Da vocação sentida, desde a infância, pela vida de marinheiro, permaneceu no pintor, durante toda a vida, indelével e determinante, o apelo do mar.
Terá sido este o factor que potencializou o constante interesse por esta temática que surge tão frequentemente no acervo da sua obra? O que se pode considerar como certo é que, entre as aguarelas de Roque Gameiro, as marinhas têm um lugar à parte.
Mamia Roque Gameiro, a filha mais nova do pintor e aquela que sempre o acompanhou, refere a intensa atracção que o pai sentia pelo mar: "Por fim deu largas à sua paixão, o mar" e relata um facto da vida do pintor. "Julgo que foi em 1924 que alugámos uma casa em Almoçageme e aí da praia da Adraga e todas as praias até à Ericeira e Nazaré nenhuma ficou sem o seu olhar. Mas teria sido em 1920 | sic | que tive a sorte de ir com o meu Pai para a Praia das Maçãs onde de surpresa nos encontrámos com o pintor Malhoa e sua mulher. Foi nessa altura que Malhoa pintou o retrato de meu Pai. Acampava na Praia da Ursa. Queria ver o nascer e o pôr do sol, queria sentir o barulho do mar. Ninguém pintou o mar como ele".1 (A mulher do pintor Malhoa morre em 1919. É possível que tenha havido um lapso na evocação desta data. Aliás o emprego do condicional já confere à frase um sentido hipotético, provando que Mamia Roque Gameiro não estaria muito segura do ano exacto em que se teria verificado este encontro).
Muitas vezes o artista deslocava-se até à praia e aí permanecia mais do que um dia, acampando, não somente para se deleitar com a beleza envolvente das ondas, como igualmente para melhor poder observar, estudar e compreender a imensidade líquida em constante mutação. Transmitiu-nos, de forma inolvidável, imagens da ondulação, umas vezes apenas perceptível, outras, revolta, e da transparência da água, cujos cambiantes percorrem toda uma gama cromática de verdes e azuis.
Quer o pintor perspective somente o mar ou também se sinta motivado pelo panorama oferecido pelos rochedos e pelo areal, ele expressa admiravelmente uma atmosfera de luminosidade, de suave harmonia, de equilíbrio perfeito entre as formas e as cores de toda a paisagem.
Roque Gameiro percorria, frequentemente, a zona costeira da região oeste, atraído pela beleza agreste da longa linha sinuosa das altas falésias, ou pelas praias onde no areal se erguem rochedos de estranhas configurações provocadas pela erosão das águas e dos ventos e se adivinham fundas grutas, pouco a pouco escavadas ao longo dos séculos.
A magia do seu pincel deixou para a posteridade inexcedíveis reproduções desses espaços, onde águas e rochas são recriadas com espantosa fidelidade. É como se ficasse abolida a distinção entre a realidade contemplada e vivida pelo artista e a simples visualização permitida ao observador. Penetramos no mundo fictício da criação plástica e a sensação de que a paisagem real está ali ao alcance do nosso olhar, e que participamos da emoção sentida pelo pintor no momento da criação da sua obra.
Por vezes, o artista referencia a praia como espaço de vilegiatura e de convívio social. Não individualiza particularmente uma só personagem; o seu olhar projecta-se essencialmente sobre os diversos grupos de pessoas que desfrutam de momentos de lazer.
A sua extraordinária acuidade visual permite-lhe captar os ínfimos pormenores da paisagem esboçando, por vezes, diminutas figurinhas que, a custo, o observador consegue detectar. Este apontamento da figura humana serve de escala em certas composições que têm como tema o mar, a praia e rochedos de gigantescas proporções, permitindo pressupor as reais dimensões dos elementos paisagísticos observados.
Por vezes, tocada pela magia do seu pincel, surgem igualmente belas paisagens da beira rio.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
1 Notas pessoais manuscritas de Màmía Roque Gameiro |
É nas vistas da orla marítima que a pintura do aguarelista se revela insuperável. Ele vai muito além da criação estética de banais marinhas. Reproduz, expressivamente, o cíclico movimento das ondas que ora engrossam, ora se espraiam calmamente sobre o areal, ou então se projectam com fúria contra os rochedos, captando os cambiantes mutáveis das águas, em gamas cromáticas que englobam uma multiplicidade de verdes e de azuis. O mar constituiu o principal motivo da sua atenção e o pintor concentra nele todo o seu génio criador. Frequentemente engloba, na mesma composição, penhascos e areais. Dir-se-ia que os agigantados rochedos, que tão frequentemente reproduziu e que adquirem, por vezes, formas bizarras, exerceram no pintor um enorme fascínio. Através de grande diversidade cromática e de oposições de sombra e de intensa luminosidade, o aguarelista define e modela essas imensas estruturas.
A sua visualização da praia, ora deserta, ora focalizada como local de vilegiatura, ou mesmo, espaço de trabalho de pescadores e varinas, constitui uma temática recorrente, na sua perspectivação da orla marítima.
Maria Lucília Abreu
in A Aguarela na Arte Portuguesa, ACD Editores, 2008
|
As suas paisagens, os seu retratos, e, principalmente as suas marinhas, não são nunca transposições rigorosas da realidade. São transfigurações dum estado de enlevo simples, natural, sem filosofias nem escolas, duma alma "panteísta e franciscana".
|
Ver: À Beira-Mar: O mar nas aguarelas do pintor português Alfredo Roque Gameiro.
Uma projecção audiovisual concebida e produzida pela Casa do Adro - Associação Cultural
Fortaleza das Berlengas
vista da arriba
Aguarela sobre papel
18,5 x 27,5 cm, 1924
JX
♦ Um Século de Pintura e Escultura em Portugal, de Fernando de Pamplona (1943)
|
|
Arco da Adraga Aguarela sobre cartão
42 x 60,5 cm
1925/8
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Arco da Adraga Ver:
♦ Exposição de 1933
|
|
Ericeira: Arribas do Mar
Aguarela
18,5 x 27 cm
Museu Grão Vasco (Viseu)
|
|
Depois da tempestade
Aguarela sobre cartão
47 x 37 cm
1923
Ver:
♦ Exposição de 1920
|
|
Rocha Sul da Praia Grande
Aguarela
50,5 x 38,5 cm
|
|
Gruta junto ao mar
Aguarela sobre papel
19 x 27,5 cm
|
|
Grutas na Praia da Ursa
Aguarela e guache sobre cartão
18,5 x 19,5 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Gruta na Praia da Ursa
Aguarela sobre cartão
33 x 26,5 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
A Gruta do Sono
Aguarela sobre papel
27,5 x 19 cm
|
|
Vista da Costa de Sintra
Aguarela
51 X 38
1913
|
|
Forte Velho do Guincho
(Cascais)
Aguarela sobre papel
17,5 x 25,5 cm
|
|
Interior da Fortaleza das Berlengas
Aguarela sobre papel
26,5 x 19,5 cm
|
|
Interior da Fortaleza das Berlengas
Aguarela sobre papel
19 x 28 cm
|
|
|
|
Apanhando polvos
Aguarela
|
|
Pedra da Papoa
(Peniche)
Aguarela sobre cartão
27,5 x 18,5 cm
|
|
Mar
Aguarela sobre cartão
15,5 x 18,5 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Chuva no mar
Aguarela
16 x 21,5 cm
1924
JX
|
|
Onda
Aguarela
15 x 21 cm
JMLB
|
|
A brisa da tarde
(Praia da Nazaré)
Aguarela sobre papel
40 x 50 cm
1929
|
|
Nazaré
Aguarela sobre papel
17 x 24,5 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Nazaré à tarde
Aguarela
18 x 27 cm
JX
|
|
Praia das Maçãs
e Rio das Maçãs
Aguarela sobre papel
18 x 28 cm
1894
|
|
Vista de mar, rochedos e areia
Aguarela sobre papel
|
|
Almoçageme
|
|
Sítio da Nazaré
Aguarela
14 x 11 cm
JPMB?
|
|
Estudo de rochedos
Aguarela
13,5 x 9,3 cm
JPMB
|
|
Barco no Areal
Aguarela sobre papel
|
|
Barcos em Vila Franca
Aguarela
18 x 25 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Cais em Vila Franca
Ver:
♦ O Século de 1911-11-05
♦ Brasil-Portugal de 1911-11-16
♦ Ilustração Portuguesa de 1911-11-20
|
|
Falua em Valada do Ribatejo
|
|
Cais de embarque
Aguarela sobre papel
16,5 x 23,5 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Couraçado
Vasco da Gama
Aguarela
20 x 25,5 cm
1882
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Navios da Marinha de Guerra Portugueza no alto mar
Aguarela
29 x 38,4 cm
Suplemento do periódico
"Mala da Europa",
ano 10, nº 404 (1903-11-08)
|
|
A Foz do Alcoa
(Nazaré)
|
|
A Foz do Alcoa
Aguarela de uma paisagem representando a foz de um rio no mar e várias pessoas.
O rio marca o lado esquerdo da composição. A margem direita do rio descreve uma curva acentuada para a esquerda, definindo um cais onde estão ancorados quatro barcos.
Aguarela sobre papel
41 x 59 cm
Museu Dr. Joaquim Manso (Nazaré)
Ver:
|
|
Rapazes brincando na Foz
(Nazaré)
Aguarela sobre cartão
18,5 x 25 cm
Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde)
|
|
Foz do Arelho
|
|
Margem de lago perto de Leipzig
16 x 32,5 cm
1888-11
|
|
Reparando o barco
em Vila Franca
Aguarela sobre papel
17,5 x 25 cm
1913
Segismundo de Castello Branco
|
|
Barcos
(Nazaré)
|
|
Nazaré
|
|
Pescadores
(Costa da Caparica)
Aguarela sobre papel 12,2 x 18,5 cm
|
|
|
|
S. Sebastião
(Ericeira)
Aguarela sobre papel
19 x 27 cm
c. 1916
|
|
Praia das Maçãs
19 x 27 cm
1918
|
|
O levantar das redes
(Nazaré)
|
|
Rio das Maçãs
1918
|
|
Praia da Adraga
|
|
Praia da Adraga | |
|
|
|
|
Praia do Cavalo
1918
Ver:
♦ Exposição de 1946
|
|
Entrada da Praia da Adraga
Aguarela
20 x 25 cm
1916
|
|
Na Costa da Caparica |
|
Rampa histórica
(Ericeira)
Ver:
♦ O Occidente de 1914-01-20
♦ Almanaque Ilustrado de 1915
(Colecção Guilhermina Monjardino)
|
|
Rampa do Sul
(Ericeira)
Ver:
♦ Almanaque Ilustrado de 1915
(Colecção Maria José Bleck)
|
|
Costa de São Julião
(Ericeira)
♦ Ilustração Portuguesa de 1917-01-01
♦ Museu de Arte Contemporânea
|
|
Fortaleza das Berlengas
♦ O Século de 1930-01-04
♦ O Notícias Ilustrado de 1930-01-05
|
|
A Fortaleza da Berlenga
Ver:
♦ Exposição de 1929
|
|
Costa da Caparica
Aguarela, 73 x 45 cm
Ver:
♦ Branco e Negro de 1897-05-17
|
|
Costa da Caparica
Aguarela, 73 x 45 cm
Ver:
♦ Branco e Negro de 1897-05-17
|
|
Interior da Fortaleza das Berlengas
|