Colares, estrada do Corvo
Aguarela sobre papel
42,5 x 29,5 cm
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Nas constantes deambulações que o artista empreendia quer através dos espaços rurais, quer ao longo da orla marítima, a região saloia foi predominantemente privilegiada. Roque Gameiro conhecia todos os recantos à volta de Sintra e de Colares e frequentemente acampava nas praias limítrofes.
Confrontamo-nos neste quadro com uma paisagem campestre envolvida numa atmosfera de calma tranquilidade, onde o elemento humano aparece parcamente representado pela figura da mulher montada no burro e do homem que, a pé, se desloca atrás dela. Encaminham-se para a zona sobre a qual incide uma forte luminosidade, ao longo de um caminho que, sinuosamente, se estreita em perspectiva, em contraste com a ligeira notação de sombra do primeiro plano. As duas figuras vão-se afastando no espaço e, se dão vida à paisagem, não interferem na visão do observador face ao envolvimento natural, cuja vastidão é sublinhada pela reduzida dimensão das silhuetas dos camponeses.
Entre os planos da direita e da esquerda desenvolvem-se dois aspectos paisagísticos em que se opõem, por um lado, a mancha compacta da vegetação, de um cromatismo luminoso de verdes intensos levemente aquecidos por sugestivas pinceladas de terra de siena e, do outro, os campos que se estendem amplamente e se prolongam até à desvanecida mancha que assinala o mar, em leves transparências de um azul líquido que, na linha do horizonte, se confunde com o céu.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
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