Rapazes brincando na Foz

Rapazes brincando na Foz
(Nazaré)
 
Aguarela sobre cartão
18,5 x 25 cm
     Roque Gameiro apresenta de novo uma vista da praia da Nazaré, contudo, numa perspectiva muito diferente daquelas já conhecidas.
     Visualizam-se, em grande plano, duas dunas que servem de margens à foz do Alcoa que se lança no mar, depois de formar um sinuoso meandro. Duas pequenas embarcações de pescadores lutam com a forte corrente que lhes impede o acesso à foz, a ponto de o barco mais próximo do primeiro plano se apresentar numa posição invertida, como se se dirigisse para montante em vez de para jusante.
     Verifica-se uma curiosa configuração das areias, provavelmente em consequência dos efeitos da erosão nesta zona do litoral. As dunas entre as quais corre o pequeno curso de água alongam-se nas extremidades em aguçados vértices, provocando a sensação de que a qualquer momento se poderão encaixar, de tal modo se assemelham estruturalmente.
     Invade-nos a sensação de uma imensa paz que se desprende desta ampla perspectiva que descobre o espaço ilimitado do mar em contínuo movimento, estendendo-se até ao primeiro plano através do leito do rio e da imensidão do céu; mas, contrariando essa imagem, apercebemo-nos de que esta natureza se pode transformar em espaço hostil ao homem, se atentarmos na imagem dos pequenos barcos em luta contra o poder e a força das águas.
     Existe uma pretendida economia cromática, na medida em que toda a composição se resolve em dualismos de azul e ocre claro, com excepção do castanho dos barcos. A larga mancha da cor fria do azul contribui para acentuar a sensação da indiferença da natureza face ao drama humano.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
 
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