Torneio dos Doze de Inglaterra (1966)

Fresco no Palácio de Justiça de Seia
(Dimensões: 2,32 m x 3,29 m)
 
 
(Reprodução a preto e branco)
 
Estudos

Estudo grisaille em tamanho final (2,30 x 3,30m)

(Estudo de integração)
 

(Fotografia obtida em obras-de-arte-em-seia)
 
     Pintura a fresco com algumas aplicações a ouro puro à maneira antiga. Toda a pintura tem um ar de iluminura pela cor e pelo pormenor. É enriquecida pelo estudo de heráldica, pois representa uma justa, presidida pelo Duque de Lencastre, ladeado pelas doze damas ofendidas.
     Veem-se distintamente os cavaleiros Magriço (Coutinhos), Almadas, Malafaia, Azevedos, Cerveira, Pedro Homem Pacheco, etc.
     Diz a tradição que em Seia se reuniram os doze cavaleiros de onde partiram para Inglaterra.
 
Descrição:
(in Os Lusíadas contados às crianças e lembrados ao povo,
adaptação em prosa de João de Barros – Livraria Sá da Costa)
 
    "Iam os nossos portugueses, nesse momento, descansados e bem dispostos.
    E tão descansados, tão descuidados dos possíveis perigos, que o nosso conhecido Veloso, marinheiro engraçado e esperto, a pedido dos seus companheiros começou a contar, para os distraír, a famosa história de Magriço ou dos «Doze de Inglaterra». Encostado à amurada do navio, à luz das estrelas, e enquanto a frota cortava as ondas serenas, Veloso falava, alegremente. E dizia:
    «No tempo de D. João I, quando o reino de Portugal já estava sossegado e liberto dos espanhóis, deu-se na Inglaterra uma grande questão entre doze damas e doze cavaleiros.
    «Tanto se envenenou essa questão, que por fim os cavaleiros declararam que as damas nem o nome de damas mereciam.
    «Grande injúria, já se sabe, injúria que elas não podiam perdoar. Mas não ficou aí o feio caso! Mais afirmaram os fidalgos ingleses que se alguém quisesse defender as damas do insulto recebido, ali estavam todos para matar com lança e espada os audaciosos que a tal se atrevessem.
    «E a verdade é que, entre os seus compatriotas, nenhum se atreveu a aceitar o desafio, receosos da valentia, da importância e do nome que tinham os cavaleiros insultadores...
    «As pobres damas, coitadas! choravam e maldiziam a sua triste sorte!
    «Não sabendo como se poderiam vingar da ofensa recebida, foram pedir conselho e ajuda ao Duque de Lencastre, guerreiro inglês que tinha combatido com os portugueses contra Castela, e cuja filha, D. Filipa, casara com D. João I.
    «O Duque de Lencastre, logo lhes aconselhou que chamassem cavaleiros da nossa terra para as desagravar, tanta ousadia, boa educação e coragem tinha conhecido e apreciado nos portugueses.
    «E indicou-lhes imediatamente o nome de doze bravos, seus amigos de Portugal, capazes de combaterem e morrerem por elas.
    «Mandam as senhoras inglesas um emissário a Lisboa, trazendo cartas de cada uma das damas par a cada um dos nossos valentes portugueses.
    «Chegam as cartas, com a notícia espantosa. E tanta indignação causou entre nós a conduta dos doze ingleses, que até o Rei D. João I desejava ir castigá-los...
    «Mas o Rei é o Rei: - tem de governar o seu povo, e não sai da sua terra quando lhe apetece...
    «Arma-se um navio no Porto e embarcam nele os fidalgos lusitanos.
    «Mas só onze, embarcaram. O mais valente, chamado Magriço, decidiu ir por terra, prometendo, no entanto aparecer no momento próprio. Queria dar o seu passeio, antes de chegar a Inglaterra.
    «Um belo dia, os onze portugueses desembarcam em Londres, onde são muito bem recebidos e tratados.
    «Aproxima-se a hora do combate. Ninguém tem medo, dos nossos. Só uma coisa os preocupa: - a demora de Magriço, que anda não se sabe por onde.
    «Parára na Flandres, e por lá se divertia, sempre lembrado, no entanto, do dia do torneio... Ou não fosse ele um leal e honrado português!
    «Mas o dia do torneio alvoreceu, e Magriço ainda não estava em Londres! A dama, a quem ele vinha defender, veste-se de luto, certa já de que não teria paladino.
    «Vai a côrte inglesa toda para o campo de combate. O Rei senta-se no seu trono e as outras pessoas à volta dele.
    «Os cavalos dos combatentes espumam já.
    «O sol rutila nas lanças. A ansiedade de todos é enorme.
    «Mas do lado dos ingleses há doze cavaleiros, e do nosso lado - só onze!...
    «Onde estaria, perguntam todos, o descuidado Magriço?
    «De repente, grande alvoroço se produz e toda a gente olha para a entrada do campo.
    «É Magriço que entra, montado no seu cavalo, vestido e pronto para o combate.
    «Cumprimenta o Rei, fala às damas, abraça os companheiros, que rejubilam, e toma lugar ao lado deles.
    «A sua dama logo ali mesmo se enfeita com luxuosos arminhos, que são adornos de festa.
    «Dá sinal a trombeta do combate e os cavaleiros espoream os cavalos, largam as rédeas, abaixam as lanças.
    «Faísca a terra sob as patas dos animais, que mordem os freios de ouro. O chão parece tremer todo, sacudido.
    «O coração de quem olha os cavaleiros estremece, tão violenta é a luta.
    «O aço das armas torna-se vermelho com o sangue do inimigo.
    «Uns, caíndo, parecem voar dos cavalos até ao chão...
    «Outros, derrubados e arrastados, açoitam com os penachos dos elmos as ancas dos ginetes...
    «Morrem alguns. O resto fica ferido. E, depois de porfiada peleja, os portugueses vencem inteiramente os adversários, com aprumo e galhardia raras.
    «A soberba inglesa sofreu assim um duro golpe, mas as damas ficaram desafrontadas da injúria sofrida, graças à coragem e audácia dos nossos, que não hesitaram em bater-se pela honra alheia...
    «Mais uma vez triunfou o espírito guerreiro e cavalheiresco, e a força invencível da gente da nossa terra. O Duque de Lencastre, para lhes agradecer, albergou no seu palácio os portugueses. E, enquanto eles não regressaram a Portugal, todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca faltavam as doze damas. À volta, segundo contam, ainda Magriço e um seu companheiro tiveram alguns desafios, o primeiro na Flandres e o segundo na Alemanha. Não deixavam nunca de pôr à prova a sua valentia e destreza no manejo das armas...»
    Queria Veloso continuar a sua narração, quando o mestre do navio lhe pediu, e aos seus ouvintes, para estarem alerta...É que se anunciava já a tempestade que Baco projectara desencadear. ..
    De facto, uma nuvem negra corria sobre a frota, e o vento crescia com enorme violência."
 
Outra informação (obtida em Wikipédia)
     Os Doze de Inglaterra é o nome atribuído a uma história semi-lendária/semi-factual que é contada por Fernão Veloso e Luís Vaz de Camões, no canto VI do Lusíadas, que terá acontecido no reinado de D. João I de Portugal e de Eduardo III de Inglaterra, que demonstra uma história típica da conduta da Honra e comportamento de acordo com o Ideal cavaleiresco da Idade Média.
     É uma história cavalheiresca passada na Europa medieval, que conta que doze damas inglesas foram ofendidas por doze nobres, também ingleses que alegavam que elas não eram dignas do nome “damas” visto as vidas que levavam e desafiavam quem quer que fosse para as defender com a força da espada.
     As damas em questão viram-se na necessidade de pedir ajuda a amigos e parentes, tendo todos eles recusado a ajuda. Já não sabendo mais o que fazer decidiram pedir ajuda e conselho ao Duque de Lencastre, João de Gante, que tinha combatido pelos portugueses contra o reino de Castela e conhecia bem os portugueses. Assim este indicou-lhe doze Cavaleiros lusitanos capazes de defender a honra das referidas Damas.   (ver mais)