Volume 6

Vol. 6
 
 História de Portugal, popular e ilustrada - Volume 6:
Do Desmoronamento do Império Colonial (1658)  até ao Rompimento com a corte de Roma (1760)
 

Pág. 5 - Marquês de Fronteira
É copiado este retrato dum famoso quadro existente em Florença no célebre museu degli Ufizzi, e do qual o sr. Portugal de Faria nos deu uma reprodução numa interessante colecção de bilhetes postais, em que trasladou os retratos de doze ilustres personagens portugueses, existentes naquela galeria.
Pág. 8 - Ruínas da igreja de Santo Antão
No lugar ainda chamado do Colégio, à Mouraria, fundaram os jesuítas em princípio do século XVI o convento de Santo Antão, o Velho, que lá está, e que é bem conhecido pelo nome de Coleginho. Foi este o primeiro convento que os jesuítas tiveram em Lis­boa. Resolvendo eles fundar um Colégio mais vasto e sumptuoso, próprio para ser a cabeça da sua or­dem em Portugal, venderam este aos Gracianos, que nele se estabeleceram pelos anos de 1600. Nestas circunstâncias, pois, depois de haverem alcançado da condessa de Linhares, D. Filipa de Sá, o chão e algumas casas para esta fundação, no sítio onde ainda está o antigo convento hoje hospital de S. José e igreja anexa, cujas ruínas a nossa gravura repre­senta, começaram a criação do novo Colégio. Apesar da boa vontade do rei D. Sebastião para esta fundação, houve tantos obstáculos e oposições que os padres estiveram alguns anos sem dar princípio à sua obra, a que deram princípio, logo que a infeliz jor­nada de Alcácer Quibir elevou ao trono o valetudi­nário cardeal D. Henrique, decidido protetor dos jesuítas. Lançaram-lhe a primeira pedra, sem aparato e quase às escondidas, com receio do povo, no dia 11 de maio de 1579. Apenas isto constou, acudiu ao sítio muita gente do bairro, que, às pedra­das, obrigaram os operários a fugir. Desde esse dia travou-se uma luta obstinada, que, agravando-se cada vez mais, transformou muitas vezes em cam­po de batalha o lugar das obras. Por fim, já não era só o povo das imediações, era toda a cidade de Lisboa contra os jesuítas. Para se evitarem tão gran­des e repetidas desordens, o senado de Lisboa foi, incorporado, pedir ao rei que mandasse parar com as obras, expondo-lhe as queixas do povo. - Os trabalhos pararam; mas falecendo, pouco depois, o cardeal-rei, invadido o reino pelos exércitos castelha­nos, e perdida a independência, os Portugueses estavam desanimados por completo. Tiveram então os jesuítas uma óptima ocasião para continuarem a sua obra, o que levaram a efeito com o maior ardor. Mas apesar de lhes não faltar energia nem dinheiro, era a obra tão vasta e magnifica, que só pôde estar concluída em 1652, deixando-se a primeira missão na sua igreja, que foi dedicada a Santo Inácio de Loyola, em 31 de julho deste último ano. - Os padres havia já uns poucos de anos, que se haviam para aqui mudado do Coleginho. Aí se hospedou Cosme III, grão-duque dos Toscanos, por ocasião da sua vinda a Lisboa, - 1670. - O terramoto de 1755 derrubou a capela do templo, que fez abalar a abóbada do cruzeiro e da capela-mor e uma das torres da frontaria. O edifício do Colégio ficou bastante arruinado; mas foi reconstruído, e logo depois da expulsão dos jesuítas, em 1759, foi destinado para receber os enfermos do hospital de todos os Santos, que o terramoto acabara de destruir. - Em 10 de agosto de 1750, um horroroso incêndio destruiu o hospital de Todos os Santos. Os enfermos foram levados para o convento do Desterro, onde estiveram até serem removidos para o hospital de S. José. - Em atenção ao nome do monarca se ficou denominando o ex-Colégio dos jesuítas hospital real de S. José, nome que ainda se conserva. - A igreja continua em ruínas; mas como o terramoto lhe poupara as paredes e capelas, ainda há poucos anos (diz Pinho Leal) era um dos mais belos monumentos de Lisboa, pela variedade, beleza e finura dos mármores, que, de alto a baixo, revestia as paredes interiores, pelo primor das esculturas e mosaicos, pela inteligente distribuição dos ornatos, e, finalmente, pela harmonia de todas as suas partes. - Era a mais vasta e rica igreja de Lisboa, mas nem todas estas circunstâncias puderam subtrair este notável monumento ao furor dos vândalos do século XIX; - derribaram-lhe a formosíssima torre, que resistiu ao terremoto, e toda a parte superior da fachada da igreja. Despojaram-no interiormente de magníficas colunas e de seus belos mosaicos e admiráveis esculturas, sobretudo na capela-mor. - Apesar de tantas desgraças que têm pesado sobre este templo, o que lhe resta ain­da nos dá um testemunho da sua passada riqueza e magnificência. - A sacristia, que escapou ao terremoto, é sumptuosíssima. É interiormente coberta, tanto nas abóbadas como no pavimento e paredes, de lindos mármores de várias cores, lavrados em excelentes relevos e polidos como espelhos. É a capela do hospital, e conserva toda a magnificência primitiva. Também ali se admiram uns arcazes, feitos de pau santo, de um lavor primoroso e com ferragens e adornos de grande merecimento. - Quando este edifício pertencia aos jesuítas, tinha três gran­des quintas, e, além disso, os seus rendimentos passavam de 18.000 cruzados.
Pág. 9 - D. António Félix Machado
D. António Félix Machado de Castro, Silva Vasconcelos y Orosco, conde de Amares, em Portugal, segundo Marquês de Montebelo, era do conselho de D. Pedro II, senhor de Entre-Homem e Cávado e da casa de Castro, Vasconcelos e Barroso, e dos sola­res de Eelas Emel, reino de Portugal, e governador de Pernambuco, província do Brasil à qual prestou grandes serviços durante a febre amarela que a as­solou. Foi alcaide-mor de Mourão. Tinha sido pajem de D. Mariana de Áustria, segunda mulher de Filipe IV de Espanha. O retrato que aqui damos é copiado da famosa galeria do sr. conde da Figueira.
Pág. 13 - Fragmentos da batalha do Ameixial
Por ter muito caracter, e não pela perfeição artística de trabalho, mandámos para aqui reproduzir este trecho dos curiosos azulejos que adornam a chamada sala das Batalhas do palácio do sr. Marquês de Fronteira em Benfica, sala hoje destinada a sala de jantar dos actuais Marqueses.
Pág. 16 - Conde de Alegrete
É também cópia do quadro existente na galeria degli Ufizzi, de Florença o retrato que aqui damos desta notável figura das guerras da Restauração. Fizemo-lo reproduzir da fotogravura mandada executar pelo sr. D. António Portugal de Faria na sua colecção de bilhetes postais, a que acima nos re­ferimos.
Pág. 17 - As Heroínas de Monção
Representa a nossa gravura um dos mais notá­veis episódios do famoso cerco de Monção, em que os nossos homens mais uma vez mostraram o seu denodo e coragem, no que eram valentemente auxilia­dos pelas mulheres.
Pág. 21 - D. Manuel de Mascarenhas
Copiou-se de um baixo-relevo existente na sala das Batalhas do Palácio Fronteira, em Benfica, o retrato deste valente guerreiro, denominado pelas suas façanhas «o da Espada-cortadora».
Pág. 24 - Castelo de Monforte
O primeiro castelo de Monforte, sobre cujas ruínas foi edificado o que a nossa gravura represen­ta, foi obra dos Romanos. Destruído pelas continua­das guerras que tiveram lugar durante os reinados dos cinco primeiros reis de Portugal, no ano de 1312, D. Diniz mandou construir com os materiais da antiga uma nova fortaleza, toda de cantaria, reputada, naquela época, inexpugnável. Coroava-a uma al­ta torre de menagem, e toda a povoação era cercada de muralhas de alvenaria com bastantes baluar­tes. Tudo isto foi depois desmantelado em virtude de convenções que se seguiram às últimas guerras com a Espanha. - Do castelo, que defronta com a Galiza, restam hoje umas solitárias e pitorescas ruínas, que a nossa gravura representa.
Pág. 25 - D. Madalena de Vilhena
Copiou-se de um excelente quadro existente no palácio do sr. Marquês de Fronteira, em Benfica, o retrato desta senhora, que, não sabemos, ao certo, mas se nos afigura ser a protagonista da famosa tragé­dia de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa. Deixa­mos aos estudiosos e curiosos de antigualhas o va­lioso trabalho de resolver tal problema.
Pág. 29 - Igreja de Fiães
Da freguesia de Fiães, no distrito de Viana do Castelo, foi o mosteiro (de cujas ruínas adiante damos a gravura) de que hoje, por assim dizer, só o templo atesta a magnificência, que a tornou notável. Acerca dele escreveu, com suma arte e poesia o José Augusto Vieira: «Foi na volta de Castro Laboreiro, quando o luar espargia a sua melancolia doce sobre a terra, que visitámos essa gi­gantesca ruína, testemunha coeva da antiga piedade cristã. - A arquitectura gótica pura revela-se clara nas formosas colunatas da entrada principal e nas arcarias elegantes, que sustentam o tecto da igreja vasta e ampla, àquela hora fantasticamente iluminada pelos raios do luar, de dia, naturalmente com a penumbra pálida dos velhos templos góticos. - as cornijas e cimalhas são ornadas de diferentes figu­ras mais ou menos fantasiosas. Junto do altar de S. Sebastião, está o elegante túmulo de Fernão Anes de Lima, pai do primeiro visconde da Cerveira. - O mosteiro, de frades bentos a princípio, é antiquís­simo; pois em 851, no tempo de Ramiro II e sua mulher Paterna, se encontra já notícia dele. Consta que era o mosteiro mais rico das Espanhas; tinha foros e rendas no Minho, Trás-os-Montes e Galiza. Na igreja havia Lausperene, na rigorosa acepção da palavra, isto é, exposição ininterrupta do Sacramento durante o dia e noite; 80 religiosos de missa, além dos conversos, ministros, etc., colmavam o ri­quíssimo mosteiro, onde alguns príncipes, infantes e muitos fidalgos galegos e portugueses tiveram se­pultura, e a que fizeram doação de rendas e propriedades. - O primitivo edifício, que mais de três sécu­los existiu em grande prosperidade, foi destruído por um pavoroso incêndio, sendo depois reconstruído por Afonso Paes e mais seus dois irmãos, que o doaram aos religiosos de Alcobaça. Como no incêndio ardessem todos os papeis do cartório, muitos foreiros so­negaram depois os seus títulos, sendo preciso que a energia de Álvaro de Abreu arcasse com os mais po­derosos para restituir essas rendas ao mosteiro. - Em 1151, a ordem passou a Bernardos, e, para se instruí­rem nos preceitos do novo instituto, mandaram bus­car um religioso a Alcobaça, fundando em honra da vila capital da ordem, o próximo lugar de Alcobaça, com a sua capela de S. Bento. O convento era cou­tado talvez do seu princípio, pois já o nosso primeiro rei lho confirmou, assim como seu filho Sancho I. - O D. Abade tinha jurisdição episcopal metropoli­tana, com recurso somente para o Pontífice. O provisor, nomeado pelo D. Abade, recebia directamente os breves apostólicos. O arcebispo de Braga não podia aqui fazer visitas, nem na Ourada de Melgaço; e tão pouco o bispo de Tuy as podia fazer em Azureira e Lapela, que, apesar de serem lugares do seu bispado, estavam sujeitas ao mosteiro, como ainda hoje o estão para os efeitos eclesiásticos, apesar de pertencerem à Galiza para os efeitos civis. - As quintas da Ourada e Cavaleiros foram doadas em 1166 ao convento, sendo Abade D. João, pela condessa D. Frovila. - Ainda no fim de século XVI tinha este convento a apresentação de vinte abadias, entre as quais Lamas de Mouro, Cristoval, Chaviães, Santa Maria da Porta da Vila e Vilela dos Arcos; tinha também a de Paderne, na Galiza, e muitos coutos, que os comendatários aforaram a vários fidalgos. A casa de Bragança pagava ao mosteiro um florim d'ouro pelas aldeias de Vilarinho, Fezes de Juzão e Mondim, e pelos padroados das igrejas des­tes lugares, próximo a Monte-Rei. - Na Galiza tinha o couto de Freyxomo, junto de Alhariz, que ao mosteiro doara Fernão Peres, aqui falecido, e pelo qual recebia anualmente 600 maravedis de prata. Possuía ainda aí os coutos de Coginha, Asperelo, Gancêros, Requeixo e Rio Frio, em Vigo, afora fazendas e gran­jas, dispersas em vários pontos. - O D. Abade ti­nha, de direito de condado, todas as cabeças da caça real morta no couto; e os moradores deste eram isentos do pagamento de fintas ou pedidos, ainda mesmo feitos pelo rei. Essa riqueza pródiga, que dera causa à afirmação popular de que nestes rei­nos ninguém, depois do rei, era mais rico do que o Abade de Fiães, foi a pouco e pouco reduzindo-a o tempo, esse verme destruidor das grandes obras do homem, e a indiferença, o abandono e o cepticismo do século completaram o aniquilamento do ve­tusto mosteiro, onde o incenso ardia noite e dia, os cânticos religiosos se misturavam continuamente ao som plangente do órgão, e o povo concorria nas tribulações cruciantes da sua fé e nos regozijos íntimos da sua piedade. - Não somos nós, homem novo, que lamentamos esses tempos de santa e cândida ignorância, em que o trabalho era o látego do vilão e a riqueza o património de poucos. Abre-se hoje livre­mente o horizonte a todos os esforços dignos, a todos os lutadores com fé na nova religião do traba­lho; mas o que não podemos deixar de censurar é que por isso mesmo, que tem tantos reflexos de ouro a bela aurora da liberdade moderna, se votem a um desprezo vandálico esses documentos vivos das civilizações derruídas, e que os governos façam, como a respeito do mosteiro de Fiães, a vender por todo o preço e mesmo a retalho, em hasta pública, da pe­dra, das paredes, das colunas, arcanas, telhados, portas, janelas, varandas, grades, etc!. Monstruoso simplesmente! - E assim é que a ruína, a devastação e o silêncio cobrem hoje com a sua nota de desolação triste o velho mosteiro de Fiães, à hora em que o visitámos, mais triste ainda, mergulhado, como estava, nas poéticas sombras do luar, que se entorna­va pela serra na sua melancolia casta.
Pág. 32 - Pelourinho de Campo Maior
Este pelourinho não deixa de ser notável pela sua elegante construção, o que aliás não é raro em mui­tos destes símbolos de jurisdição municipal. O pe­lourinho de Vila de Campo Maior, sobre o qual as­senta a estátua da justiça, é evidentemente um daqueles a que Viterbo chama picota, eu pelourinho com cadeias e argolas, aonde os criminosos eram expos­tos à vergonha. Este monumento, como muitos ou­tros, entre os quais o pelourinho de Lisboa, embora tenham acumuladas as funções de padrão da autonomia do concelho, com as de poste de ignominia, merecem, todavia, ser conservados e resguardados do preconceito dum modernismo inconsciente, que em muitas terras do reino se tem levantado contra elas. - Da história do pelourinho «da histórica e valorosa vila de Campo Maior», nada nos dizem os cronistas que temos à mão. Vê-se, entretanto, que é um dos mais elegantes e mais originais entre os que ainda existem disseminados pelas vilas e cidades do nosso país.
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Pág. 33 - D. Afonso VI em correrias pelas ruas de Lisboa
É uma das muitas cenas com que, nos seus tempos de príncipe, e ainda nos primeiros anos do seu reinado, este fraco monarca enxovalhava as ruas de Lisboa, nos seus devaneios noturnos. Encontram-se estas cenas narradas em pág. 554 do vol. 5º da nossa edição da História.
Pág. 37 - Ruínas do mosteiro de Fiães
Leia-se nas páginas anteriores a notícia que consagrámos a este mosteiro, quando da justificação da gravura representativa da igreja de Fiães.
Pág. 40 - D. Francisco Coutinho
O retrato deste vice-rei da Índia, bem como de todos quantos em seguida publicámos nestes e nos subsequentes volumes da nossa História, são tanto quanto possível autênticos, pois que são copiados duma completíssima colecção de fotografias de todos os retratos de governadores e vice-reis da Índia existentes na célebre galeria do palácio de Goa. Foi o vice-rei D. Francisco Coutinho, conde de Redondo, o vigésimo governador da Índia; sucedeu ao vice-rei D. Coutinho de Bragança no ano de 1561; governou até ao mês de fevereiro de 1564 e faleceu em Goa.
Pág. 41 - Capela dos túmulos do convento de S. Francisco
Dum excelente artigo publicado no Occidente pelo erudito antiquário sr. A. C. Teixeira de Aragão, tomámos a liberdade de extrair os seguintes interessantes apontamentos acerca desta capela e do convento em que ela se encontra. O extinto convento de S. Francisco de Observantes da província dos Algarves, actualmente quartel do regimento de infanteria 17, fundou-se em 1268. segundo diz a crónica seráfica, e já vem mencionado, com a deixa de 50 libras no testamento de D. Afonso III, feito no ano de Cristo de 1271. É de crer que a primitiva edificação fosse acanhada, como de ordinário as co­meçava aquela ordem monástica; mas na grandeza da reconstrução bem demonstrou o seu incremen­to. O corpo da igreja, que está profanada desde 1852, ficou concluído em 1703, e a capela-mor em 1726. - A capela dos túmulos está no ângulo formado pelo convento e pela parede da parte da epístola da capela-mor da igreja, ficando as outras duas faces livres para a cerca. A construção, evidentemente muito anterior aos edifícios a que está junta, é quase toda de cantaria, e as pedras, na maioria quadrilongas e pouco apuradas no trabalho, estão marcadas como as da torre de menagem. Interiormente mede 13,5 me­tros de comprido, por 5,28 de largo; tem um terço com paredes de alvenaria, onde ficava o altar, e foi desse ponto que se tirou o desenho da capela. Dos lados prolongam-se a toda a altura quatro pilastras sustentando os arcos que se cruzam na abóbada, e nos remates assentam dois escudos, um dos Sousas de Arronches e outro dos Freires de Andrade e Pereiras. A janela, que forma o fundo do pequeno tem­plo tem 4,5 metros de alto e quase um de largo; é bipartida, de cima a baixo, por uma coluna delgada que termina superiormente em arrendados e os lados estão fechados por grades de ferro. Todos os ornatos dos capitéis são diversos, e nos intervalos das pilas­tras ficam de cada banda três portas em ogiva, sendo as do centro mais altas e largas. A da esquerda com quatro degraus feitos de tijolos com a capela-mor. Já igreja dos franciscanos, e na que se lhe segue para a parte da janela, executaram no século passado um elegante portal de pedra mármore, tendo no frontão um escudo... Nos arcos da parede fronteira es­tavam três arcos sepulcrais de mármore, assentes sobre leões... Os túmulos foram abertos e despoja­dos das cinzas que ali repousavam, pelos anos de 1844 a 1846, para servirem de pias, colocando-se dois junto à nora da cerca e outro ao lado do bocal da cisterna! Parece-nos que ainda lá se conservam. Qual foi a época da fundação da capela? - A atribuição da capela a el-rei D. Diniz, não se pode aceitar em presença dos escudos que estão na abóbada;… concluímos supondo datar aquela capela do século XIV, e pelos brasões a devemos atribuir à família Freire de Andrade ligada com Sousas de Arronches e Bejas, cujos descendentes continuaram na posse da capela, servindo-lhes de jazigo, como o provam os túmulos de mármore, que não vão além do século passado... servindo-lhes de jazigo, como o provam os túmulos de mármore, que não vão além do século passado...
Pág. 45 - João de Mendonça, governador da Índia
Veja-se o que dizemos nesta mesma pág., ao tratarmos do retrato de D. Francisco Coutinho, a quem sucedeu em via de sucessão, em 1_64. Faleceu em Goa seis meses depois. Foi o 21° governador da Índia.
Pág. 48 - Sepultura de Frei Luiz de Sotto-Mayor, no convento de S. Tomás
Este singelo monumento encerra as cinzas do grande teólogo Frei Luiz de Sotto-Mayor, de que Frei Luiz de Sousa, na Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, livro 2°, e na História de S. Domingos, faz o mais caloroso elogio denominando-o o mais célebre doutor de todos os do seu tempo nas Sagradas Escrituras, que ensinou na Universidade de Coimbra. - O epitáfio que se lê no desenho foi mandado esculpir pela Universidade, agradecida à doutrina do mestre, continuada por espaço de quase cinquenta anos. - Esta sepultura está em risco de desaparecer, em virtude da adaptação do convento de S. Tomaz a um sumptuoso palácio, de que é proprietário o sr. conde do Ameal.
Pág. 49 - D. Afonso VI, ordenando a seu irmão o infante D. Pedro que lhe entregue a espada
Descreve-se em pág. 60 deste 6° volume da nossa edição da História a cena representada pela excelente gravura que o leitor tem em sua presença.
Pág. 53 - D. António de Noronha
E não D. Luiz d'Athayde como erradamente se lê na epígrafe que acompanha o retrato. Aplique-se a este retrato o que dissemos na página ante­rior, quando tratámos do retrato de D. Fran­cisco Coutinho. O vice-rei D. António de Noronha, 24o governador da Índia, sucedeu ao vice-rei D. Luiz de Athayde em 1570 e governou até 1573.
Pág. 56 - Janela da casa de Deu-la-Deu
A casa onde, secundo a tradição, morou a len­dária Deu-la-Deu Martim é uma ruína. Entretanto nessa ruína há ainda o elegante balcão que a nossa gravura representa.
Pág. 57 - Monumento a Deu-la-Deu Martim
Este monumento constitui uma linda fonte monumental, que se levanta a um dos lados da vasta praça de Monção, que tem actualmente o nome da decantada heroína Deu-la-Deu.
Pág. 61 - D. Antão de Noronha, governador da Índia
Veja-se o que em pág. 609 dizemos a respeito de D. Francisco Coutinho, e aplique-se o que a seu res­peito escrevemos quanto à autenticidade do retrato. Sucedeu o vice-rei D. Antão de Noronha, que foi o 22º governador da Índia, ao governador João de Mendonça em setembro de 1564 e governou até 1568.
Pág. 64 - Cruzeiro nos arrabaldes de Monção
É uma das curiosidades da formosa região do pitoresco Minho, e que, como tal, pela sua elegância, originalidade e singeleza, achámos de nosso dever deixar reproduzida nas páginas da História.
Pág. 65 - Feito heroico de Pantaleão Gomes
Leia-se a pág. 10 deste 6° vol. a descrição da cena de heroicidade que a nossa gravura repre­senta
Pág. 69 - António Moniz Barreto, Governador da Índia
Tem a autenticidade dos outros retratos de vice-reis e governadores da Índia publicados neste volume, o que aqui damos de António Moniz Barreto. Veja-se, para explicações, o que ficou dito em pág. 609, quando tratámos do retrato de D. Francisco Coutinho. António Moniz Barreto, 2° governador da Índia, sucedeu em vias ao vice-rei D. António de Noronha, no ano de 1573 e governou até 1576.
Pág. 72 - Peniche - Igreja de Nossa Senhora da Ajuda
É a mais antiga igreja de Peniche de Cima; não é muito grande, mas é um templo claro, alegre e bonito. Parece que a primitiva paroquial era a igreja de S. Vicente, ao pé do baluarte deste nome e da actual igreja da Ajuda, e da qual ainda existem ruínas, de paredes muito grossas, e com mais de dois metros de altura em partes. Foi a primeira igreja cristã da Península, e consta que foi mesquita mou­risca (depois de ser templo gótico) e que D. Afonso Henriques a mandou purificar em 1150. Estando muito arruinada mudou-se o Santíssimo para Ajuda (que até então era uma capela) pelos anos de 1550. Num corredor desta igreja estavam ainda há poucos anos metidos num saco os restos mortais do grande Luiz de Athayde.
Pág. 73 - Ruínas do corpo e naves laterais da igreja Matriz da Lourinhã
Representa esta gravura as ruínas da velha igreja matriz da Lourinhã, cuja fundação o povo, como meio mais fácil de explicar o que não sabe, atribui aos Mouros; entretanto crê-se que a sua fundação deve remontar aí ao século XV; há mesmo quem diga que foi mandada edificar por D. João I, baseando-se em ter sido a igreja sagrada pelo arcebispo de Braga D. Lourenço, natural da Lourinhã e conselhei­ro daquele monarca. Estava edificada esta igreja no recinto do antigo castelo da Lourinhã, do qual apenas restam leves vestígios. O templo era vasto, no estilo gótico e são magníficas as suas colunas de mármore encimadas por formosos capitéis sobressaindo a capela-mor, onde existem ainda vestígios de excelentes esculturas e belos pórticos.
Pág. 77 - D. Diogo de Menezes, governador da Índia
Tem a mesma proveniência do retrato de D. Francisco Coutinho (leia-se em pág. 609) e dos outros re­tratos de governadores da Índia, estampados neste volume e nos subsequentes da nossa História, o que aqui damos do 26º governador da Índia, D. Diogo de Menezes, que sucedeu ao governador António Mo­niz Barreto em 1576 e governou até 1578.
Pág. 80 - Pelourinho de Vila Viçosa
Representa este pelourinho, que é elegantíssimo como o leitor vê, uma esbelta coluna assente num pedestal quadrangular, e superiormente rematada por um caprichoso ornato de forma esferoide, sabiamente rendilhado. Sem apresentar em sua estrutura especialidade característica, de que deva fazer-se particular menção, constitui, entretanto, na série dos nossos pelourinhos um bonito exemplar da arte gótica.
Pág. 81 - Luiz de Mendonça, mandando arcabuzar a gente de Manuel Lobo e de Bartolomeu de Vasconcelos
É uma das cenas de lutas e de emulação entre fidalgos portugueses, o que bem prova a anarquia dos espíritos naquela tristíssima época de D. Afonso VI e D. Pedro II. Leia se a pág. 8 deste 6° vol. da História a descrição destas lutas.
Pág. 85 - Fernão Teles de Menezes
Veja-se em pág. 609 deste volume o que escrevemos acerca de D. Francisco Coutinho, e apliquemos ao retrato de D. Fernão Teles de Menezes o que acerca do retrato daquele outro governador da Índia nós dissemos. Foi o 28º governador da Índia, sucedendo ao vice-rei D. Luiz de Athayde, conde de Atouguia, em 1581; governou apenas seis meses.
Pág. 88 - Pórtico da antiga gafaria de Setúbal
Na cidade de Setúbal, e próximo às suas antigas e derrocadas muralhas, na estrada de S. João, e do lado do poente, existe ainda, entre pequenas casas de construção moderna, um antigo pórtico de cantaria, que atrai a atenção de todos que o veem. Dá este pórtico entrada para uma propriedade rural, a que o vulgo chama «horta». É tradição que este pórtico fora de alguma albergaria ou gafaria, e a sua situação junto às muralhas, mas fora da povoação, reforça a tradição. A inscrição gravada na verga deste pórtico indica bem o destino do edifício. É em latim abreviado da idade média, o segundo versículo do cap. I do Eclesiastes: Vanitas, vanitatum, et omnia vanitas (vaidade das vaidades e tudo vaidade).
Pág. 89 - Convento de Palmela
Sancho II, conquistando a forte vila de Mértola fez dela praça de armas e fronteira de Andaluzia, ordenando que a defendessem os cavaleiros de Santiago, e que passassem para ela o seu convento. Aqui esteve a sede desta milícia religiosa, desde 1239 até que em 1423, el-rei D. João I, sendo mestre da ordem o infante D. João seu filho, mandou que o convento mestral e cabeça da ordem fosse no Castelo de Palmela. Este convento foi feito com muito vagar, porque só em 1482 se acabaram as obras, concorrendo muito para esta conclusão o D. João, filho d’el-rei D. Afonso V, que sucedeu a seu pai na coroa deste reino, e foi o décimo quarto mestre da ordem de Santiago. Neste convento resi­dia o prior-mor da ordem, que era dignidade prelatícia, tinha mitra, e era sempre provido este cargo em pessoas mui qualificadas. Durante quatro séculos residiram os freires de Santiago nesta casa, até que, extinta esta corporação como as demais ordens re­ligiosas em 1834, ficou o convento devoluto e o tem­plo secularizou-se.
Pág. 93 - D. Francisco Mascarenhas
A fonte a que nos socorremos para a apresenta­ção do retrato deste vice-rei da Índia é a mesma a que recorremos para os retratos de D. Francisco Coutinho e dos outros governadores e vice-reis da Índia reproduzidos neste e nos subsequentes volumes da nossa História. Veja-se o que dissemos quando tratámos do de D. Francisco Coutinho (pág. 609). O vice-rei D. Francisco Mascarenhas, conde de Santa Cruz, 29° governador da Índia, sucedeu ao gover­nador Fernando Teles de Menezes no ano de 1581 e governou até 1584.
Pág. 96 - Cruzeiro de S. Lázaro, em Braga
Está quase contíguo à igreja de S. Lázaro e foi feito em 1635. - Tem uma imagem de Cristo morto, e a coluna é dividida em gomos salientes, que se desenvolvem bastante na parte inferior como se pode ver da gravura. Na base lê-se esta inscrição: «Senhor das Necessidades reformado à custa dos de­votos no ano de 1884.»
Pág. 97 - Batalha de Montes Claros
Foi uma das nossas gloriosas batalhas durante a prolongada luta da Restauração, a que inspirou este magnífico quadro de M. de Macedo e R. Gameiro. Veja-se a sua descrição a págs. 26 e seguintes deste 6º volume da nossa História.
Pág. 101 - João de Sanches Baena
É copiado dum quadro da época, que vem reproduzido no volume 6° do Occidente o excelente retrato que aqui damos desse famoso herói da Restauração de 1640
Pág. 104 - Cadeira episcopal da igreja de Santo Estevão
A bela prosa do malogrado José Augusto Viei­ra mais uma vez substituirá as pobres palavras que poderíamos consagrar a esta cátedra onde se acharam oito bispos. A igreja do Santo Estevão... foi fun­dada em 1378, no reinado de D. Fernando I e reedifi­cada em 1792; tem três naves e é o templo mais vasto de Valença, sendo por isso destinado às grandes solenidades do culto. Para esta reedificação concedeu dez anos de real d'água D. Maria I. - Apesar de pequeno o primitivo templo, nele se estabeleceram dezanove ou vinte cónegos da Sé de Tuy, que, por ocasião do cisma de Avinhão recusaram a obediên­cia ao anti-papa. - Permitia-lhe D. João I que desfrutassem as rendas que a mitra de Tuy tinha em Portugal, o que fez com que o bispo de Tuy lhes sequestrasse logo as prebendas. - Continuaram as coisas neste estado, durante os reinados de D. João I e de D. Duarte, até que, na menoridade de D. Afonso V, obteve o infante D. Pedro, regente do reino, do pon­tífice Eugénio IV a desanexação definitiva e a instituição da colegiada. - Na guerra de 1640, o patrio­tismo dos cónegos resolveu-se pela cedência de metade dos rendimentos para as despesas da luta, pelo que D. João IV, em carta ao cabido, confessou estar muito agradecido ao zelo e amor com que eles se dispuseram a servir com o donativo para aju­da da guerra e defensão deste estado e lhes deu o título de insigne. - Quando D. Afonso V conquistou Ceuta, em 1415, criou ali o primeiro bispo; mas faltando-lhe as rendas suficientes, foram-lhe dadas as que o bispo de Tuy tinha na província do Minho, e assentou por isso a sua cátedra na colegiada de Santo Estevão, com o título de bispo de Ceuta, primaz de África. Daí veio a esta igreja o nome de Sé de Valença. A cátedra episcopal, onde se senta­ram outros bispos, conserva-se ainda no coro (dela é a gravura que aqui damos). - Quando algum des­ses bispos falecia, reputava-se a comarca em sé vaga, e o cabido apresentava vigário sede vacante».
Pág. 105 - Portal gótico dos antigos paços de S. Cristóvão
Inácio Vilhena Barbosa num belo estudo inti­tulado Embaixada de Frederico III d'Alemanha, a el-rei D. Afonso V de Portugal, etc., dá-nos no Archivo Pittoresco conta dos célebres Paços de S. Cristóvão, que foram completamente reedificados para casa particular de habitação, existindo ainda ape­nas, mas já sem ter na parte superior as armas que o encimavam, o portal que a nossa gravura represen­ta. Segundo o erudito antiquário, não há notícia de quem tenha sido o fundador destes paços. Só se sabe, pelo que diz Ruy de Pina, na Crónica de D. Afonso V, que no tempo deste soberano, pertenceram a D. Afonso, primeiro duque de Bragança, filho bas­tardo de D. João I. No começo do reinado de D. João, morava nestes paços e estava de posse deles D. Álvaro, sempre nomeado em nossas crónicas pelo tratamento do Senhor D. Álvaro. Era filho segundo de D. Fernando, primeiro de no­me, e segundo duque de Bragança, irmão do tercei­ro duque, o infeliz D. Fernando II, que morreu degolado na praça de Évora. - Os paços de S. Cristóvão vieram a passar para a casa dos condes de Aveiras e Marqueses de Vagos. No século passado, reinando D. João V, foram reedificados aqueles pa­ços por um dos condes de Aveiras, e então lhes con­struiu inteiramente de novo a frente principal. O terramoto de 1° de novembro de 1755 arruinou quase todo este edifício (ainda há bem poucos anos reedificado). Da sua antiga fábrica, o que se conser­va em bom estado é a porta, cuja gravura damos reproduzida de outra de 1861, e que ainda se con­serva como a gravura a representa. A porta aprovei­tou-se como dissemos, e deita para a rua do Rege­dor, nome que lhe ficou desde o tempo em que D. Álvaro de Bragança, regedor das justiças, morou neste palácio.
Pág. 109 - Conde de Schomberg
É copiado do magnífico retrato a traço que vem na História do Exército Português, do sr. Cristóvão Ayres, o que aqui damos deste famoso militar, que tanto contribuiu para a vitória das armas portuguesas na prolongada luta da Restauração.
Pág. 112 - Pelourinho de Cerveira
Ergue-se a meio do largo principal de vila No­va de Cerveira este monumento, padrão da autono­mia deste concelho, cujo foral, datado de 1321, foi dado por D. Diniz que fundou a vila entre 1300 e aquele ano. Em 1512 deu-lhe D. Manuel novo foral, concedendo aos moradores o repartirem entre si as herdades e riquezas que pertenciam à coroa, sob a condição de pagarem anualmente à câmara 31.800 réis, fazendo-lhe ainda outras concessões mui­to honrosas para o concelho.
Pág. 113 - Pedro Jaques Magalhães, queima a vila de Sobradilo
Ver original:
Descreve se na página 20 deste 6° volume da História a cena representada pela nossa gravura, e que é uma das muitas necessidades duras da guerra.
Pág. 117 - Manuel de Sousa Coutinho
É copiado do Álbum de Retratos de governadores da Índia, que citamos em pág. 609 da nossa História, quando tratámos do retrato de D. Francisco Coutinho, o que aqui damos do 31° governador da Ín­dia, Manuel de Sousa Coutinho, que sucedeu em via de sucessão ao vice-rei D. Duarte de Menezes em 5 de maio de 1588, e governou até 1591.
Pág. 120 - Igreja de S. Vicente da Chã
Esta igreja paroquial, reedificada modernamente, à excepção do frontispício e do último terço do corpo, conserva ainda vestígios da arquitectura que dominava nos primeiros séculos da monarquia. Contemporânea do mosteiro de Santa Maria de Júnias de Pitões, do mesmo concelho de Montalegre, e da igreja de S. Salvador de Viveiro de Covas, no de Bouças, mostra na fachada, apesar das suas acanhadas dimen­sões, nos arabescos que orlam o arco da entrada prin­cipal, na ogiva e outra janela circular que dão luz para o coro, uma antiguidade de 600 a 700 anos. Ao menos simila as fundações dessa época, em que predominou o mesmo estilo arquitectónico. São, porém, de arquitectura moderna a capela e altar-mor, bem como a sua tribuna, quatro altares colaterais, o coro, etc. Estas reconstruções do princípio do século passado, com outros melhoramentos que lhe fizeram em meados do mesmo século, tornaram esta igreja uma das mais asseadas do arciprestado de Mon­talegre. - S. Vicente da Chã foi mosteiro, como se lê no livro censual da Sé primacial de Braga, e noutros antigos documentos. É tradição que fora dos Templários confirmada pelo nosso cronista Duarte Nunes de Leão, o qual diz que, na doação feita por el-rei D. Diniz dos bens dos Templário à ordem de Cristo, por ele instituída, fora exceptuado o mosteiro de S. Vicente da Chã e outro. O que é certo é que, desde remotos tempos, foi anexado ao mosteiro das freiras de Santa Clara de Vila do Conde, e de­pois formou esta igreja, com as duas anexas de Negrões e Morgade e o lugar de Codeçoso, pertencente à paroquia de Meixedo, uma comenda que reunia para aqueles religiosos 1.400$000 réis. Como bom testemunho da antiguidade desta igreja, basta atentar em que tem a pia batismal fora do templo, se­gundo a liturgia antiga, em que o batistério era no adro.
Pág. 121 - Interior da igreja do convento de Jesus
Foi Justa Rodrigues, antiga amante do bispo da Guarda D. João Manuel quem, passadas as verduras da mocidade, e pensando em fundar uma casa reli­giosa onde acabasse seus dias, fundou em Setúbal, onde vivia, o convento de Jesus, sendo a primeira pe­dra lançada em 1489 ou 1490. Já se achavam muito adiantadas as obras, quando, em 1491, D. João II, achando o edifício acanhado, mandou desfazer o que se achava começado e dar maior amplidão e capacidade à igreja, conforme um modelo em madeira que fizera mestre Boytaca. A D. Manuel cabe a glória de o mandar concluir, tornando-o a bonita obra de arte que todos admiram. A igreja é de três naves, susten­tada a sua abóbada por colunas duplas, torcidas, e revestida dos artesões e boceis próprios daquele belo género de arquitectura, que imitava a laçaria das ramadas dos bosques, mas toda em geral pouco aprimorada. Os degraus que conduzem ao altar-mor são de belo mosaico. Para notícia desenvolvida deste convento leiam-se os belos artigos do sr. Pinto Rebelo, no Occidente.
Pág. 125 - Martim Afonso de Castro, vice-rei da Índia
Para nos não repetirmos remetemos o leitor para o que a pág. 609 deste volume, artigo Francisco Coutinho, dizemos acerca dos retratos que aqui damos dos vice-reis e governadores da Índia. Foi o 35º governador da Índia; sucedeu ao vice-rei Ayres de Saldanha em 1604 e governou dois anos e sete meses.
Pág. 128 - Pelourinho de Pinhel
Ergue-se a meio da praça de Pinhel o pelourinho que a nossa gravura representa, e que, pelo estilo e lavor, parece obra do tempo de D. Diniz, último res­taurador daquela cidade. Mede entre 8 e 9 metros de alto, e acha-se já muito deteriorado, em conse­quência da acção do tempo.
Pág. 129 - D. Afonso VI, aparecendo à janela acompanhado de sua esposa e do infante D. Pedro
Em pág. 61 deste volume 6º da História se encontram miudamente descritos os episódios que an­tecederam e se seguiram à cena representada pela nossa gravura.
Pág. 133 - Matias de Albuquerque, governador da Índia
Para justificação da autenticidade deste retrato leia-se o que dissemos a pág. 609 deste volume quando tratámos do de D. Francisco Cominho. Foi o 32º governador da Índia sucedendo ao governador Ma­nuel de Sousa Coutinho no ano de 1591, e governou até 1597.
Pág. 136 - Ruínas do Castelo de Miranda do Douro
Representa esta gravura o castelo visto do lado do sul. À direita eleva se a torre grande em que se acham incrustadas as armas de Portugal; interiormente falta-lhe metade levada pela explosão de 8 de maio de 1762, em que o país estava bloqueado pelas armas espanholas. Veem-se ainda muitas pedras que foram deslocadas pelo abalo que a terra devia padecer. O lanço da muralha que lhe fica à esquerda per­deu o equilíbrio, e entre ela e a torre há uma brecha por onde quase cabe um homem. No centro da gravura falta um pedaço do muro do castelo: é in­dubitavelmente a grande brecha do sul feita pela ex­plosão. Debaixo do monte de entulho que lhe fica contíguo, devem estar sepultados muitos dos infelizes que pereceram naquela catástrofe. A princi­pal porta de entrada era em baixo da torre grande, e ainda existe, bem como os vestígios da ponte levadiça; vê-se, porém, além daquela, ainda outra porta mais pequena para o lado do poente. - O castelo está situado em uma pequena eminência ao noroeste da cidade, e dele se goza uma bela vista do curso dos rios Douro e Fresmo, da cidade, e de grande por­ção de território português e espanhol.
Pág. 137 - Castro de Avelãs
As ruínas que a nossa gravura mostra são de um antigo mosteiro de beneditinos, fábrica sumptuosa, cujas memórias apenas existem num arco que está à entrada do lugar, e mostra ter sido o da portaria. Conserva-se ainda de pé uma torre, das duas que tinha a igreja, toda de cantaria, e altura de 62 metros. Em uma pedra de mármore, que serve de credência, está um letreiro que diz: Deu aeterno ordo zelatur ex voto. E no frontispício outro assim: D. Diogo Pinheiro, bispo do funchal, administrador deste convento, mandou jazer esta obra. Na igreja paroquial, que tem por orago S. Bento, há um sepulcro de cantaria em que está enterrado o conde Árias Anes, segundo denuncia o epitáfio, que, posto já muito apagado ainda se lê que o conde morrera na era de 1500. - Ausentando-se os frades deste seu convento, por motivos que se ignoram, D João III, mandando erigir a Sé de Mirandela, lhe agregou as rendas e bens que ele possuía, no que os monges convieram, com a condição de que todos os dias se fizesse na dita Sé comemoração do seu patriarca S. Bento.
Pág. 141 - D. João Coutinho, vice-rei da Índia
Veja se o que dissemos quando tratámos do re­trato de D. Francisco Coutinho pág. 609 deste volume da História. D. João Coutinho era conde de Redondo, sucedeu ao vice-rei D. Jerónimo de Azevedo em 18 de novembro de 1617 e governou até 10 de novembro de 1619, em que faleceu em Goa. Foi o 40º governador da Índia.
Pág. 144 - Pelourinho da Arrifana
O lugar de Arrifana, onde se ergue o interessante pelourinho que a nossa gravura representa, foi cabe­ça de concelho e julgado de Penafiel de Sousa, que D. João I deu a Diogo Gonçalves Peixoto pelos muitos serviços que lhe prestou; mas não obstante Arrifana ser desde o tempo de D. João I cabeça do jul­gado de Penafiel, o seu foral só por D. Manuel lhe foi dado em 1 de junho de 1519, mas parece que sem lhe dar a categoria de vila, a que somente se ele­vou por decreto de 7 de outubro de 1741, assinado por D. João V. Mais tarde, em tempo de D. José, em 1770, foi Arrifana de Sousa feita cidade e sede de bispado, mudando-se-lhe então o nome antigo pelo actual de Penafiel, antes disso genérico para todo o concelho. O primeiro e único bispo nomeado foi D. Fr. Inácio de S. Caetano, que nunca chegou a resi­dir em Penafiel, não obstante ter-lhe sido preparado o paço episcopal, na rua que ainda hoje tem a designação de rua do Paço. Falecendo D. José, e anulando sua filha D. Maria I muitos dos decretos do Marquês de Pombal (por capricho de quem, talvez em desavenças com o Dispo do Porto, fora criado o bispado de Penafiel), foi de novo esta diocese incorporada na do Porto, precedendo renúncia do bispo nomeado.
Pág. 145 - D. Maria Francisca de Saboia, no convento da Esperança
Veja-se em pág. 64 deste 6º volume a descrição desta cena de hipocrisia com que a pouco escrupulosa mulher de D. Afonso VI preparou o escandaloso processo de divórcio e o destronamento de seu marido..
Pág. 149 - Castelo de Celorico da Beira
Dos edifícios de Celorico da Beira pode dizer-se que são os restos deste Castelo a coisa mais notável dela, castelo cuja vetustez inspira respeito. Foi Ce­lorico da Beira praça de muita importância, e são dignos de nota alguns dos feitos de armas que nela se praticaram. Um deles foi o feito de Gonçalo Mendes que, em tempo de D. Sancho I, achando-se cer­cado por um exército de Castelhanos e Leoneses, com auxílio dos de Linhares, onde era alcaide seu irmão Rodrigues Mendes, uma noite de lua nova baniu da praça, atacando subitamente os inimigos, que foram derrotados, deixando no campo os presos e as bagagens. - Outro foi a muito conhecida resistência que Fernão Rodrigues Pacheco, alcaide por D. Sancho II, opôs às hostes do conde de Bolonha, depois Afon­so III. Pacheco, segundo uma lenda, achando-se cercado e apertado pela fome, e acertando de passar por ali uma águia com uma truta no bico, que deixou cair dentro do castelo, mandou-a imediatamente de presente ao conde, que, julgando-o abastecido, levantou o cerco. Não seguiu o exemplo destes brio­sos fidalgos Martim Afonso de Mello, que foi o primeiro que saiu até à cidade da Guarda, a receber D. João I de Castela, quando este veio a Portugal com pretensões a tomar posse dele. Nas guerras antigas era a praça de Celorico da Beira de grande importância, e por isso foi dada em reféns de terçaria por D. Diniz, nas pazes que fez com seu filho, depois D. Afonso IV; por este como penhor de paz com Afonso XII de Castela; e ainda por D. Fernando I na paz com D. Henrique II de Castela, em 1373.
Pág. 152 - D. Fernando de Mascarenhas, morto em Alcácer Quibir
Reproduz-se dum belo busto em relevo existen­te na chamada sala das Batalhas, no palácio ao Marquês de Fronteira, em Benfica, o retrato deste mili­tar, um dos muitos que ficaram estendidos no areal de Alcácer Quibir.
Pág. 153 - Interior da igreja de Santa Maria de Belém
Não nos demoramos aqui a falar do majestoso edifício, porque já em notas de anteriores volumes, tivemos ocasião de tratar dele com a largueza de que em tão limitado espaço podemos dispor. O que quisemos agora foi dar mais um aspecto do grandio­so templo, de cujo aspecto exterior já igualmente havíamos dado um espécimen.
Pág. 157 - D. Joana de Távora, condessa de Castelo Melhor
Foi reproduzido dum autêntico quadro existen­te na opulenta galena do sr. conde da Figueira, o re­trato que ora damos da formosa senhora que a nossa gravura representa.
Pág. 160 - Pelourinho dos Arcos
É um dos monumentos históricos da vila dos Arcos de Valdevez, no formoso Minho; é do século XVI e está hoje colocado em frente do rio, pró­ximo das poldras da Valeta.
Pág. 161 - Manifestações em Lisboa contra os ingleses
Representa esta cena um dos muitos tumultos que se deram em Lisboa, quando correram os boa­tos terroristas de que perigava em Londres a vida da infanta D. Catarina, irmã de Pedro II de Portugal, e mulher de Carlos II de Inglaterra. Veja-se em págs. 139 e seguintes deste volume a descrição desses acontecimentos.
Pág. 165 - Duarte de Menezes, vice-rei da Índia
Para a justificação da autenticidade do presente retrato veja se o que dissemos quando tratámos de D. Francisco Coutinho (págs. 609). Este vice-rei Duarte de Menezes, que foi o 30º governador da Índia, sucedeu ao vice-rei D. Francisco de Menezes, conde de Santa Cruz, no ano de 1584. Governou até ao ano de 1588, em que faleceu em Goa.
Pág. 168 - Palácio da Bemposta
Como não esteja tão vulgarizada, como seria para desejar, a notícia deste velho palácio, que o povo de Lisboa está a ver todos os dias sem lhe saber a história, e que hoje esta transformado em escola do Exército, vamos para aqui transcrever o belo artigo histórico e descritivo que acerca do Real edifício nos deixou Inácio de Vilhena Barbosa, artigo que, apesar de sair dos moldes restritos a que temos subordinado estas nossas notícias, por certo há-de agradar ao leitor curioso destas antiqualhas. Começa Vilhena Barbosa: «A rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança, filha d’el-rei D. João IV de Portu­gal, passados 7 anos depois de enviuvar de Carlos II, regressou à pátria atravessando França e Espanha. - Entrou em Lisboa no dia 20 de fevereiro de 1693, no meio de grandes festas e regozijos. El-rei D. Pe­dro II, seu irmão, foi esperá-la ao Lumiar; e dali a conduziu em luzido séquito até ao palácio de Alcân­tara, que se achava preparado para aposento da rai­nha. - D. Catarina esteve pouco tempo em Alcân­tara, por não gostar ou não se dar bem no sítio. Primeiramente foi morar no palácio dos condes de Aveiras, em Belém, que, mais tarde foi comprado por seu sobrinho, el-rei D. João V, e agora é o paço real de Belém. - Cansada de tantas mudanças, sem achar uma habitação com as comodidades e condições que desejava, resolveu edificar casa própria. - Esco­lheu-se para esta fundação o sítio chamado Campo da Bemposta, tanto pela salubridade dos ares e alegres vistas, que então se gozavam, por ser pouco povoado aquele lado da cidade, como pela extensão de terrenos planos excelentes para uma quinta de regalo. Comprados os terrenos necessários, começaram as obras e progrediram com tal actividade, que em breve tempo se achava o palácio em estado de ser habitado pela rainha, ainda que não concluído, o que só teve efeito anos depois. Os terrenos para a edificação do palácio e da quinta foram comprados a diversos pro­prietários. Os que possuíam a principal propriedade, composta de casas grandes e de outras pequenas, com uma horta, parte morgado, parte bens livres, chama­va-se Plácido Constantino de Moura e D. Francisca Pereira Teles, sua mulher. - Fazemos menção disto por julgar ser objecto de curiosidade a seguinte de­claração e condição da escritura da venda e sub-rogação da referida propriedade: «Foi dito pela dita D. Francisca Pereira Teles, que seu pai o contador-mor, Luiz Pereira de Barros, lhe dissera que na ocasião dos motins (provavelmente foram os tumultos de 1603, que o povo chamou o santo motim) recolhera nas ditas casas, em parte oculta, grande quantidade de dinheiro, cujo lugar constava das letras de um anel, que ele trazia no dedo; ordenara que na hora da morte se lhe tirasse; e porque o dito anel desaparecera, e o dito dinheiro se não achou, no caso de que em algum tempo apareça, e se descobrir lhe ficara pertencendo a eles vendedores in solidum, ou a seus herdeiros e sucessores, assim o outorgaram, cederam e assinaram». - Apesar de que a rainha de Inglaterra dispunha de grossos rendimentos, pois que o governo inglês lhe ficou dando a avultada pensão anual de trinta mil libras esterlinas, segundo as dis­posições do seu contracto nupcial, nem o palácio, nem a capela, nem a quinta, se distinguiram por sumptuosidade de arquitectura. Porém nas propor­ções e acomodações dos edifícios havia grandeza que desdizia do estado devido a uma rainha viúva. Neste palácio recebeu D. Catarina por vezes, no ano de 1704, a visita do arquiduque D. António Carlos, que, sendo pretendente ao trono castelhano por morte de Carlos III, veio a Lisboa, e aqui residiu al­guns meses com o nome de Carlos III, rei de Espanha. Este príncipe chegou a ser aclamado em Ma­drid, logo que esta capital foi tomada pelo Exército português comandado pelo Marquês das Minas, mas pouco se gozou do seu título de rei. Falecendo seu irmão, o imperador José II, cingiu a coroa imperial da Alemanha com o nome de Carlos VII... Falecendo a rainha D. Catarina a 31 de dezembro de 1701, legou todos os seus bens a el-rei D. Pedro, seu irmão. Assim veio para a coroa o palácio e quinta da Bemposta, que D. João V doou em 1707, ano da sua elevação ao trono, em favor do infante D. Fran­cisco, seu irmão. - Morou alternadamente o infante D. Francisco no palácio da Corte Real e no da Bempos­ta. Por sua morte, acontecida em 1742, estabeleceu-se no último dele, seu filho bastardo, D. João a quem chamara Senhor D. João da Bemposta. Este príncipe legitimado por el-rei D. João V, foi herdeiro de todos os bens de seu pai, menos da casa do Infantado, que passou para o infante D. Pedro, filho de D. João V, e ao diante esposo da rainha D. Maria I... O terramoto de 1755 arruinou muito o palácio da Bemposta, e a capela ficou quase totalmente destruída. Depois tudo foi ree­dificado a expensas da casa do infantado. El-rei D. João VI, no seu regresso do Brasil em 1821, foi habitar no palácio de Queluz; mas, passado pouco tempo, veio residir no da Bemposta, ao qual os sucessos de 24 de abril de 1824 deram triste celebridade na história contemporânea... Este monarca faleceu no paço da Bemposta, no dia 10 de março de 1826. As senhoras Infantas, acabado o nojo, mudaram-se para o palácio da Ajuda, e aquele ficou em completa so­lidão. Porém daí a sete anos viu-se animado de improviso com o bulício de uma corte militar. S. M. I. o duque de Bragança, regente do reino em nome de sua augusta filha, a srª D. Maria II, logo que che­gou a Lisboa, no dia 28 de julho de 1835, foi ocupar o paço da Bemposta, do qual passou para o das Necessidades em setembro desse mesmo ano. - Sen­do extinta por este tempo a casa do infantado, fo­ram novamente incorporados aos bens da coroa o palácio e quinta da Bemposta. Nos fins do reinado de D. Maria II foi cedido à escola do exército, que aí se estabeleceu, e se conserva, e a quinta foi anexada ao instituto agrícola, para os estudos práticos de agri­cultura. - O palácio da Bemposta, chamado vulgar­mente paço da rainha desde o tempo da sua funda­ção, não tem beleza nem magnificência. A simplicidade desengraçada do seu exterior reina absoluta­mente no interior... Não se pode dizer o mesmo da capela. Na reconstrução melhorou bastante, principalmente na frontaria, que, se não é sumptuosa, não lhe falta, contudo, certa elegância e riqueza... É dedicado este templo a Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem se vê pintada no retábulo da capela-mor. A imagem da Virgem é obra do pincel de José Throni, nascido em Turim, e ajustado em 1785 por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, nosso embaixador nessa corte, para vir a Lisboa retratar a família real. Porém, os retratos da rainha D. Maria I e dos prínci­pes que estão no mesmo quadro, da rainha Santa Isabel e de S. João Baptista, foram pintados por F. Hichey, pintor inglês, que, vindo a Lisboa, de passagem para a Índia em 1793, tais créditos alcançou aqui de retratista insigne que teve de se demorar um ano para concluir as obras de que o encarregaram... Possui a capela magníficas alfaias e vasos sagrados. Na sua instituição era servida por doze capelães, que, adiante foram aumentados em número, e eleva­dos à dignidade de cónegos, sendo presididos por um arcebispo in partibus infidelium. De vinte que foram estão reduzidos a um.»
Pág. 169 - Castelo de Lanhoso
O Castelo de Lanhoso não se limita a ser um monumento da localidade; é uma página viva das nossas tradições nacionais, e bem maltratada, por sinal, que está essa página. A nossa gravura, cópia de uma fotografia primorosa, retrata um dos aspectos desse venerando Castelo, cuja construção se atribui aos Romanos. Neste Castelo residiu por muito tempo a rainha D. Teresa, viúva do conde D. Hen­rique, e daqui são datados muitos dos forais que ela concedeu a diversas terras do reino. Foi a este mes­mo Castelo que D. Teresa se recolheu em 1121, quando perseguida por sua irmã D. Urraca, e foi por igual aí, sete anos depois, que a tradição refere tê-la encerrado D. Afonso Henriques, carregada de cadeias, depois do recontro de Guimarães, onde também lhe foi adversa a sorte das armas. Do primitivo Castelo pouco mais resta do que a parte que a nossa gravura representa. - A piedade, senão a barbaridade, do rico negociante do Porto, André da Silva Machado, natural de Vale de Mil, da freguesia de Lanhoso, transformou no ano de 1080, a velha fortaleza romana em santuário católico devotado à Senhora do Pilar, desmantelando para isso os redutos, bastiões e adarves, que tinham assistido à infância de Portugal.
Pág. 173 - D. Frei Luiz de Brito
Foi o 43° governador da Índia; pertencia à ordem de S. Agostinho e foi bispo de Meliapor, eleito para Cochim. Sucedeu, em segunda via de sucessão ao vice-rei D. Francisco da Gama, conde da Vidigueira, no ano de 1628; governou até julho de 1629 e faleceu em Goa. Quanto à autenticidade deste retrato veja-se o que dizemos a respeito de D. Fran­cisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 176 - Pelourinho do Soajo
Teve o Soajo foral dado por D. Manuel, e foi couto por muitos anos também, constando as suas justiças de um juiz ordinário, dois vereadores procuradores, dois escrivães, e uma companhia de ordenanças da qual o juiz ordinário era o capitão. A nossa gravura representa ainda a gravura desse tem­po, que existe em meio do terreno central da freguesia.
Pág. 177 - Chegada a Lisboa de D. Maria Sophia de Neuburgo
Veja-se em pág. 162 deste volume a descrição das pomposas festas com que em Portugal foi rece­bida a segunda mulher de D. Pedro II, festas, de que a nossa gravura representa uma das acenas, qual foi a da sua chegada ao Tejo.
Pág. 181 - Filipe IV de Espanha e III de Portugal
Rei de Portugal, apesar de tudo, não podíamos deixar de dar este retrato (copiado dum excelente quadro antigo), que por lapso não apareceu no volume V da História, onde era o seu lugar.
Pág. 184 - Torre das Águias
Com a devida vénia do seu autor, extratámos dos Serões (n° 7) algumas notícias acerca deste anti­go monumento da arquitectura portuguesa; diz o erudito sr. Gabriel Pereira: «A Torre das Águias, na antiga e agreste vila das Brotas, fica no Alentejo, concelho de Mora, a umas 8 léguas a norte de Évora. Entre humildes casas abarracadas ergue-se a imponente mole, de severo e guerreiro aspecto, coroa­da de ameias e guaritas formadas de altos coruchéus agudos, apoiados em fortes cachorros ou mata-cães. - Tem 20 metros de altura por 17 de largura na base. Os quatro pavimentos dividiam-se em 16 casas abobadadas. Em baixo, a parede apresenta dois metros de espessura. É tão solida a construção que, grande parte dos compartimentos está ainda bem conservada e será fácil a restauração completa, por­que todas as paredes guardam o aprumo primitivo. - A Torre das Águias pertenceu por largos tempos à casa dos condes de Atalaia, que possuía várias comendas no Alentejo. Parece uma construção do século XV; algumas janelas dos pavimentos su­periores são primitivas, outras foram abertas ou ras­gadas mais modernamente A singela casa abarracada não deixa ver a porta, que não oferece particulari­dade notável. É monumental, e poucos edifícios ha­verá no país que se lhe comparem, no seu género.»
Pág. 185 - Capela dos Castros
Junto ao extinto convento de S. Domingos de Benfica, mas em edifício separado, posto que se comuniquem interiormente, está a capela dos Castros, a qual fica situada no adro da igreja de S. Domingos, em parte desta. Foi fundada com a invocação de Corpus Christi na primeira metade do século XVI por D. Francisco de Castro, bispo inquisidor geral, neto do ilustre vice-rei da Índia, D. João de Castro, destinando-a para seu jazigo e de sua família. Não prima esta capela em belezas de arquitectura, porque é bastante singela; mas é grandiosa, tanto pela sua vastidão, que lhe dá proporções duma boa igreja, como também pelos materiais de que é construída, porque desde o pavimento, que é de mármore de cores, até à abóbada, que é de excelente cantaria, toda a sua fábrica é de pedra bem lavrada. - Tem a capela um só altar, por detrás do qual está o coro. Entre as seis colunas, que deco­ram os altares veem-se sobre peanhas seis custódias com relíquias de santos, três de cada lado. No pavi­lhão ou baldaquino, que forma cobertura ao sacrário, avultam duas imagens de Nossa Senhora e de S. Domingos que são de subido apreço como objecto arqueológico, e como troféu de uma grande vitória que enramou de louros as armas portuguesas. - Nos quatro túmulos de mármore, que descansam sobre elefantes da mesma pedra, metidos no vão de outros quatro arcos, jazem D. João de Castro, e sua mulher D. Leonor Coutinho, da parte do Evangelho, e D. Álvaro de Castro, seu filho, e D. Ana de Athayde, mulher deste, da parte da epístola. No presbitério estão as sepulturas do bispo D. Francisco de Castro, fundador da capela e de sua irmã, D. Violante de Castro, condessa de Odemira. Em um vasto carnei­ro que se abre por baixo desta Capela, com seis ar­cos, num dos quais se ergue um altar, estão em caixões, vários outros membros desta família.
Pág. 189 - D. Rodrigo da Cunha
O retrato deste ilustre prelado português foi copiado do que está pintado no tecto da sala no­bre da Câmara Municipal de Lisboa, para onde foi reproduzido de outro que existe no paço dos arcebispos em S. Vicente de Fora.
Pág. 392 - Pelourinho de Aguiar da Beira
Remonta esta curiosa antigualha à época de D. João I e é notável pela circunstância de ter a singela cúpula apenas sustentada por um colunelo ao centro e outro lateral com um anel a meio do seu comprimento. Parece, à primeira vista, que os outros sete suportes tenham sido talvez derruídos pela fú­ria das tempestades, ou pela não menos destruidora brutalidade dos homens; mas um exame conscien­cioso faz ver que não, e que o pelourinho nunca desde a sua construção teve mais.
Pág. 193 - Assinatura do tratado de Methuen
A pág. 172 deste volume encontrará o leitor a descrição da curiosa cena que a nossa gravura representa.
Pág. 197 - D. Fernão de Mascarenhas
É copiado dum busto existente na sala das Batalhas do palácio do sr. Marquês de Fronteira, em Benfica, o retrato que aqui damos deste governador de Ceuta e Tanger.
Pág. 200 - Castelo de Celorico da Beira
Pouco de curioso oferecem as ruínas deste castelo; encontram-se as linhas de fortificação mais ou menos desmoronadas, algumas rasas já com o solo, avalia-se das divisões interiores do Castelo, que de­via ser espaçoso, nota-se ainda a cisterna que o abas­tecia de água, como diz o sentido José Augusto Viei­ra, encanta-se a gente com a contemplação da sua bela torre de menagem, mas tudo isto parece reco­lher-se misteriosamente numa vaga sombra de hu­mildade, quando os olhos, desviando-se das velhas paredes em ruínas, deparam com a larga tela em que se desenham os vales e as colinas, as montanhas dis­tantes e os outeiros próximos, as massas espessas do arvoredo e as aldeias alegremente espalhadas por en­tre a profusão da folhagem.
Pág. 201 - Vista geral do palácio real de Sintra
Já nas notas com que num dos volumes anterio­res acompanhámos a gravura representando um dos aspectos parciais deste velho palácio régio, demos uma notícia relativamente desenvolvida desse interessante monumento de duas graciosas arquitecturas da península.
 
Pág. 205 - Nuno Álvares Botelho
Foi o 44º governador da Índia, indo na série com o seu companheiro D. Lourenço da Cunha, que sucedeu em 2a via de sucessão com o dito companheiro por falecimento do bispo de Cochim, sendo o primeiro falecido; governou só até ao ano de 1629. Quanto à autenticidade do retrato, veja-se o que dissemos quando tratámos do retrato de D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 208 - Cadeira abacial do convento de Santa Maria do Bouro
Existe na capela-mor do velho mosteiro do Bou­ro em Amares a formosa cadeira que a nossa gravu­ra representa, e que é no género, um dos mais curiosos espécimes que se conhecem. Para a descrição do velho mosteiro que data dos primeiros sécu­los da monarquia, veja se a págs. 438 e seguintes do 1° volume do Minho Pittoresco o que escreve José Augusto Vieira.
Pág. 209 - Defesa de Campo Maior
Leia-se em págs. 27 e seguintes deste volume a descrição desta valorosa defesa, em que, como é universalmente sabido, os nossos portugueses mais uma vez manifestaram a sua tenacidade e o seu valor aguerrido.
Pág. 213 - D. João de Mascarenhas
O retrato deste 1° Marquês de Fronteira é co­piado dum excelente baixo-relevo, existente na sala das Batalhas do palácio do ilustre descendente do personagem representado, o sr. Marquês de Frontei­ra, perto de Benfica.
Pág. 216 - Igreja do Beato António
No lugar em que vemos esta igreja, às abas de Lisboa, existia em tempos muito antigos uma ermida de S. Bento, o primeiro templo que houve em Lisboa e seus arredores dedicado a este santo. A tal respeito diz Inácio de Vilhena Barbosa: Edificou-a D. Estevão de Aguiar, sendo D. Abade de Alcobaça, com o intuito de fundar ali um Colégio ou hospício para a sua ordem. Como não se efetuasse esta fundação, determinou a rainha D. Isabel, mulher d'el-rei D. Afonso V, levar a avante não para os beneditinos, mas sim para uma congregação introdu­zida no país reinando D. João I, a qual pelas virtu­des dos congregados, e por se estabelecer em um sítio chamado vilar, junto ao rio Cávado, principiou a ser conhecida do povo pelo título de congregação dos Bons Homens de vilar. A diante tomou o lugar o nome de vilar dos Frades. Morreu aquela desditosa rainha em 1445, antes de poder cumprir este seu desejo. Os desgostos causados pela discór­dia que rebentou entre seu esposo e seu pai, e a dor que a oprimiu pela trágica morte do último, cortaram-lhe o fio da vida na florente idade de 23 anos. Porém no seu testamento deixou oito mil co­roas de ouro para aquela fundação, determinando que o novo convento fosse cabeça da ordem. D. Af­onso V apressou-se a dar execução às últimas von­tades de sua virtuosa esposa, obtendo do D. Abade de Alcobaça a ermida de S. Bento, e construindo em seu lugar um convento e igreja, que entregou aos Bons Homens de vilar. E, além disso, em memória da particular devoção que a rainha D. Isabel consagrava ao discípulo bem-amado de Jesus Cristo alcançou do papa Pio II, por breve de 1461, que aqueles religiosos se intitulassem cónegos seculares de S. João Evangelista. Em homenagem, porém, ao pa­droeiro da ermida, deu-se à nova igreja a invocação de S. Bento de Enxobregas (Xabregas). - A fábrica do convento e igreja, sendo apropriada a uma ordem que vivia pobre e humilde, ficou apertada e mesqui­nha; pelo que, ainda bem não era passado século e meio, já estava precisada de reconstrução comple­ta. Porém, por mais que a congregação reconheces­se esta necessidade, e anelasse por dar princípio à obra, não se atrevia, porque lhe faltavam absoluta­mente os meios. Foi nestas circunstâncias que o padre António da Conceição, simples cónego, sem cargo algum na ordem, meteu ombros à empresa, podendo apenas dispor de setecentos réis. Mas tão grande era a fama de suas virtudes, em tanta estima, e em tal conta de santidade era tida em toda a Lis­boa, que muita gente, tanto nobres como populares, correram a ajudá-lo, cada um conforme podia. Desta arte nunca lhe faltaram braços nem dinheiro, apesar de ter cortado por largo na traça do convento, e ainda mais na da igreja. - O padre António da Concei­ção foi beatificado no século dezoito, mas o povo não esperou pelas bulas de Roma para lhe conferir o epiteto de beato, e assim começou logo a chamar-se ao templo e ao sítio Beato António, nome que fi­cou popular e ainda dura. Passaram os tempos de costumes singelos e de frugalidade, os Bons Homens de Vilar, enobrecidos com o título de cónegos, e com outras regalias concedidas pelo sumo pontífice, foram adquirindo bens por legado de pessoas devotas e os padroados de muitas igrejas que apresen­tavam, de modo que veio a ser uma das ordens mais nobres e mais ricas do país. O seu prelado maior deno­minava-se dom reitor geral, e gozava de honras episcopais. S. Bento de Xabregas era a cabeça da or­dem. O rendimento anual deste convento excedia a trinta contos, ao tempo da extinção das ordens religiosas em 1834! - Achando-se o convento nessa época a servir de hospital militar, ateou-se nele um incêndio, que lhe derrubou a melhor e maior parte. Esteve em ruína por alguns anos. Depois foi destinado para depósito de monumentos históricos, o que não se efectuou, e afinal foi dividido em lotes, e vendido a diversos particulares, que o ree­dificaram, adaptando-o a casas de habitação, e arma­zéns de vinhos. Mais tarde um dos arrematantes, o falecido negociante João de Brito, estabeleceu na parte que comprou, a par dos seus grandes armazéns de retém de vinhos da Extremadura, uma grande fábrica a vapor, de farinha, pão e bolacha. Duas coisas havia neste convento dignas de menção: a livrarias, que contavam os seus dez mil volumes, pela grandeza e alegria da casa; e a escada conventual pela sua beleza e magnificência. Construída de mármore bran­co e cor-de-rosa, era guarnecida de balaustradas com estátuas. - A igreja do Beato António foi infeliz­mente profanada e despojada das alfaias e obras de arte que a decoravam. A paróquia de S. Bartolomeu, que, desde o terramoto de 1755 que lhe destruiu a sua igreja junto dos muros do Castelo de S. Jorge, se achava erecta na do Beato António, templo grande, de excelente construção e de nobre frontaria e bem decorada interiormente, e além de tudo isto monumento histórico, foi transferida para a igreja do extinto convento de Nossa Senhora da Conceição do Monte Olivete, pequena, pobre de arte e de memórias. Foi um verdadeiro vandalismo. - A gravura que publicanos mostra a fachada do templo. O grande arco com gradaria de ferro dava entrada para o vestíbulo. A capela-mor, fundada por D. Joana de Noronha, filha dos antigos condes de Linhares, é toda de mármore. Aos lados viam-se metidos de­baixo dos arcos os túmulos de alguns destes fidalgos, sustentados por elefantes de mármore cinzen­to, os quais presentemente estão dispersos.
Pág. 217- Tríptico do convento dos carmelitas, na Vidigueira
Este tríptico ou relicário foi trazido da Índia e doado ao convento de Nossa Senhora de Relíquias da vila da Vidigueira pelo padre André Coutinho que faleceu em 1597 e cujos restos nele repousam. O precioso artefacto tem de altura total 66 centímetros, sendo 12 para o pé, que é de prata, 56 para o corpo do relicário e 18 para o coroamento. É de ma­deira da Índia, por fora forrado de veludo verde com pregadura de prata, tendo ao meio de cada pe­ça uma medalha de pintura, encaixilhada em guarnições de prata, representando as quatro do corpo o nascimento de Cristo, o mistério da Encarnação, Cristo ressuscitado, e Cristo coroado de espinhos; no alto há outra representando a Senhora do Pópulo com o menino nos braços. Abertas as portas aparecem as figuras em lâmina de prata batida, assen­tes sobre rede de ouro, a qual reveste todo o inte­rior, tendo à direita S. Pedro, e à esquerda S. Paulo. Ao fundo há uma imagem de Jesus, de ouro, posta em uma cruz de calambuco cheiroso sobre um cal­vário de prata e ladeada de duas figuras, havendo ou­tras nas paredes dos lados. Pelo corpo da cruz, cal­vário e paredes do relicário e suas portas, estão, ou estavam, incluídas relíquias de muitos santos, em número superior a sessenta, muitas das quais ainda conservam os letreiros e foram autenticadas a 30 de julho de 1605 na presença de D. Alexandre, arce­bispo de Évora. Este tríptico é hoje pertença da Academia de Belas-Artes de Lisboa.
Pág. 221 -D. Lourenço da Cunha
Quadragésimo quarto governador da Índia. Era capitão da cidade e sucedeu com o seu companheiro Nuno Álvares Botelho, em segunda via de sucessão ao governador D. Fr. Luiz de Brito, o qual, falecido, ficou governando o segundo. Quanto à autenticidade deste retrato veja se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 224 - Pelourinho de Ponte da Barca
É do tempo de D. Manuel e ergue-se no meio da praça, em frente da casa da Câmara, e próximo da ponte, o curioso monumento que a nossa gravura re­presenta.
Pág. 225 - Entrada em Lisboa de Lord Montagne, embaixador de Carlos II de Inglaterra
É cópia a apresente gravura duma série de estampas amigas, que se fizeram por ocasião do casamento de Carlos II de Inglaterra com D. Catarina, filha de D. João IV. Já no volume precedente repro­duzimos uma gravura representando também uma das cenas que precederam esse régio consórcio.
Pág. 229 - D. Maria Sofia de Neubourg
O retrato desta princesa, segunda mulher de D. Pedro II, é cópia duma gravura da Iconographia Regum existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Pág. 232 - Túmulo de D. Bataça
Tem a História de Portugal publicado os mais interessantes aspectos da veneranda catedral conimbricense que os antigos documentos denominavam Basílica de Santa Maria Conimbricense. As preciosas incrustações que encerra, e a sua importante colecção tumular tem merecido todo o interesse ao nosso colaborador artístico de Coimbra dr. Vale e Sousa. É assim que este nosso amigo tem publicado na História, entre outros trabalhos, aguarelas que repro­duzem os túmulos do bispo D. Tibúrcio, (pág. 437 do 2º volume), de D. Egas Fafes (pág. 400 do 4º volu­me), de um bispo desconhecido, (pág. 592 do 5º volume) e hoje publica o interessante túmulo de D. Bataça, reservando para o volume seguinte da história os túmulos do bispo D. Martinho Gonçalves, que existe próximo da porta da sacristia e o do bispo D. António Anes Brochado, que governou a diocese de Coimbra de 1303 a 1318. Fica desta maneira a nossa História sendo o repositório de gravuras mais com­pleto da vetusta Sé Velha de Coimbra que ultima­mente foi reaberta ao culto depois de ter sofrido várias reparações. O túmulo de D. Bataça, que a pre­sente aguarela reproduz com a maior fidelidade, é um curioso exemplar do século XIV, que acusa uma notável diferença sobre os outros túmulos da Sé Ve­lha, vendo-se que estamos em frente dum trabalho que revela as mãos dum artista já com uns certos conhecimentos da arte de estatuário que durante muito tempo fora exercido pelo canteiro, estabelecendo-se por último a diferenciação. As roupagens da estátua e os lavores do túmulo representam um considerável avanço sobre aqueles túmulos, se exce­ptuarmos o de um bispo desconhecido, que pertence ao século XV. O túmulo tem na tampa uma estátua jacente, com o hábito das monjas de Santa Clara, tendo a cabeça sobre uma almofada que dois anjos sustentam; aos pés veem-se dois rafeiros e na face anterior da arca três molduras góticas, em cada uma das quais se divisa a águia de duas cabeças. Este monumento esteve antigamente no meio do templo; mas como ali estorvasse foi mudado para o edículo do topo do transepto do lado do Evangelho, onde formava um ângulo com o túmulo de D. Egas Fafes; produzindo um efeito inteiramente desagradável, e obstruindo a pequena capela de Santa Clara, o que ocasionou nova mudança para uma das naves laterais do templo, onde hoje se encontra desde o dia 9 de julho de 1895. Quando se procedeu à sua remoção, fez-se a abertura do túmulo; encontraram-se entre a ossada e alguns fragmentos de roupagens a caveira de D. Bataça, em magnífico estado de conservação, o que maravilhou os que assistiam ao acto de aber­tura. Desta caveira publicámos uma interessante aguarela a pág. 20 do presente volume da História. D. Bataça que alguns também escrevem Vetaça e ou­tros Batata, era filha de Guilhelmo, conde de Vintemilha, e da mui nobre dona Lascara, infanta da Grécia, e neta do imperador Theodoro Lascaro, o Moço. Veio para Coimbra, antiga corte dos monarcas portugueses, em 1282, como dama de honor da Rainha Santa Isabel, ao serviço da qual já estava há tempo. Foi muito considerada na corte do rei Lavrador, bas­tando dizer-se que foi aia do infante D. Afonso (o IV da série dos monarcas portugueses), da filha deste, D. Constança, que acompanhou como cama­reira-mor a Castela quando foi do seu casamento com o rei D. Fernando IV, e aí criou igualmente a filha destes, D. Leonor, e mais tarde, por morte daquela rainha, foi tutora dos infantes. Pelos seus bons serviços o monarca castelhano D. Fernando IV doou-lhe em 20 de fevereiro de 1311 a vila de Padrassa, dizendo no respectivo padrão, que lhe fazia esta mer­cê por la criança que fizo en la Reina Dona Constan­ça mi muger, y en la infanta Dona Leonor nuestra fija. No segundo testamento da Rainha Santa, com data de 22 de dezembro de 1327, encontram-se estas passagens: «E faço meus testamenteiros El-Rey Dom Afonso meu filho, & a Raynha Dona Breatriz minha filha sa molher, & o Iffante Dom Pedro meu neto fi­lho primeiro herdeiro do dito Rey Dom Afonso, & à Iffanta Dona Maria minha neta, que eu criei, se for em Portugal, & Dona Vataça, & o Guardião de Coymbra & de Leiria que en esse tempo forê. & Frey Francisco de Euora, & frey saluado que anda em ca­sa del-Rey, & frey Afonso Vehegas, & à Abadesa do dito Mostº de Santa Clara, & de Santa Isabel de Coymbra que en esse tempo for Abadesa en cuia mão eu leixo meu corpo, & toda las outras coisas que, en entom ouuer». - E noutra parte esta: - «E mando a Dona Vataça cem marcos de prata.» D. Bataça dei­xou, por sua morte, avultadíssimos bens ao cabido de Coimbra que por este motivo lhe fez durante muitos anos, no aniversário do seu passamento, procissões e rezas sobre a sua sepultura. D. Bataça faleceu em 21 de abril de 1336.
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Pág. 233 - Palácio Patriarcal e igreja de Santo António do Tojal
A igreja paroquial do Tojal é consagrada a Santo Antão e data de remota antiguidade. Não consta a era da sua instituição, mas sim que estava erecta no século XII, reinando D. Diniz. Também se sabe que nesse tempo já esta paróquia era do padroado da mi­tra de Lisboa, a qual possuía uma quinta junto desta igreja. O bispo de Lisboa D. Domingos Jardo, no testamento que fez em 19 de dezembro de 1291, fala desta propriedade, chamando-lhe a sua quinta de Pêro Viegas. - D. Fernando de Vasconcelos e Mene­zes, 11° arcebispo de Lisboa, edificou nova igreja, por ser a antiga pequena, e achar-se arruinada; e na quinta contígua fundou um palácio com jardim para vivenda dos prelados lisbonenses durante alguma parte do estio. Fez-se esta obra no ano de 1554, data que se vê gravada em uma lápide embebida na parede da torre da igreja. No segundo quartel do sé­culo XVIII, procedeu D. Tomás de, Almeida, pri­meiro patriarca de Lisboa, a uma tal reconstrução da igreja e do palácio, que se pode dizer que foi uma nova fundação. Alargaram-se as dimensões do tem­plo; decoraram-lhe o frontispício com três retratos de santos, esculpidos em mármore de Carrara, e mandados fazer a Itália; guarneceram-lhe os altares de primorosas obras de talha dourada, e foram-lhe doa­dos custosos paramentos e alfaias. O palácio foi igualmente muito aumentado, e enobrecido no edifício, e adereçado interiormente com riqueza, isto é, orna­mentado com painéis a óleo, damascos e panos de Suez e porcelanas da China e do Japão.
Pág. 237 - D. Catarina de Bragança
É copiado o retrato desta princesa portuguesa do que vem nas Memórias do conde de Grammont, gravado do original que se conserva em Londres.
Pág. 240 - Pelourinho de Canavezes
Foi muito protegida pela rainha Mafalda a antiga povoação de Canavezes, de quem o pelourinho que a nossa gravura representa, recorda os foros e privi­légios que mais tarde conquistou. Para pormenores sobre esta vila, veja-se, entre outras publicações o Minho Pittoresco, de José Augusto Vieira, o Portu­gal antigo e moderno, de Pinho Leal, o Diccionario Geographico do padre Luiz Cardoso, e o Archivo Pittoresco, volume 7º, artigo de Vilhena Barbosa.
Pág. 241 - O Marquês das Minas em frente de Madrid
Leia-se em págs. 204 e seguintes do presente volume da História de Portugal, a descrição deste va­loroso feito de armas, com o qual ficámos brilhante­mente compensados das vergonhas por que os Espanhóis nos fizeram passar durante a ignominiosa do­minação dos Filipes.
Pág. 245 - D. Pedro da Silva
O vice-rei D. Pedro da Silva foi o 46° governador da Índia; sucedeu ao vice-rei D. Miguel de Noronha, conde de Linhares em 8 de dezembro de 1635, e governou até 24 de junho de 1639 em que faleceu em Goa. Veja-se para a sua autenticidade o que dissemos de D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 248 - Túmulo antigo existente junto à Sé do Porto
Fora deste vetusto templo, antes de entrar no átrio que precede o majestoso Paço do Bispo, está uma capela maltratada, onde se pode ver o formo­so túmulo que a nossa gravura representa. Ignorou-se durante muito tempo a quem ele pertencia, e só as investigações a que no último quartel do século XIX procedeu o ilustrado cónego arcipreste dr. Manuel Filipe Coelho, se deve o apurar-se que tal sarcófago encerra as cinzas de Martim Mendes, cónego mestre escola da Sé, ali depositadas em 1350. O recinto, onde se vê o túmulo, é o resto da antiquíssi­ma capela de S. Martinho, que havia no primitivo claustro da Sé.
Pág. 249 - D. Fernando Martins Mascarenhas
O retrato deste antigo fidalgo, senhor de Soure, e capitão de D. João II e de D. Manuel, é copiado dum baixo-relevo existente na chamada sala das Ba­talhas do palácio do sr. Marquês de Fronteira, perto de Benfica.
Pág. 252 - Pelourinho de vila Nova de Foz Côa
Atribui a tradição a fundação desta povoação aos esforços beneméritos de D. Diniz, aí por 1229. Foi feita vila por D. João I e era dos condes de vila Nova de Portimão. Torna-se particularmente recomendável o seu pelourinho, tão original na forma quanto na execução perfeita e elegante do desenho. É de granito, e, pela natureza dos ornatos, bem como pela sua profusão e arranjo, deve ser obra do reinado de D. Manuel. Ergue-se na praça principal da vila.
Pág. 253 - João da Silva Teles de Menezes
O vice-rei da Índia, João da Silva Teles de Menezes conde de Aveiras, 48º governador, sucedeu ao governador António Teles de Menezes, em 24 de setembro de 1640 e governou até 30 de dezembro de 1645. Veja-se para a verificação da autenticidade deste retrato, o que dissemos quando tratámos de D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 256 - Cálice do bispo de Coimbra D. Jorge de Almeida
Foi um dos muitos objectos de arte oferecidos por aquele bispo à Sé de Coimbra, e que todos ti­veram ocasião de admirar na interessantíssima ex­posição de arte ornamental realizada em Lisboa em 1882. Este cálice é de trabalho muito apurado e de notável mérito artístico, não obstante os seus lavores não conservarem uniformidade completa de estilo, pois que, predominando nele os de estilo gótico, se acham de mistura outros da renascença, como são as pilastras da base e os ornatos da copa. Apesar deste senão, o cálice representado na nossa gravura, é um trabalho muito apreciável.
Pág. 257 - Chacina de Franceses no Rio de Janeiro
A cena que a nossa gravura representa vem descrita a págs. 230 e seguintes do presente volume, assim como mais adiante vem a descrição da san­guinária desforra tirada pelos Franceses dessa horro­rosa hecatombe.
Pág. 261 - D. João V
É reproduzido dum belo retrato existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, o que aqui damos do faustoso e magnânimo monarca, que se chamava D. João V.
Pág. 264 - Mausoléu de Mendes Foios Pereira
O monumento representado na nossa gravura ergue-se na sacristia da igreja da Graça. É um dos mais sumptuosos mausóleos que há em Lisboa, pois que, ao trabalho artístico em variados géneros junta-se a riqueza dos materiais. Terá de altura uns três metros e meio, e é construído de excelentes mármores de diversas cores e bronze. O soco é de mármore branco e preto e muito singelo. Descansam sobre ele dois leões, que sustentam em seu dorso a urna funerária. O medalhão e os dois génios que o segu­ram são de bronze. Jaz neste sepulcro o corpo de Mendes de Foios Pereira, nascido em Tomar em 1643, secretario de estado de D. Pedro II em 1686, e falecido em Lisboa em 1708. Concederam-lhe os religiosos da Graça o jazigo na sacristia, em respeito a ter sido ele reedificador daquela casa.
Pág. 265 - Duque de Cadaval
É feito sobre uma gravura antiga o retrato do ilustre diplomata Duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira; é curioso que foi este o mesmo retrato que saiu numa publicação feita em Paris pela livraria Larousse ainda há poucos anos, e na qual, pela coin­cidência do nome, este retrato aparece como sendo o do grande condestável D. Nuno Álvares Pereira, o glorioso companheiro de D. João I! Não nos admi­raria o caso se o livro fosse escrito por franceses; mas o livro é de portugueses, e portugueses os ele­mentos com que foi feito.
Pág. 268 - Fortaleza da barra de vila do Conde
Até ao fim do século XIV esteve exposta vila do Conde, às incursões do inimigo, principalmente dos piratas das potências barbarescas, que infestavam de contínuo as costas de Portugal. D. Afonso Sanches, filho bastardo de D. Diniz, e, ao tempo, senhor de vila do Conde, resolveu fortificar a barra, para o que mandou construir uma plataforma em que pôs quatro pedreiros, substituídos mais tarde, logo que foi vulgarizado o uso da pólvora, por peças de artilharia de ferro. Assim se conservou a plataforma du­rante séculos até que D. Duarte, irmão de D. João III, mandou construir um Castelo, segundo o novo sistema de fortificação, encarregando do risco e da construção o célebre arquitecto Filipe Tércio. Em 1624, ordenou D. Frederico II, filho da duquesa de Bragança D. Catarina, que se continuassem as obras do Castelo. Superintendeu os trabalhos o sargento-mor António de Vilalobos, que os concluiu, ficando a fortaleza com cinco baluartes. Com a porfiada guerra com Castela começada com a gloriosa revolução de 1640, foi melhorado o Castelo com mais al­gumas obras de defesa. Não obstante a construção desta fortaleza, conservou-se sempre a plataforma, à qual se adicionou em 1832 um parapeito, assen­tando-se nela dois canhões. O Castelo foi dedicado pelo fundador a Nossa Senhora da Assunção; po­rém actualmente é só conhecido pela invocação de S. João Baptista, que é o orago da matriz de vila do Conde..
Pág. 269 - António Teles de Menezes
47º governador da Índia; sucedeu ao vice-rei D. Pedro da Silva em 21 de junho de 1639 e governou até 24 de setembro de 1640. - Veja-se, para a autenticidade do retrato, o que dissemos acerca do de D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 272 - Maça de prata da Misericórdia de Lisboa
Esta maça, símbolo de grandeza e poder, que se guarda na santa casa da Misericórdia desde o século XVI, foi mandada fazer no reinado de D. Manuel, sendo provedor da casa D. Álvaro da Costa, armeiro-mor de D. Manuel. É tradição ser obra de Gil Vicente, célebre artista lavrante da rainha D. Leonor. Sobre o capitel da coluna está uma urna, e nela esculpidos quatro baixos-relevos: em um se vê re­presentada a visitação da Senhora a Santa isabel; em outro a distribuição do comer aos presos no cárcere; em outro o acto do casamento; e no outro o acto da encomendação de um morto. No topo uma esfera, empresa de D. Manuel; ao longo da maça uma ca­deia de prata. Esta maça andava acompanhando sem­pre o provedor e a mesa da Santa Casa da Miseri­córdia de Lisboa, em todos os seus actos públicos.
Pág. 273 - Duguay-Trouin e a sua gente saqueando o Rio de Janeiro
Veja-se a págs. 234 e seguintes a descrição desta formidável desforra tomada pelo famoso corsário francês da implacável mortandade feita pelos portugueses aos soldados de Du Clerc, quando estes ten­taram apoderar-se do Rio de Janeiro.
Pág. 277 - D. Mariana de Áustria, mulher de D. João V
O formosíssimo busto desta encantadora princesa de Portugal, publicado na nossa história é cópia do seu retrato pintado por Batoni, e pertencente à casa real.
Pág. 280 - Cruzeiro de S. João do Campo
Este cruzeiro, uma das curiosas antiqualhas do Minho, encontra-se logo à entrada da humilde paróquia de S. João do Campo, em Terras de Bouro; o pilar da cruz é um antigo marco miliário da estrada militar da Geira; tem 2,31 metros de altura por 0,43 de diâmetro e lê-se ainda nele uma inscrição latina, em que se marca a distância de 27 milhas de Braga.
Pág. 281 - Hortênsia de Castro
Pertence ao sr. Anselmo Braamcamp Freire o quadro a óleo, sobre cobre, de que a nossa gravura é copia. Dum excelente artigo da erudita sra D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, tomámos a liberdade de copiar um pequeno trecho acerca da famosa escritora Hortênsia de Castro. «Os poucos factos positivos que conhecemos, obrigam-nos a presumir, ten­do em conta o caracter e tendência da nação e do tempo, que Hortênsia, que encontramos em Évora, vila Viçosa e Elvas, mas nunca fora da sua provín­cia, foi doutrinada em casa, como quase todas as fi­lhas de letrados, primeiro na sua cidade natal e de­pois em Évora, auxiliada pelo arcebispo D. João de Mello,... recomendá-la-ia aos príncipes e magnates nas suas visitas à cidade de Sertório, e facilmente impetraria deste e daquele outro lente do Colégio do Espírito Santo, fundado pelo cardeal in­fante em 1551 e transformado em universidade em 1559, o favor de lerem à sua inteligente sobrinha uma primatíssima em línguas, letras e ciências... Sabemos muito pouco de Hortênsia de Castro para adivi­nhar o seu pensar íntimo».
Pág. 284 - Pavilhão ou Mãe d'Água do aqueduto de Évora
Entre outros documentos com que Sertório enriqueceu e enobreceu a cidade de Évora, fundou o majestoso aqueduto que trazia água para aquela cidade. Dos grossos alicerces, descobertos por André de Rezende, no reinado de D. João III, e sobre os quais ainda hoje assenta o aqueduto, se vê a robustez com que ele era feito. Mas se a sua sólida construção podia resistir à acção corrosiva dos agentes atmosféricos, não o podia fazer à sanha feroz das várias raças de bárbaros que invadiram a Lusitânia. Esse majestoso monumento, pois, foi arrasado durante as intermináveis guerras dos primeiros séculos do cristianismo, e dele só ficaram dois pavilhões, um na ex­tremidade do aqueduto, sobre a muralha, entre as portas de Lagoa e Aviz, e outro, em tudo igual, jun­to ao convento de S. Francisco. Tudo o mais estava de tal modo destruído, que nem o mais leve vestígio se via; a ponto de que, apesar da constante e geral tradição, alguns escritores negavam obstinadamente a existência de tal aqueduto. - Foi pelos anos de 1540, que o nosso infatigável antiquário, André de Rezende, examinou e investigou com tanto tino e minuciosidade o sítio provável do aqueduto, que deu com os seus robustos alicerces, que à sua custa mandou desentulhar, e tanto instou com D. João III, que conseguiu que este monarca restaurasse o velho aqueduto de Sertório, dotando Évora com este melhoramento, de que a haviam despojado. - O próprio André de Rezende é que foi encarregado desta reconstrução, que principiou em 1532 e terminou em 1536. - Chamou-se Aqueduto da Prata, por se cha­mar Fonte da Prata o manancial que o alimenta. - Principia o aqueduto em um monte, a 11 quilómetros da cidade, cortado em linha recta, e corre tor­neando vários outeiros até à Torre de Alva, vindo enriquecê-lo 28 nascentes. Da Torre de Alva prossegue para Évora sobre uma comprida arcana cons­truída de pedra, mas com as voltas dos arcos de tijolo. Entra na cidade por cima das muralhas, servin­do-lhe de mãe d'agua o pavilhão que a nossa gravura representa. Tanto este pavilhão como o que está próximo à igreja de S. Francisco, que em tudo lhe é igual, são os primitivos mandados construir por Sertório. São muito elegantes, de forma redonda, feitos de tijolos ligados por uma tão sólida argamassa e revestido por uma espécie de estuque ou cimento de betume tão duro e compacto que está muito bem conservado, apesar da sua antiguidade.
Pág. 285 - D. Filipe Mascarenhas
Este vice-rei da Índia, que foi o 45° da ordem dos governadores, sucedeu ao vice-rei, João da Sil­va Telo de Menezes, em 30 de dezembro de 1645 e governou até 10 de junho de 1651. (Veja-se a notícia sobre D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 288 - Pelourinho de Lanhoso
É incompleto o que aqui damos do pelourinho de Lanhoso, mas é o que ainda hoje existe deste vetus­to monumento, o qual, é José Augusto Vieira quem no-lo diz, existe no largo da Fonte, encimando um chafariz de duas bicas.
Pág. 289 - Episódio das discórdias em Lisboa entre as embaixadas de França e de Espanha
A descrição do curioso episódio que a nossa estampa representa pode ler-se a pág. 116 deste 6º volume da História.
Pág. 293 - António de Afonseca Mesquita e Solla
É feito sobre o esboço de uma miniatura exis­tente em poder da família deste personagem histó­rico, o retrato que ilustra esta página da nossa História.
Pág. 296 - Castelo de Pombal
Nada se conhece sobre a época da fundação da vila de Pombal, e até da origem do seu nome. Tendo-se apenas apurado que principiou a formar-se a 500 metros ao norte da vila, no sítio chamado ladeira dos governos. - D. Afonso o Conquistador deu em 1160 o senhorio deste território aos templários, e D. Gualdim Paes fundou então o castelo no tope do cabeço, onde se encontra, e donde se domina um bom panorama. Relativamente ao nome de Pombal consta que foi originado pelo facto de grande núme­ro de pombos terem estabelecido residência no local onde mais tarde foi erguido o Castelo, que a aguarela representa, e hoje reduzido a ruínas. - Como já dissemos foi seu fundador D. Gualdim Paes e no interior do Castelo ainda se veem os vestígios da Torre de Menagem, toda caída em ruínas. - O Castelo é simplicíssimo; reedificou-o, ao que se diz, D. Manuel, cujas armas se veem na porta principal, encimadas pela cruz de Cristo. - A vila de Pombal tem quase o aspecto primitivo, não tem obras de ar­te, mas, em compensação abundam as recordações do grande Marquês de Pombal, que ali morreu desterrado, em virtude dos conselhos dos que rodeavam D. Maria I. - Assim, ainda ali se aponta, na estrada de D. Maria I a fonte onde D. Sebastião de Carvalho e Melo ia sentar-se à tarde, respirando a brisa mansa, cavaqueando com as mulheres do cam­po, que iam encher os seus cântaros. - Ali se vê também a cadeia, um bom edifício onde Pombal dei­xou mais um vestígio do seu caracter austero e rijo, e a janela do quarto, onde ele morreu, e de que adiante publicamos uma aguarela, feita, como a presente do Castelo, pelo sr. dr. Vale e Sousa. - A janela do quarto onde morreu o grande Marquês pa­rece uma verdadeira prisão, pelas fortes grades, que tem, postas por mandado de Pombal, receando que o atacassem. - No mosteiro de Santo António de Pombal vê-se uma lápide que recorda ter ali estado sepultado o Marquês, até que veio transportado para Lisboa. - Na sacristia do mosteiro está guarda­do a um canto o caixão de cedro dentro do qual foram fechados os despojos mortais daquele grande homem.
Pág. 297 - Frei Francisco dos Mártires
Foi o 50º governador da Índia. Era arcebispo primaz, governou com seus companheiros António de Sousa Coutinho e Francisco de Mello de Castro. (Ve­ja-se a notícia sobre D. Francisco Coutinho, a pág. 609).
Pág. 300 - Cruzeiro de Santo Ovídio
A nossa gravura representa um dos originais cruzeiros da via-sacra de Santo Ovídio, dispostos no largo e junto da capela desta invocação, em Paços de Ferreira, a que se faz uma boa romaria em 9 de agosto. Este cruzeiro tem, como os restantes, o Cristo colocado ao meio da haste da cruz; escultura e cruz formam em todos eles um só corpo, que não prima pelo trabalho artístico. Cada cruzeiro é dadi­va dum lavrador generoso.
Pág. 301 - Braz Afonso de Albuquerque
Reproduziu-se este retrato do ilustre autor dos Commentarios de Afonso de Albuquerque, de um busto em relevo, em barro cozido, existente na casa da quinta da Bacalhoa, perto de Azeitão, casa edifi­cada por ele, o que nos leva a acreditar na autenticidade do retrato.
Pág. 304 - Gravura tumular ultimamente descoberta na Sé de Lisboa
Como se estivesse procedendo a obras que se podem considerar radicais na formosíssima capela de Bartolomeu Johannes, na Sé de Lisboa, descobriu-se no chão, a meio da capela a curiosa lápide, que mandámos reproduzir e que ao que parece, cobria o túmulo dum dos testamenteiros daquele protegido de D. Diniz, o que se supõe por este no referido testamento designar que na sua capela seriam sepultados os seus testamenteiros.
Pág. 305 - Combate Naval de Matapan
Veja se em pág. 269 deste 6° volume da História a descrição do episódio naval representado pela nossa gravura.
Pág. 309 - Frei Francisco de Santo Agostinho de Macedo
Este religioso, cujo retrato reproduzimos de um a óleo existente na Biblioteca Pública de Lisboa, nasceu em Coimbra, e tomou o hábito em 24 de junho de 1642. Foi lente de filosofia e teologia no Colégio de Santo António da Pedreira, em Coimbra, lente de controvérsia no de propaganda da história Eclesiástica, no de Sapiência em Roma, e consul­tor da Inquisição universal. Defendeu em Roma por 3 dias sucessivos no ano de 1658 conclusão omni scibili; recitou em Veneza a 26 de setembro de 1667 mil versos latinos em louvor da dita república, e faleceu com 85 anos de idade, em 1 de maio de 1681.
Pág. 312 - Corpo principal do Seminário episcopal de Coimbra
É o Seminário episcopal, escreve Augusto Men­des Simões de Castro, um monumento magnífico da piedade e zelo religioso do venerável bispo de Coim­bra D. Miguel da Anunciação. Compenetrado este prelado virtuoso da grande utilidade dos estabelecimentos desta ordem para a boa educação religiosa e ilustração do clero, deliberou fundar o Seminário, com que despendeu grossas somas; e convidou os fiéis, por meio de uma provisão, que publicou em 23 de maio de 1741, a concorrerem também com seu óbolo para se efectuar uma obra tão meritória. - Teve também grande parte nesta piedosa empresa D. Nicolau Gilberti, sacerdote napolitano. Por esforços seus vieram para Coimbra para trabalharem na construção do grandioso edifício os afamados arquitetos João Francisco Iamozi, e João Jacomo Azzolini. No dia 22 de junho de 1748 se deu princípio à magnífica fábrica do Seminário, e em 28 de outubro de 1765 se terminaram as obras. Não teve, porém, o gosto de ver coroar o edifício um dos seus mais ilustres arquitetos, Iamozi. Na ocasião em que se colocava no campanário um dos sinos, aconteceu-lhe a desgraça de cair da torre abaixo, do que lhe resultou a morte. - Avulta o Seminário muito pró­ximo do convento de S. José, no fundo de um gran­de pátio bordado de assentos, e ensombrado por ar­vores corpulentas. Por ser em declive o terreno so­bre que assenta, não apresenta o edifício a mesma altura nas suas quatro faces: tem na fachada principal dois andares, três nas laterais e quatro na posterior. Fazem realçar muito a beleza do frontispício duas torres, que nele se levantam de cada lado no meio de sete janelas. Na parte central abre-se um pórtico magnífico adornado de grandes colunas, que tem uma grade de ferro e bronze fabricada com muito bom gosto. Esta lindíssima grade veio de Bolonha e custou 1.416$500 réis. - Internamente é o Seminá­rio de grande amplidão. Os seus dormitórios são vastíssimos, e numerosas e excelentes as oficinas. São peças curiosas e dignas de atenção as duas escadas de caracol que comunicam uns com os outros os três andares. Estão construídas por tal arte, que, não tendo coluna central a que se apoiem os degraus do último se pode ver quem sobe o primeiro. - A igreja, que tem a forma poligonal, é de elegante arquitetura e singular beleza.»
Pág. 313 - D. Maria de Portugal
O nosso velho amigo Joaquim de Araújo publi­cou em Livorno, em 1899, um interessantíssimo opúsculo (depois republicado no 2° volume do Portugal e Itália) intitulado o Retrato de D. Maria de Portugal, filha do infante D. Duarte. É nesse opúsculo, interessantíssimo a todos os respeitos, que vem o retrato donde reproduzimos o que figura na nossa História, e nele vem a seguinte curiosa notícia do retrato: «Trouxemos à baila, simples curiosidade, acaso útil a algum amador de velhas memórias, as linhas que precedem. O nosso scopo visa, porém, a consignações diferentes, pois que tão só tratamos a divulgação de um retrato autêntico da Princesa Ma­ria, de quem especialistas como Barbosa Machado e Inocêncio da Silva não conseguiram descobrir a vera effigie. É cópia de uma medalha farnesiana da série de Alexandre III, cunhada em 1566, com a le­genda: MARIA DI PORTUGALLO P. ET. P. PRIN., e pertence à interessante monografia do sr. Prof. E. Casa, La cittadela di Parma. - Outros retratos, além deste, existem ainda, da princesa. Na Pinacoteca de Parma avultam dois: um, autor ignorado, embora acentuadamente flamengo, reproduz a tela que outrora se encontrava no Palácio do Jardim da cidade Ducal; outro, atribuído a Francisco Pouibus-senior, e, senão deste pintor, ao menos de um dos seus discípulos, com muitas probabilidades também autor do retrato de Alexandre, que lhe faz pendant. Estas duas pinturas foram executadas na Bélgica entre 1575 e 1580, e não se nos depara notícia de que ainda al­guém as reproduzisse».
Pág. 316 - Igreja da Póvoa de Lanhoso
É uma bela fachada gótica a desta igreja, cujo óculo, característico do estilo, as paredes, o arco cru­zeiro elegante, em cuja rosácea ainda se notam alguns preciosos vidros coloridos atestam a antiguidade do templo. A crónica reza que é fundação do rico ho­mem D. Godinho Fafes em 1067, sendo a igreja a de um mosteiro de beneditinos que parece ter sido suprimido depois de 1434.
Pág. 317 - D. Francisco, irmão de D. João V
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o retra­to autêntico deste pouco simpático príncipe, donde foi copiado o que aqui hoje damos.
Pág. 320 - Caveira de D. Bataça vista de frente e de perfil
Em 6 de julho de 1895, procedendo-se na Sé Ve­lha de Coimbra à remoção do túmulo de D. Bataça, que já publicámos a pág. 232 deste volume, teve o director das obras públicas, sr. Francisco Frazão, a feliz ideia de o mandar destapar para se examinar o que ainda existia da opulenta dama que teve jazida nesse já belo espécimen tumular do século XIV. - Deparou-se com a ossada, que estava revolvida e al­guns pequenos fragmentos de roupagens; mas o que causou verdadeiro pasmo foi a caveira, duma bela configuração, muito bem conservada, tendo ainda aderentes muitos tecidos mumificados. - A presente aguarela, como algumas das que anteriormente têm sido publicadas, faz parte da interessante série de de­senhos em que o nosso colaborador artístico, dr. António Júlio do Vale e Sousa, tem reproduzido os mais valiosos monumentos e aspectos da veneranda catedral conimbricense. - O túmulo de D. Bataça estava até à referida remoção sob um edículo, no topo do transepto do lado do Evangelho, obstruin­do a pequena capela de Santa Clara, e justaposto ao túmulo do bispo D. Egas Fafes, que já publicámos a pág. 400 do IV vol. da nossa História.
Pág. 321 - O infante D. Manuel, regressando das suas viagens é recebido por D. João V
Encontra-se a pág. 314 deste 6° volume da História a descrição da cena representada pela nossa gravura.
Pág. 325 - D. Vasco Mascarenhas
O vice-rei D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, 51° governador da Índia, sucedeu aos governa­dores António de Sousa Coutinho, D. Fr. Francisco dos Mártires, arcebispo primaz e Francisco de Mello de Castro, em 11 de setembro de 1652, e governou até 22 de outubro de 1653. (Veja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 328 - Pelourinho de Lousada
Está já incompleto este pelourinho, em coluna torcida, e existe na parte antiga da vila de Lousada, que apresenta toda a feição característica das antigas vilas portuguesas, de ruas estreitas e praças aca­nhadas. D. Manuel deu foral a esta povoação de Lousada, com o título de vila, a 17 de janeiro de 1514, servindo também para Romariz a carta de foral.
Pág. 329 - D. Tomás de Almeida
O retrato deste personagem, o primeiro patriarca de Lisboa, é cópia do que vem no tão celebrado como por nós citado livro Retratos e Elogios de Varões e Donas, etc.
Pág. 332 - Claustro do convento carmelita na Vidigueira
 
Ao extinto convento dos carmelitas da Vidiguei­ra, vulgarmente mais conhecido por convento de Nossa Senhora das Relíquias, e notável por se have­rem conservado aí por mais de dois séculos os res­tos mortais do grande Vasco da Gama, pertence o claustro apresentado na nossa estampa. A sua construção, assim como a da igreja e convento, é do fim do século XVI, fazendo-se com grande solenidade a inauguração do templo em 8 de setembro de 1593. O claustro mede, na parte descoberta pouco mais de 13 metros em quadrado; no centro está um poço aberto em rocha com excelente água nativa, e em cada ângulo tem plantada uma laranjeira. É li­mitado por quatro faces iguais do edifício com dois pavimentos; no superior em forma de varanda com oito arcos, e no rés-do-chão tem de cada lado quatro arcos grandes, que hoje estão, uns tapados de alvenaria, e outros reduzidos e transformados em por­tas. Além de alguns suportes de alvenaria têm jun­to à parede, alegretes com flores. Para a arcaria do claustro comunica a antiga capela da Senhora da Piedade que é abobadada, lendo-se sobre o portal, de mármore de Extremoz, a seguinte inscrição: «Esta capela e sepultura he de Lourenço Moreno e de Pedro Estaco, e de seus herdeiros; pedem Pater Noster por suas almas.» - No século XVIII ainda ali se conservava dentro de um caixão forrado de velu­do preto, num vão da parede do lado da epístola, os ossos do dito Lourenço Moreno, que era natural de Moura, fidalgo da casa de D. João III, que serviu na Índia e instituiu esta capela por escritura feita em Lisboa, a 28 de fevereiro de 1544. Depois da supressão das ordens monacais em 1834, o convento Car­melita da Vidigueira sofreu os maiores vandalismos, não escapando à sórdida cobiça nem a sepultura do imortal descobridor das Índias Orientais. - Depois de roubado e desmoronado foi posto em praça e arrematado por 3.300$000 réis! - Felizmente, foi arre­matante o sr. D. José Gil, nobre cavalheiro de Portel, que, cheio de patriotismo, restaurou o mosteiro e estabeleceu o culto a Senhora das Relíquias, a quem os povos das circunvizinhanças são muito devotados.» São-nos fornecidos estes apontamentos por um excelente artigo do sr. A. G. Teixeira de Aragão no Occidente
 
Pág. 333 - António de S. João, filho de D. Pedro II
Foi copiado do retrato a óleo existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, o retrato deste religioso de costumes inocentíssimos, como se vê na legenda que acompanha aquele quadro.
Pág. 336 - Túmulo de D. Jaime, 5° Duque de Bragança, em vila Viçosa
Até ao tempo de D. Jaime, 4º Duque de Bragan­ça, não tinha esta casa nobre jazigo próprio; acha­vam-se os antecessores deste príncipe sepultados em diversos templos. Resolveu-se, pois, D. Jaime a edificar para esse fim uma capela no convento de Nossa Senhora da Graça dos Eremitas de santo Agostinho daquela vila, que era do seu padroado. Este convento foi construído pelos anos de 1267 no reinado de D. Afonso III, e restaurado em 1366 pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira. Acabada a Capela, que era no claustro, foram para ela trasladados os corpos dos duques D. Fernando I, e D. Fer­nando II. O duque D. Jaime, único do nome, seu filho D. Teodósio I, e seu neto D. João I também ali foram sepultados. Em tempos do duque D. Teodósio 2° achava-se tão arruinado o convento de Nª Sª da Graça, que este príncipe determinou reedificá-lo com mais magnificência, e mudar para a capela-mor o jazigo da sua família. Começou-se a obra, mas não chegou o fundador a vê-la concluída, porque lho estorvou a morte. Seu filho e sucessor o duque D. João II, a quem deixou encomendada a conclusão da fábrica, continuou com os trabalhos, porém, lentamente, até o ano de 1640 em que foi aclamado rei de Portugal, com o nome de D. João IV. Este sucesso, por causa da guerra, que se seguiu em Espanha, fez parar a obra, de sorte que só depois de pacificado o reino, foram trasladados os corpos dos seis duques acima nomeados, não contando o último, e de muitos outros príncipes da casa de Bragança, para os novos mausoléus, por mandato de D. Pedro II, sendo ainda regente do reino. - Os túmulos guarnecem um e outro lado da capela; e estão metidos debaixo de arcos de polido mármore iguais em feitio, em proporção e na cor dos mármores, que é branco; em regra não têm diferença senão nos epitáfios. O mausoléu, que a nossa estampa represen­ta, encerra os despojos mortais do duque D. Jaime. O jazigo dos duques de Bragança não encerra mais de uns dezoito túmulos, porquanto quase todas as princesas desta família se mandaram enterrar no co­ro debaixo do mosteiro das Chagas de vila Viçosa, onde se veem três sepulturas com seis epitáfios, e algumas outras sem inscrições. Depois da exaltação do 8° duque de Bragança ao trono de Portugal, ficou servindo de panteão real o magnífico templo de S. Vicente de Fora, em Lisboa.
Pág. 337 - Proezas do infante D. Francisco
Veja-se em pág. 317 deste 6° volume da nossa História a descrição das aventuras bem pouco pacíficas deste famigerado irmão de D. João V, uma das quais os nossos desenhadores quiseram representar na gravura que aqui damos.
Pág. 341 - D. Rodrigo da Silveira, vice-rei da Índia.
O conde de Sarzedas, D. Rodrigo da Silveira, foi na ordem dos governadores da Índia o 55°; sucedeu ao vice-rei D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, em 24 de agosto de 1655, e faleceu em 13 de janeiro de 1656. O tempo que vai da era de 1653 à de 1655, foi o em que governou o intruso governador D. Braz de Castro. (Veja se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 344 - Mausoléu de Diogo Pinheiro
No meio da parede da capela-mor, de Santa Ma­ria do Olival, em Tomar, do lado do Evangelho, e a pouco mais de um metro de altura do pavimento, avulta o magnífico mausoléu que a nossa gravura re­presenta. É um belo espécimen da arte de puro estilo da renascença, estilo de que temos mais alguns mausóleos, e algumas capelas e altares, mas que nunca foi empregado pelos nossos arquitetos para a construção de outras quaisquer edificações. - À vista da gravura, parece-nos escusada a descrição, pois que naquela aparecem fielmente debuxados todos os relevos que cobrem o monumento, não obs­tante a sua muita variedade e delicadeza. - O mausóleo é todo de pedra, e ressalta pouco da parede em que está embebido. Diz o epitáfio que ali jaz D. Diogo Pinheiro, primeiro bispo do Funchal, falecido no ano de 1525. - D. Diogo Pinheiro era vigário de Tomar quando el-rei D. Manuel o nomeou bispo do Funchal, correndo o ano de 1514, e logo depois foi confirmado pelo papa Leão X. Nunca este prela­do foi à ilha da Madeira, em razão de o reterem no reino o serviço e negócios d'el-rei.
Pág. 345 - Aspecto geral do convento de Mafra
É longa a história que M. Pinheiro Chagas nos dá desta brutalidade de pedra, para que percamos espaço a descrevê-la. Para a descrição completa en­contra o leitor monografias minuciosas.
Pág. 348 - Salvador Correia de Sá
O retrato deste notável guerreiro, que tanto hon­rou o nome português nas terras do Brasil e África, foi copiado de um magnífico quadro existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Pág. 349 - Pelourinho de Colares
A vila de Colares, situada uns 30 quilómetros a NO. de Lisboa, no concelho de Sintra é povoação antiquíssima e anterior à fundação da monarquia, não se sabendo qual o seu nome primitivo. Esta vila foi dada por D. João I a D. Nuno Álvares Pereira para o recompensar dos belos serviços prestados à pátria, logo depois da célebre batalha de Aljubarrota. O seu pelourinho é bastante elegante, como a nossa gravura bem o deixa ver, e para aqui a trans­plantamos a figurar na nossa já rica colecção des­tes monumentos, que vão decaindo a pouco e pouco.
Pág. 352 - O desembargador Oliveira Machado
Lá se encontra no processo dos Távoras o nome deste personagem, como um dos juízes. Era fidalgo da casa real, do seu conselho e da real fazenda. Este retrato o mandámos copiar de outro que existe na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Pág. 353 - Luta nas ruas de Lisboa, entre marinheiros portugueses e ingleses
Veja-se em pág. 347 deste volume da nossa História a descrição minuciosa da peripécia - uma das muitas que esmaltaram o reinado de D João V, - que a nossa gravura representa.
Pág. 357 - Manuel Mascarenhas Homem
O governador da Índia Manuel Mascarenhas Homem, 55° na ordem dos governadores, sucedeu ao vice-rei D. Rodrigues da Silveira, conde de Sarsedas, em 22 de maio de 1656 com seus companheiros Francisco de Mello de Castro e António de Sousa Coutinho, que governaram até 15 de junho de 1657. (Veja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 360 - Túmulo do Frei Bartolomeu dos Mártires
Diz acerca deste piedoso monumento cristão o sr. L. Figueiredo da Guerra: «Na igreja do extinto convento de Santa Cruz, hoje paroquial de Nª Sª do Monserrate, em Viana do Castelo, ao lado esquerdo, no presbitério, existe uma portada em estilo dórico, de mármore de Sintra, vermelho e branco e dentro dela um sarcófago: - «Aqui jaz o venerá­vel D. Frei Bartolomeu dos Martyres, aquele vir­tuoso Prelado, que, depois de fazer ouvir a sua autorisada voz no Concílio Tridentino, trocou a purpura primacial pelo retiro de uma pobre cela deste seu convento, onde finalizou seus dias, a 16 de julho de 1590, com 72 anos de idade, e 8 depois de buscar este asylo.» - Sepultaram-no os domínicos em sepultura rasa, e ficou alguns anos, até que um seu amigo e colega no Episcopado, D. Jorge de Athayde, em 1607, realizou o intento de lhe levantar honra­do jazigo, encomendando em Lisboa a pedraria la­vrada. - Concluído o jazigo, efetuou-se a trasladação com singulares festas, a que concorreram os povos de Portugal e da Galiza, como relata em ver­nácula frase o cronista da Ordem dos Pregadores, Frei Luiz de Sousa, que deu à estampa a Vida do Arcebispo, que o Senado Vianez custeou, vindo ao convento o impressor Nicolau de Carvalho, no ano de 1619».
Pág. 361 - Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa
Não entra no plano destas notas, dar notícia circunstanciada dos monumentos de que apresentámos estampa; portanto nada diremos acerca deste, man­dado construir por D. João V, contentando-nos em remeter o leitor para o que Manuel Pinheiro Chagas diz acerca dele neste volume da nossa História. A gravura que aqui damos é cópia duma excelente estampa litografada da primeira me­tade do século XIX.
Pág. 364 - Diogo de Mendonça Côrte-Real
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o origi­nal donde foi copiado o magnífico retrato que aqui apresentamos deste notável ministro de D. João V.
Pág. 365 - Fonte da Misericórdia, em Elvas
Possui a cidade de Elvas um soberbo aqueduto que a abastece de água conduzindo-a da Amoreira, de que toma o nome, até esta parte que foi a primeira que se fez em Elvas, cujo plano delineado por Diogo marques, se lhe não podemos chamar elegante, é, pelo menos muito original e curioso, característico da época em que foi feito, século XVII. Sobre um plinto de cantaria, erguem-se seis colunas sustendo uma cúpula caprichosamente rematada. No intervalo de coluna a coluna, junto à base dos mes­mos, estendem-se outros tantos golfinhos forman­do as bicas por onde corre a água para a bacia da fonte, talhada também em pedra concheada. No centro, circundado pelas seis colunas, levanta-se um pequeno pedestal sobre que assenta uma pequena estátua equestre esculpida em pedra, e que a tradi­ção diz representar D. Sancho II, o restaurador da heroica cidade de Elvas. Esta escultura, porém, é bastante rude, e não abona os merecimentos do autor, pois que naquela época já havia esculturas mais bem acabadas.
Pág. 368 - Manuel Teles da Silva
O retrato deste histórico personagem, conde de Vilar Maior, é copiado de outro existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Pág. 369 - Acto de rebelião das freiras de Odivelas
O curioso e original acontecimento que inspirou a composição que o leitor está vendo, vem referido a pág. 342 deste 6º volume da nossa História.
Pág. 373 - Fr. Bartolomeu do Quental
É copiado dum excelente quadro a óleo existen­te na Biblioteca Nacional de Lisboa o retrato que aqui damos deste notável ornamento da Igreja Portuguesa.
Pág. 376 - Frontaria do Hospital das Caldas, em 1747
Uma fotografia dum antigo desenho coevo do estado do Hospital das Caldas naquele ano de 1747 serviu de modelo para a curiosa gravura que ornamenta esta página da nossa História.
Pág. 377 - Capela de S. João Baptista, na igreja de S. Roque, em Lisboa
Não nos damos ao trabalho de fazer aqui a descrição desta opulenta Capela, porque seria repetir o que já brilhantemente vem descrito neste volume pela cintilante pena de P. Chagas.
Pág. 380 - António de Sousa Coutinho
Os governadores António de Sousa Coutinho, D. Frei Francisco dos Mártires arcebispo primaz, e Francisco de Mello de Castro sucederam ao vice-rei D. Filipe Mascarenhas em 10 de junho de 1751 e governaram até 11 de setembro de 1652. O tercei­ro governador António de Sousa Coutinho sucedeu no governo deste estado segunda vez com seus companheiros, Manuel Mascarenhas Homem e Francisco de Mello de Castro ao vice-rei D. Rodrigo da Silveira, conde de Sarsedas em 22 de maio de 1655, governaram até 15 de junho de 1661. Foi o 55° go­vernador. (Veja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 381 - Pelourinho da Figueira da Foz
Está erguido no topo setentrional da Praça do Comércio, e é muito elegante. A avaliar pelo seu fácies arquitetónico, deve ter sido construído no século XVIII. Prova-o o desenho do escudo português, que se vê encastoado no capitel do seu rema­te. Prova-o sobretudo aquela graciosa hélice de pedra que cinge a coluna a todo o compri­mento, e que ficou sendo o símbolo eterno, na Península, das opressões do jesuitismo e da inquisição. Deve datar desse tempo o pelourinho provavelmente levantado em 1771, ano em que D. José I elevou por um decreto a Figueira à catego­ria de vila.
Pág. 384 - D. Antão de Almada
Da famosa galeria dos srs. condes de Almada mandámos copiar o retrato deste prestantíssimo vulto da nossa gloriosa História.
Pág. 385 - Os soldados de Mazagão repelem os ataques dos Mouros
Veja-se em pág. 413 deste 6° volume da nossa História a descrição de mais este heroico feito das armas portuguesas.
Pág. 389 - Francisco de Mello de Castro
O governador da Índia (56° na ordem dos governadores) Francisco de Mello de Castro, que veio na sucessão com seus companheiros António de Sou­sa Coutinho e D. Frei Francisco dos Mártires, ar­cebispo primaz, sucedeu outra vez no governo do estado da Índia com seus companheiros Manuel Mascarenhas Homem e António de Sousa em 1656. (ve­ja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 392 - Palácio das Necessidades
Em 1742, adoecendo gravemente D. João V, fez conduzir para a sua câmara a imagem de Nª Sª das Necessidades que se venerava numa capela que exis­tia no Alto de Alcântara. Melhorando o rei, atribuiu a sua cura a Nossa Senhora, e em agradecimento su­bstituiu a capela por um templo rico e sumptuoso no mesmo lugar onde existia a capela e com a mesma invocação, dando-lhe a prerrogativa de capela real. - Junto da igreja mandou construir um palácio, e na quinta contígua, que comprou a Baltasar Pe­reira da Lage, e que engrandeceu e aformoseou, edi­ficou um convento para os congregados de S. Filipe Nery. Teve princípio esta obra em 1743, sob o risco de Caetano Tomaz de Sousa, e concluiu-se em 1750. Pouco depois de concluído o palácio, foi residir nele o infante D. Manuel, e mais tarde o in­fante D. António, ambos irmãos de D. João V. Era habitação do infante D. António, quando sucedeu o terramoto de 1755, que não causou estragos no palácio nem na Capela, danificando apenas um pouco o convento, que em breve foi reparado. - Nos rei­nados de D. José I, e de D. Maria I, hospedaram-se neste paço vários príncipes estrangeiros. Posteriormente estava nele a Academia Real das Ciências. No convento se reuniram as cortes de 1821. As sessões faziam-se no grande salão da livraria. - Na capela há algumas boas pinturas de artistas nacionais, magníficas alfaias e paramentos, e vasos sagrados de muita riqueza. Por ocasião do consórcio de D. Pe­dro V, foi este templo restaurado com grande ma­gnificência. E neste palácio que reside actualmen­te a família real.
Pág. 393 - Fábrica de papel da Lousã
A fábrica de papel da Lousã foi por muitos anos a melhor, e ainda é das melhores, de Portugal. Foi fundada por um estrangeiro em 1748, dando-lhe D. João V, por empréstimo, 2.800$000 réis, para a sua construção. Como o fundador não pagasse a dí­vida até ao seguinte reinado, o Marquês de Pombal tomou-lhe a fábrica, tomando o Estado conta da administração, as qualidades de papel que ali se fabri­cavam com certo renome eram o almaço branco e o papel selado.
Pág. 396 – D. Luiz da Cunha
Copiou-se duma bela estampa existente na Biblioteca Nacional de Lisboa o retrato que aqui apre­sentámos deste ilustre diplomata português.
Pág. 397 - Túmulo de D. Rodrigo Sanches, no convento de Grijó
Uma das curiosidades do vetusto convento de Grijó, em Gaia, é o túmulo, que aqui reproduzimos de D. Rodrigo Sanches, filho bastardo de D. Sancho I e da formosa Ribeirinha. O pobre moço, mortalmente ferido em duelo por causa de uma questão de amores, veio morrer ao sítio onde chamam ainda o padrão velho, cruzeiro que D. Constança, sua irmã, aí mandou erigir em memória de tal facto, sendo ela também que mandou construir o majestoso tú­mulo, onde repousam as cinzas de D. Rodrigo.
Pág. 400 - Gonçalo da Silveira
Na Biblioteca Pública de Lisboa existe o retrato deste personagem do qual foi copiado o que aqui apresentámos.
Pág. 401 - Luta entre Paulistas e Forasteiros
Veja-se em pág. 437 deste 6° volume da História a descrição deste episódio das sangrentas lutas entre portugueses e brasileiros.
Pág. 405 - D. António, infante de Portugal
Duma excelente gravura contemporânea, devi­do ao talento do grande artista português Vieira Lusitano foi copiado o retrato que aqui damos deste príncipe, filho de D. João V.
Pág. 408 - Igreja de Melres
A igreja que a nossa gravura reproduz é a matriz paroquial de Melres, e representa uma antiguidade notável, atribuindo-se a sua fundação a um dos sete filhos de Maria Mantela, lendária personagem do Porto, sepultada em Chaves, segundo dizia a inscrição lá existente: “Aqui jaz Maria Mantela / Com os sete filhos ao redor dela. Todos sete foram padres, diz a lenda, e cada um o fundador de uma igreja, pertencendo, pois, a um desses irmãos, esta de Santa Maria de Melres, que nada tem exteriormente que a recomende a não ser a sua simplicidade, e a singelíssima torre triangular que a encima, notável pela curiosidade das suas oscilações, quando os sinos tocam.
Pág. 409 - Jacob Rodrigues Pereira
«Foi no dia 11 de abril de 1715, que nasceu em Peniche Jacob Rodrigues Pereira, filho de Magalhães Rodrigues Pereira e de Abigail Ribea Rodrigues. Não se sabe em que época esta família passou a França, mas é natural que fosse naquela recrudescência de fanatismo, que acendeu as fogueiras, onde foi queimado o poeta cómico António José, porque já em 1734 encontramos Jacob em França, aplicando-se ao estudo das questões relativas à instrução dos surdos-mudos. Isto, contudo, é mera conjectura; o longo reinado do sr. D. João V não foi senão uma longa perseguição da raça hebraica, e nos anos que medeiam entre 1715 e 1734 os autos de fé repetiram-se com frequência. - A 22 de novembro de 1746, apresenta Jacob Rodrigues Pereira à Academia de Caen o seu primeiro discípulo; em 1749, tendo por padrinho o célebre Buffon, compareceu o nosso compatriota com o seu aluno perante a Aca­demia das Ciências de Paris, que, maravilhada, lhe outorgou os maiores elogios. Também Luiz XV de­sejou ver o prodígio em que todos falavam, e concedeu ao sábio português uma pensão de 800 libras a 22 de novembro de 1751; em 1765, foi Jacob Rodri­gues Pereira nomeado intérprete régio das línguas portuguesa e espanhola, e viveu, cercado de honras e de recompensas, até o dia 15 de setembro da 1780, em que faleceu sendo enterrado no cemitério da Villette. - Enquanto vivo, mereceu os elogios de J. J. Rousseau, Diderot, La Condamine, d'Alembert, e dos reis de França, da Polónia, da Dinamarca e da Sué­cia; depois de morto ainda a França venera a sua memória, e um notável escultor, Mr. Chatrousse, apresentou na exposição universal de Paris em 1867, o baixo-relevo de que a nossa gravura de pág. 428 a copia.» - M. Pinheiro Chagas, vol. XI do A. Pittoresco.
Pág. 412 - Porta da Alcáçova, em Elvas
É o actual arco do Miradeiro, e ficou-lhe este nome por ser a principal via de comunicação do bairro da Alcáçova com a vila de Entremuros. - Encontramo-la designada pelo nome de Alcáçova entre os anos de 1556-1627, assim como aparece com o título de rua da Porta da Alcáçova a actual de Martim Mendes, pelo mesmo tempo. - Esta porta conservou a sua feição árabe até ao ano de 1883 em que o senhorio do prédio contíguo, que tinha uma casa por cima dela, a deformou completamente, aniquilando este precioso monumento da antiguidade, pois que contava cerca de setecentos anos. - Um fotógrafo polaco que esteve em Elvas em 1882, deixou, entre uma série de vistas de vários sítios e monumentos de Elvas, uma representando o arco do Miradeiro, única memória autêntica da velha porta da Alcáçova, que podemos legar aos vindouros.
Pág. 413 - D. Pedro de Alencastre
O governador da Índia D. Pedro de Alencastre, (57° na ordem dos governadores) sucedeu ao governador Luiz de Mendonça Furtado e Albuquerque em o ano de 1662. Governou até 13 de dezembro do mesmo ano. (Veja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 416 - Pelourinho de Azurara
E não de Amares, como erradamente se lê na epígrafe da gravura. É entre a porta lateral do templo e a estrada, que se levanta, no largo em que se faz a feira anual de 5 de agosto, o pelourinho que aqui reproduzimos, e que é ainda um testemunho da importância de Azurara em tempos não remotos.
Pág. 417 - Morte de D. João V
Representa a nossa gravura, magnificamente lançada e pormenorizada, a cena tão brilhantemente descrita por M. Pinheiro Chagas em págs. 456 e se­guintes do presente volume da História.
Pág. 421 - D. José I
Reproduz-se dum belo retrato contemporâneo existente na Biblioteca Pública de Lisboa, o retra­to deste monarca, que tão brilhante se tornou com as reformas do seu grande ministro, o Marquês de Pombal.
Pág. 424 - Convento de Pombeiro de Riba de Vizela
O convento de Pombeiro, de monges beneditinos, é com certeza um dos mais antigos do reino e foi também um dos mais ricos e privilegiados. - Divergem as opiniões sobre a data da sua fundação, pretendendo uns que foi fundado no ano de 900, julgando outros que a primitiva construção é do ano 760 de Cristo, e havendo ainda terceiros que opinam por uma antiguidade mais remota, apresentando como razão haver ou ter havido um documen­to desse ano relativo a um prazo de Vale Melhorado, em que se declara que certas propriedades dele confrontam com terras do mosteiro de Pombeiro, o que prova a sua existência já nesse período. - O que parece, porém, certo, é que o mosteiro existia e era notável em 853, pois nesse ano o papa Leão IV, expediu um breve apostólico sobre uma demanda que os monges traziam com o rico homem, padroei­ro do convento. A primitiva fundação a que se re­ferem as datas apontadas não foi, todavia, onde hoje está, mas sim no lugar do Sobrado do vale de Vi­zela, junto ao monte de Santa Cruz, fazendo-se a mudança a requerimento dos religiosos, em 1041, para esta fralda do monte Columbino. Foi nesta data que Fernando I de Castela deu o padroado do mosteiro a seu sobrinho D. Gomes de Cela Nova, primeiro tronco da família dos Sousas, visto que em D. Mendo Viegas, oitavo senhor da casa dos Sousas, é que os genealogistas começam a arvore desta família, citan­do-se mesmo, como prova de desinteresse de D. Men­do, o ter recusado uma importante doação de bens que lhe fez sua sobrinha Adosinda, aceitando so­mente o padroado de Pombeiro. Desta família dos Sousas passou depois o padroado para a dos Mellos Sampaios, modernamente representada pelo barão de Pombeiro de Riba Vizela. - O mosteiro esteve, porém, em progressiva decadência quando no poder dos comendatários, visto eles tratarem de tirar os maiores lucros da comenda, sem curarem dos reparos da fábrica, ou da sorte dos monges. - D. António de Mello e Sampaio foi, desde 1528 a 1560, o último comendatário, e quando ele faleceu, pediu a rainha D. Catarina a comenda para a reformar, o que não fez, dando o padroado a D. António, prior do Grato, que, por poucos anos o gozou, em razão da sua vida acidentada e da sua fuga para França. Desde então, 1590, foi o convento governado pelos seus Abades, que aí apenas tinham o título de Prio­res, e estes, livres da rapacidade dos padroeiros, trataram de o aumentar e quase o reedificaram desde os alicerces. - O D. Abade do mosteiro tinha os mais latitudinários privilégios no religioso e no cível, exer­cia as funções de ouvidor do couto de Pombeiro e confirmava as suas justiças, eleitas pelo povo. Já no tempo de D. Diniz tinha o D. Abade as honras de esmoler-mor do rei, quando este passava para o nor­te do rio Douro. Compreende-se bem a alta cota­ção em honrarias dos Abades de Pombeiro, quando se souber que nos primeiros reinados da monarquia ascendeu a novecentos o número dos seus monges, e que todos os generais portugueses aqui vinham implorar, antes da guerra, o patrocínio da Virgem, e depois dela, depositar aos seus pés os troféus colhi­dos nas batalhas. Acrescente-se ainda que, em frente da porta principal do mosteiro se erigia sobre três altíssimas naves uma primorosa galeria, da qual nada resta hoje, dos escudos de armas de todas as famíli­as nobres de Portugal, e avaliar-se-á quanta influência traria ao mosteiro esta sua galilé heráldica, espécie de Torre de Tombo da antiga nobreza lusitana. Esta galilé fora mandada construir no ano de 1309, por ordem do Abade D. Rodrigo e sobre a sua porta principal estavam as armas dos Sousas, assim como havia dentro algumas sepulturas de membros dessa família. - Toda essa magnificência, porém, não impe­diu a relaxação dos monges de Pombeiro, se é que a riqueza e o bem-estar não foram para isso causa eficiente. Lê-se em um documento do arquivo, referido ao século XIII, que tal era o estado de dissolu­ção de costumes, que sendo nomeado para D. Abade um frade bernardo, os monges o não quiseram re­conhecer por ser, além de pródigo, dissoluto. Ele, porém, que conhecia bem os inimigos, não esteve com meias medidas; mandou enforcar um que julgou cabeça de motim e perante este processo sumário todos os outros calaram os seus escrúpulos de pudica obediência ao novo superior. - O que resta hoje do mosteiro de Pombeiro de Riba Vizela é, por assim dizer, o seu majestoso templo mais ou menos refor­mado e que serve de matriz à freguesia de Pombei­ro. A nossa gravura representa a fachada principal, onde se vê um formoso espelho que dá luz ao inte­rior e mede uns 20 metros de circunferência, tendo como remate, um leão sustentando dois medalhões em que se notam as efigies, em meio relevo, de Fernando Magno e sua esposa, ao que se diz ali mandados colocar por D. Egas Gomes de Sousa, seu ne­to materno. Junto do pórtico, floreado e em ogiva, notam-se dois túmulos, um de cada lado, talvez dos ascendentes da família dos padroeiros do convento. As belas colunas e arcarias desse portal gótico, escusado era dizê-lo, estão desfigurados pela cal... da juntas de paróquia. - No interior, o templo é vastos e sumptuoso, destacando como objectos dignos de ver-se o coro de magnífica talha, duas cadeiras da capela-mor e uns magníficos frontais polícromos, género flamengo, que revestem uns altares no corpo da igreja. - Os claustros, arruinados e cheios de entulho, desmantelados aqui, conservando além um ou outro arco elegante, eram forrados de belos azulejos, representando uma preciosa colecção de quadros bíblicos, hoje vandalicamente destruídos na sua quase totalidade, mas denotando por um ou outro que ainda se pode aproveitar a beleza que deve­ria oferecer o seu conjuncto...» José Augusto Vieira, Minho Piitoresco, 2° vol.
Pág. 425 - D. Mariana Vitória de Bourbon, mulher de D. José I
É copiado da curiosa Iconographia Regum existente na Biblioteca Nacional de Lisboa o retrato aqui apresentado de D. Mariana Vitória de Bourbon.
Pág. 428 - Jacob Rodrigues Pereira, ensinando um surdo-mudo
É cópia do baixo-relevo a que nos referimos na notícia que em pág. 625 damos do notável Jacob Ro­drigues Pereira.
Pág. 429 - António de Mello de Castro
Vice-rei da Índia (58º na ordem dos governado­res) sucedeu ao governador D. Pedro de Alencastre em 13 de dezembro de 1662. Governou até 17 de outubro de 1666. (Veja-se a notícia acerca de D. Fran­cisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 432 - Cruz paroquia1 de Ancede
É de prata, de grande valor e denotando grande antiguidade a cruz que a nossa gravura representa e que pertence à igreja de Ancede, em Baião.
Pág. 433 - Incêndio do Hospital de todos os Santos
O desenhador quis representar nesta estampa o desolador espectáculo que P. Chagas magistralmente descrede a pág. 463 deste 6° volume da História de Portugal.
Pág. 437 - Marquês de Pombal
É copiado dum soberbo quadro que existe no palácio de Oeiras o retrato do grande ministro, a cuja energia e talento o nosso país tanto deve em re­formas e melhoramentos morais e materiais de toda a ordem.
Pág. 440 - Igreja de vila Frade
A igreja de vila Frade é um belo templo de construção antiquíssima, que deve remontar ao tempo dos godos, pois que a sua arquitectura conserva ainda muitos vestígios daquela época, não devendo passar desapercebida a porta entaipada, que se vê à esquerda da porta principal. - A sua torre com ameias dá testemunho das épocas em que os templos cristãos eram ao mesmo tempo baluartes de defesa contra as repetidas avançadas dos sarracenos. - Este templo escondido e esquecido no in­terior de uma aldeia, é mais um monumento importante da arquitectura gótica, apesar da ruína em que principia, e de ter sofrido alguma reconstrução pos­terior, como se vê na fachada principal.
Pág. 441 - João Nunes da Cunha
O vice-rei da Índia (59° na ordem dos governadores) João Nunes da Cunha, conde de S. Vicente, sucedeu ao vice-rei António de Mello de Castro em 16 de outubro de 1666. Governou até 7 de novembro de 1668, e faleceu em Goa, onde está sepultado na capela de S. Francisco Xavier, casa professa do Bom Jesus. (Veja-se a notícia acerca de D. Francisco Coutinho, pág. 609).
Pág. 444 - Torre de menagem em Castelo de Vide
Há muito quem sustente que Castelo de Vide já existia ao tempo da dominação romana. Os que lhe dão tão remota origem querem que o seu Castelo seja muito anterior ao reinado de D. Diniz, e dizem que este monarca só lhe edificou a torre de menagem, e fez alguns reparos. Outros, porém, pretendem que foi D. Diniz o fundador do Castelo. Foi senhor desta vila o infante D. Afonso, irmão de D. Diniz; e nas discórdias que os dois tiveram entre si, foi por vezes Castelo de Vide teatro desta luta, querendo D. Afonso a todo o custo cercá-la de muros, e impedindo-lho com tropas D. Diniz. Mais tarde veio a construir-se a sua cerca de muralhas com quatro portas. Pedro Anes deu-lhe foral em 1180, D. Diniz em 1310, e D. Manuel em 1512.
Pág. 445 - Frei João de Nossa Senhora
Existe na Biblioteca Pública um retrato a óleo do curioso personagem que a nossa gravura representa e do qual ela foi copiada. Sobre a vida de tão interessante quanto popular religioso, que já em nos­sos dias deu assunto para uma alegre peça teatral, de Schwalbach, O poeta de Xabregas, encontra o leitor notícias curiosas e pormenorizadas no Summario de Varia História.
Pág. 448 - Pelourinho de Óbidos
É um dos lindos espécimes deste género de monumentos que existe em Portugal o que a nossa gravura representa, e, como se vê, se acha ainda num razoável estado de conservação.
Pág. 449 - O Marquês de Pombal
A epígrafe que acompanha no texto esta gravu­ra dispensa-nos de mais pormenores acerca do quadro, que tão célebre se tornou, e de que tantas cópias se espalharam durante o tempo em que o grande Marquês tão sabiamente dirigiu os destinos do reino.
Pág. 453 - Manuel Corte Real Sampaio, governador da Índia
Sucedeu, com António de Mello e Castro e Luiz de Miranda Henriques no governo do estado da Índia, pelo óbito do vice-rei João Nunes da Cunha, conde de S. Vicente, em 27 de novembro de 1668. Quanto à autenticidade deste retrato veja-se o que dissemos a pág. 609, quando tratámos de D. Francisco Coutinho.
Pág. 456 - Palácio na rua Formosa, onde nasceu o Marquês de Pombal
Este palácio, que Sebastião José de Carvalho e Mello herdou de seus pais, é situado na rua Formosa ao Bairro Alto. Ainda existe em bom estado, devido às continuas reparações. Tem anexa uma boa quin­ta e foi durante muitos anos residência ordinária dos Marqueses de Pombal. - O grande ministro de D. José I nasceu neste palácio em 13 de maio de 1699. Foi batizado na igreja das Mercês, matriz da freguesia, de que seu pai e avós, e depois ele, foram padroeiros, a 6 de julho do mesmo ano.
Pág. 457 - José Seabra da Silva
É copiado dum excelente retrato a óleo exis­tente em casa de um dos herdeiros do retratado, a gravura que aqui damos do notável ministro português, contemporâneo do Marquês de Pombal, acerca de cujo misterioso exílio tanto se tem dito, sem ain­da se haver acertado com a verdade.
Pág. 460 - Capela das Mercês
Teve princípio esta igreja na capela de um recolhimento de mulheres, fundado por Paulo de Car­valho, desembargador do Paço, tio do pai do pri­meiro Marquês de Pombal. Principiou a obra em 26 de outubro de 1652. Foi por esta circunstância que os Carvalhos desta família ficaram sendo padroeiros do recolhimento e depois da igreja, cujo padroado herdou o primeiro Marquês de Pombal. Esta paróquia foi mudada para a igreja de Jesus em 1835. Não tem beleza arquitectonica; mas mandámo-la repro­duzir para aqui, porque foi nela que foi batizado o grande Marquês, e porque é nela que estão os seus restos mortais.
Pág. 461 - António de Mello de Castro, governador da Índia
Este, acompanhado de Luís de Miranda Rodri­gues e Manuel Corte Real de Sampaio, sucedeu no governo do Estado da Índia, pelo óbito do vice-rei João Nunes da Cunha, conde de S. Vicente, em 27 de novembro de 1668. Governou até 20 de maio de 1681. Para a autenticidade do retrato veja-se o que dissemos a pág. 609, quando tratámos de D. Francisco Coutinho.
Pág. 464 - Igreja da Misericórdia em Viseu
É magnificamente situada, muito bem tratada e esplêndida esta igreja, que tem sido restaurada e ampliada em diferentes datas. As duas torres e o frontispício da igreja datam do século XVIII, em substituição doutras torres e doutra fachada muito mais antiga.
Pág. 465 - Terramoto de 1755 (Cena de malfeitores)
Foi este um dos muitos episódios que acompanharam o já de si terrível cataclismo de 1755, e a que se refere P. Chagas em pág. 484 do presente vol. da História.
Pág. 469 - D. Maria, filha de D. João IV
Copiou-se do celebrado livro Retratos e elogios de varões e donas, etc., o retrato desta virtuosa princesa portuguesa.
Pág. 472 - Pelourinho de Cintra
É uma das mais lindas obras do género na época da Renascença em Portugal, e que não há ninguém em Lisboa que não tenha admirado; está situada no meio de um pequeno largo em frente da porta da en­trada para o palácio real de Sintra.
Pág. 473 - Padre Raael Bluteau
Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa o quadro donde foi copiado o retrato que aqui damos deste distintíssimo filólogo que tanto ilustrou as letras portuguesas.
Pág. 476 - Igreja matriz de vila do Conde
É um templo majestoso de três naves em forma de cruz latina, tendo no interior uma vasta capela-mor e duas laterais, além de grande número de al­tares, com boas decorações de talha recentemente restauradas. Assentam as naves sobre duas ordens de arcaria de granito a que no exterior correspondem a duas séries de ameias, que adornam as paredes em toda a sua extensão. - De notável há ainda para ver na matriz o coro, que fica sobre o guarda-vento, observando-se aí as largas cadeiras de espal­dar em que as médias dignidades dos cónegos da colegiada, erecta em 1518 pelo arcebispo D. Diogo de Sousa vinham, no pitoresco dizer de José Augusto Vieira, resmonear o latim das horas litúrgicas. Escusamos dizer que foi mais esta uma das magníficas igrejas mandadas construir por D. Manuel.
Pág. 477 - D. António Caetano de Sousa
É copiado duma soberba gravura da época o retrato que aqui damos do famigerado investigador, e erudito autor da História genealógica da Casa Real Portuguesa.
Pág. 480 - Forca de vila Meã
«Uma outra curiosidade fúnebre resta desse tempo; são as duas colunas em que se erguia a forca da vila Meã. Quem do Porto segue na via-férrea do Douro, encontra ainda à esquerda da linha, e ao aproximar do viaduto de vila Meã, a um quilómetro, quando muito, da estação, esse monumento ignominioso do passado, no alto de uma colina onde apenas rasteja a urze.» José Augusto Vieira, O Mi­nho Pittoresco.
Pág. 481 - Lysia apresenta às quatro partes do mundo o retrato do grande Marquês de Pombal
Data de 1838 a publicação donde mandámos copiar esta estampa, bem como mais cinco que adiante se publicam, todas alusivas ao Marquês de Pom­bal, e em sua honra. Intitula-se a publicação: Fa­ctos Memoráveis relativos à administração do grande Marquês de Pombal, representados em estampa, que à ilustre, denodada, e briosa nação portuguesa d. c. e o. o editor, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1838. O de­senho destas estampas é de Sendim, que tão larga reputação adquiriu no seu tempo, e as litografias foram feitas na oficina de Manuel Luiz, Rua Nova dos Mártires, n° 12 (hoje Rua Serpa Pinto). - A legenda que acompanha a estampa aqui reproduzida é a seguinte: «Lysia apresenta às Quatro Partes do Mundo o Retrato do Grande Marquês de Pombal, que sustentam a Amizade e a Memória, grata aos be­nefícios que dele recebeu a Nação Portuguesa. A hum lado se vê a justiça mandando à História, que escreva os Actos Públicos de tão Grande Ministro, e a Inveja, precipitando-se furiosa por não poder macular o seu insigne merecimento; do lado oposto se representa a Fama, que voando, publica, ao universo os Memoráveis Factos, que assinalarão a sua sabia e ilustrada Administração, e que tanto influirão na prosperidade e grandeza de Portugal.»
Pág. 485 - António Gouveia
Copiou-se duma pequena gravura do século XVIII, única que se conhece, e que existe na Biblioteca Pública de Lisboa, o retrato deste famigerado professor que tanto levantou o nome português no estrangeiro, que foi professor do grande Montaigne, e do qual, na época respectiva, M. Pinheiro Chagas faz rasgado e merecido elogio.
Pág. 488 - Igreja matriz de Vila de Conde - Vista lateral
É com prazer que damos aqui um novo aspecto desta formosa construção manuelina, à qual, páginas atrás, já tivemos ocasião de nos referir.
Pág. 489 - Luiz de Miranda Henriques, governador da Índia
Governou a Índia conjuntamente com António de Mello e Castro e Manuel Corte Real de Sampaio, sucedendo nesse governo por morte do vice-rei João Nunes da Cunha, em 27 de novembro de 1668. Go­vernou atá 20 de maio de 1671. Para a autenticidade do seu retraio, veja se o que ficou dito de D. Francisco Cominho (pág. 609).
Pág. 492 - Cruz processional da Sê do Funchal
Foi esta uma das maravilhas da Exposição de Ar­te Ornamental em Lisboa em 1882. É de prata dourada, cercada toda de um filigranado ou rendilhado, do mais elegante trabalho. Os braços da cruz, termi­nados cada um por um retábulo fechado por três semicírculos no superior e por quatro nos outros três, apresentam em relevo Jesus Cristo no horto, o beijo de Judas, a flagelação e o Ecce Homo. No alto, fechando inferiormente o retábulo superior, está a fita da inscrição. A figura de Cristo, em alto re­levo, está encostada a um ornato elegante de folhas de carvalho, que termina lateral e inferiormente jun­to às mãos e aos pés, e superiormente vai até à inscrição, formando aí como que dois voluteados. - Na face posterior, que não se vê na gravura, está a imagem de Cristo em pé, sustentando na mão um globo sobrepujado pela cruz. Quatro retábulos, nos extremos da cruz, em correspondência aos da face anterior, existem na posterior, representando os qua­tro evangelistas. No remate inferior, antes do nó, acham-se as armas reais de Portugal, lavradas e sus­tentadas por dois anjos. Todo o moldurado da haste é orlado interiormente por um cordão, que também cerca superior e inferiormente as armas, e ela as­senta sobre uma base hexagonal, também ornada na aresta exterior de um cordão. - Inferior a tudo há o pé da cruz que serve para encaixar em haste de ma­deira. Entre este e a base ergue-se o belíssimo nó. Do pé surgem umas ramadas de carvalho, que parecem sustentar o nó. Este levanta-se em for­ma de templo gótico em três andares profusamente ornamentado, cercado de coruchéus, arcobotantes ou botareos, todos armados de estatuetas cobertas por baldaquinos do mais esquisito e gracioso lavor. - Ao centro de cada lace e de ca­da andar do nó há uma espécie de porta ou janela, toda floreada, e cada uma diminuindo de altura, da inferior para a superior. Tudo este corpo ou nó é rematado superiormente, de ambas as faces, posterior e anterior, pelas armas reais de Portugal, sustentadas por dois anjos, como as outras de que já fa­lámos, nas duas faces que ladeiam as armas, ressaltam em alto relevo as esferas armilares, conhecendo-se que faltam as da face posterior. - Este portentoso artefacto acha-se um tanto danificado, por mutilações provenientes do tempo. - A cruz é evidentemente do princípio do século XVI e deve ter sido dada por D. Manuel, como bem demonstram as armas e esferas, quando em 1514 fez criar o bispado do Funchal. - O esculturado das figuras e uma certa suavidade nas formas da cruz, fazem-nos crer, que se o artefacto não veio de fora e foi lavra­do no país, devem ter trabalhado nele artistas es­trangeiros da vasta plêiada deles que se achava esta­belecida aqui, atraídos das suas riquezas, e que até tinham muitas questões com os nacionais.
Pág. 493 - D. Isabel, infanta de Portugal
Foi copiado de um retrato arquivado nos chamados Livros Brancos, existentes na Biblioteca de Lisboa o retrato que aqui damos desta filha de D. João IV.
Pág. 496 - Frontaria do Hospital do Desterro
Foi fundado o antigo convento em que actual­mente está instalado este conhecido hospital de Lis­boa, pelos monges de S. Bernardo, sendo lançada a primeira pedra em 8 de abril de 1591. Foi a igreja dedicada a Nossa Senhora do Desterro. Tanto a igreja como o mosteiro eram vastos e sumptuosos, correspondendo à riqueza da ordem. Aquela era notável pela sua formosa cantaria e pela riqueza e variedade dos mármores que a adornavam interiormente. Sen­do reduzida a cinzas, por um pavoroso incêndio, quase totalmente, o hospital de Todos os Santos, em 1750, foram levados os enfermos para o convento do Desterro, donde depois foram para o convento de Santo Antão-o-Novo, transformado em hospital real de S. José, depois da extinção dos jesuítas. - Enquanto este mosteiro servia de hospital, estavam os frades dele no palácio dos arcebispos de Lisboa, contíguo à Sé. - O terramoto de 1755 arruinou bastante o mosteiro e derrubou toda a abóbada da igreja, deixando apenas de pé as paredes e quase to­da a frontaria, pelo que ainda se pode avaliar a grandeza e arquitectura deste majestoso templo, con­struído segundo o estilo denominado da renascença. - O mosteiro foi reparado, e os monges cistercienses o foram de novo habitar. - Não sabemos por que razão os frades saíram daqui anos antes da extinção das ordens religiosas. - D. Manuel I havia fundado no Castelo de S. Jorge um Colégio para órfãos de ambos os sexos, denominado Real Casa Pia. Como fosse crescendo o número dos alunos e o edifício não estivesse nas condições de dar abrigo a maior número de órfãos, D. João VI removeu a Casa Pia para o convento do Desterro, onde esteve até 1834, sendo então transferido este estabelecimen­to de caridade para o mosteiro dos Jerónimos de Belém, onde agora está. - Enquanto a Casa Pia es­teve no Desterro, tinha oito Colégios de meninos e dois de meninas. - Saindo daqui os órfãos, foi o edifício destinado para quartel militar, estando aqui diversos corpos de guarnição de Lisboa; mas o que permaneceu menos tempo foi o regimento de infanteria 7. - Em 1857 se estabeleceu aqui o hospital para os atacados de febre amarela. - Terminada esta epidemia, estabeleceu aqui o hospital de S. José, um outro hospital, dependência sua, destinada ao tratamento de moléstias secretas, e é o que aqui está actualmente.
Pág. 497 - Malagrida pregando logo em seguida ao terramoto de 1755
Representa a nossa estampa uma das cenas em que o infeliz jesuíta, cada vez mais perdido de cabe­ça, andava pela cidade pregando contra a devassidão dos costumes à qual atribuía o enorme cataclismo que em 1755 assolou Lisboa.
 
Pág. 501 - Henrique de Sousa, 1º conde de Miranda
É copiado este retrato dum dos membros da casa de Sousa, do Teatro Histórico e Genealógico., em que há uma colecção de trinta e um retratos em trinta estampas gravadas em Paris (1694?) por P. Giffart, andando uns por outros de 18 a 21 centímetros, sen­do todos de corpo inteiro. Os primeiros 25 desses retratos parece serem todos de pura imaginação, os seis restantes, à frente dos quais figura o de Henrique de Sousa, é que apresentam visos de autenticidade, conforme nos diz Inocêncio da Silva.
Pág. 504 - Porta da igreja do Mosteiro de Chelas
O mosteiro de Chelas, de cónegos regrantes de Santo Agostinho, e da invocação de S. Félix e Santo Adrião, data de mui remota antiguidade. Como acon­tece a todos os nossos monumentos antigos, o mos­teiro de Chelas apresenta diversos estilos de arquitectura, sem ligação, ou qualquer espécie de transi­ção, que fizesse menos sensível e desagradável aquela mistura. - A porta da igreja não precisa de letreiro que indique o tempo em que foi fabricada, pois que pertence a uma época, que criou entre si um estilo de arquitectura propriamente seu. Na sua forma e ornamentação, esbeltas e engraçadas, mas capricho­sas em que o artista exibiu uma espécie dessa aliança fantasiosa dos estilos árabe, gótico e clássico, ou de renascimento das artes, tão diferentes entre si, estão bem distintas as feições característi­cas do estilo gótico florido, ou manuelino, que constituiu a arquitectura portuguesa desde os fins do século XV até ao meio do século XVI. O arquitecto imitou o gosto árabe na volta inferior do arco. Nas decorações superiores seguiu o estilo gótico. As quatro colunas e os florões que medeiam entre estas e a volta dos dois arcos, foi buscá-los à arquitectura clássica, que então começava a renascer, e que em breve suplantou a arte gótica.
Pág. 505 - Luiz de Mendonça Furtado, governador da Índia
Este governador sucedeu aos governadores Ma­nuel Mascarenhas Homem, Francisco de Mello de Castro, e António de Sousa Coutinho em 15 de junho de 1661. Governou até ao ano de 1662, voltou por outra vez ao estado da Índia por vice-rei com o seu título de conde de Lavradio, sucedeu aos governadores António de Mello de Castro, Luiz de Mi­randa Henriques e Manuel Corte Real de Sampaio em 21 de maio de 1671, governando até 30 de outu­bro de 1677. Para a autenticidade do retrato, veja-se o que dissemos quando tratámos de D. Fran­cisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 508 - Janela do quarto onde faleceu o Marquês de Pombal
O que atrás dissemos, quando tratámos do Castelo de Pombal (pág. 620) dispensa-nos de mais explicações acerca desta gravura.
Pág. 509 - Diogo Lopes de Sousa, 2° conde de Miranda
Veja-se o que dissemos quando tratámos de Henrique de Sousa, 1° conde de Miranda. Este retrato é também da mesma origem, e parece ser tam­bém autêntico.
Pág. 512 - Memória do voto de D. Afonso Henriques, na serra de Albardos
Ver original:
Recorremos a um excelente artigo do sr. P. de C. e Sequeira no Archivo Pittoresco, para a descrição deste monumento mandado levantar, segundo a tradição, em cumprimento de um voto feito por D. Afonso Henriques em 1147. «Levanta-se este respeitá­vel padrão da conquista da monarquia portuguesa, memorando um dos mais gloriosos feitos do conquis­tador entre humildes matos, e na extremidade de um pequeno ribeiro, próximo a outros mais elevados, que em diferentes ramificações se prendem com essa máxima cordilheira, que, principiando na serra de Sin­tra, se encadeia com a de Montejunto, e vai termi­nar no da vizinha Espanha. É esta triunfal me­mória de pequena extensão e altura, mas grande pelo feito que representa. Não excede a cinco metros, com pouco mais de extensão, e um de topo, sendo toda de pedra lavrada. Em torno é orlada de uma pequena e simples cimalha, sobre a qual, entre duas grossas pirâmides, se ergue a estátua do grande Afonso, seu edificador. É de altura regular, e, apesar do curso de sete séculos, tem sido respeitada até pela destruidora acção do tempo. Embora esculpida com pouco esmero artístico está em atitude bélica e elegante; veste capa e, manto, capacete hexagonal com plumas; no braço esquerdo o escudo com as quinas e Castelo, e com a dextra empunha a espada. O arco, de volta perfeita, terá quatro metros de altura, e igual largura, sendo pelas arestas até aos capitéis guarnecido a meias canas. Tem no colo da ci­malha apenas a seguinte inscrição: O santo rei Dom Afonso Henriques fundador de Alcobaça. - Está este glorioso padrão perto da aldeia dos Vidais, e da bela quinta do Val-Verde, na extrema do concelho das Caldas da Rainha, donde distará uns doze quilómetros, pertencendo outrora ao grande concelho de Óbidos.» - Não transportámos para aqui a lenda da erecção do monumento pelos motivos que Silva Tullio aduz numa pequena nota com que fecha o artigo donde extraímos o que acima se lê. Fala Silva Tul­lio: «Cumpre advertir aos menos lidos nas modernas investigações históricas, que tudo quanto o nosso colaborador acaba de referir sobre o voto de Afonso Henriques, é tradição piedosa, porque tal voto foi invenção dos frades bernardos, como provou em 1793 fr. Joaquim de Santo Agostinho na Memória sobre os códices de Alcobaça; J. Pedro Ribeiro no t. I. pág. 54 das suas Dissertações Chronologicas e Criticas; o sr. A. Feliciano de Castilho nos Quadros Históricos, nota ao da tomada de Santarém. - Quem quiser certificar-se da falsidade do documento em que os cistercienses fundavam a tradição do voto da serra de Albardos, leia, além das obras citadas, o Exame Critico sobre a memória de Fr. Joaquim de Santo Agostinho acerca dos Manuscriptos de Alcobaça; e Resposta a este opúsculo pelo autor da Memoria às Breves Reflexões à Hist. Chron. da Abbadia de Alcobaça, por J. Pedro Ribeiro; e as respos­tas do autor da citada Hist., ir. Fortunato de S. Boaventura, a João Pedro Ribeiro.»
Pág. 513 - Atentado contra D. José I
Veja-se págs. 518 e seguintes deste volume a descrição minuciosa do atentado que a nossa gravura representa.
Pág. 517 - D. Mariana de Sousa, Marquesa de Arronches
É mais um dos retratos considerados autênticos que se encontram na colecção dos retratos pertencentes à casa de Sousa, no Teatro Histórico e genealógico. Veja-se o que dissemos quando tratámos do retrato de Henrique de Sousa (pág. 628).
Pág. 520 - Igreja de Paços de Sousa
O mosteiro de Paços de Sousa, de monges beneditinos, foi fundado no ano de 960, por D. Tructesindo Guedes, neto de D. Arnaldo de Bayão, tron­co, segundo os genealogistas, dos Azevedos e outras muitas famílias. - O nome do Paço de Sousa, vem-lhe do solar daquele fidalgo que existia junto ao mosteiro. - Pelo ano de 1050 nasceu neste paço o célebre Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, cujo túmulo, ou, antes, os seus restos, são o monu­mento histórico mais curioso daquele venerando edifício. A igreja do mosteiro foi sagrada em 1088 pelo arcebispo de Braga, D. Pedro, antecessor de S. Giraldo. - Como se vê, o edifício é bizantino, mas o portal acha-se mascarado por um alpendre cercado de colunas. O portal é venerável e de estilo puro, e em face da igreja fica o belíssimo cruzeiro formado por três degraus circulares que sustentam um grosso pilar, sobre o qual assenta uma soberba, mas elegan­te, cruz bizantina. - Em 1386 fez D. João I doação de Baltar, Paço de Sousa e Penafiel ao seu partidário João Rodrigues Pereira, ou porque tivesse cessado a linha dos antigos senhores, ou porque tivesse seguido o partido de D. Beatriz, filha de D. Fernando I. - De então para cá os Abades e monges trataram só de estragar as obras feitas na igreja, e a trasladação sucessiva dos túmulos de uns lugares para outros, causaram não poucos prejuízos a tão respeitável templo, declarado hoje monumento nacional.
Pág. 521 - António Ribeiro dos Santos
Um dos mais respeitáveis, eruditos e fecundos escritores que Portugal produziu no século XVIII. Nas­ceu Ribeiro dos Santos em Massarelos, subúrbios do Porto, em 30 de março de 1745, e aos 11 anos passou à cidade do Rio de Janeiro, onde deu começo aos seus estudos no seminário de Nossa Senhora da Lapa, fazendo aí um curso de filologia e de huma­nidades sob o magistério de alguns jesuítas doutos, que então floresciam naquela época. Aos 19 anos, isto é, no ano de 1769, regressou a Portugal e veio matricular-se como aluno da Universidade de Coimbra. Concluiu com aprovação e louvor o curso de direito canónico. Exerceu vários lugares de muita importância e confiança, sendo ele o primeiro Bibliotecário-mor da Biblioteca Pública de Lisboa, por decreto de 4 de março de 1774. São inúmeras as suas obras; e quem desejar pormenores sobre a vida deste homem ilustre a quem as letras tanto devem, encontra-as no opulentíssimo Diccionario Bibliographico de Inocêncio da Silva, vol. I. António Ribeiro dos Santos faleceu em Lisboa em 10 de janeiro de 1816. - Existe na Biblioteca Pública de Lis­boa, que tanto lhe deve, o seu retrato de meio corpo, donde foi copiado o que ora damos na nossa História.
Pág. 524 - Porta principal da igreja de Paços de Sousa
Acerca deste edifício veja se o que ficou dito linhas acima quando tratámos da igreja propriamente dita.
Pág. 525 - Henrique da Sousa Tavares, 1° Marquês de Arronches
Faz parte o retrato donde copiámos este da colecção de retratos pertencentes a casa de Sousa, no Teatro histórico e genealógico. É considerado como um dos retratos autênticos. Veja-se em pág. 628 o que dissemos do de Henrique de Sousa.
Pág. 528 - Padrão de D. João I, em Tomar
Não longe da histórica vila, hoje cidade de Tomar, em sítio aprazível, junto à margem direita do Nabão, e próximo da estrada que conduz à Barquinha, existe o singelo padrão que a nossa estampa re­presenta. Assim se exprime acerca deste monumen­to o anónimo autor de um artigo que acompanha uma gravura idêntica no Occidente: «A tradição diz que foi levantado para comemorar a passagem das hostes de D, João I e do Condestável, quando se­guiam para Aljubarrota, a fim de apresentarem bata­lha a el-rei de Castela. Que motivos haveria para especializar esse ponto, antes do que outro nessa comemoração? Será verdadeira a tradição? Vejamos. - Depois de aclamado solenemente em Coimbra D. João I, saiu dali o condestável dirigindo-se ao Porto, que estava pelo novo rei, e partindo dali, apoderou-se do Castelo de Neiva, de Viana, Vila Nova de Cerveira, Caminha, Monção, que estavam por Castela, duns por força, e doutros por convénio. D. João I partiu depois para o Porto, donde se­guiu a Guimarães que cercou e tomou, e chamando o condestável, foi tomada Braga, Ponte de Lima e outras terras. Então, sabendo que o rei de Castela se dispunha a entrar de novo em Portugal pelo Alentejo, e que já uma esquadra entrara o Tejo, desce­ram os dois campeões ao sul, e vindo a Torres No­vas e Santarém se dirigiram a Alenquer, que era defendida por Vasco Pires de Camões. Nesse ponto combinaram que ficasse aí el-rei recebendo e organizando as gentes que haviam de vir de Lisboa e o condestável partisse para o Alentejo, onde tinha prestígio enorme, a trazer mais gente. Em três dias chegou Nun'Álvares a Évora e começou a dar ordem ao alistamento. - Em Alenquer, D. João I ordenava as suas gentes, e, passando algum tempo partiu para Abrantes. Como o condestável não aparecia, num conselho houve alguém que o mexericasse a el-rei. Este, como o conhecia, mandou-o chamar por Martim Afonso de Mello, que para isso se oferecera, e que, partindo um domingo de tarde, de tal modo an­dou que em vinte e quatro horas se achou em Extremoz com Nuno Álvares, a quem referiu o que era passado. O condestável imediatamente mandou dar às trombetas, e ao terceiro dia à tarde acampou a duas léguas de Abrantes, donde depois de comer, se par­tiu com sessenta lanças a ver el-rei. Este saiu a esperá-lo, e folgou muito com a sua vista como era ra­zão. - No entanto vieram novas de haver el-rei de Castela chegado a Elvas com poderoso exército, e que caminhava por Alentejo. D. João I reúne o seu conselho para resolver o que havia de fazer-se. A opinião geral era que não se aventurasse batalha campal, mas se fizesse guerra guerreada. Escusado é di­zer que o condestável, com palavras enérgicas e sensatas, sustentou a opinião contrária. Saindo, porém, do conselho pouco satisfeito, ao outro dia pela manhã cedo, ouvidas primeiro missas, mandou o Conde dar às trombetas e com coraçom bem merencório, cheio porem de virtuosa ardideza, sem mais falar a el-Rey, nem a outro nenhum, se partiu com suas gentes caminho de Tornar, segundo diz Fernão Lopes no seu estilo sedutor, e cuja narrativa resumimos. - Nesse dia houve novo conselho, e não faltou quem taxasse de desconsideração e irreverência para com el-rei a partida do condestável. El-rei disse muitas razões aos do seu conselho para os mover a seguir a opinião do condestável, que era a sua, de guisa que como o temperado formento leveda a massa que apro­veita assi as boas rasões del Rey levedaram todos, vendo seu afincado desejo a ou orgarem que fosse a batalha. - Apesar disso sempre se deu o voto que se ouvisse de novo o conselho do condestável, e D. João assim o mandou chamar, ao que ele respondeu: Dizei a el rei, meu senhor que eu nom sou homem de muitos conselhos, e pois ja huma vez por ele foi determinado, como ele bem sabe, de nom leixar passar el-rei de Castela, todavia lhe poer batalha, que eu desta tençom nom me entendo de mudar, nem tornarei um pe atraz, mas direi que lhe peço, por mercê que me leixe ir meu caminho, cá eu com estes poucos e bons homens portugueses que comigo vão, lha enten­do de ir poer; se sua mercê for de ir la mandemo dizer, e aguardarei em Tomar. - El-rei em ouvindo este recado, longe de se estomagar com ele, mandou dizer ao condestável que se quisesse tornar que tor­nasse, senão que esperasse por ele em Tomar. Efetivamente com grande folgar se reuniram ali, donde partiram em direcção de Aljubarrota, de que se se­guiu o que é conhecido de todos. Pode, pois, ser que o padrão queira comemorar este facto, mas não nos parece provável que fosse levantado por D. João I. Pelo desenho se vê que o escudo das armas portuguesas é o que foi assente e prescrito em tempo de D. João II em 1483, se nos não enganamos, pois até aí, como se sabe, o número de Castelos variava, e não estavam dispostos na forma porque hoje nelas estão, e os cinco escudetes também não eram colocados todos como hoje. - Além disso, não se vê sobre ele a cruz de Aviz, parte integrante das armas reais desde D. João I até àquele tempo, nem tão pouco a coroa real. Estamos inclinados a crer que o padrão deve ter sido levantado pelos freires de To­mar para algum fim, ou então, se pretende comemorar aquele acontecimento, foi colocado ali mui­to tempo depois. - Indicaram-nos a gaveta XI da Torre do Tombo como contendo documento relati­vo ao assunto; em nenhum dos documentos dela encontramos referência a ele, assim como também a não achámos em algum da 3a, 10ª, 12ª, 15a e 20ª gavetas, que se referem a Tomar que também vimos.
Pág. 529 - Reforma da Universidade de Coimbra
É a segunda estampa da colecção a que já atrás nos referimos, intitulada Factos memoráveis relativos à administração do grande Marquês de Pombal, etc. A legenda desta estampa, que é de Sendim, como as restantes, diz o seguinte textualmente: «Repre­senta a Grande Sala da Universidade de Coimbra, onde se acha reunido o Corpo Académico, e os Con­des da Ponte e Sampaio. O Grande Estadista sobressai no quadro. Está sentado debaixo do dossel, e perto do taburno o Secretario que lê o Diploma Régio conferindo ao Marquês os mais amplos poderes em tudo que fosse relativo à reforma da Universidade.»
Pág. 533 - D. Leonor, Marquesa de Távora
O retrato que aqui damos desta Marquesa, que foi decapitada, é uma ampliação da miniatura que se encontra no poema do padre Teodoro de Almeida, Lisboa Destruída. Este poema foi publicado em 1803 e o retrato vê-se numa vinheta do canto III. É tra­dição que o oratoriano fez reproduzir este retrato de outro que existia no palácio de um neto da Marquesa. Diz mais a tradição que era um retrato fidelíssimo, em que o artista se esmerara a rogos do poeta.
Pág. 536 - Igreja de Santa Justa, no princípio do século XIX
Com o título Descripção dos Monumentos sacros de Lisboa, por Luiz Gonzaga Pereira, existe na Biblioteca Nacional de Lisboa um livro curiosíssimo da primeira metade do século XIV, em que vem reproduzido com toda a fidelidade todos os templos, igrejas e capelas de Lisboa, que são um documento precioso para o estudo desses monumentos, que daí até cá têm sofrido bastantes transformações, tendo sido muitos deles demolidos. É desse livro que foi copiada a estampa que o leitor tem presente, e em que se pode ver por que transformações tem passado o sítio onde aquela igreja se levanta. Adiante publicaremos mais desses edifícios, tirados de igual fonte.
Pág. 537 - Marquês de Ponte de Lima
De um retrato existente na Biblioteca Pública de Lisboa mandámos copiar o que aqui damos do ilustre titular que tanto figurou na política do nosso país.
Pág. 540 - Igreja Matriz de Alcochete
D. Manuel favoreceu singularmente a terra onde teve o berço. Além de diferentes obras de melhoramento da vila a que mandou proceder, reconstruiu a igreja matriz, a qual é dedicada a S. João Baptista e está situada em um vasto terreno que se estende em uma extremidade da vila. O portal, formado de esbeltas colunas com brincados capitéis e outros ornamentos, e o grande óculo ou espelho que lhe fi­ca por cima, todo de pedra vazada como se fora ren­da e lavradas em graciosas e variadas esculturas, lo­go denuncia a mão do soberano, a cujo aceno ressurgiu o templo. É este de três naves com oito altares, além do maior, guarnecido de excelente obra de ta­lha doirada. Em um dos altares do corpo da igreja venera-se uma imagem de Nossa Senhora que excede na estatura o vulto humano, e que, diz a tradição, fora achada nas praias da vila, donde a trouxe o po­vo em procissão para esta igreja.
Pág. 541 - Padre Francisco de Macedo
Foi copiado do seu retrato existente na Biblioteca Pública de Lisboa este que aqui damos do notá­vel religioso.
Pág. 544 - Pelourinho da Póvoa
Este pelourinho indica perfeitamente a época manuelina, que foi a da regeneração da Póvoa; é mui­to curioso e elegante como todos os daquele estilo; mas não é o primitivo nem ocupa o mesmo lugar, apesar de ter uma configuração idêntica. O primeiro, menos elegante, dificultando o transporte de carros no ponto em que estava foi, aí por 1854, mandado destruir, servindo depois a sua coluna de escora a uma trave de uma casa que foi do presidente da Câ­mara, António Joaquim Gomes de Vilar, já há mui­to falecido.
Pág. 545 - O Marquês de Pombal, examinando o plano da reedificação de Lisboa
É uma cópia dum excelente quadro de Lupi existente na Câmara Municipal de Lisboa a gravura que aqui damos representando o grande reformador num dos seus actos de maior valor e decisão.
Pág. 549 - Padre António da Concepción
Existe na Biblioteca Pública de Lisboa o retrato donde copiámos o que aqui se vê deste notável religioso.
Pág. 552 - Varanda da casa de Cordovil, em Évora
No desenho que aqui apresentamos vê-se o por­tal, parte do muro do pátio, e a varanda da casa de Cordovil, na frente que deita para o largo da Porta da Moura. O portal é singelo, o muro ornamentado pelas ameias usadas em Évora no século XVI; mas a pequena varanda chama a atenção de todos os entendidos pela gentileza original, pelo aspecto aéreo, delgado. - Será bom notar que as colunas e as molduras que na gravura estão escuras, estão lá em branco, nítidas e translúcidas, porque o mármore de Extremoz é de uma beleza singular para construções, porque os séculos, as chuvas, as geadas não lhe embotam uma aresta, nem lhe destroem a lisura. As folhagens dos capitéis coríntios do tempo roma­no, em mármore de Extremoz, estão como na hora em que os entregou o canteiro. Como se vê as finas colunas sustentam arcos, na sua aresta interna tem saliências regulares, espécie do gregas, abertas em granito, que, na opinião do erudito sr. Gabriel Pe­reira, a quem estamos seguindo neste artigo, representam ou tentam imitar os arcos granadinos, forma­dos de tijolos, cujos extremos, cortados de diversos modos combinados com arte, formavam linhas graciosas. Em Évora há exemplos disto; na arcada sul do palácio de D. Manuel, no palácio Cadaval, parede interna do pátio. Mas as janelas da casa antiga da Câmara, as empregadas nas chamadas ruínas fingi­das, as da parede oriental do pátio de S. Miguel, e muitas outras são em granito, imitando as chanfraduras dos arcos de tijolo. - As finas colunas, os ca­pitéis largos e variados, de ornamentação vegetal, os arcos em ferradura dão à varanda da casa Cordovil um tom mourisco e gracioso, com as suas ameias ornamentais, e o seu agudo coruchéu, que parece um elmo medieval... O arco em ferradura, e as ameias ornamentais, que se mostram na gravura, encon­tram-se também na ermida feita pelo cronista e desenhista Garcia de Rezende, na cerca do Espinheiro, a pouca distância de Évora.
Pág. 553 - D. Afonso Nogueira
À Biblioteca Pública, que tão bons elementos tem fornecido para o enriquecimento da nossa galeria de retratos, fomos buscar mais o deste prela­do, tão notável no seu tempo.
Pág. 556 - Aqueduto de Vila de Conde
Depois do grande aqueduto dos Arcos das Águas Livres em Lisboa, é o desta Vila de Conde o primeiro de Portugal. Tem de extensão mais de cinco quilómetros e contava 999 arcos, todos de sólido gra­nito, quase todos simétricos, prolongando-se em coluna cerrada e quase em linha recta desde o con­vento até à raiz da montanha que fecha o horizonte ao norte.
Pág. 557 - Padre António Pereira de Figueiredo
Tem uma história curiosa este retrato, que é copiado do único que existe, numa miniatura em mar­fim, representando apenas parte da cara até à boca, retrato que pertenceu ao falecido Bibliotecário da Ajuda, que nos foi oferecido espontaneamente pela viúva, por quem novamente nos foi pedi­do; uma coisa complicada, com que o público nada tem. A comprovar a autenticidade deste retrato há as seguintes palavras escritas pelo último dono do retrato num bocadinho de pa­pel azul que anda apenso ao retrato num pequenino estojo: «Meio rosto do retrato do padre António Pereira de Figueiredo que o professor régio Francisco José dos Santos Marrocos mandou tirar apenas o dito padre expirou. Por este único retrato assim mutilado foi tirada a cópia que ao sr. D. Pedro 5° ofereceu seu mestre de latim Francisco An­tónio Martins Bastos, cópia que desapareceu não sei como. - Veja-se o jornal Instrucção Pública de 1858, pág. 142 e como prova de toda a autenticidade a inscrição latina escrita e emendada pelo próprio Marrocos, e o sobrescrito do papel em que estava embrulhada esta miniatura com os quais documentos ela foi oferecida a meu pai pelo seu grande amigo Joaquim Marrocos, filho natural do Marrocos acima mencionado.»
Pág. 560 - Lapide dos sete cavaleiros
Já numa das notas dum dos volumes atrasados desta História tivemos que referir-nos a estes sete cavaleiros, e a este túmulo, do qual só agora, devido à amabilidade do correspondente desta empresa em Tavira, logramos dar uma reprodução pela gravura.
Pág. 561 - O Marquês de Pombal, recebe participação de que haviam já embarcado todos os jesuítas
É a reprodução da terceira das estampas da colecção intitulada Factos memoráveis relativos à administração do Grande Marquês de Pombal, representados em estampa, colecção à qual tivemos en­sejo de nos referir por duas vezes. A legenda que acompanha a estampa que a nossa reproduz é a se­guinte: «O Marquês de Pombal recebe participação de que se achavam cumpridas as suas ordens e todos os jesuítas embarcados. Avista-se o Tejo e várias lanchas que os conduzem a bordo de algumas em­barcações ancoradas».
Pág. 565 - Frei Gaspar da Encarnação
Existe na Imprensa da Universidade de Coimbra, um magnífico quadro a óleo, representando, em cor­po inteiro, este pouco atilado ministro de D. João V. É sobre uma fotografia desse quadro, que ama­velmente nos foi enviada pelo emérito bibliófilo nosso amigo Aníbal Fernandes Tomaz, que foi fei­to o belo retrato que aqui damos de Fr. Gaspar da Encarnação.
Pág. 568 - Castelo de Marvão
Marvão é uma vila do Alentejo, antiga praça de armas, na fronteira portuguesa, 6 quilómetros a O. da Extremadura Espanhola, distante 12 quilómetros de Valência de Alcântara, povoação do reino vizinho, que lhe fica mais próximo. - É povoação fundada pelos Hermínios e ocupada depois pelos Mouros em 770 da era cristã, derivando o seu nome do mouro Maruan, senhor de Coimbra que a mandou povoar. - Em 1166, D. Afonso Henriques conquistou ao Mouros esta povoação e o rei D. Diniz lhe mandou construir o Castelo, que cercou de muralhas em 1299. - Este castelo está construído no planalto de um dos mais altos cabeços da serra do Marvão, assim como a vila, o que torna de difícil acesso uma e outra cousa. Para o Norte, Sul e Oeste é o monte formado de rocha viva, cortada quase que a prumo até um profundíssimo vale cheio de quebradas e de tão escarpada penedia, que é impossível o acesso. - Só do lado de Leste é que é possível o acesso, porque as rochas oferecem descidas menos precipitadas, havendo duas ladeiras íngremes e tortuosas, de mau caminho. - É deste lado a fronteira, e por isso são também deste lado as principais fortificações da praça de guerra. - A primeira muralha está construída no fundo do monte, tendo por fim natural o rio Aramenho. O Castelo está a oeste da vila. Este Castelo sofreu grandes reparações durante a guerra da Restauração, de 1640 a 1668 e não sabemos que depois disso lhes fossem feitos mais reparos. - É o castelo de Marvão um dos mais historicamente célebres na defesa do país contra os ataques dos nossos vizinhos em épocas que vão distantes, e ainda nas lutas da liberdade, em 1833, tomou parte.
Pág. 569 - Pedro Jaques de Magalhães
Encontra-se em casa dos descendentes deste ín­clito guerreiro português o retrato, do qual reproduzimos o que aqui damos do insigne capitão que tan­to honrou as nossas armas nas celebradas lutas com a Espanha.
Pág. 572 - Igreja de S. Cristóvão de Rio Mau
Seja mais uma vez o nosso guia na descrição deste velho monumento o saudoso José Augusto Vieira: A igreja ou mosteiro de S. Cristóvão de Rio Mau, não se recomenda pela vastidão da sua área, elegância de suas formas e perfeição de seus relevos, como vemos em idênticos edifícios depois da renascença das artes no século XVI. Não; o seu valor e o seu mérito são principalmente arqueológicos; e por isso sendo tesouro escondido para o vul­go, é objecto de alta consideração para os peritos e apreciadores de antiguidades que a têm visitado e estudado, como o dr. Martins Sarmento e outros. Esta igreja, outrora mosteiro, é muito antiga, como se colige de vários indícios, que adiante apontaremos e principalmente do que se lê na Chorographia, de Carvalho, que fielmente transcrevemos na parte que lhe diz respeito: - «S. Cristóvão de Rio Mau foi convento de cónegos regrantes de Santo Agostinho, e o achamos já fundado no ano de 1122, mas não sabemos por quem. Teve sempre prelado e clé­rigos raçoeiros, que rezavam em coro as Horas Ca­nónicas até ao ano de 1418, em que o arcebispo Dom Fernando da Guerra o uniu ao de S. Simão da Junqueira, seu vizinho e da mesma Ordem, por Bre­ve do Papa Martinho Quinto com obrigação de que sempre neste mosteiro de S. Cristóvão residissem dois frades, o que já se não observa...». A igreja ex­centricamente edificada a sudeste da freguesia, tem 24,85m de comprimento, 8,51m de largura e 7,34m de altura; e podendo acomodar cerca de 400 pessoas, é pequena para a população de hoje; consta de uma nave e capela-mor proporcionada, tudo de cantaria bem lavrada e assente. A capela-mor é de pedra mais branca e fina, não só nas paredes laterais, como também na abóbada de que é coberta; e a mão de obra é tão sólida que o roçar de oito séculos, correndo, lhe não fizeram ainda o menor dano. Escura e acanhada, a capela-mor foi, todavia, em sua construção tratada com mais esmero do que o resto do edifício, que, além de não ter abóbada, é de cantaria muito inferior e na maior parte mal combinada, apresentando uma mescla de pedras muito variadas na qualidade e na cor. Segundo consta, e se tem observado pelos sinais que apresenta, era dantes esta igreja muito amesquinhada em suas dependências; não ti­nha altares laterais, nem retábulo no altar-mor; não tinha sacristias, nem púlpito, nem coro. nem pias de água benta, nem torre de sinos. (Cumpre notar que nos primeiros séculos da Igreja não havia púlpitos, mas só um escabelo ou banco de madeira, sobre o qual o orador subia para dominar o auditório; depois foi elevado sobre pés (portátil), e só no fim do século XV o vemos afixo a um dos pilares centrais, ou paredes da igreja, elevado a uma grande altura, ornado, etc.). - No fundo da capela-mor havia junto à parede um altar todo de pedra, elevado, de três degraus e ornado de azulejos pelo lado da frente (ainda existente encoberto pelo novo altar), o qual não tinha retábulo nem outros adornos, à excepção dum nicho cavado na parede, largo e pouco profundo, em semicírculo pela parte superior, apoiado em dois outros nichos de forma e grandeza quase iguais; este era o altar-mor, único que havia nesta igreja, e isto está em harmonia com a disciplina dos primei­ros séculos do cristianismo, como consta das Liturgias: - «Cada igreja, diz Santo Inácio de Antioquia, tem um só altar, assim como tem um só bispo...» - O estilo mourisco desta obra traduz-se na singeleza das cimalhas, na profusão de ornatos extravagantes e ridículos, de que as suas mutulas e capi­téis são sobrecarregados, e principalmente no arco cruzeiro em volta de ferradura mourisca, e outro segundo arco do mesmo estilo, que, ao meio da capela-mor, ajuda a corroborar a abóbada e divide cada pano lateral em duas secções, cada uma das quais é ocupada da parte de cima da cornija por frestas muito estreitas (algumas hoje rompidas a pico!), e na parte inferior por nichos de forma e grandeza análoga aos acima descritos; um destes nichos está hoje substituído por uma porta moderna, que comunica com uma sacristia, obra também moderna. Ambos os arcos de ferradura, acima mencionados, mediante uma cimalha simples, se apoiam em colunas engastadas, grossas e ornadas de bases e capitéis, sem simetria em detalhe, mas nem por isso menos interessante nos seus ornatos de forma variada e esquisita. O arco cruzeiro, pelo lado da nave, é muito ornado por meio de camadas de arcos concêntricos e colunelos, como adiante diremos da porta principal. Considerado interiormente, o corpo da igreja pouco nos oferece digno de atenção: os três altares laterais, o púlpito, uma fresta rompi­da a esmo perto do chão, e um coro tosco e amesquinhado, são obras modernas. A fonte batismal, por vezes reformada, foi ainda em 1878 retocada e aformoseada; e na escavação a que, por esta época, para esse fim se procedeu, encontrou-se enterrada debaixo do pé da nova pia uma outra mais tosca, de forma quadrangular, com sorvedouro no centro, que devia ser talvez a primitiva fonte batismal colocada, sem pé, ao rés do chão, o que é muito conforme com o que nos dizem os liturgistas, falando dos batis­mos da primeira igreja, que eram uma espécie de banho, num tanque, etc., para o qual se desciam degraus... - Entrando agora na descrição exterior, tocaremos de leve as coisas de menos importância: além dum soco simples, que rodeia toda a igreja, a capela-mor tem como ornato no centro do pano testeiro e do lado oriental um nicho como os outros já descritos, onde há pouco se colocou uma imagem de S. Cristóvão que apareceu despedaçada atrás da tribuna velha, quando ela se reformou em 1854, a qual imagem é de pedra fina (d'Ançã?) e apesar de antiga, mostra-se posterior à igreja. Actualmente acha-se na sacristia. No vértice há uma estatueta no estilo primitivo, representando um bispo com mitra e báculo; dizem vulgarmente ser Santo Agostinho, o que é provável, segundo a transcrição acima exarada. Cada um dos panos laterais, fortalecido por um contraforte em correspondência com um arco interior, de que já tratámos, é fendido por duas frestas mesquinhas e rematado por uma cimalha simples, a modo de coroa ou larmier, apoiada em mutulas distanciadas e ornadas de relevos fantasiados e ridículos. Há no corpo da igreja duas portas laterais, baixas e pequenas, segundo o costume da época, e presando mais a comodidade do que a simetria, não os fizeram fronteiros; todavia o exterior das umbreiras é decorado com menos riqueza, mas no gosto, semelhante à principal. Três frestas esguias em cada um dos panos laterais, e outra sobre a porta principal, todas próximas do telhado, fornecem pouca luz, e a igreja por isso é escura: as cimalhas laterais, exteriores, são do teor das da capela-mor, porém mais toscas e despidas de todo o ornato. Uma cinta de pedra saliente e horizontal, uns medalhões espaçados e um pouco abaixo, serviriam às alpendradas do claustro outrora existente? Ou seriam dependências projectadas, que não chegaram a efeito? A porta principal, contra o pôr do sol, é muito bai­xa para os nossos tempos, todavia não é das coisas menos curiosa que se oferecem; não sabemos por que motivo vimos aqui encontrar arcos ogivais que até agora não apareceram. Mediaria muito tempo desde o princípio da obra até ao seu acabamento? Fosse o que fosse, a porta principal, no que respeita à pedraria dos seus umbrais, é muito adornada pelo lado exterior por meio de arcos concêntricos, em ca­madas, e de fornia ogival, que se apoiam em cima­lha sustentada em pontos correspondentes por colunelos cilíndricos, que se entremisturam com arestas salientes: estes colunelos têm bossas e capitéis com ornatos de fantasia caprichosamente variados. Entre a padieira da porta e o ápice da me­nor ogiva medeia uma espécie de tímpano curiosa­mente ornado em baixo-relevo: é um grupo, cujos desenhos e escultura não destoam do atraso das artes na idade média. O personagem do centro representa um bispo (Santo Agostinho?) paramentado com mitra (bastante baixa) e báculo na mão esquer­da, e a mão direita com dois dedos levantados, e faz acção de dar bênçãos: é ladeado por dois outros per­sonagens de mais pequena estatura, mas do mesmo cinzel, que pelas insígnias e posição mostram bem ser um diácono e subdiácono assistentes ao bispo. - Cada um destes dois tem seu livro aberto, que sus­tenta com ambas as mãos: o da esquerda do bispo tem só manipulo e estola a tiracolo. Ao pé do subdiácono, um pouco mais afastada, vê-se outra figura raquítica que parece representar um servente ou me­nino do coro, o qual, sustentando em ambas as mãos uma salva sobre a cabeça, faz acção de ministrar ou receber do bispo os utensílios, como se vê ainda nos pontificais. Ao lado direito do diácono vê-se uma pomba ou outra ave, esculpida, cuja interpretação parece pouco óbvia; será o Espírito Santo assistindo à Igreja? Será algum vaso decorativo, producto esquisito da antiga cerâmica? Ou será um vaso de pra­ta em forma de pomba, muito usado nos primeiros séculos da Igreja, para nele se guardar, no batis­tério, a Eucaristia que se administrava aos recém-batizados depois da Confirmação? (Nos primeiros séculos do Cristianismo os batizados eram adul­tos, que, depois de instruídos na doutrina cristã, iam receber em acto contínuo o Baptismo, a Confir­mação e a Eucaristia, que se guardava no batisté­rio em um vaso de ouro ou prata, que tinha a forma duma pomba, como no batismo de Clóvis). - O vértice da igreja era antigamente cortado em linha horizontal, sobre que havia dois campanários com sinos pequenos, cujas cadeias pendiam sobre a porta principal; assim consta e o indicam dois sulcos paralelos e verticais, que se veem no pano da fachada, acima dum alpendre ordinário, que faz abrigo à porta e serve de ampliar a igreja. Estes sinos já não existem, e o vértice, refeito de pedra e cal, tem plan­tada uma cruz ordinária, feita no estilo moderno. Junto do alpendre, a que serve de apoio, há um cam­panário simples e um sino de mediana grandeza. - Irregular e pequeno, o adro era cercado com parede baixa e tosca, junto da qual havia oliveiras muito ve­lhas, e algumas cruzes de pedra, obra de tempos modernos. No mesmo adro apareceram em diferentes ocasiões alguns sarcófagos enterrados (idênticos aos que hoje se veem no adro de Rates) que, dados ou vendidos, se encontram em casas particulares dos moradores da freguesia. - Não deve passar desperce­bida uma inscrição lapidar imperfeita que se encon­tra atrás da tribuna, e na qual se lê a era da fundação desta igreja em 1135, que está em harmonia, com pouca discrepância, com aquela que acima se lê na Chorographia de Carvalho. Esta lápide, de enigmática e difícil tradução, foi interpretada pelo dr. J. Possidónio Narciso da Silva, e diz: - «Na era de 1135, Pedro... indigno sacerdote, principiou a edifi­car esta igreja em honra de S. Cristóvão.» - Encontram-se também alguns vestígios ou cruzes de certo estilo e em tal disposição, que bem indicam que esta igreja foi sagrada. Ignora-se o lugar, a importância e capacidade do edifício, que servia de re­sidência aos religiosos que sustentaram o coro até ao Breve do Papa Martim V. Nada mais se encontra digno de especial atenção, pois os altares modernos, com as mesmas imagens, as sacristias e suas alfaias são coisas de somenos importância numa descrição arqueológica, que só deve ser prolixa tratando de antiguidades. - Pinho Leal, tendo visitado esta igreja de Rio Mau, manifesta a ideia de que ela fosse um templo romano, que no ano 635 (e não 1135) se convertera em igreja cristã, podendo as cruzes e as estátuas dos bispos que ali se encontram, ser colocadas por ocasião da reconstrução feita no reinado de D. Pedro I. A tradição popular, que atribui aos mouros a fundação do templo, condiz com essa opi­nião, e a verdade é também que o estilo românico se define claramente, apesar das transformações que têm adulterado a forma primitiva deste preciosíssi­mo exemplar de arquitectura, barbaramente tratado pela brocha implacável do caiador. - De modo que é preciso saber do seu valor arqueológico e atentamente reparar nessa modesta igreja de Rio Mau, para não a confundir com tantas outras que a cada passo se encontram, tendo como ela o adro asseado e fresco, e a casa de residência encantadoramente vestida pelas trepadeiras viçosas que se enroscam nas colunas do alpendre, ao de cima da suave escadaria de granito. - Rio Mau era apresentação dos frades S. Simão da Junqueira, que, pelo sul, a confron­ta, metendo-se o rio de Este de permeio.
Pág. 573 - D. Pedro d'Almeida, vice-rei da Índia, conde de Assumar
Sucedeu ao vice-rei Luiz de Mendonça Furtado e Albuquerque, em 3 de outubro de 1677. Faleceu na viagem que fez à conquista de Patê. Para se avaliar da autenticidade deste retrato veja-se o que dissemos quando tratámos de outro governador da Índia, D. Francisco Coutinho (pág. 609).
Pág. 576 - Pelourinho de Rates
Parece ser do reinado de D. Manuel o pelourinho que a nossa gravura representa, e que existe na Pra­ça de Rates, quase em frente da capela de Nossa Se­nhora da Praça.
Pág. 577 - O  Marquês de Pombal entrega aos arquitectos o plano da reedificação de Lisboa
É a quarta estampa da colecção Factos memoráveis relativos à administração do grande Marquês de Pombal, representados em estampas, etc., a que mais de uma vez nos temos referido nestas notas. É desenho de Sendim, como todos os outros desta colecção, e eis textualmente a lenda que a acompa­nha: «O Marquês de Pombal entrega aos Arquitectos o Plano da reedificação de Lisboa depois do grande terramoto do 1° de novembro do ano de 1755. De um lado se representam as victimas da nu­dez e da fome e de quantos infortúnios forão consequência lastimosa daquela memorável catastrophe, recebendo piedoso auxilio dos distribuidores dos caritativos soccorros com que tão Grande Ministro accudio às victimas dessa funestissima calamidade e espantoso acontecimento. Em distancia se avistão de uma parte os estragos do terremotto, e da outra a cidade começando a erguer-se das suas ruínas, reedi­ficada conforme o grandioso plano que hoje atrai a pública admiração».
Pág. 581 - Eugénio dos Santos de Carvalho
Existe no Museu Arqueológico do Carmo o retra­to deste notável arquitecto, um daqueles a quem o Marquês de Pombal confiou o plano da reedificação de Lisboa. O retrato que aqui damos é cópia daquele.
Pág. 584 - Igreja matriz de Arouca
No ano de 716 havia em Arouca duas paróquias cristãs; Santo Estevão do Val de Moldes e S. Pe­dro de Arouca, sita esta na falda meridional do vale de Nossa Senhora da Mó, a leste da vila. Mais tarde a freguesia de Moldes foi separada da de S. Pedro; e a igreja desta, como fosse julgada pequena para as necessidades da paróquia respectiva, foi mudada para o interior da povoação, onde se construiu uma espaçosa matriz de três naves com galilé à porta e pegada ao coro do mosteiro. Segundo a tradição tinha da parte de fora sobre cachorros de granito os sarcófagos de Vandilo e Loderigo, bem como de Ansur e Eleva, sua consorte, e que foram os fundadores e os primeiros possuidores do mosteiro. - Correndo o ano de 1220, como o convento tivesse de ser ampliado e melhorado, e a fábrica da igreja, en­costada a ele, se oferecesse ao acrescentamento, foi ela demolida a expensas das freiras, para o que obtiveram licença, tendo previamente constituído a obrigação de ceder a nova igreja da sua casa para o serviço cumulativo da matriz da vila. Foi mandada fazer a ermida em tempos de D. Afonso III ou de D. Diniz, pela Abadessa D. Milícia que lhe ordenou a fábrica acanhada e modesta, pois não quadrava à caridade daquelas evangélicas criaturas, despender larga soma numa obra destinada ao serviço de estranhos, embora fosse indirectamente beneficiá-las. - A capela ainda hoje existe, desolada e mofina em meio de largo terreiro, conforme a representa a es­tampa. - Asseveram alguns autores, entre eles o sr. Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno, que a fachada da capela é a mesma do antigo tem­plo de S. Pedro, conservada já cautelosamente pelas freiras, por ocasião da demolição, com o secreto in­tuito de mais tarde libertarem a sua igreja do ónus da igreja matriz; Abel Acácio, porém, refuta redondamente tal asserção. Não só o primitivo templo de S. Pedro, com as suas três naves devia ser muito mais espaçoso e largo, que a actual ermida, mas ain­da a inspeção do portal desta, e de alguns lavores do interior, mostra bem claro que o lavrado deles deve ter sido executado anteriormente ao primeiro quartel do século XIII, isto é, alguns séculos depois da erecção da antiga matriz de S. Pedro. Produziu-se ali em toda a fábrica esse estilo eclético da arquitectura, chamado normando gótico, perfeito elo de ligação entre o árabe e o gótico puro, no qual se presentem já as elegâncias da ogiva, ainda que oprimidas pelos austeros bastiões ameados, e que era filho das necessidades e das aspirações de uma época, de continuo dividida entre a peleja e a ora­ção. - Nos séculos XI e XII a arquitectura conserva­ra ainda na península uma feição mais pesada e mais grosseira, que só durante o reinado de D. Diniz principiou verdadeiramente a amaneirar-se e a aligeirar-se. Ora essa ligeireza progressiva, essa trabalhosa transição das pesadas proporções da arquitectura militar para os idealismos arrebatadores do sistema ogival, notam-se já esboçadas no portal da matriz de Arouca. - Da antiga matriz talvez fosse aproveitado o campanário, que se ergue no primeiro plano da gravura. O interior da igreja é, como o exterior, po­bre e modesto e está por igual deteriorado. Veem-se na capela-mor dois túmulos embutidos na parede, um a cada lado do altar, com epitáfios góticos quase ilegíveis e ainda para mais pintados a ocre quase espessamente! No pavimento da igreja algu­mas inscrições tumulares se leem também a custo, todas sem importância.
Pág. 585 - Convento de Sant'Anna
No largo da Anunciada, em Lisboa, fundou uma preta chamada Ana, natural desta cidade, em 1521 um recolhimento para beatas penitentes, sob a invocação de Sant'Ana, onde a mesma preta se recolheu com 14 mulheres e aí faleceu. - Em 1529 D. João III mudou para ali as freiras do antigo mosteiro de Santo Antão (hoje chamado Coleginho). Em 1541, o mesmo D. João III mudou este mosteiro para junto do campo de Sant'Ana, mosteiro que a nossa gra­vura representa, e que, ainda não há oito anos foi derrubado, para dar lugar a novas construções. De modo que, desse velho edifício onde, se disse, es­tiveram por longos anos os ossos de Camões, nada resta senão a memória perpetuada pelo desenho, co­mo essa que aqui fica arquivado.
Pág. 588 - D. Isabel Catarina Henriques de Bourbon
Existe na opulenta galeria do sr. conde da Figueira o retrato desta senhora daquela nobre e antiga família, donde copiamos o que figura na nossa História. Esta senhora foi uma das pessoas que ficaram esmagadas sob as abóbadas da igreja da Graça, em Lisboa, quando do seu desabamento por ocasião do terramoto de 1 de novembro de 1755.
Pág. 589 - Memorial de Irivo
O memorial de Irivo, no concelho de Penafiel, que se representa na nossa gravura é um verdadeiro monumento funerário. Parece contemporâneo da grandiosa reconstrução do mosteiro do Paço de Sousa, com o qual bastante diz o seu estilo.
Pág. 592 - Padre João Baptista de Castro
Existe no tecto da sala das sessões da Câmara Municipal de Lisboa o retrato, donde foi copiado o que o leitor tem à vista, deste notável antiquário português do século XVIII, autor do celebrado livro Mappa de Portugal.
Pág. 593 - Estampa alegórica à instituição da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro
Esta é a quinta das estampas copiados do livro, por nós tanta vez citado já neste volume, Factos memoráveis relativos à administração do Grande Marquês de Pombal, etc. É igualmente de Sendim o desenho, como o das outras estampas, e tem a seguinte legenda: «No centro se representa um Monumento que, posto não exista, merecia erguer-se em memória da Instituição da Companhia Geral da Agri­cultura dos Vinhos do Alto Douro, debaixo dos aus­pícios do Marquês de Pombal, cujo busto se vê no cume do Monumento. No mesmo quadro se representam, de um lado, as vindimas, do outro oficinas de tanoeiro, e em distância o embarque dos vinhos; mostrando-se assim, em resumido ponto de vista, a protecção e alento, que receberão de tão Grande Ministro, os Agricultores, o Commercio e a Navega­ção
Pág. 596 - João Curvo Semedo
É cópia dum belo retrato existente na Biblioteca Pública de Lisboa o que aqui damos deste personagem notável do século XVIII.
Pág. 597 - Ponte de Santa Marinha
Copiou-se duma magnífica gravura que acompanha a interessantíssima publicação do século XVIII, Portugueses no Lima, de Lima Bezerra, a curiosa estampa que aqui damos da Ponte de Santa Marinha, em Ponte do Lima.
Pág. 600 - Manuel da Maia
No Museu arqueológico do Carmo existe o retra­to donde foi copiado o que aqui damos deste arquitecto, um daqueles a quem o Marquês de Pombal confiou o plano e direcção da reedificação de Lis­boa depois de terramoto de 1755.
Pág. 601 -Túmulo da Infanta D. Catarina
 
Fazendo-se em 1883 umas escavações no terreno pertencente outrora ao convento de Santo Elói, vulgo dos Loios, e onde actualmente se encontra alojada a 5ª companhia da guarda municipal de Lisboa, para alargamento do quartel dela, achou-se próximo ao ângulo de uma larga quadra, que parece ter sido claustro, um sarcófago de mármore na face da qual se lia a seguinte inscrição:
Aqui iaz a infanta D. Cn.ª f.ª delrey D. Duarte, e da rai | nha D. Leonor neta delrey D. João * 1.° * irmão delrey | D. A.º * 5.º tia delrey D. João 2.º * aqual * estando desposa | da * com Carlos príncipe de Navarra * e Aragão e com | Duarte 5.º rey dinglaterra * sem se effeituar * algum | dos ca­samentos faleceo * de 27 anos * sexta feira | 17 de iunho ano de 1463
A infanta D. Catarina, filha como diz a inscrição, d’el-rei D. Duarte, figura muito notavelmente na história literária de Portugal, como seu pai, tios e sobrinhos. Nasceu a 23 de novembro de 1436, e foi instruída pelo célebre D. Jorge da Costa, conhecido nos anais do país, pela designação do cardeal d'Alpedrinha, sua pátria. - Não tendo tido efeito os ca­samentos propostos e contratados para a infanta, recolheu-se ela ao mosteiro de Santa Clara desta cidade, sem professar, e onde, segundo é de presumir, entreteve os ócios, traduzindo do latim o livro de S. Lourenço Justiniano, Regra da perfeição da vida mo­nástica, de que há duas edições. - Faleceu de um pleuris a 17 de junho de 1463, deixando por seu testamenteiro o referido D. Jorge da Costa, ao qual incumbiu a fizesse sepultar onde lhe parecesse. - Em 1284 havia o bispo de Lisboa, D. Domingos Jardo, fundado um hospital de Santo Elói, em sítio onde depois se erigiu o mosteiro, e, por irregularidades na sua administração foi esta entregue pelo infante D. Pedro, quando regente durante a menoridade de D. Afonso V, à congregação de S. João Evangelista. Na sua igreja e em uma capela fundada pelo referido D. Jorge e por D. Afonso V, foi a infanta sepultada, vindo o seu corpo do convento de Santa Clara. - Em 1474, segundo a crónica, lhe fez D. Jorge construir o túmulo, onde recolheu os ossos da infanta dentro de um saco de seda azul. Diz-se que é este o sarcófago encontrado em 1883, o que nos não parece pelo caracter da letra e ortografia. - Tendo-se no sé­culo XVI movido dúvidas, sobre o local da sepultura da infanta, por autorização do núncio Jorge Cornaro, foi esta procurada na igreja velha - andava-se então construindo a nova - sendo encontrada tal como a fizera erguer D. Jorge. - É muito natural que fos­se então colocada no sítio onde em 1883 se encon­trou. - Em 1755 tendo sido destruído o convento dos Loyos pelo terramoto de 1 de novembro, foram trasladados os restos da infanta D. Catarina para o convento do Beato António. É este o motivo por­que o túmulo encontrado em 1883 os não continha. - O túmulo bem como uma fonte achavam-se co­bertos por algum entulho, cuja altura não era inferior a três metros. - A nossa gravura representa es­te sarcófago, que aliás nada tem de notável.
 
Pág. 604 e 605 - Lisboa incendiada, depois do terramoto de 1755
Não pelo valor artístico da estampa, mas por ser coeva do tempo em que se deu o famoso cataclismo de 1755, damos aqui a sua cópia. O original encontra-se na sala de espera da Biblioteca Pública de Lisboa.

 

Vol. 6