Porta lateral dos Jerónimos (1908)

Porta lateral dos Jerónimos
 
Aguarela sobre papel
36 x 25,5 cm
1908
Ver:
Exposição 1909
♦ Outra aguarela:
                         em
     Aproximadamente, a partir do início do século XX tornou-se frequente entre alguns pintores aguarelistas o registo de imagens de monumentos religiosos, quer focalizando o seu interior, quer, como neste caso, reproduzindo com minúcia a complicada arquitectura das fachadas.
   No espólio da obra de Roque Gameiro esta temática não foi muito explorada, como aconteceu, por exemplo, com o pintor Alberto de Sousa (1880-1961). Aparecem, pontualmente, reproduções de velhas igrejas de notável interesse escultórico.
   Esta imagem reveladora da imponência do portal sul do Mosteiro dos Jerónimos é plasticamente muito bela. Revela-se o admirável talento do artista no modo como captou a grandiosidade escultórica, conciliando-a com a harmonia e a elegância de formas das estátuas. Ele traduziu com fidelidade os admiráveis rendilhados de pedra, verdadeira filigrana, criando volumes e acentuando reentrâncias a partir de valores tonais, com assinalável precisão de incisiva pincelada, partindo de desenho detalhado.
   O artista assinalou a indumentária das figuras que se dirigem para a entrada da igreja, ou que dela saem, através de tonalidades predominantemente escuras. Provoca, assim, a incidência do olhar do observador em virtude da relevância que elas adquirem. A implícita mobilidade destas personagens faz ressaltar o estatismo da imponente estrutura arquitectónica do monumento. A incidência da luz, criando efeitos cromáticos de quentes tonalidades, aparenta atenuar a rígida frialdade da pedra.
     Toda a composição é estruturada no sentido da verticalidade, acentuando-se, de modo expressivo, a espiritualidade da arquitectura do gótico final.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
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