, das quais não houve filhos. Luiz Inácio de Vasconcelos era filho de Caetano Inácio de Vasconcelos, cavaleiro fidalgo da casa Real, e neto de António Cardeira Surdo Vila Lobos. O retrato que aqui damos é copiado de uma miniatura existente em poder da família.

Pág. 465 - Batalha do Bussaco
É ainda uma das estampas reproduzidas da celebrada colecção inglesa, a que acima nos referimos e dos quais publicámos na História os que interessam principalmente ao nosso país.

Pág. 468 - Marcos Portugal
Encontra-se na Biblioteca Pública de Lisboa o retrato donde foi copiado o que aqui apresentamos deste notável manuscrito português, cujo nome tanto figurou nos acontecimentos dos primeiros anos do século XIX.

Pág. 469 - Terceiros da Penitencia
A Ordem dos Terceiros Regulares de Jesus foi instituída neste reino por um religioso espanhol em 1442, em Santarém, em 1594 se estabeleceram por todo o reino com grande número de casas. O seu local é junto à igreja pela parte do Evangelho, a sua entrada principal é por dentro da igreja, e tem entrada lateral por corredor que sai mesmo do lado da igreja dos Terceiros Regulares e o seu alçado lateral olha com frente para o lado do sul. Possui 7 capelas tendo a primeira a invocação de S. Francisco de Assis.

Pág. 472 - Guilherme Stephens
É um estrangeiro ilustre a quem Portugal deve um dos seus mais importantes estabelecimentos industriais, pois foi o fundador da grande fábrica de vidros da Marinha Grande. Copiámos este retrato duma reprodução que nos dá o interessantíssimo jornal O Occidente, de 1884. Ignora-se qual a época da chegada de Guilherme Stephens a Portugal e qual motivo da sua vinda à nossa terra, o que se sabe é que, antes de 1710, Guilherme Stephens estava em Lisboa, explorando uns fornos de cal nas pedreiras de Alcântara, com carvão de pedra vindo de Inglaterra, livre de direitos, e que em 7 de julho de 1769 inaugurou na Marinha Grande a famosa fábrica de vidros que hoje pertence ao estado. Parece que a ideia da fundação desse importante estabelecimento foi sugerida a Stephens por uma pequena fábrica que existia na Marinha Grande, e pela proximidade do Pinhal de Leiria, que lhe forneceu o combustível necessário para o fabrico de vidros em grande escala. Quando Stephens fundou a sua fábrica, o marquês de Pombal ordenou que, para auxiliar o es­tabelecimento dessa fábrica se emprestasse 32 contos sem juros e que do pinhal de Leiria se fornecesse gratuitamente toda a lenha precisa, privilégio dado por 15 anos, mas logo no fim de 7 anos prorrogado indefinidamente, juntamente com outras vantagens e isenções, que só lhe foram tiradas pelo tempo da invasão francesa, sendo-lhe também sequestrada a fábrica e terrenos anexos e preso Stephens, por não querer cumprir as ordens de Junot, prisão que durou apenas quatro meses, sendo depois solto com a condição de se apresentar às autoridades todas as quinzenas. Em 1811, expulsos os franceses, a fábrica readquiriu todos os privilégios, com a prorrogação de mais 20 anos. Os governos peotegeram muito Guilherme Stephens, mas empregaram bem essa proteção, não só pelos serviços que Stephens prestou ao país, pois que, além de levantar todos os vastos edifícios que ainda hoje constituem a fábrica construiu uma estrada, que, no lugar de Carvalhos entroncava com a antiga estrada real de Lisboa ao Porto, estrada que ainda hoje existe, posto que muito deteriorada, e que era conhecida pelo nome de estrada do Guilherme, iniciou grandes melhoramentos agrícolas, meteu muitas plantas novas no nosso so­lo, melhorou a cultura dos terrenos, mandando para isso vir expressamente um prático do condado de Norfolk, e por fim legou a fábrica a seu irmão, com a condição de a doar em certo prazo à nação que tão bizarramente galardoara os seus serviços. Não se sabe também ao certo a data do falecimento de Guilherme Stephens; o que se sabe é que em 1826 o seu irmão e herdeiro, João Diogo Stephens, fez doação da fábrica ao país, como prova de gratidão ao estado. O nome de Guilherme Stephens é ainda hoje abençoado por todos os habitantes da Marinha Grande, e figura entre os dos mais beneméritos da nossa indústria.

Pág. 473 - Domingos António de Sousa Coutinho
D. Domingos António de Sousa Coutinho, 1° con­de e 1° marquês do Funchal, nasceu na vila de Chaves, e morreu em Évora em 1833 antes de ver terminada a guerra civil de Portugal, em que tomara parte. Serviu com honra diversos cargos e missões diplomáticas, começando pela de enviado na Corte de Copenhague, para que foi nomeado em 1788, passando depois a Turim, e terminando pela de embaixador em Londres, que exerceu durante bastantes anos. A extrema delicadeza e obsequiosidade do actual marquês do Funchal, que graciosamente nos facultou o retrato autêntico deste seu ilustre ascendente devemos o prazer de apresentar aos nossos leitores a fisionomia deste simpático vulto que tanto figurou na política dos princípios do século XIX.

Pág. 476 - Santa Marinha do Outeiro
Foi mesquita de mouros, e se purificou e sagrou na era de 1222 de César (1184 de Jesus Cristo). Estava situada no largo que ainda conserva o seu nome e fica entre a rua da Oliveirinha, travessa de Santa Marinha e calçadinha do Tijolo. Foi suprimida esta freguesia, anexada à de Santo André, e derrubada em meados do século passado. Ainda do excelente livro inédito de Gonzaga Pereira, Descripção dos monumentos sacros de Lisboa mandámos copiar este desenho da hoje extinta igreja.

Pág. 477 - Gomes Freire
Duma excelente gravura da época mandámos copiar o retrato que aqui damos deste ilustre caudilho da independência portuguesa, tão vilmente executado por ordem e vingança de generais ingleses, então - quase como hoje - dominadores em Portugal.

Pág. 479 - Igreja de S. Martinho
É ainda do livro de Gonzaga Pereira, por nós tantas vezes citado, o desenho desta antiga igreja de Lisboa, hoje já extinta. Esta antiga igreja estava próxima da praça da Moeda Nova (Limoeiro) no largo ainda por isso chamado de S. Martinho, que fica entre as ruas da Saudade e do Arco do Limoeiro e largo do mesmo nome. Foi destruída pelo terremoto de I755, e com a reedificação de Lisboa se apagaram todos os seus vestígios. A paróquia foi anexada à de S. Tiago, que, por isso, se denomina oficialmente - S. Tiago e S. Martinho.

Pág. 480 - Arthur Welesley
Mandámos reproduzir duma gravura da época, muito interessante e pouco vulgar, o retrato deste chefe do exército anglo-luso, a cujo comando os franceses experimentaram algumas das maiores derrotas que durante o império napoleónico lhes foram infligidas.

Pág. 481 - Passagem do Douro pelas tropas anglo-lusas
Mais uma reprodução das excelentes estampas inglesas, quase contemporâneas dos acontecimentos que representam, e a que acima nos referimos já.

Pág. 484 - Pascoal José de Mello
É cópia dum magnífico retrato gravado por Bartolozzi o que aqui damos deste notável jurisconsulto, que tanto figurou nos acontecimentos políticos da primeira metade do século XIX.

Pág. 485 - Ermida das Necessidades, em Azeitão
É de moderna data. Foi edificada no meado do século XVIII por diligências de Manuel Martins, homem de pouca fazenda, habitante da vizinha aldeia das Vendas. O porteiro-mor José de Sousa e Melo permitiu a edificação e contribuiu para ela com largo donativo. José de Melo ficou padroeiro da ermida e Manuel Martins teve a faculdade de colocar sobre a porta uma lápide com o seu nome e fazer-se sepultar no recinto sagrado. Antes da edificação da ermida, o lugar era chamado portela da Cruz.

Pág. 488 - Luiz Inácio de Xavier Palmeirim
Não é este o lugar próprio para a biografia de cada um dos vultos que figuram na nossa galeria; dos seus feitos principais dá conta a nossa História, e para detalhes há as monografias especiais. Por isso aqui não damos a notícia biográfica desse ilustre caudilho da liberdade portuguesa. Aqui apenas nos cabe dizer donde foi copiado o retrato que apresentamos: dos Excerptos Históricos de Cláudio Chaby, que julgamos o mandara reproduzir duma miniatura que supomos existir em poder de seus herdeiros.

Pág. 489 - Asilo dos inválidos militares, em Runa
É obra da benemérita princesa D. Maria Francisca Benedita, irmã de D. Maria I, este soberbo edifício, que fica situado no termo de Torres Vedras, e para a descrição do qual, e sua História, encontra o leitor desenvolvida notícia no interessante opúsculo de Augusto Carlos de Sousa Escrivanis, Descripção do real asylo dos inválidos militares em Runa, don­de tomámos a liberdade de mandar reproduzir esta gravura, bem como a da custódia que poucas pági­nas adiante damos.

Pág. 492 - Carlos Damasceno Rosado
Figurou nos acontecimentos político-militares do século XIX o vulto cujo retrato aqui damos, retrato copiado de uma fotografia ampliada duma miniatura existente em poder dos descendentes daquele ilustre português.

Pág. 493 - Custódia do asilo de Runa
Entre os diversos objectos de arte que tem este asilo, deixados pela generosa princesa sua fundadora, merece especial menção a bela e graciosa custódia, cujo desenho foi obra da benemérita senhora. Tem 1,3m de altura; é de prata dourada, cravejada de enormes pedras preciosas, medindo algumas 0,07m e 0,11m; as decorações simbolizam as três leis: natural, escrita e da graça; assim, ali se acham representadas, a partir da base, a arca santa, por cima o livro dos sete selos, sobre este, deitado, o cordeiro pascal. Dos lados da arca da aliança nascem entrelaçados dois troncos de vide com as competentes parras (em esmeraldas) e cachos de uvas (78 ametistas roxas e 178 brilhantes), misturadas com espigas de trigo de ouro, com grãos de belos topázios, o que, juntas com outras grandes pedras de águas marinhas colocadas na arca, cordeiro, etc., figuram o pão, vinho e água, partes componentes do sacrifício da missa antes da consagração. A peanha separa-se do resplendor, havendo outra mais pequena, também de prata dourada, que serve quando a custodia tem de ser conduzida processionalmente, por isso que aquela, maior, não pode ser levada pelo sacerdote, não só pelo peso que tem, como pelo volume que faz.

Pág. 495 - José Maria da Costa e Silva
Sem ser um poeta extraordinário, foi, contudo, um escritor muito fecundo e obras deixou bem dignas de apreço como é o seu «Ensaio biográfico crítico sobre os melhores poetas portugueses», no qual o erudito encontra variadíssimas noções que derramam imensa luz sobre fisionomias ignoradas da boa literatura, como afirmou um dos seus críticos. Costa e Silva, nascido em Lisboa em agosto de 1788, veio ao mundo em tão precário estado de forças, que se julgou que poucos dias tivesse de vida; arribou, contudo, e logo que chegou à idade própria frequentou sucessivamente as aulas de gramática, língua latina, botânica, filosofia racional e moral, física e teologia, e preparava-se para seguir o curso de medicina, quando a morte prematura de seu pai veio cortar-lhe a carreira, para que tão boas disposições manifestava. Entregando-se muito cedo ao comércio das Musas, compôs, apenas com 13 anos, o seu poema, o «Passeio», e escreveu algumas tragédias, sendo principalmente das produções teatrais que ele viveu, durante muitos anos, pois que, avesso à sujeição dos empregos públicos, abandonou um lugar na Mesa da Consciência, para que fora nomeado, só para não se submeter a tal lugar; durante os vinte anos em que trabalhou para o teatro, escreveu, traduziu e imitou mais de trezentos dramas, entre os quais muitos «Elogios dramáticos», género então muito em voga. Em 1834, foi convidado para redigir a «Crónica Constitucional», e dois anos depois, atendendo ao seu mérito literário e aos seus grandes dotes de trabalho, alguns amigos que tinha na Câmara Municipal de Lisboa deram-lhe, sem que ele o solicitasse, o lugar de director da secretaria da mesma Câmara que ocupou até 1841, em que vagando o de escrivão do Município, para ele foi nomeado naquela data, exercendo este lugar até 1854, em que, atacado de moléstia súbita, expirou quase de repente na manhã de 25 de abril, contando 60 anos de idade. As suas produções literárias foram inúmeras, e, dentre elas destacaremos as seguintes: «O Passeio», Lisboa, 1816 e 1844; a «Imaginação», poema de Dellile, trad. 1817; «Isabel ou a Heroína de Aragom», 1832; «Emília e Leónide», poema, 1836; «O Espectro ou a Baronesa de Gaia» 1838; «Poesias», 3 vol., 1843 e 1844; «Os Argonautas», trad., 1852; «Ensaio biográfico crítico», 10 vol., 1850-1856; isto além dos numerosos «Elogios dramáticos», de que já demos conta. O retrato que damos é reproduzido do que acompanha o seu poema «Isabel ou a heroína de Aragom» a que acima nos referimos.

Pág. 496 - Monumento do Bussaco
Fica situado numa esplanada do alto no formoso Bussaco o monumento que a nossa figura representa, comemorativo da célebre batalha descrita neste volume da nossa História, batalha em que os franceses começaram a sentir com mais violência, de quanta energia é capaz o povo português, quando incitado por uma nobre causa como é a independência da sua pátria. Há anos este obelisco foi destruído por um raio, mas não tardou muito que de novo fosse levantado como actualmente se encontra, e a nossa gravura mostra.

Pág. 497 - Cerco de Badajoz
Ainda mais uma reprodução de outra gravura da célebre colecção de estampas inglesas a que acima nos referimos com mais individualização.

Pág. 500 - João António Tavares
Fez parte da Legião Portuguesa que foi à Rússia, mas voltou, ao chegar de Paris, para Portugal por ordem superior; fez a campanha do Sertão no reino de Angola e a guerra Peninsular como coronel do 3° de infanteria, esteve com o seu regimento na batalha de Fuentes de Honor, em 5 de maio de 1811, na de Salamanca em 22 de julho de 1812, no combate do Caniçal em 18 de julho do mesmo ano, no qual não combateu; esteve presente ao 3° cerco de Badajoz e do forte de Salamanca e tomou parte na acção de Arapiles. Foi condecorado com a Torre e Espada e faleceu de ferimentos recebidos em campanha a 23 de abril de 1813 com 45 anos de idade. Em paga de seus serviços recebeu a viúva e seus filhos duas capelas no distrito de Évora que lhes deu D. João VI, instituídas por João de Freitas e Manuel Peres. O retrato que damos é cópia duma miniatura que está em poder de seu neto o sr. José António Tavares, agricultor muito ilustrado no concelho de Alenquer, que generosamente no-la fa­cultou.

Pág. 501 - Joaquim Hemitério de Carvalho
Valente militar, que tomou parte nas campanhas da primeira metade do século XIX, assentando praça no regimento da guarda real do palácio de Lisboa, em 20 de setembro de 1808. Casou no dia 29 de maio de 1826 com D. Maria Carlota Stuart, na igreja de Santa Isabel. Foi tenente do regimento de infanteria 4, que, no dia 21 de agosto de 1801 se revoltou. Sendo que comandou o regimento, condenado pelo conselho de guerra a ser fuzilado, D. Miguel, comutou-lhe a sentença enviando-o em degredo para África.

Pág. 504 - António Tavares Magessi
Também dos interessantes estudos de Cláudio Chaby, Excerptos Históricos, tomámos a liberdade de copiar o retrato que aqui damos deste valente militar das guerras de Rossilhão e dos franceses.

Pág. 505 - Capela da Senhora das Barrocas, em Aveiro
Segundo as mais correctas e autorizadas opiniões foi este gracioso e elegante templo fundado em 1707. É de forma octogonal, e exteriormente do estilo jónico. Tem em volta, na parte superior, sete janelas, e nos lados da frente mais três inferiores. Encontra-se desenvolvida e artística notícia deste templosinho num interessantíssimo artigo do sr. Melo Freitas publicado em um dos números da Revista Illustrada, uma das mais brilhantes revistas, infelizmente malograda, do grande editor já hoje falecido António Maria Pereira.

Pág. 508 - Francisco de Mello de Mendonça da Cunha e Menezes
Monteiro-mor do reino e coronel comandante do regimento de infanteria de Cascais, de que foi um dos vultos mais proeminentes. Este distinto oficial nasceu a 26 de fevereiro de 1761, assentou praça em 13 de dezembro de 1781, foi promovido a alferes em 19 de junho de 1783, a tenente em 20 de abril de 1784, a capitão em 2 de outubro de 1786, a major em 15 de maio de 1789, a tenente-coronel em 18 de fevereiro de 1791, e a coronel-comandante do regimento de infanteria de Cascais em 22 de junho de 1793. Os triunfos alcançados na guerra por este coronel e os serviços que prestou ao país durante a sua larga carreira militar granjearam-lhe o epiteto de distinto guerreiro, e os títulos de conde de Castro Marim em 14 de novembro de 1802, marquês de Olhão em 21 de dezembro de 1808 e gentil-homem da Câmara de D. Maria I. Foi nomeado governador e capitão-general do Algarve, governador da Torre de Belém, tenente-general e um dos governadores do Reino em 1808, presidente do senado da Câmara de Lisboa, grã-cruz das Ordens Militares de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Sucedeu a seu pai, na casa dos Cunhaes, em 1788, e a seu primo Francisco de Mello, no Ofício e casa dos Monteiros-mores, em 16 de fevereiro de 1789, casou em 29 de novembro de 1783, com D. Joaquina Teles da Silva, 5a filha dos segun­dos marqueses de Penalva e faleceu em 7 de abril de 1821. A nossa gravura é feita sobre a fotografia de um retrato de Francisco de Mello existente em poder da família

Pág. 509 - O Paço dos Estáos
Já em pág. acima, deste volume, ao falar do extinto palácio da Inquisição em Lisboa, nos referimos ao palácio dos Estaos, que ocupara o lugar depois ocupado por aquele palácio e actualmente pelo teatro de D. Maria. Aqui só nos incumbe dizer que tomámos a liberdade de reproduzir esta vista da que o sr. Visconde de Castilho traz no 1° volume da sua nova edição da «Lisboa Antiga», onde este ilustre investigador copia a gravura que D. Juan Alvarez de Colmenar dá no seu «Annales d'Espagne et de Portugal», etc., Amsterdam, 1741.

Pág. 511 - Bernardino António Gomes
Médico distintíssimo, nascido em 1768 e falecido em 1823. Foi pai de outro homem de ciência não menos ilustre, e que teve igualmente o nome de Bernardino António Gomes. É copiado de uma miniatura existente em poder dos herdeiros o retrato que aqui damos deste vulto notável da ciência, nos séculos XVIII e XIX.

Pág. 512 - A. L. P. Girão
Foi um dos deputados das célebres cortes de 1820 e além de político, agricultor muito ilustre. O retrato que aqui damos é copiado de uma litografia da época, desenho de Sequeira.

Pág. 513 - Convento de Santo António dos Capuchos
Na estrada que da Aldeia Galega de Merceana segue para o lugar do Arneiro no concelho de Alenquer, existe o convento dos capuchos da invocação de Santo António, que a nossa estampa representa, e que é também denominado convento de Chernaes. Foi fundado em 1600, em sítio ameno e pitoresco, como em geral eram os edifícios antoninos, bem que as suas fábricas fossem sempre modestas. Este convento hoje está convertido em hospital, que a câmara municipal da Merceana ali sustenta. Na igreja do convento ainda se celebra o culto.

Pág. 516-517 - Distribuição da sopa no largo de Arroios
Como o nosso fim ao traçar os ligeiros apontamentos que ficam lançados nestas notas não é outro se não justificar o aparecimento das gravuras a que elas se referem na nossa edição da História de Portugal, nada diremos acerca do merecimento extraordinário da magnífica estampa de Sequeira de que esta é copia, limitando-nos apenas para explicá-la, a reproduzir, o que nos parece bastante, a epígrafe que acompanha a gravura original, epígrafe concebida nos seguintes termos: «A Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor, Augusto, Pio, Magnânimo, Pae da Pátria, dedica, oferece e consagra Domingos António de Sequeira, Lusitano, Primeiro Pintor da Camara e Corte de S. A. R., Mestre dos Sereníssimos Srs. Príncipe, e Infantes, Académico de Mérito na Ínclita Academia de S. Lucas em Roma, e dos principais da Itália, Director da Aula de Desenho na Real Academia da Marinha da Cidade do Porto, esta estampa que copiou do natural. Representa a distribuição do alimento, que se repartia no Cruzeiro de Arroios aos infelizes emigrados que desampararam as suas terras assoladas pelo exército francês na invasão de outubro de 1810, e foram acolhidos e sustentados pelos moradores de Lisboa com o mais louvável patriotismo e humanidade.» As notas artísticas que se leem no fundo da estampa são, à esquerda: «Dom. Ant. de Sequeira etc. Rom. inv. del. e abrio os cont. das fig.»; e à direita: «Greg. Franc. de Queiroz esculpio as figuras a água-forte em 1813

Pág. 519 - Major José Joaquim Talaya
Do retrato que aparece nos Excerptos Históricos do sr. Cláudio Chaby reproduzimos o que ora aqui damos deste valente militar que tanto figurou nas guerras do fim do século XVIII e princípios do século XIX.

Pág. 520 - Fr. Fortunato de S. Boaventura
Existe na Biblioteca de Évora o retrato em corpo inteiro, de uma fotografia do qual foi copiado o busto que aqui apresentamos deste famoso padre, que tão façanhudo e cruel se mostrou contra os liberais e a favor de D. Miguel, o que lhe alcançou as honras a que foi elevado por aquele monarca. Largamente se refere a ele no volume 8° da nossa História o malogrado M. Pinheiro Chagas.

Pág. 521 - Igreja de S. Miguel de Refoios
No concelho de Cabeceiras de Basto, 40 quilómetros ao N. E. de Braga e 25 a 30 a leste de Guimarães, fica situado o antigo mosteiro de beneditinos daquela invocação, e que a nossa estampa representa. Está assente o mosteiro em sítio baixo e de pouca vida, mas saudável, tranquilo, cercado de profusa vegetação. Três incêndios que destruí­ram a maior parte do seu cartório, deixaram em incerteza a notícia dos seus primeiros dias. Uns atribuem a sua fundação a D. Gomes Mendes Barroso e D. Chamôa, irmã de Gonçalo Mendes de Sousa, em tempos de D. Afonso Henriques, outros a S. Frutuoso, outros a Hermígio Fafes, rico-homem em tempo de Receswintho, outros a Gomes Soeiro. Não e o lugar próprio nem de espaço dispomos para dar larga notícia do edifício, pelo que nos cingiremos a dizer que o que hoje existe do convento é relativamente moderno. A igreja é vasta, adornada de duas torres e de um zimbório de 30 metros de altura. O interior é sumptuoso e segundo o estilo da época.

Pág. 524 - João Domingos Bomtempo
Reproduziu-se de uma gravura da época este retrato do afamado músico português, que viveu nos primeiros anos do século XIX.

Pág. 525 - Monumento de Milreu
Este monumento é talvez o mais notável das ruínas de Milreu, em Faro, pertencentes decerto à antiga cidade de Ossónoba, e no seu género, o único parcialmente visível em todo o país. Ocupa uma área superior a oitocentos metros quadrados; acha-se construído em dois pavimentos determinados por duas ordens de claustros que o circundam. O sr. Estácio da Veiga inclina-se a que este edifício fora templo cristão.

Pág. 527 - General Luiz do Rego Barreto
Este valente militar, que mais tarde foi nomeado visconde de Geraz de Lima, nasceu em Viana do Minho a 17 de outubro de 1777, sendo seu pai o major ajudante de ordens do governo das armas do Minho, António do Rego Barreto. Em março de 1790, alistou-se no regimento de infanteria em Viana, e sendo tenente quando Junot dissolveu o nosso exército, pediu a demissão e foi viver como particular na sua terra natal. Logo que na província do norte apareceram os primeiros sinais de revolta contra os franceses, Luiz do Rego, saindo do retiro a que se havia condenado, pôs-se à frente dos seus patrícios e aclamou o príncipe regente em Viana, no dia 20 de junho de 1808. Nomeado então pela junta dessa vila major de infanteria 9, foi pouco depois encarregado pela junta suprema do Porto de organizar em Viseu o batalhão que posteriormente se denominou de caçadores 4. Comandando este corpo, tomou parte em diferentes combates e acções, assinalando-se principalmente no Bussaco, e sendo em fevereiro de 1812 promovido a coronel para infanteria 15 logo em seguida mostrou inexcedível bravura no assalto de Badajoz. Aos louvores que por seus feitos obteve de lord Wellington e do marechal Beresford, juntou depois novos elogios pelo modo como se comportou na batalha de Salamanca, na tomada de S. Sebastião, e na batalha de Nive, cabendo-lhe nesta última a direcção da 3ª brigada portuguesa. Regressando à pátria quando terminou a guerra, partiu em 1816 para o Rio de Janeiro, e quando chegou a essa corte já o monarca lhe havia dado o posto de brigadeiro. No ano seguinte, rebentando em Pernambuco a revolução republicana, foi Luiz do Rego nomeado governador e capitão-general dessa província com a patente de Marechal de Campo. Inaugurou o general o seu governo com alguns actos de rigor, naturais naquela ocasião; logo em seguida, porém, quando os magistrados da alçada estenderam as de­vassas e espalharam o susto e o terror na província, Luiz do Rego protestou com energia contra esse procedimento e, usando de meios conciliadores, alcançou manter a tranquilidade ainda mesmo depois de chegarem à capitania as notícias da revolução do Porto. Em março de 1811, quando teve conhecimento dos sucessos do Rio de Janeiro, de acordo com as autoridades e pessoas mais influentes do Recife, dirigiu ao soberano uma representação pedindo-lhe que aderisse às instituições liberais, e quando soube da partida de João VI para a Europa e dos acontecimentos da capital, jurou e mandou jurar as bases da constituição e procedendo à eleição, foram os representantes de Pernambuco os primeiros deputados brasileiros que tomaram assento no congresso. Não se contentaram os Pernambucanos com estas demonstrações de afecto ao sistema constitucional dadas pelo seu governador, e tramaram para com ele uma conjuração. Na noite de 21 de julho, quando recolhia ao seu palácio foi Luiz do Rego atacado de improviso por um vulto que lhe tomou o passo e disparou um tiro de bacamarte, cujas balas o feriram gravemente. Ao cabo de um mês de tratamento, achando-se quase de todo restabelecido cuidou de organizar, segundo as ordens do príncipe regente e as leis das cortes uma junta do governo da província; antes, porém, de executar esse desígnio algumas povoações do interior formaram um governo provisório, cuja sede foi em Goiana. Apenas foi informado disto, reuniu um conselho de militares e pessoas importantes, e manifestou desejo de sair de Pernambuco para evitar conflitos; encontrando, porém, oposição, resolveu-se a ficar, nomeando-se então, segundo o parecer do conselho, uma junta do governo presidida pelo general. Logo que esta se constituiu, oficiou ao governo de Goiana, pedindo-lhe se dissolvesse, mas os dissidentes, em vez de se submeterem, prepararam-se para atacar Olinda. Saiu-lhe o capitão-general ao encontro e destroçou-os; vendo, porém, que não podia destruir o incêndio que lavrava na província, resolveu-se definitivamente a abandonar o Brasil, ajustando primeiro a paz com os insurgentes. - Ratificado o convénio, embarcou Luiz do Rego Barreto no navio francês Charks-Adéle, para Lisboa, onde chegou em fins de 1821 e onde os deputados brasileiros todos os dias o pintavam no congresso como um tirano e um déspota. - Alguns meses depois do seu regresso a Portugal, foi nomeado governador substituto da província do Minho e nessa situação estava ainda quando o general Silveira levantou em fevereiro de 1823 o grito de revolta contra as cortes. Investido então do comando em chefe das forças das três províncias do norte, bateu em Amarante os revoltosos, obrigando-os a retirar para Espanha; mas logo em seguida, quando o partido absolutista triunfou, foi Luiz do Rego deportado para a Figueira e em 1824 reformado. Admitido de novo em 1827 no exército activo com o posto de tenente-general, foi outra vez ao Brasil e voltando à pátria já no tempo de D. Miguel, foi por este mandado pren­der. Mudado de umas para outras terras do reino, só pôde evadir-se do cárcere em 1833, passando de Campo Maior para Espanha e só conseguiu entrar em Portugal quando já estava finda a luta. Nomeado por D. Pedro vogal do supremo conselho de justiça militar, foi-lhe confiado em princípios de setembro de 1836, o governo das armas do Minho, mas pouco tempo desempenhou este cargo, porque dele foi exonerado pelo ministério saído da revolução que teve lugar nessa época. Eleito senador pelos seus conterrâneos em 1838 foi numa das sessões da Câmara atacado de um insulto apoplético, e indo convalescer para Viana, aí faleceu a 7 de julho de 1840. De Viana nos veio o original para o retrato que aqui damos deste notável militar.

Pág. 528 - Manuel Inácio Martins Pamplona
Célebre ministro e general português, nasceu em Angra, na Ilha Terceira, a 3 de junho de 1760, sendo filho de André Diogo Martins Pamplona Corte-Real, senhor do Morgado de Salgas e de D. Joana Jacinta Menezes e Távora. Passando ao continente, foi formar-se na universidade de Coimbra, e, tendo tomado o grau de bacharel, sentou praça de cadete no regimento de cavalaria de Santarém, onde foi servir como voluntário no exército russo que militou contra os Turcos, sendo aí companheiro de armas de Gomes Freire de Andrade, e tomando parte no brilhante feito de armas da tomada de Oczakow. Rebentando a guerra entre a França e as outras potências europeias, serviu primeiro como voluntário no exército inglês, comandado pelo duque de York e assistiu ao cerco de Valenciennes. Entrando, porém, Portugal na luta, recolheu à pátria e fez a campanha do Rossilhão como ajudante general da divisão auxiliar portuguesa, depois que deixou de exercer esse cargo o conde de Assumar. Era já então Martins Pamplona tenente-coronel e desinteligências que ele e o seu antigo camarada Gomes Freire de Andrade tiveram com o general Forbes comandante da divi­são fizeram com que um e outro fossem mandados recolher a Lisboa. Entrando em 1797, foi nomeado comandante da legião de tropas ligeiras e em 1801 foi-lhe entregue o comando do regimento de cavalaria n° 9. Em 1806 era nomeado brigadeiro e em 1807 foi encarregado por Junot de reduzir os regimentos de cavalaria portuguesa, o que tudo é minuciosamente referido na nossa História. Em 1812 fez Pamplona a campanha da Rússia, sendo agraciado por Napoleão com a grã-cruz da Legião de Honra; ficou depois em França por ter sido proscrito de Portugal, em virtude de ter combatido junto do exército francês, nosso inimigo. Em 1810, como se tivessem aberto as portas da pátria a todos os proscritos, Pamplona voltou a Portugal, e foi eleito deputado às cortes constituintes pelos Açores, tendo sido nomeado neste meio tempo ministro da guerra, lugar que teve de resignar, por ser incompatível naquela época com o de deputado e sendo liberal moderado, e muito aceito de D. João VI, foi agraciado com o título de conde de Subserra; representava ele, com o marquês de Palmela, o elemento liberal do gabinete, pelo que quando foi da abrilada, foi perseguido por D. Miguel tendo de refugiar-se, para escapar à morte, em casa do seu íntimo amigo Hyde de Neuville, ministro francês em Lisboa. Domada a revolta, foi reintegrado no seu cargo de ministro da guerra, mas só o exerceu pouco mais de seis meses, porque o partido absolutista fez-lhe tão crua guerra, que obrigou o fraco D. João VI a demiti-lo e a nomeá-lo, em compensação, ministro em Madrid, lugar que exerceu até 1827, ano em que, pedindo a demissão, regressou a Por­tugal, onde se achava quando D. Miguel deu o seu golpe de estado em 1828. Foi o conde de Subserra a primeira vítima e desta vez não escapou, como es­capara em 1824, graças à intervenção de Hyde Neuville. Preso e incomunicável na torre de Belém, foi depois transferido para a torre de S. Julião da Barra, acompanhando-o sempre sua dedicada esposa, que o seguiu ainda para Elvas, para onde, em último lugar o transferiram, correndo um e outro grave perigo de serem assassinados no caminho, como sucedeu a muitos outros, escapando porque caiu da carruagem, e os próprios presos os conservaram, protegendo os com os seus corpos até que a tropa miguelista teve dessa vez a humanidade de os proteger contra a fúria do populacho, o que nem sempre fez. Numa casa mata do forte da Graça, em Elvas, morreu o conde de Subserra a 16 de outubro de 1832. Sobreviveu-lhe 24 anos sua dedicada esposa, que só veio a morrer em 1856.

Pág. 529 - Gomes Freire de Andrade, ouvindo ler a sua sentença de morte
Aparece antecipadamente neste volume a gravura, cujo verdadeiro lugar seria no volume seguinte, em cujos primeiros capítulos se descreve toda a famosa intriga contra a independência deste digno português, independência e dignidade que a Inglaterra não quis compreender, mandando traiçoeiramente, - como por tantas vezes tem praticado com os homens que se não vergam ao seu jugo, - prendê-lo e enforcá-lo infamissimamente. É esta uma nódoa de que nunca a memória de Carl Beresford poderá lavar-se. A cena que a nossa gravura representa é aquela em que Gomes Freire, ouvindo ler a sentença em que o condenavam a morrer na forca, se revolta contra esse pensamento e pede para ser fuzilado. «Recusou-se-lhe essa última consolação, escreve Pinheiro Chagas,... e Gomes Freire, que se fardara com grande sossego, animado pela ideia de que cairia como um bravo, dando ele mesmo a voz de fogo, teve uma impressão tão profunda, quando lhe mandaram que se despisse para enfiar a alva infamante dos enforcados, que desmaiou».

Pág. 532 - General Forbes
Do valor e brio do tenente-general João Forbes Skelater, fala eloquentemente Pinheiro Chagas ao descrever a inglória campanha do Rossilhão. O retrato que aqui damos é reprodução duma gravura da época.

Pág. 533 - Igreja Matriz de Oliveira de Azeméis
Quase a meio da vila de Oliveira de Azeméis e no sítio mais elevado dela, chamado o Padrão, ergue-se a igreja paroquial sob a invocação de S. Miguel. É ponto controverso se ali foi sempre a igreja matriz. Há, porém, próximo da vila, uma aldeia de S. Miguel, onde alguns autores supõem ter existido o primitivo templo. Seja como for, o certo é que a actual igreja data apenas de 1719, ano em que, por se achar em muito mau estado a antiga, se começou a construção da nova, a qual terminou em 1726, o que nos é assegurado por uma notícia do doutor Manuel de Oliveira Ferreira, reitor daquela freguesia pelos segun­do e terceiro quartel do século passado, e corroborado pelos livros das Visitações, de que o sr. comendador Leite Rebelo transcreveu extratos nos Annaes do Município. A fachada do edifício é de arquitetura pouco notável, sem carácter algum de grandeza nem de elegância. Sobre a porta há uma escultura regular, representando S. Miguel em acção de esmagar o diabo. Duas torres ladeiam a fachada, mais por ornato do que por necessidade, pois só uma delas tem sinos. O templo é de regular grandeza, de uma só nave e tem dezoito janelas. A capela-mor tem a sua tribuna de talha dourada, ladeada de várias imagens, tais como S. Miguel, S. Pedro, etc. Há mais vários altares laterais e no corpo da igreja. A freguesia foi abadia até 1520, em que foi reduzida a reitoria e comenda da ordem de Cristo, por bula de Leão X. Por ocasião do terremoto de 1755, apenas a igreja abriu algumas pequenas fendas, e caíram os remates de algumas pirâmides. Pelos anos de 1864 procedeu-se na igreja e residência paroquial a muitos reparos de que ambas estavam carecidas. Reformou-se uma das torres; lajeou-se a capela-mor, de xadrez; assobradou-se o corpo da igreja; estucaram-se as paredes e tectos; consertou-se o telhado; fez-se uma grande balaustrada para o arco cruzeiro; foi reformado o coro, dourada a tribuna do altar-mor e seus acessórios, e fizeram-se outros consertos.

Pág. 536 - Major Carlos José da Cunha
Dos Excerptos Históricos donde copiámos este retrato, tomámos a liberdade de extratar a justificação da sua autenticidade, bem como algumas notas biográficas do distinto militar, que ele representa. «À bondade e ao favor do nosso respeitado camarada e prezado amigo, o sr. coronel de Infantaria, Bento José da Cunha Viana, devemos o ser-nos dado ilustrar estas páginas com o retrato de um dos valentes militares que na batalha da Victória chamaram, pelo seu heroico comportamento, a especial atenção dos chefes superiores dos exércitos aliados, merecendo a invejável honra de ser promovido por distinção no campo da peleja.»

Pág. 537 - Praça de D. Pedro, em princípios do século XIX
Esta praça, formosa pela sua extensão, regularidade e elegância, é a segunda de Lisboa, porém o fado como que para a indemnizar, tem-lhe marcado o primeiro lugar na História das nossas revoluções. Todos os acontecimentos importantes, de que Lisboa tem sido testemunha, tiveram por berço, ou túmulo, a Praça de D. Pedro. A praça de D. Pedro, vulgarmente chamada o Rossio, é um quadrilongo de 504 pés de comprimento e de 267 de largura (lê-se no número do «Universo Pittoresco», de 1833, época de que é a gravura que aqui apresentamos, igualmente copiada daquela interessantíssima e hoje rara publicação). Quatro grandes quarteirões de uma Arquitectura uniforme, com 27 janelas de frente cada um andar, e dividida simetricamente por colunatas em 5 prédios, formam os dois lados da Praça. A frente era ocupada, ao tempo da gravura, pelas ruínas do palácio incendiado do Tesouro (onde é hoje o Teatro de D. Maria); e o fundo, que a nossa estampa representa, é formado por dois pequenos quarteirões, divididos por iguais colunatas em dois pedaços semelhantes aos laterais, e unidos por um arco de cantaria, por baixo do qual desemboca na praça a rua dos sapateiros (vulgo do Arco do Bandeira). Dez ruas comunicam desta praça por diversos pontos. O plano da praça de D. Pedro deve-se ao grande marquês de Pombal. Ao tempo em que a estampa foi feita, como se vê, ainda não havia a estátua de D. Pedro que só em 1872 foi ali inaugurada. São muito curiosos os apontamentos que nos dá a notícia que naquela revista «O Universo Pittoresco» acompanha a gravura, curiosos principalmente pela época em que foram escritos, pelo que com eles completaremos este pe­queno artigo: «Em 1821 projectou-se o aformoseamento da Praça, e chegou quase ao meio a criação dum monumento piramidal dedicado à liberdade, e assentos de cantaria que a deviam cindir com oito pórticos de ferro. Em 24 de junho de 1823, mãos destruidoras reduziram ao nada os trabalhos de dois anos, confundindo com os homens e instituições o mármore que se oferecia a receber as formas que a liberdade ou o despotismo lhe quisessem dar. Logo depois da chegada de S. M. I. o Duque de Bragança, de saudosíssima memória, a esta capital, conceberam-se novos projectos de aformoseamento, a que o Libertador deu impulso, mas só em 1837 se levaram a efeito, e são os que se veem na estampa; a Praça, cercada por um passeio de lajedo em xadrez azul e branco, e fechado por uma corrente de ferro sustentada por 132 colunelos, deixando doze entradas para o centro, três em cada face. Por mais de uma vez se tem imaginado a inauguração de um monumento no meio da Praça, dedicado ao Dador e Restaurador das liberdades pátrias, mas outras tantas (vergonha é confessá-lo) se têm posto de parte todos esses projectos. O ponto de vista que escolhemos para ser copiada a perspectiva, foi junto ao palácio do sr. conde de Almada; por isso as ruínas do convento do Carmo, que ficam sobranceiras à rua Nova do Carmo, parecem estar sobre um dos quarteirões da Praça. Essas ruínas são capela-mor, e corpo da gótica e majestosa igreja do convento do Carmo, que o condestável D. Nuno Álvares Pereira fez edificar no ano de 1422».

Pág. 540 - Guilherme Carl Beresford
Filho bastardo de sir Jorge De La Paer Beresford, 1° marquês de Waterford, nasceu na Irlanda a 2 de outubro de 1771. Entrou no serviço militar aos 14 anos e serviu até 1790 na Nova Escócia e depois tomou parte nas expedições que os Ingleses mandaram contra Toulon e contra a Córsega. Elevado ao posto de tenente-coronel do regimento n° 88 em maio de 1794, partiu no ano seguinte para a Índia e à frente daquele corpo entrou na guerra que acabou pela tomada de Seringapatão e pela morte do célebre Tipoo Saib. Verificando-se, pouco depois, a expedição de Bonaparte ao Egipto, a Inglaterra, empenhada em expulsar as tropas francesas desse território fez para lá partir numerosas forças e chamou da Índia um corpo de 6.000 homens, de que era chefe sir David Baird e de que fazia parte o regimento 88 comandado por Beresford, já então promovido a coronel. Quando estas tropas chegaram ao Egipto as operações militares estavam concluídas, mas ainda assim teve ocasião Beresford de mostrar os excelentes dotes que possuía, porque, sendo incumbido da direcção policial e económica dos hospitais, soube conciliar com muita habilidade os interesses do estado e os dos soldados, que em grande número adoeciam por influência do clima e atacados da peste, que se tinha desenvolvido com grande força. Deste país acompanhou Beresford o seu chefe, sir David Baird na expedição ao Cabo da Boa Esperança e foi ele quem tratou com o general Jansen, e assinou a convenção, que pela segunda vez pôs no domínio da Inglaterra aquela importante colónia. Em 1806 partiu à frente de um pequeno corpo de tropas para a América, e tomou Buenos Ayres; não podendo, porém, sustentar-se por causa da sublevação dos naturais contra o domínio estrangeiro, foi obrigado a capitular e regressou a Inglaterra. No ano seguinte a situação de Portugal a respeito das duas nações beligerantes, a França e a Inglaterra, tornava-se de dia para dia cada vez mais crítica. O resto lê-se neste volume da nossa História e nos primeiros capítulos do volume 8°, e começa aqui a influência da Inglaterra nos nossos destinos, e a parte que nos acontecimentos de Portugal tomou Beresford, parte bastante antipática por vezes, e que o nosso país nunca saberá esquecer, como foi por exemplo o procedimento infame havido por Beresford contra o nosso Gomes Freire. Só em 1826 é que Beresford regressou à sua pátria, não constando que voltasse mais a Portugal. Em Inglaterra foi elevado a visconde em 1823, promovido a general do exército em 1825, nomeado grão-mestre de artilheria em 1828 e depois ainda comissário do real colégio militar e do real asilo militar, governador de Jersey e membro do conselho privado. Retirado completamente da vida pública, morreu nas suas propriedades do condado de Kent a 9 de janeiro de 1854. Além dos postos e honras que deixámos indicados tinha Beresford os títulos de conde de Trancoso (1811) e marquês de Campo Maior (1812) em Portugal, o posto de capitão-general do exército espanhol, e as grã-cruzes das ordens da Torre Espada em Portugal, do Banho em Inglaterra, etc., e recebia a pensão anual de 16 contos de reis do governo português e a dotação, também anual, de 2.000 libras, que lhe foi votada pelo parlamento inglês.

Pág. 541 - Pia da água benta da rainha D. Leonor
É reproduzida esta gravura do desenho de B. A. Ceia, que veio na memória do sr. Liberato Teles «Mosteiro e igreja da Madre de Deus», e no moderníssimo livro do nosso presado amigo e incansável investigador Victor Ribeiro, «A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa». Esta pia de água benta era do uso particular da rainha D. Leonor. Tem numa das fa­ces as armas desta rainha e na outra a sua empresa.

Pág. 543 - Cipriano Duarte
Na pessoa de Cipriano Duarte, soldado veterano n° 178 da sexta companhia de reformados de quem é o retrato com que honramos estas páginas (diz o sr. Cláudio Chaby nos «Excerptos Históricos» donde tomámos a liberdade de copiar o retrato que aqui damos) temos em mente votar com especialidade um testemunho de cordial afecto, admiração e respeito, aos soldados propriamente ditos, que, nas campanhas da guerra peninsular, exibindo, com o máximo valor, todas as virtudes que recomendam e nobilitam o verdadeiro soldado, lograram o melhor conceito e o aplauso dos chefes superiores do exército, a consideração e o aumento de afectos dos seus companheiros de armas, o respeito e o louvor dos próprios inimigos, o elogio e o agradecimento da pátria, à qual sacrificando generosos o sangue e as vidas, heroicamente libertaram, sendo-lhe perdurável glória.

Pág. 544 - André Gonçalves
Conhecido pintor português do século XVIII. Nasceu em 1692 e morreu em 1762. Foi discípulo de Júlio César Hermine, pintor genovês que viveu em Lisboa, e teve também muitos discípulos, sendo os principais seus filhos e Pedro Alexandrino. Pintou um grande número de quadros nas igrejas de Lisboa, a maior parte dos quais se perderam com o terramoto. O seu retrato é copiado do que existe na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Pág. 545 - Suplício de Gomes Freire de Andrade
Esta cena é o epílogo daquela representada pela nossa gravura de pág. 529, em que se consuma a infamíssima proeza de Beresford, que ao tempo, e em nome da Inglaterra, a pretexto de nos auxiliar nos espezinhava e nos tratava como ao mais vil dos es­cravos.

Pág. 548 - Napoleão I
A influência deste homem notabilíssimo nos destinos do nosso país, mereciam bem que lhe publicássemos o retrato na nossa História, pelo que reproduzimos para aqui um dos mais autênticos retratos que do grande general se conhece.

Pág. 549 - Túmulo de D. Álvaro da Costa

Foi D. Álvaro da Costa, como já ficou dito em nota apensa a outro volume da nossa História, primeiro provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e dele publicámos em devido tempo o seu retrato, reproduzido do quadro existente naquela casa e representando o casamento de D. Manuel. Quanto à escultura que aqui damos, reproduzimos do interessantíssimo livro de Victor Ribeiro, a que já noutro ponto nos referimos, livro que representa um cabedal de estudo, de investigações e de trabalho, que em verdade, só são capazes de apreciar os que labutam na mesma inglória tarefa de fazer escavações históricas de tão poucos estimadas, «A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (Subsídios para a sua História)», os seguintes curiosíssimos apontamentos: «O Mosteiro de Nossa Senhora do Paraíso, da cidade de Évora, foi fundado em 1640 por três irmãs da família Galvão, religiosas terceiras dominicanas (Agiologio, T. II, pág. 285); teve um grande protector em D. Álvaro da Costa, e em agradecimento aos benefí­cios recebidos deram-lhe o título de padroeiro. - «...Sobre a entrada da igreja está o brasão de D. Álvaro da Costa; talvez por ser o padroeiro Costa - é a abóbada do templo artesoada em costelas (as armas dos Costas são: «em campo vermelho seis costas de prata, firmadas no escudo e postas em três faixas, e por timbre duas costas das armas em aspa, atadas com uma fita vermelha»); nos pontos onde os arcos paralelos cortam a linha média há florões lavrados e pintados. Azulejos antigos interessantes, lisos com desenhos de arabescos, revestem parte das paredes; os do túmulo de D. Álvaro devem ser da época do edículo, 1536. Este túmulo está na capela-mor; é um formoso exemplar do estilo renascença, mostrando a variante de ter nos medalhões os bustos mui salientes e vasados os fundos; na parte superior do elegante edículo está a data 1533, e nos lados 1536. Na parede fronteira jazem três filhos de D. Álvaro, Duarte, Manuel e Rodrigo, que morreram crianças» (Estudos Eborenses. Convento de Freiras. 1a parte Paraíso, Santa Clara, S. Bento. Évora, 1886 por Ga­briel Pereira). O túmulo de D. Álvaro, por ele man­dado fazer, ficava à parte da Epistola da capela-mor e tem uma inscrição que diz:

D. ALVARVS COSTA HVIVS / AEDIS PATRONVS. SIBI ET SVIS / VIVVS POSVIT. MDXXXV

A sepultura de D. Manuel da Costa ficava do lado oposto da capela-mor, à parte do Evangelho, e tinha um letreiro que dizia:

SEPVLTVRA DE D. MANVEL DA COSTA / CAMAREYRO DO INFANTE D. AFFONSO / FILHO DE D. ÁLVARO DA COSTA, / FALECEO A 3 DE JVLHO DE 1532

No baixo da capela-mor havia duas campas rasas em que jaziam o filho D. Duarte e o neto D. Francisco. Tendo caído em ruínas o convento, e sido demolido, o governador civil de Évora oficiou ao provedor da Misericórdia de Lisboa, em 16 de junho de 1900, e a Administração da Santa Casa, em sessão de 5 e 26 de julho, depois de ter reconhecido por indagações a que procedeu, ser aquele monumento uma obra de arte digna de ser conservada, com a ossada que contém, em um dos edifícios da Santa Casa, resolveu solicitar do Ministério da Fazenda a entrega do sumptuoso e artístico mausoléu. Parece, porém, que estas diligências ficaram infrutíferas. O mosteiro foi tempo depois da morte da última freira (que foi a prioresa) mandado demolir pela direcção das obras públicas, a fim de desafrontar as ruas Machede e Mendo Estevão (vulgo da Senhora da Cabeça), e a área que ocupava será transformada em um vasto largo. As preciosidades que existiam no convento foram removidas umas para Lisboa e outras para o Paço arquiepiscopal; os livros e arquivos ficaram na repartição de fazenda do distrito. O túmulo de D. Álvaro, onde se encontraram ossos, foi colocado em uma das paredes do «Museu Arqueológico Eborense», anexo à biblioteca, onde depois de retocado ficou perfeitamente conservado. Segundo declarações de Victor Ribeiro, a quem, como acima dissemos temos seguido neste artigo, estas notícias foram obsequiosamente ministradas pelo sr. Henrique Freire, empregado da Santa Casa da Misericórdia da cidade de Évora e autor de uma memória publicada na Academia, periódico da mesma cidade, intitulada «Nas ruínas do Paraíso. D. Álvaro da Costa».

Pág. 552 - Duquesa de Abrantes
Laura Permon, duquesa de Abrantes, foi mulher do general Junot, comandante da primeira invasão francesa em Portugal. Nasceu em Montpellier a 6 de novembro de 1784 e faleceu em Paris a 7 de junho de 1834. Viveu sempre com tão excessivo luxo e ostentação, que se arruinou completamente, a ponto de, por fim, ter de viver com o producto dos seus escritos. Além de muitas obras escreveu as conhecidas Memoires, em que muito fala de Portugal, e as Souvenirs d'une ambassade et d'un séjour en Espagne et en Portugal, de 1808 a 1811. A duquesa de Abrantes tinha empreendido com Alexandre de Laborde, Charles Nodier e o marquês de Custine uma obra intitulada La Peninsule, tableau pittoresque de l'Espagne et du Portugal, obra de que, segundo diz a N. B. Universele apenas apareceu um fascículo publicado em Paris em 1835.

Pág. 553 - Francisco Lopes do Vale
Nasceu aos 13 de outubro de 1800 na Figueira da Foz, que também foi pátria de Manuel Fernandes Tomás, o glorioso patriarca da revolução de 1820. Muito moço foi para o Porto, onde a eloquência do seu ilustre patrício lhe agitou vivamente na alma os sentimentos liberais. Quando em 24 de agosto de 1820 raiou no Porto a aurora da liberdade, Francisco Lopes do Vale foi um dos que mais entusiasticamente a saudaram. A este tempo seu irmão Lino Lider Lopes do Vale seguia os seus estudos em Coim­bra, concluindo brilhantemente a sua formatura em medicina, e estabelecendo residência na vila de Pombal, onde obteve fama como clínico. O grande dinheiro Chagas no seu Diccionario Popular refere-se a um filho deste clínico, de nome Lino Augusto de Macedo e Vale, «médico contemporâneo nascido em Pombal, em 1834 formou-se na Universidade de Coimbra, foi médico de partido da comarca de Alandroal e de outras terras, colaborou em muitos jornais, escrevendo quase sempre artigos de vulgarização científica e foi enfim residir em Alcobaça os últimos anos da sua vida. Parece que morreu em Leiria aí por 1876.» Francisco Lopes do Vale casou em 1825 com D. Maria Amália Ferreira Barbosa, neta materna do sargento-mor de Vila Nova de Gaia, António José dos Santos Nogueira, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, a que se refere o visconde Sanches de Baena na sua Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal (Artigo Pereira Machado, pág. 254). Durante o cerco do Porto, Francisco Lopes do Vale partilhou com sua consorte dos perigos e incómodos da guerra, escondendo liberais, tendo a sua casa exposta aos projecteis que fizeram ruir tantos edifícios, numa cidade em que a fome, a corrupção dos alimentos e a peste faziam mais vítimas que o arcabuz nos campos da batalha. Sua esposa evidenciou bem então o seu ânimo varonil, mostrando-se uma digna companheira daquelas virtuosas damas portuenses, que, abandonando as suas casas, e o que nelas tinham de mais caro, acudiam ao toque de rebate, com fios e socorros aos feridos que a metralha arremessava para os hospitais de sangue. Fixando mais tarde residência em Coimbra, Francisco Lopes do Vale habitou o convento de S. Tomás, de que demos uma gravura a pág. 76 deste vol. 7º da História de Portugal, e na sua habitação deu acolhida a vultos importantes por ocasião da guerra da Patuleia ou da Maria da Fonte. No convento de S. Tomás permaneceram durante algum tempo diversas forças militares e ali esteve instalada também a Junta Governativa do Distrito de Coimbra, sob a presidência do dr. José Alexandre de Campos, que tantos serviços prestou à causa popular. Francisco Lopes do Vale faleceu em Coim­bra no convento de S. Tomás aos 27 de janeiro de 1882, deixando uma tradição honrosíssima e um nome que ficou sendo um símbolo glorioso de probidade e honradez. O retrato que publicamos é feito sobre um outro a óleo que possui o seu neto dr. António Júlio do Valei e Sousa, de Coimbra.

Pág. 556 - Junot
Eis o chefe da primeira invasão francesa em Portugal, que tão maltratou, e quanto espoliou em seu proveito próprio. Não se lhe pode negar qualidades de valente militar, o nosso país, porém, nunca poderá esquecer os vexames por que o fez passar. Este retrato, bem como os de outros generais franceses que com as diversas invasões entraram em Portugal são copiados todos de uma belíssima galeria de retratos de homens notáveis de França no tempo de Napoleão, e publicada em 1814.

Pág. 557 - Ruínas da casa do Alfageme

Se é certa a tradição ininterrompida, aquelas ruínas que a nossa gravura representa são os restos venerandos da casa e oficina onde o Alfageme profeta fabricava e corregia as espadas que tanto haviam de brilhar ao sol da independência da pátria. Das singelas e rudes palavras da Chronica do Condestável nasceu o conhecido drama de Almeida Garrett, onde o grande poeta aproveitou todas as circunstâncias da narrativa, para dar cor, alma e interesse, a uma das suas mais populares obras, e que mais vezes foi gostada e aplaudida - O Alfageme de Santarém

Pág. 559 - General Lannes
Quanto à autenticidade do retrato deste, general francês que tanto vexou o nosso país, como aliás o fizeram quase todos os homens de armas que o invadiram, veja-se o que dissemos acompanhando o retrato de Junot.

Pág. 560 - Padre Teodoro de Almeida
Presbítero da Congregação do Oratório de Lisboa, sócio fundador da Academia Real, etc. Nasceu em Lisboa a 3 de fevereiro de 1722, sendo filho de Ivo Francisco de Almeida e de Luiza Maria. Aos treze anos de idade, entrou na Congregação do Oratório, onde estudou o curso de humanidades, a geometria, e a física, tendo nesta por mestre o P. João Baptista, o primeiro que, em Portugal, ditou a filosofia moderna ou experimental. Repartindo a sua aplicação entre o estudo das ciências próprias do estado eclesiástico, e o das naturais, fez nestes notáveis progressos, de sorte que aos vinte e quatro anos de idade foi nomeado substituto da cadeira de filosofia na sua Congregação, e aos vinte e nove já era mestre efectivo, publicando por esse tempo o primeiro tomo da sua Recreação philosophica. Não menos assíduo no ministério evangélico, era ouvido com atenção e respeito no púlpito, e buscado de muitas pessoas que o tomavam por seu director espiritual, contando-se entre elas algumas senhoras da mais alta nobreza. Desconfianças bem ou mal fundadas, escreve Inocêncio, lhe atraíram e à maioria dos seus confrades na Congregação o ódio do Marquês de Pombal, faltando pouco para que os filhos de S. Filipe Nery sofressem uma prescrição total semelhante à dos jesuítas, apesar da rivalidade que reinava entre as duas corporações. Em 1760 foram por ordem do omnipotente ministro desterrados da corte alguns fidalgos e alguns oratorianos, entre os quais o P. Teodoro de Almeida. Mais tarde, segundo se diz, em setembro de 1768, o P. Teodoro estando de residência na casa do Porto, teve de refugiar-se em França e aí se demorou perto de dez anos, empregando-se no ensino particular das ciências físicas e matemáticas, primeiro em Bayonna depois em Auch. Ainda que, com a morte de D. José e a queda do ministro em fevereiro de 1777, parece que devia cessar o seu desterro, e serem-lhe abertas as portas da pátria, contudo só a ela voltou em março de 1778. Sendo atacado de paralisia em 10 de abril de 1804, faleceu poucos dias depois, em 18 do mesmo mês, contando mais de oitenta e dois anos. Dentre as suas obras que são muitas, e cujo catálogo completo se encontra no vol. 7 do Diccionario Bibliographico de Inocêncio, destacamos, como mais conhecidos, e mesmo como mais notáveis a Recreação Philosophica, O felix independente do mundo e da fortuna, Lisboa destruída (poema) Sermões e Cartas espirituaes. Este retrato é cópia fac-similada duma gra­vura da época.

Pág. 561 - Recepção em França da divisão do Duque de Alorna
À extrema amabilidade do ilustre oficial do exército português, sr. Ribeiro Artur, devemos o prazer de dar nesta página a interessante composição, que é nem mais nem menos do que a reprodução duma cópia fotográfica que aquele cavalheiro graciosamente nos facultou do célebre quadro de Malespina, hoje pertencente ao comandante Boppe, Recepção do marquês de Loulé, coronel com­andante da cavalaria da Legião Portuguesa do general Barão de Pouget, comandante do departamento dos Vosges, cerca d'Epinal, 1811.

Pág. 564 - General Soult
Leiam se para a autenticidade deste retrato as palavras com que acompanhamos o retrato do general Junot. Quanto à sua inclusão na nossa História, são obvias as razões, porquanto foi ele o chefe da segunda invasão francesa em Portugal.

Pág. 565 - Santa Maria da Estrela
Representa a nossa gravura, num ponto da serra da Estrela, as ruínas do velho convento, que, sob a invocação de Santa Maria da Estrela, foi ali edificado para reclusão dos frades bernardos, há mais de sete séculos, sendo principiado por Lourenço Viegas, filho de Egas Moniz, e reedificado em 1220, por D. Mendo, abade de Maceiradão.

Pág. 568 - Primeiro Marquês de Belas
José de Vasconcelos e Sousa, primeiro marquês de Belas, nasceu a 9 de junho de 1740. Foi conde de Pombeiro, capitão da guarda real portuguesa, conselheiro de Estado, grã-cruz das ordens de S. Tiago e da Torre e Espada em Portugal, e da Legião de Honra em França; regedor das justiças, desembarga­dor do Paço, procurador fiscal da junta dos três estados, director e inspector geral do colégio real de nobres, e embaixador extraordinário em Londres, presidente das mesas de desembargo do Paço e da consciência e ordem no Rio de Janeiro, etc. O marquês era homem dado às letras, entusiasta pela poesia, e parece que o preocupava muito o desejo de publicar, posto lhe faltassem faculdades inventivas. Há quem atribua ao marquês de Belas uma tradução portuguesa da «Henriada» de Voltaire, publicado em 1807, posto que outros suponham que o tradutor foi Domingos Caldas Barbosa. José de Vasconcelos e Sousa faleceu no Rio de Janeiro a 16 de abril de 1812. O retrato que apresentamos foi copiado de um retrato a óleo existente na preciosa galeria do sr. conde da Figueira.

Pág. 569 - Primeira marquesa de Belas
Foi copiado este retrato do que existe a óleo na galeria do sr. conde da Figueira, o qual tem sido para com esta Empresa duma bizarria exemplar, autorizando abertamente a reprodução de muitos retratos de homens notáveis de Portugal, que figuram na sua preciosa colecção.

Pág. 572 - General Massena
A notícia com que acompanhamos o retrato do general Junot justifica a autenticidade de todos os retratos que aqui aparecem dos generais franceses que figuraram nas várias invasões feitas no nosso país. Como se sabe Massena foi o chefe da terceira invasão.

Pág. 573 - Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Data de 1710, o estabelecimento da ordem terceira do Carmo, na cidade de Faro, capital da província do Algarve e sede episcopal. Foi seu primeiro prior D. António Pereira da Silva, bispo do Algarve e prelado muito ilustre por seu saber e virtudes. A cerimónia do lançamento da primeira pedra realizou-se com grande solenidade, no dia 22 de fevereiro de 1713, e dali se levantou a igreja de Nossa Senhora do Carmo, que a nossa gravura representa. - A igreja é de dimensões regulares e tem junto um hospício. A estampa dispensa-nos de fazer a descrição do seu exterior. Interiormente consta de duas capelas por banda e da capela-mor. É um dos monumentos religiosos mais importantes da província do Algarve e um dos melhores edifícios de Faro.

Pág. 575 - Marquês de Alorna
De uma gravura amavelmente facultada pelo sr. Ribeiro Arthur, ilustre oficial do nosso exército, mandámos copiar o retrato que aqui vemos do notável fidalgo Marquês de Alorna, que tão superiormente soube ilustrar e honrar no estrangeiro, o brio, a valentia, e a nobreza do nome português.

Pág. 576 - José Feliciano de Castilho
Foi pai do grande António Feliciano de Castilho, e se aqui damos o seu retrato é porque sobre ser um médico muito distinto, foi um dos personagens daquela época que, por causa da invasão francesa, teve que fugir a perseguições várias, conforme o sr. visconde de Castilho minuciosamente conta no primeiro volume do seu notabilíssimo livro Memórias de Castilho. José Feliciano de Castilho Barreto, que este era o seu nome todo, era cavaleiro professo na Ordem de Cristo, lente de prima na Universidade de Coimbra, censor régio da Mesa do Desembargo do Paço, médico da Real Câmara, etc. Nasceu em Aguim, freguesia de S. Pedro de Tamengos, bispado de Aveiro, em 21 de abril de 1760, e faleceu na sua casa de Castanheira de Vouga, em 6 de março de 1827. Este retrato é feito sobre um recortado à tesoura existente em poder de seu neto, o ilustre sr. visconde de Castilho.

Pág. 577 - Primeira audiência dada por D. João VI, na corte do Rio de Janeiro
É inspirada esta composição numa antiga gravura portuguesa, duma colecção de três, referentes a três episódios da vida de D. João VI, gravuras bem pouco vulgares, actualmente.

Pág. 580 - General Marmont
Foi um dos generais que vieram na terceira invasão francesa. Nomeado governador geral das Províncias Ilíricas administrou-as com prudência e firmeza até 1811, em que foi escolhido para substituir Massena no comando do exército, que, depois de haver passado em frente das linhas de Torres Vedras, foi obrigado a transpor as nossas fronteiras. Nesta nova posição acha-se frente em frente com lord Wellington até à batalha de Salamanca em que foi gravemente ferido no braço direito. O retrato que aqui damos é copiado, como outros de generais franceses por nós publicados, de uma galeria de retratos de homens ilustres da França no tempo de Napoleão, estampada em 1814.

Pág. 581 - O Chiado, em princípios do século XIX
Para que o público compreenda bem a estampa que tem presente, e que, como se vê, bem pouco se parece com o estado actual do Chiado, vamos re­produzir para aqui as palavras que acompanham a mesma estampa na interessante publicação donde a mandámos copiar - Universo Pitoresco - estampa que vem com esta epígrafe Rua das Portas de Santa Catarina; este título mesmo serve para clareza do texto, que passamos a reproduzir: «Na cerca de muralhas com que el-rei D. Fernando fechou Lisboa, e que se concluiu, correndo o ano de 1370, abriram-se vinte e três portas, uma das quais se chamava Porta de Santa Catarina, e tinha por cima, metidas em nichos, as imagens de Nossa Senhora do Loreto, e Santa Catarina, grosseiramente esculpidas em pedra. Existia esta porta junto da igreja do Loreto, ficando este templo de fora dos muros e atravessava o largo da rua até entestar com as cavalariças d'el-rei que se destruíram pelo terramoto do primeiro de novembro de 1755. Destas portas tomou, pois, o nome a rua, que dava ingresso para a cidade, a quem vinha por este lado. Correndo o ano de 1702, foi demolida a porta, e as duas estátuas de Nossa Senhora do Loreto e de Santa Catarina, foram depois colocadas na frontaria da igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, cujo templo se andava então edificando. (A igreja de Nossa Senhora da Encarnação foi principiada em julho de 1698, e concluída em 1708; destruída em parte pelo terramoto de 1755 e em parte pelo fogo que lhe sobreveio, foi depois reconstruída na forma em que actualmente se acha, conservando no frontispício as duas estátuas de que acima fazemos menção). Sobrevindo a terrível catástrofe de 1755, padeceu tal ruína toda a casaria da rua das Portas de Santa Catarina, que nem um só prédio ficou em pé. Na reedificação da cidade alargou-se mais esta rua, sem mudar de nome e pouco a pouco se foi guarnecendo de tão nobres casas, que hoje é uma das mais espaçosas e mais belas de Lisboa. Começa a rua das Portas de Santa Catarina junto do chafariz do Loreto. Principia logo a descer com grande declive, e chegando ao princípio da rua de S. Fran­cisco, perde o seu nome e toma daí para baixo o de Chiado até finalizar no palácio do sr. barão de Barcelinhos, outrora convento do Espírito Santo, dos congregados de S. Filipe Nery, donde descem para um e outro lado a rua Nova do Carmo e a rua Nova do Almada, que comunicam com a cidade baixa. Nas ruas, pois, das portas de Santa Catarina, e do Chiado, que, sendo duas no nome, têm a aparência de uma só, desembocam da parte do norte a travessa de Estevão Galhardo, e a calçada do Sacramento, e da parte do sul a rua nova dos Mártires, a da Figueira, a de S. Francisco. Quase no princípio da rua das Portas de Santa Catarina, do lado do sul, avulta um belo chafariz, todo de cantaria, coroado pela estátua em mármore de Neptuno, feita em Carrara pelo risco do nosso exímio escultor, Joaquim Machado de Castro, autor da estátua equestre do rei D. José I. Passado o quarteirão imediato ergue-se a igreja de Nossa Senhora dos Mártires, que en­tre as freguesias de Lisboa goza do privilégio de mais antiga. Na sua primeira fundação, obra de el-rei D. Afonso Henriques, e dos estrangeiros, que o ajudaram na conquista de Lisboa, em o ano de 1147, era uma pequena ermida, edificada no cemitério, onde se enterravam os que morriam naquela empresa, e porque eram tidos por mártires os que da­vam a vida, pelejando contra os inimigos da fé cristã, ficou-se apelidando Nossa Senhora dos Mártires. Tem tido quatro reedificações não falando no aumento, que lhe fez D. Afonso Henriques depois da tomada de Lisboa; a primeira em 1598, a segunda em 1710, a terceira em 1750, e a quarta depois do terramoto de 1755. Tem uma boa fachada de pedra de cantaria, com duas ordens de arquitetura, dórica e jónica; e no interior finos mármores e belas pinturas. A frontaria deste templo está mais recolhida do que a dos prédios com que vizinha, por causa do seu adro, que é alto, com balaustrada e escadaria de pedra, não pejar a rua; por cujo motivo quem vem do Loreto, não pode ver esta igreja senão ao pé. Entre as casas que guarnecem a rua das portas de Santa Catarina, é digna de menção a que foi do comendador Francisco António Ferreira, e hoje dos seus herdeiros, tanto pela sua nobre frontaria, como pela riqueza de algumas das suas salas, cujos tectos ostentam o talento de mui distintos pintores portugueses, à frente dos quais figura o nome de Domingos António de Sequeira, comendador da ordem de Cristo, falecido há poucos anos na cidade de Roma, onde também logrou reputação de grande pintor. Nesta rua, a que fazem orla passeios de lajedo modernamente construídos, há muito boas lojas de objectos de modas, e porcelanas, grandes armazéns de livros, etc. A estampa junta mostra, no fundo da rua, o corpo central do magnífico palácio do sr. barão de Barcelinhos que é uma das mais sumptuosas residências da capital; e na parte superior a bateria do castelo de S. Jorge».

Pág. 584 - General Foy
Maximiliano Sebastião Foy, militar francês, que veio a Portugal com duas das invasões francesas, foi um dos mais célebres oradores parlamentares da oposição no governo da restauração dos Bourbons; nasceu em Ham, na Picardia, em 1775. Era simples coronel por preterições imerecidas de que fora vítima e quando em 1808 figurou nas legiões francesas que, sob as ordens de Junot, militaram no nosso país, e só depois da batalha do Vimieiro, é que foi nomeado general de brigada. Ferido na batalha do Bussaco em 1810, Foy foi depois escolhido por Massena para ir dar parte ao imperador da situação difícil em que se encontrava o exército francês, perante os redutos erriçados de artilheria, que guarneciam as linhas de Torres Vedras defendidos pelo exército anglo-português. Posteriormente promovido ao posto de general de divisão, Foy ainda continuou a tomar parte na campanha peninsular, distinguindo-se na batalha de Salamanca, e ficando gravemente ferido na de Orthez em 1814. Mais tarde, de 1819 a 1820 fez uma brilhantíssima figura como orador parlamentar, sendo a sua morte, sucedida naquele último ano, para a França um verdadeiro luto nacional: cem mil cidadãos lhe acompanharam o féretro à última jazida, e uma subscrição pública promovida a favor da viúva e dos filhos produziu em curto espaço de poucas semanas um milhão de francos. No cemitério do Père Lachaise ergueram-lhe, também por subscrição pública, um mausoléu inaugurado em 1831; neste monumento figura a estátua do general; no pedestal há cinco baixos-relevos representando O génio da eloquência, O génio da guerra, O general Foy na Península, O general Foy na tribuna, e O saimento fúne­bre de Foy. A parte escultural deste monumento deve-se a David d'Angers, e a parte arquitetural a Leão Vaudoyer. A França honrou também este seu ilustre filho cunhando uma medalha comemorativa depois da sua morte. Finalmente em 1872 o conselho municipal de Ham resolveu erigir-lhe uma estátua. Além disto, a escultura e a pintura têm por várias vezes reproduzido nas suas composições artísticas a figura simpática de Maximiliano Foy, merecendo especializar-se o retrato pintado por Horácio Vernat. Póstuma se publicou em 2 volumes (1826) a colecção dos Discursos, pronunciados por ele no parlamento, e é o retrato com que abre o primeiro volume dessa colecção que serviu de modelo ao que apresentamos na nossa galeria. Em 1827 saiu à luz em 4 volumes a obra que o general Foy escre­veu sob o título de História da guerra peninsular, li­vro que nos interessa directamente, porque, segundo o título está indicando, trata da campanha francesa em Portugal e Espanha, campanha contra que to­mámos parte tão gloriosa. Alargámo-nos um pouco mais na notícia que consagrámos a este general invasor, porque, apesar de tudo, foi sempre um caracter leal, e, não obstante alguns erros desculpáveis num estrangeiro, a sua História da guerra peninsular, é livro feito com uma relativa independência, e em que, de onde em onde, é feita plena justiça ao nosso caracter de português.

Pág. 585 - General Ney
É mais um dos retratos da célebre galeria a que nos referimos quando tratámos de Junot. Como desenvolvidamente se lê na nossa História, este foi também um dos generais que fizeram parte dum dos exércitos invasores de Portugal.

Pág. 588 - General Kelermann
Também este figura entre o grande número dos que penetraram em Portugal com o exército invasor francês, por isso aqui aparece o seu retrato, copiado, como os antecedentes, da célebre colecção impressa em 1814, a que nos referimos quando tratámos de Junot.

Pág. 589 - Igreja de Vila Meã
O leitor não tem lido em romances descrições de pobres ermitérios ou pequenas igrejas de aldeia emolduradas pela rama das arvores, simples e pobres como Cristo lembrando a humildade, o desprendimento pelas coisas do mundo, para só se elevar o espírito ao céu na prece fervorosa de uma crença sincera. Se tem lido ou ouvido falar destes pequenos templos, tão singelos como a prece do inocente, aí tem na nossa gravura um exemplar bem puro na pequena igreja de Vila Meã, que hoje reproduzimos nestas páginas. A sua História é tão singela como a sua fábrica. É uma casa de oração, em que tem elevado as suas preces a Deus gerações inteiras, e, para muitos, aquele pequeno e pobre templo é o edifício mais grandioso que a sua imaginação pode idealizar, porque nunca conheceram outro, e em relação à pobre choupana que habitam, aquela construção é sumptuosa. O que lhe falta, porém, nos adornos da arte, sobra-lhe nas belezas naturais. Se a arte foi mesquinha com o pobre ermitério, a natureza foi pródiga em o adornar. Atapetou-lhe o caminho de flores, bordou-lhe as paredes de heras, cercou-o de gigantescas arvores e de toda a maneira se afirma a grandeza do Criador, ora o adoremos na Basílica mais pomposa, ora na ermida mais modesta. É um quadro cheio de poesia este pitoresco ermitério, e como tal o distinto amador fotográfico sr. Carlos Relvas o fotografou para o seu álbum precioso dos monumentos e lugares pitorescos de Portugal (Occidente, 1893, pág. 227).

Pág. 592 - General Delaborde
Ainda outro que veio com a invasão francesa, como se vê na nossa História, e cujo retrato é copiado da celebrada colecção a que por vezes nos temos referido, para a justificação de outros retratos de generais franceses que figuram na nossa galeria.

Pág. 593 - Regresso de D. João VI do Brasil
Bem como a estampa de pág. 577, também esta composição, representativa duma das cenas da odisseia de D. João VI no Brasil, foi inspirada numa antiga gravura portuguesa.

Pág. 595 - General Loison
O Maneta! É a primeira vez, que nos conste, que em publicação portuguesa figura o retrato deste amaldiçoado general que tão odiada memória deixou de si durante a invasão francesa. De todos os generais franceses que durante as campanhas da invasão aqui estiveram, nenhum foi mais cruel, nenhum ateou ódios como este infame canalha, que mandava matar mulheres e crianças com uma impassibilidade e uma frieza de arrepiar. O retrato que dele damos é copiado de um de 1814, que aparece na galeria por nós tantas vezes citada nestas últimas páginas.
 
Vol. 7