Casamento de D. João I e Embarque para Ceuta (1961)

Frescos no Palácio da Justiça do Porto
(Palácio de Justiça inaugurado a 1961-10-28)
(Dimensões: 5,75 m x 9,40 m)

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Casamento de D. João I (1387)

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Este painel procura evocar o enlace de D. João I com D. Filipa de Lencastre, celebrado no Porto no ano de 1387, e documenta-se substancialmente na admirável descrição de Fernão Lopes inserta na sua Crónica de El-Rei Dom João I (Cap. XCV e XCVI).

Embora este acontecimento precedesse, naturalmente, o que se figura no outro painel, foi este outro painel, o do embarque, que comandou a composição pictórica geral desta sala, tendo-se harmonizado o painel do casamento com a escala e o ritmo daquele, o que não quer dizer que os estudos respectivos não se fizessem a par.

No painel do casamento representa-se mais do que uma cena, pois que a cerimónia religiosa não foi imediatamente seguida de festejos, e convinha sugerir aqui simultaneamente os dois acontecimentos.

Deste modo vê-se neste painel "o bispo da cidade, festivalmente em pontifical revestido", ladeado pela cleresia, à porta da Sé, e junto dele o Condestável D. Nuno. Em baixo, de mãos dadas, caminham sobre um tapete de verduras, El-Rei e a Rainha, acompanhados dos seus nobres, dos seus homens de armas e dos seus pagens, respectivamente com a bandeira real e a bandeira da casa de Lencastre, e das damas engalanadas e floridas, cantando e dançando.

No primeiro plano vê-se gente do povo, cantando, dançando e aclamando; e também os pagens palafreneiros de El-Rei e da Rainha, respectivamente com a bandeira real e a bandeira da casa de Lencastre, junto dos cavalos brancos, ajaezados a branco e oiro, que os soberanos irão montar; e ainda o "Rei de armas", mestre de cerimónias, com a maça que simboliza a sua autoridade. O cavalo da Rainha está seguro pelo Arcebispo que, em homenagem, o irá conduzir.

Acima de muitos estandartes e balsões das nobrezas de Portugal e de Inglaterra, dominam a composição grandes bandeira de Portugal e da casa de Lencastre, esta última usada com este desenho até poucos anos após este casamento.

Para a indumentária e adereços destas personagens, em especial as das figuras femininas, utilizaram-se os estudos muito pormenorizados e documentados que se publicaram em Inglaterra depois de 1950.

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Embarque da Armada do Infante D. Henrique para a Conquista de Ceuta (1415)

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Foi esta pintura baseada na descrição do embarque do Infante D. Henrique para a conquista de Ceuta, no Porto, em 1415, que nos deixou Gomes Eannes de Azurara na sua crónica de El-Rei Dom João I (Cap. XXXIV) procurando-se nela a representação simultânea de algumas passagens daquela descrição.

A composição inscreve-se em grandes linhas de movimento, que procuram facilitar a leitura do quadro. Representa-se o Infante, jovem de 21 anos, com a sua cota de armas de Príncipe real, a cavalo (e só ele a cavalo) tendo junto de si a bandeira que mostra a sua alta hierarquia, a bandeira de El-Rei seu pai, com o lambel azul e suas flores de liz de oiro.

Seguem-no a pé os cavaleiros da expedição, vestidos com as "librés" do Infante, cotas de armas pessoais (e não de Príncipe real), desenhadas segundo a descrição sumária de Azurara, corroborada pela iluminura da Crónica dos feitos de Guiné, atribuída ao mesmo autor.

A insígnia pessoal do Infante, com desenho análogo ao daquelas cotas e librés, figura numa bandeira arvorada num grande mastro levantado no primeiro plano, ao lado de outro com a bandeira de El-Rei, que ali mostra tratar-se de empresa real e não particular de D. Henrique.

No centro da composição vê-se a galé que transportará o Príncipe, cuja proximidade é anunciada pelos trombeteiros no cortejo e a bordo dos vários navios.

Ao fundo, as naus e outras galés, de cujos tipos, desta época, há documentos suficientes para garantir a verosimilhança das formas representadas, documentos esses que foram seguidos com fidelidade, procurando no entanto, não se comprometer o efeito final que se desejava.

Estão algumas dessas embarcações, como também a galé do Príncipe, toldadas e empavezadas com as cores da sua divisa ou da sua libré, dispostas em girão: o preto, o branco e o vis (azul escuro).

No primeiro plano, à direita, atrás de um frade com a sua cruz processional, um remolar e um besteiro representam o povo que embarcou, e numas mulheres do povo, numas damizelas e numa dama, representam-se vários sentimentos de quem fica.

À esquerda, dois açougueiros esfolam uma rês, cujas tripas, numa celha, um pouco ligadas, na sua forma, às formas do cabo da âncora, evocam o sacrifício da gente do burgo, que se dispôs a comer aquelas tripas para que aos da expedição não faltasse a carne; de aí, como é sabido, o título de "tripeiros" com que se orgulham os portuenses, e que não poderia deixar de ser aqui relembrado.

A cor azul que domina esta pintura nos seus tons escuros provém de ser a cor predilecta do Infante, que a usou nas suas armas.

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