Juízo Final (1968)

Fresco no Palácio de Justiça de Castelo Branco
(Dimensões: 3,20 m x 18,40 m)
 
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1969-06-16 - A Voz
2020-06-01 - Reconquista - O Reconquista e o Palácio da Justiça de Castelo Branco  Por José Avelino
Inaugurado em 15-06-1969
Sala de audiências
(Fotografia obtida em vexataquaestio.blogspot)
 
(Estudo)
 
Descrição:
     O tema tratado é o Juízo Final, com a figura central do Supremo Juiz, e em sua volta, o movimento provocado pelas suas sanções. Nas zonas laterais até aos extremos, são representados, simbolicamente, os sete pecados mortais e as sete virtudes que se lhes opõem, cada uma junto do pecado correspondente (contra a soberba, a humildade; contra a avareza, a liberalidade; contra a inveja, a caridade; contra a preguiça, a diligência; contra a ira, a paciência; contra a gula, a temperança; contra a luxúria, a castidade). As cores gerais atribuídas aos pecados e as cores gerais atribuídas às virtudes ajudam à leitura do movimento central e à destrinça entre os premiados e os castigados.
 
Memória Descritiva:
     O “Juízo Final” é um tema sempre de respeito, por si só e pelo peso da tradição de grandes obras-primas da arte religiosa. No caso de se figurar numa Sala de audiências, o seu condicionalismo altera-se, pois a sua incidência deixa de ser exclusivamente religiosa para se estender também à vida civil.
     No Tribunal de Castelo Branco, o formato da parede, com uma largura de 21 metros e uma altura de 3,5, contrasta muito com os formatos tradicionais usados com este tema e não facilita a sua resolução, que foi procurada com o seguinte partido.
     As duas portas que se recortam na parede dividem esta em três zonas, que não se separam rigidamente. A zona central, a mais nobre e também a de maior iluminação natural, foi ocupada pela figuração do “Juízo Final”, concebida segundo alguns moldes da tradição.
     O Juiz Supremo, ao centro e em cima, olhando para nós, separa os justos dos culpados, cujas almas um anjo pesa. A Verdade sai da boca do Salvador, recta e límpida como a espada que se representa ao seu nível. A destra, rodeada das sete estrelas que significam o domínio do Universo, aponta com decisão o caminho aos justos. A esquerda, mais abandonada, deixa aos pecadores o seu destino.
     Aos lados do Juiz estende-se o Paraíso, para onde os Anjos da Redenção conduzem os Eleitos, ascendendo à direita do Senhor. Do lado oposto o Anjo justiceiro aponta aos pecadores sem perdão os lugares do castigo.
     Nas paredes laterais figuram-se, com os seus atributos, que se supõem de fácil compreensão, os sete Pecados Capitais (que não olham para o Juiz), envolvidos em cores sombrias e quentes; sobre eles, em correspondência, as Virtudes que os vencem (olhando para o Juiz), imersas em atmosfera mais clara e serena.
     Os Pecados e as Virtudes figuram-se, da esquerda para a direita, sucessivamente:
     Na parede da esquerda: a Soberba e a Humildade; a Avareza e a Liberalidade; a Inveja e a Caridade.
     Na parede da direita: a Preguiça e a Diligência, a Ira e a Paciência; a Gula e a Temperança; a Luxúria e a Castidade.
     As catorze figuras caracterizam-se pelas suas atitudes e expressões, e pela seguinte simbologia.
 
     Soberba, o maior dos pecados, de onde os outros derivam, representa-se por figura maior, e cheio de vãos ouropéis, sobre uma base instável e rodeado de campainhas, trombetas e castelos no ar...
     Humildade é uma figura pobre; só tem uma flor, e nela se enleva.
 
     Avareza agarra e aperta contra o peito alguns valores materiais; só com eles se compraz e com eles se procura esconder.
     Liberalidade oferece o que tem, de peito franco e mãos abertas.
 
     Inveja remorde-se, espiando o rico avaro.
     Caridade, a maior das Virtudes, mãe de todas as outras, a única Virtude Coroada, assim se representa, com grandes asas acolhedoras e o coração nas mãos, ardendo de amor pelo próximo.
 
     Preguiça abandona o trabalho e goza o nada fazer.
     Diligência fia, com a roca e o fuso; é o trabalho constante.
 
     Ira cresce para nós ameaçadora, com um pau na mão.
     Paciência suporta, sorrindo, a adversidade nas suas mãos, a palma do martírio.
 
     Gula é um comilão, obeso e voraz.
     Temperança deita água no fogo, pera o diminuir.
 
     Além dos atributos, todas as catorze figuras são identificadas por dísticos com os seus nomes.
(Jaime Martins Barata)

 

 

     "Após o último abalo cósmico deste mundo que passa, a vinda gloriosa de Cristo acontecerá com o triunfo definitivo de Deus na Parusia de Cristo e com o Juízo final. Assim se cumprirá o Reino de Deus." (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 134)
 
     O juízo final (universal) consistirá na sentença de vida bem-aventurada ou de condenação eterna, que o Senhor Jesus, no seu regresso como juiz dos vivos e dos mortos, pronunciará em relação aos «justos e injustos» (Act 24, 15), reunidos todos juntos diante d’Ele. A seguir a tal juízo final, o corpo ressuscitado participará na retribuição que a alma teve no juízo particular. (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 214)
 
     "O que é o juízo particular?
     É o julgamento de retribuição imediata, que cada um, a partir da morte, recebe de Deus na sua alma imortal, em relação à sua fé e às suas obras. Tal retribuição consiste no acesso à bem-aventurança do céu, imediatamente ou depois de uma adequada purificação, ou então à condenação eterna no inferno. (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 208)
     "No entardecer da nossa vida, seremos julgados sobre o amor" (S João da Cruz, Ditos, 64, referido no Catecismo da Igreja Católica, nº 1022)
 
Outros estudos
 
Zona central
 
 
 
Zona da esquerda
 
Soberba
 
   
 
Humildade
    
 
Avareza
 
Liberalidade
    
 
Inveja
 
 
 
Caridade
    
 
Zona da direita
 
Preguiça
 
Diligência
    
 
 
Ira
 
    
 
Paciência
    
 
Gula
 
Temperança
     
 
Luxúria
 
 
Castidade
      
 
Estudo em tamanho final (3,20 x 18,40 m)
 
No Palácio de Justiça de Castelo Branco,
ao pintar o fresco "Juízo final"