Algumas obras

Concepção e Temática      Na concepção e criação da obra de arte, apercebemo-nos de que a pintura de Roque Gameiro se pode analisar sob uma perspectiva dicotómica: por um lado ela traduz a objectividade do observador atento ao espaço visualizado do qual reproduz, com fidelidade, o mais ínfimo pormenor; todavia, o artista projectou-se esteticamente na obra que elabo­rou, pelo modo como apreendeu e interpretou o motivo seleccionado, ao nível do desenho, da perspectiva e do tratamento cromático; ele não se limitou a ser um mero executante, mas gerou e transmitiu, nos seus quadros, a noção de atmosferas muito particulares.      Apreciando as paisagens de amplos horizontes, o pintor deambulava em busca de panoramas campestres ou de aspectos do litoral. As nossas aldeias e os seus costumes tradi­cionais, assim como típicas cenas do quotidiano citadino constituíram, para ele, inesgotável fonte de inspiração. Instalando-se perante o referente seleccionado através da magia da cor, procedia à criação plástica.      Linearmente, podemos considerar que a temática preferencial do artista se circuns­creve a estes quatro itens: o campo, o mar, a cidade e a figura humana. Porém tão sucintas palavras não poderão englobar a multiplicidade de variantes que ele encontrou para se expressar. A sua vida foi um constante encontro com o que era simples, verdadeiro e belo, e, por essa circunstância, cada motivo sobre o qual se debruçou traduz não só as aptidões do pintor, mas também a sua concepção pessoal da representação pictórica. A visualização do seu legado artístico expressará, melhor do que o discurso mais eloquente, o inexcedível valor do artista e o domínio da técnica da aguarela, da qual soube explorar as mais sugestivas potencialidades. Maria Lucília Abreu in A Aguarela na Arte Portuguesa, ACD Editores, 2008

 

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