Estereomicroscópio com câmara clara

     Esse é o nome de um instrumento essencial em muitas áreas da ilustração científica. Trata-se de um microscópio com visão binocular (o que permite a observação tridimensional), provido de um aparato extra - a câmara clara - que torna possível a visão do objeto sobreposta à do papel. Dessa forma, pode-se desenhar o objeto em questão contornando-se sua forma diretamente. A câmara clara é uma adaptação, para instrumentos óticos, da câmara lúcida, muito utilizada por artistas desde sua invenção no século XIX.

Um esquema do funcionamento do estereomicroscópio com câmara clara

     A câmara clara é um sistema com uma projeção lateral ajustada ao microscópio, dotada de um espelho externo e de um sistema de prismas interno. O efeito que ela propicia é a fusão das imagens do objeto observado e do papel onde será feito o desenho. Para entender o resultado disso, será mais esclarecedor observar as imagens do exemplo.

     Quando se posiciona um objeto sob a lente objetiva, inicialmente mantém-se fechada a "janela" que permite a entrada da imagem do papel. Assim, a visão que se obterá é simplesmente a da imagem ampliada do objeto, como vemos abaixo.

A imagem do objeto com a "janela" da imagem do papel fechada

     Abrindo-se a "janela" com uma simples chave embutida, será possível que se veja concomitantemente o objeto e o papel (bem como sua mão, o lápis, a xícara de café, as migalhas de bolo etc.) e assim se poderá desenhar diretamente sobre as formas observadas, como na foto abaixo.


 As imagens do objeto e do papel sobrepostas ("janela" aberta)

     É necessário que se experimentem diversos posicionamentos das duas fontes de luz que iluminam respectivamente objeto e desenho, de forma que se chegue a um equilíbrio que proporcione a perfeita visão de ambos ao mesmo tempo. Alguns instrumentos mais sofisticados contam com um diafragma que regula a entrada de luz proveniente da câmara clara, facilitando assim a equalização da fusão das imagens.
     A imagem fundida do objeto e desenho aparece apenas em uma das oculares, o que é uma providência muito sensata, já que cada olho enxerga uma imagem ligeiramente diferente (ambas são fundidas no processamento cerebral, proporcionando assim a visão tridimensional). Concentrando-nos na visão de apenas um dos olhos estamos executando uma representação bidimensional a partir da própria visão bidimensional, o que favorece a execução correta do desenho. Seria muito comum, entre desenhistas inexperientes, predominar a visão do olho direito quando se desenha o lado direito do objeto e idem, olho esquerdo para o lado esquerdo.

 

A imagem do desenho realizado diretamente sobre o objeto

     O desenho obtido assim é o mais fiel e preciso possível. Entretanto, mesmo com o auxílio desse instrumento pode haver problemas na representação, decorrentes de interpretação inexata de formas e/ou sombras. Isso evidencia que para se desenhar bem e corretamente, é essencial se enxergar corretamente. Em outras palavras, aprender a desenhar é aprender a ver (ou vice-versa).
     Os estereomicroscópios mais comumente utilizados com a câmara clara são de baixo poder de ampliação. O aumento propiciado varia de 4x a no máximo 45x. É possível, entretanto, que se use a câmara clara em microscópios mais potentes. As estruturas normalmente desenhadas em ilustrações biológicas ou paleontológicas raramente são menores de 1/4 de mm. Por isso, em geral, a ampliação até 45x dá conta do necessário.   (...)

Um estereomicroscópio K700 da Motic, com câmara clara

 

Texto e imagens obtidas em Rogério Lupo