Ponte (A) de Avô

A Ponte de Avô
 
Aguarela sobre cartão
19 x 27 cm
JPMB
     Roque Gameiro parece ter encontrado, na localidade de Avô, um espaço de expressivas potencialidades pictóricas, embora nesta segunda composição aborde o tema numa perspectiva um pouco diferente. A ponte é focalizada de uma menor distância, permitindo distinguir algumas particularidades da sua estrutura de pedra e, simultaneamente, visualizar aspectos da margem direita do rio, mais a jusante, onde algumas casas, envoltas pela leve mancha transparente de vegetação, deixam uma imagem difusa nas águas. Mais próximo do primeiro plano revelam-se alguns pormenores da agreste paisagem, destacando-se as margens que descem a pique até à água, dando o pintor especial relevo aos rochedos escarpados de cuja anfractuosidade assomam alguns arbustos, assinalados através de notações de verdes esbatidos; reflectidos na água, prolongam a sua imagem em profundidade. As casas, na arquitectura típica da região, aparentam incrustar-se na rocha, revelando que aqui o homem nem sempre usufrui da clemência da natureza e que tem de se impor para sobreviver.
     A luminosidade que inunda a paisagem é essencialmente conseguida pela fluidez da pincelada com que o artista cobre a superfície que representa o céu, permitindo que pela leveza cromática se gere a sensação de uma imensa transparência, contrapondo-se ao aspecto rude e austero desta zona de serranias.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
 
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